hum... maizômeno. na verdade, é sim. é um outro texto sobre a FLIP. falando de coisas que eu já falei. de um outro jeito, o texto havia sido pensado para o Boletim do Kaos, de agosto. mas como não sairá mais - problemas técnicos e outros detalhes -, eu já havia escrito e tem uma pequena declaração inédita (óóóóóóhhhhhh...) do meu amigo Pedro Tostes sobre o ocorrido, publico abaixo.
LITERA-RUA BARRADA: REPRESSÃO NA FLIP
“- Mão na cabeça!”
“- Mas pra quê iss...”
“- Cala-a-boca. Abre a maleta. O que você tem aí na bolsa?”
“- Só livros, tô trabalhando senh...”
“- Livros? Olha só, que pilantra Jackson. Da cana nesse cara aqui e apreende a mercadoria. Tá maluco? Vender livros!”
Foi assim que poetas e escritores da litera-rua se sentiram durante os três primeiros dias da FLIP: Festa Literária Internacional de Parati, que aconteceu entre os dias 01 e 05 de julho deste anos. Literalmente marginais.
Uma das marcas que sempre marcou o encontro, considerado um dos mais importantes do país, é a presença de poetas e escritores divulgando seus trabalhos pelas estreitas e tortuosas ruas de pedras largas. Recitais, saraus, rodas de poesia pipocam em vários lugares, muitas vezes de maneira voluntária, quebrando o “protocolo” das atividades oficiais.
Mas este ano foi diferente. Já não bastasse ter sido ignorada da programação oficial durante as sete edições do evento a literatura marginal e periférica foi tratada quase como que uma contravenção penal. O tráfico de informação, ou melhor, a venda de livros foi duramente reprimida e censurada por fiscais e seguranças do evento, que tinham uma postura “a la BOPE”. Intimidação, perseguição, ameaças verbais.
O barato mais lôco é que não ficou apenas na ameaça: Pedro Tostes, do coletivo Poesia Maloqueirista, teve 16 (dezesseis) livros apreendidos. Alguns deles estavam na sua bolsa, que foi vasculhada pelo fiscal.
A justificativa inicial para a repressão, censura e perseguição foi a de que não tínhamos autorização para trabalhar. Qual autorização? O livro é um produto cultural, desde 2004 isento de impostos, não estávamos pirateando, o livro não era roubado. Nós o escrevemos, nós o produzimos, nós estávamos divulgando. Qual lei nós infringimos? Qual autorização precisávamos para trabalhar?
Por várias vezes perguntamos. Mas depois de muito pelejarmos atrás da administração e produção da FLIP, da central de atendimento dos autores e da própria prefeitura atrás da suposta autorização, descobrimos que o problema não era esse. Na verdade, não tinha nenhum problema. A decisão de barrar escritores e poetas marginais e periféricos era pessoal e arbitrária. Alguém decidiu e pronto. Acabou. Ninguém discute. Não! Nós fizemos barulho.
Tanto é verdade que no sábado, quarto dia do evento, conseguimos trabalhar. Como? Além da agitação junto à turistas, poetas, escritores e pessoas ligadas a imprensa para que pudéssemos vender a nossa “mercadoria ilegal”, a intervenção do cabramigo e escritor Marcelino Freire junto à Flávio Moura, diretor de programação da Flip foi fundamental.
Da batalha pra garantir o nosso direito ao trabalho, a liberdade artística e de expressão, vencemos. No quarto dia de Festa Literária a litera-rua finalmente ocupou o lugar em que se sente mais à vontade: as praças, bares, vielas. Todavia, muitos parceiros de caminhada saíram feridos. O fato de termos sidos caçados e reprimidos durante três dias causou não apenas revolta, mas prejuízos. Muitos poetas e escritores tiveram que voltar pra casa praticamente zerados, e com a maleta cheia de frustração, indignação e livros. Isso sim pode ser chamado de ilegal e criminoso.
Pedro Tostes fala sobre a repressão e apreensão dos seus livros.
Rodrigo Ciríaco: O que você achou da repressão contra os poetas e escritores "da rua" que rolou em Parati?
Pedro Tostes: Achei descabida e nonsense. Uma festa que se pretende "literária" jamais deveria repreender seu principal convidado, a literatura. Infelizmente me parece isso ter sido fruto de um preconceito recorrente que diz que a literatura popular e de rua, por não ser avalizada pelo cânone, é uma sub-espécie de literatura quando, na verdade, é a sua expressão mais criativa e vicejante.
R.C.: Qual a sensação de ter seus livros apreendidos?
P.T.: A inicial é altamente opressiva e indignante. Não existe nada pior que a sensação que você é obrigado a praticar sua literatura às escondidas, na calada da noite. Depois até achei graça (desgraça), pois apreender livros é digno do FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assolam o País). No entanto, não tem graça nenhuma. Um atroz desrespeito a liberdade artística e de expressão. o escritor não deve ser caçado, calado ou apreendido nunca. Essa é a matriz principal de uma democracia.
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