quarta-feira, abril 29, 2009

NEM CRISTO AGRADOU...

... a todos. Mas alguns a gente consegue.

Alunos e alunas da EE Jornalista Francisco Mesquita no Teatro Franco Zampari - TV Cultura - para a gravação do programa Manos e Minas, dia 27 de abril de 2009. Valeu galera, foi muito bom...

terça-feira, abril 28, 2009

HUM... INFERNO ASTRAL?

Sei lá se eu acredito em inferno astral. Eu sei que há uns três anos eu observo que, no mês que antecede o meu aniversário, coisas desagradáveis acontecem.

Hoje foi na escola. Como sou um professor bem-querido por uma turma que adora tocar o put%$#$¨ por lá, eu recebi um presente na semana que antecede o meu aniversário: uma tijolada na porta do carro!

Não vi quem foi - aliás, ninguém viu nada, ninguém sabe de nada, sabe como é - eu estava em aula na hora, menos mal, mais é foda: não basta ganhar pouco, ter prejuízo dentro da escola com coisa que não vai favorecer ninguém, só a maldade no coração, é embaçado.

Mas tá firmão. Recado pra quem quiz me derrubar: uma pedrada é pouco.

Vâmo que vâmo.

R.C.

SACOLA MANDA BOAS NOTÍCIAS

"Ciríaco, meu bom, tudo bem?
Sabe onde você está sendo lido?
Em Portugal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Moçambique.
É que enviamos o Amor Lúbrico para lá, e ele tá fazendo mó sucesso da porra.

Abraços... Sacolinha!!!"


Pra quem não sabe, "Amor Lúbrico" é um livro de contos e poemas eróticos organizado no ano passado pelo Sacolinha e na qual eu tive a honra de participar como convidado. Valeu, Sacola. Como diz o VAZ: Tamo junto e misturado. Abraço

sexta-feira, abril 24, 2009

DAS HISTÓRIAS QUE EU OUÇO

- Você já deu aula pras oitavas? São salas boas de trabalhar, melhor do que as quintas...
- Pra mim é tudo a mesma merda. Só muda o tamanho.


***

- Assim não dá, moleque. Eu vou chamar o seu pai!
- Faz esse favor então, prussôr. Faz quatro anos que eu não vejo ele.

quarta-feira, abril 22, 2009

AOS QUE DESEJAM ME CALAR


CELEBRAÇÃO DA VOZ HUMANA/1

Os índios shuar, chamados de jíbaros, cortam a cabeça do vencido. Cortam e reduzem, até que caiba, encolhida, na mão do vencedor, para que o vencido não ressuscite. Mas o vencido não está totalmente vencido até que fechem a sua boca. Por isso os índios costuram seus lábios com uma fibra que não apodrece jamais.

Eduardo Galeano, em O livro dos abraços

sábado, abril 18, 2009

quinta-feira, abril 16, 2009

POEMA - CHEGA!

Para Daniel Minchoni

chega, chega, chega!
chega cara, não dá mais, chega!
chega, chega, chega!
póde pará, não, não, não,
chega, chega, chega!
não aguento mais, chega,
chega, chega, chega!

chega de usar máscaras
a partir de agora
só vou usar
capacete

segunda-feira, abril 13, 2009

GRANDE "JOÃO": VEREDAS


QUEM SABE...

DE REPENTE, CALIFÓRNIA (ou Paraty, ou Cananéia)

Garota eu vou pra Califórnia
Viver a vida sobre as ondas
Vou ser artista de cinema
O meu destino é ser star

O vento beija os meus cabelos
As ondas lambem as minhas pernas
O sol abraça o meu corpo
Meu coração canta, feliz...

Eu dou a volta pulo o muro
Mergulho no escuro, salto de banda
Na Califórnia é diferente, irmão
É muito mais do que um sonho

E a vida passa lentamente
E a gente vai tão de repente
Tão de repente que não sente
Saudades do que já passou

sexta-feira, abril 10, 2009

VOCÊ VAI SE ARREPENDER

Você vai se arrepender
Daquele telefone desligar
De um dia deixar de me amar
Você, vai se arrepender

De um dia como boa amiga desejar
Que eu fosse sozinho a caminhar
E procura-se ser feliz
Você vai se arrepender

Naquele momento
Quando a noite fria te abrigar
E debaixo de outro corpo de mim você lembrar
Você vai se arrepender

Quando ele te fizer chorar
E te disser pra sozinha você andar
E procurar compreender, e seguir
Você vai se arrepender
Vai se arrepender

Eu vou ser feliz
Por lembrar de quantas vezes eu me pus a tentar
E outras tantas eu quase estive a me matar
Eu vou ser feliz

Por eu não deixar e aceitar
Ver em banho-maria você me cozinhar
E com a barriga nossa relação você levar
Eu vou ser feliz

Por saber que fiz o certo em arriscar
E não ter medo do nosso amor a prova eu colocar
Eu vou ser feliz

Quando em outros braços eu estar
E de você novamente eu me lembrar
Só para não repetir as cagadas que eu cometi
Eu vou ser feliz
Eu vou ser feliz

E você
Você vai se arrepender
Vai se arrepender

SEGURA QUE EU QUERO VÊ!!!

LEMBRANDO DE MÁRIO QUINTANA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
Eu passarinho

NOVOS(?) CAMINHOS

salve, povo.

ontem foi um dia muito especial para a pessoa que aqui escreve. eu comecei um novo projeto na escola: teatro.

teatro sempre foi uma das paixões na minha vida. sempre. na escola participei de algumas peças, bobinhas, mas fiz. quando fiquei aborrescente igual a minha sobrinha - ainda bem que ela não lê isso, rs - fiz teatro no inglês e, depois, fiz um ano no teatro escola macunaíma. era teatro, era legal, mas não era o que eu queria.

em 2004 eu finalmente conseguiria me encontrar. fui fazer teatro no TUSP, na maria antônia e conheci pessoas extremamente fantásticas, que foram fundamentais na transformação da minha vida e para eu me tornar um pouco da pessoa que sou hoje, principalmente o Edgar Castro.

o Ed hoje é coordenador da ELT - Escola Livre de Teatro de Santo André. aliás, quem quiser fazer teatro, de verdade, na essência, sem estar preocupado com estrelismos e aparicionimos, indico a ELT. eles são muito bons.

mas enfim, entre 2004 e um pouco de 2007 eu trabalhei com o Ed e uma turma que nós montamos - os Contornos - para estudar, se aprofundar um pouco no seu trabalho. durante o caminho, bebi de outras fontes, principalmente o Teatro do Oprimido, do Augusto Boal. fiz oficinas com de Teatro do Oprimido, apresentei algumas esquetes, exercícios teatrais, enfim.

fiquei desestimulado com o teatro porque, tudo o que eu faço, quero fazer bem feito. "põe o máximo que és no mínimo que fazes" já diria Pessoa (não sei se com estas palavras). e eu tenho sê-mancol. e, apesar de aplicar o máximo de mim, não era suficiente. não era bom. resumindo, eu não era um bom ator. e isso me frustrava, me deixava mal. parei.

mas, seguindo a máxima "quem não sabe, ensina" - rs - eu resolvi encarar o desafio de montar um grupo de teatro na escola. trocar com os alunos um pouco do que eu aprendi nesta vida, com o Ed, com o Boal, das leituras e trabalho que fiz com o teatro do Brecht - aliás, outro cara fundamental para mim. minha vida sempre foi ligado ao teatro e, estou muito feliz por ter voltado ao teatro. pelo menos por detrás dos panos.

ontem foram apenas dez alunos. um número reduzido dos vinte e cinco que foram sorteados, mas compreensível devido ao feriado e, para o trabalho, um número excelente. foi muito bacana. primeiro, a roda de conversa, depois o aquecimento, os exercícios, os jogos e, por fim, nova roda. tudo no sentido mais edgariano da prática. e foi bom ver as dificuldades dos alunos, perceber (eu e eles) o quanto eles desconhecem o corpo, o que pode fazer, os limites, o quanto somos desajeitados, acostumados a fazer sempre o mesmo e, o quanto somos fechados. o quanto é difícil você correr e dar um simples salto - permitir-se ser feliz - neste mundo de amarras e convenções sociais superficiais demais. foi muito bom.

na próxima quinta tem mais. logo mais eu vou montar um blog do grupo. estamos definindo um nome para nós também. quando souber de tudo, eu aviso.

felicidade, luta, energia e muita coragem pra nóis...

r.c.

quarta-feira, abril 08, 2009

ACREDITA?

- Morreu...
- Tá brincando? Como?
- Oito tiros, menina.
- Nossa!
- É. Pru cê vê. E o pior cê não sabe.
- O quê?
- Não, cê num vai acreditá.
- Fala!
- Tudo bala perdida...

terça-feira, abril 07, 2009

ALGUMAS PALAVRAS

Não gosto de falar mal da minha vida - ou dos males que a acometem - no meu blog. Dá um ar de pessimismo, de desânimo excessivo, o que é absolutamente real, mas que é um sentimento meu. Ninguém tem nada a ver com isso. Ou não? Não sei. Fato é que não pretendo salvar o mundo do meu blog, não pretendo fazer a revolução sentado em frente ao computador, não devo nada pra ninguém e, como vejo um blog como um diário - um diário aberto em que você quer que as pessoas lêem -, vou escrever o que me der na telha. E se você, car@ navegante não gostar, tem a simples opção de nunca mais voltar por aqui.

Hoje o dia foi foda. É todo dia, as vezes acordar é um parto, mas tem dias que são piores que outros. Hoje foi um DAQUELES DIAS. Foda, muito foda. Na verdade, eu nem quero dar detalhes, vou dar pequenos resumos do que aconteceu só para ter uma noção. A história eu deixo para vocês imaginarem. Quem sabe vocês não escrevem um conto sobre isso? Hoje eu tô cansado.

A história nº 01 é de uma menina de 15 anos, com uma gravidez indesejada de quatro meses, em que pra variar o menino não assumiu o filho, o pai ameaçou matar a menina, ela não sabia o que fazer, e hoje eu soube que a menina abortou. Aborto espontâneo, dizem. Eu não sei. Fato é que eu fiquei triste. Sei, entendo toda a história, que talvez pra menina tenha sido melhor, uma gravidez indesejada ao quinze anos é foda, etecetera e tal mas, eu fiquei triste. Quatro meses é uma criança quase formada e, sei lá. Como disse, a vida é foda.

A história nº 02 envolve um menino de doze anos, sem pai, sem mãe, não alfabetizado, totalmente rebelde, totalmente sem escuta, já morou na rua, hoje mora com uma avó, que não é avó de verdade - apenas o adotou por dó - mas que tem um tumor que é real. Questão, o que fazer com o menino, já que a escola para ele é apenas um lugar de passeio?

A história nº 03 começa com uma outra adolescente de doze anos. Os pais faleceram, ela mora com a avó. Ela procurou o professor chorando pois dois meninos ficaram infernando ela dizendo que a avó dava o cu na esquina. O professor chama os meninos pra fora da sala, pra conversar. Um menino finge que não está nem aí pra conversa, fica zoando com os meninos do corredor, cospe em um deles enquanto passava - sendo que o cuspe quase pega na cara do professor - e, pra finalizar, quando é solicitado que o menino vá pra direção, o mesmo acusa, do nada, o professor de agressão: "- Ele me deu um soco no peito. Tá doendo até agora! Vou contar pro meu pai". E quando o professor insiste em chamar o professor naquele exato momento pra resolver a situação, já que foi uma acusação grave, o menino tem um chilique, diz que o professor não bateu, promete que não vai mais mentir, mas não chama o meu pai. É mole ou quer mais?

E isso são três simples histórias de um dia de trabalho do professor. Sem contar que ele também é ser humano e tem problemas pessoais e terrestres como contas a pagar, problemas em casa com os pais, irmãos, problemas com a namorada e etc. Mas isso tudo também fica pra próxima porque hoje eu tô de saco cheio e quero dormir cedo pra ter pique pra ir na Cooperifa amanhã recarregar as energias. Porque sozim, desse jeito principalmente, ninguém guenta!

R.C.

sábado, abril 04, 2009

TCC

A maior violência da escravidão
Foi tratar as pessoas como objeto
Simples mercadorias

Hoje, legalmente falando
Não existe mais a escravidão
Mas a coisificação das pessoas
Continua viva

O capataz geralmente tem cara jovem,
Apresenta boas intenções, promessas fáceis
E esbanja simpatia
Seu trabalho? Fique ligado:

Fazer nada pela ética
E tudo por uma boa nota final
No diploma da Academia

LITERATURA (É) POSSÍVEL






Não me contaram, eu vi
Na escola uma cena
Alunos e professores, poetas e escritores
Unidos, bancando uma de mecenas
Da transformação, eu vi.

Da improvável comunhão
A pólvora da explosão
Guilhotinas sem cabeças
Apresentando uma silenciosa evolução
O início de uma nova batalha
E a queda de uma antiga Bastilha.

Libertados das grades,
Das bibliotecas escolares,
Drummond e sua pena,
Clarice, Cecília, João Antônio e Manuel Bandeira.
Graciliano Ramos com Quintana passareia
Junto de Jorge Amado e Guimarães Rosa
Que com Riobaldo e Diadorim no sertão trocam prosa
E colocam os meninos Capitães da Areia
A caminhar e cantar.

Diziam adeus, Feliz Ano Velho
Queremos o Caos, a TAZ,
Não viemos em Vão!
Estamos De passagem, mas não a passeio,
Somos Guerreiras, Colecionadores de Pedras,
Por tempos demais saboreamos Angu de Sangue,
Mas agora, Graduados em Marginalidade
Queremos respeito, em prato cheio.

Somos A Rosa do Povo, o fim das Vidas Secas
Somos Uma Reportagem Maldita
Escavando A hora da Estrela
Somos Memórias de um Sobrevivente
Ao fim de Cem Anos de Solidão
Somos a Descoberta do Mundo,
O Desenho do Chão

Nós somos,
A Literatura (é) Possível.

***

Nesta quinta-feira, dia 09, começa uma nova batalha. Vou começar a trabalhar com um grupo de teatro na escola, mesclando algumas paradas da literatura e ainda se possível a produção de um fanzine. Não sei ainda onde vou chegar, se vou chegar em algum lugar, mas como disse o poeta Antonio Machado (não com estas palavras, mas algo assim): "Caminhante, o caminho se constrói na caminhada." É isso então. Força pra nóis...

sexta-feira, abril 03, 2009

O MONSTRO DO ARMÁRIO (conto)


Tô sozinho em casa.
São sete horas da manhã.
Minha mãe foi pro trabalho.
Meu irmão foi pra escola.
Tô sozinho em casa.
São sete horas da manhã.
Eu tô acordado.
E tem um monstro dentro do meu armário!
Eu já vi ele. Ele não me viu.
Quer dizer. Me viu.
Sabe que eu tô aqui, deitado.
Só não percebeu que eu vi.
Olhei meio de rabo-de-zóio.
Ele não me viu vendo.
Eu tô com medo.
Cara, eu tô gelado.
Nunca pensei que fosse acontecer isso.
Ter um monstro dentro do armário.
Eu não sei o que eu faço.
Não sei se finjo que durmo.
Não sei se levanto.
Não sei se corro.
Agora eu entendo o ditado.
Se correr o bicho pega.
Se ficar o bicho come.
Será que quem escreveu isso também tinha um monstro no armário?
Droga, tô com vontade de fazer xixi.
Não vai dar pra segurar muito tempo.
E tô muito grandinho pra mijar na cama.
Meu irmão não perdoa uma peido. Imagina um mijado?
Não, eu tenho que segurar.
Se eu fizer xixi, vai ser um arregaço.
Minha mãe vai ficar P da vida.
Meu irmão vai ser só tiração de sarro.
Mas que droga: justo agora neste momento tinha que ter um monstro no armário?
Será que ele é grande?
Será que ele morde?
Será que tá com fome?
Deve ser enorme. Eu vi.
O bicho é verde e roxo.
Boca grande, dente afiado.
Tem mais de um metro só de rabo.
Parece um crocodilo gigante.
Como é que esse monstro foi parar no armário?
Droga, não tem jeito.
Não tenho mais como segurar.
Se eu demorar, vai voar xixi pra tudo quanto é lado.
Eu vou ter que encarar esse monstro.
Tá na hora de enfrentar esse medo.
É isso aí. Eu vou levantar do colchão, jogar o cobertor no chão e gritar:
- Qual é? Qual foi? Pode me comer seu monstro otário!
E se ele não me comer, eu vou pro banheiro depois.
Totalmente aliviado.
Tá certo. Vai ser assim. Meu plano tá bolado.
Não posso mais adiá-lo.
Vou tomar coragem.
Respirar fundo.
Contar até três.
É agora.
É um.
É dois.
É três.
Vai.
Tchâ-nam!!!
Eita? Quem foi que fez isso?
Cadê o monstro?
Quem foi que abriu a porta do armário?
Eita. Sumiu!
Tudo bem. Agora eu posso ir pro banheiro.
Fazer o meu pips sossegado.
Droga! Quem fechou essa porta?
Nossa? Descarga? Quem tá usando o banheiro?
Ai meu Deus! Uns grunhidos...
E agora? O que eu faço?
Tem um monstro no meu banheiro!

DO CARALHO - CAZUZA!

CODINOME BEIJA-FLOR

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou...

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor


IDEOLOGIA

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...

Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder

Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Prá nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder

Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Prá viver...

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder

Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver..
Ideologia!
Prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...


"Vida louca vida... Vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve..." - Eu nasci nos anos 80. Não vivi com tamanha fervorosidade o rock brasuca da chamada "década perdida". Mas na minha adolescência, o que me fazia a cabeça era Cazuza e Renato Russo. Barão e Legião Urbana. E, apesar do que dizem, eu agradeço por isso.

"Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão, da caridade de quem me detesta..."

quinta-feira, abril 02, 2009

COM A FACA NO PESCOÇO

“Só quem é de lá sabe o que acontece.” E é verdade. Só quem vive o desafio de encarar uma sala de aula, principalmente na rede pública, sabe o quanto este trabalho pode ser estafante, desgastante. Insano. Claro, tem suas recompensas, como todo trabalho tem, sejam elas financeiras, profissionais, mas a sala de aula tem um quê de diferente.

Em fevereiro, trabalhei por três dias na loja de meus pais. Eles tem um comércio, lojinha de “1,99” no Cangaíba, Zona Leste. Pois bem, foram passar o carnaval no interior e resolveram dar uma esticadinha. Pediram para eu ficar na loja. Estava com meu tempo tranqüilo, há duas funcionárias por lá que conhecem bem a rotina. Sem grandes problemas. Trabalhei quinta, sexta e sábado, das 09hs às 18hs.

O trabalho foi cansativo: atender clientes no corredor e no caixa, receber vendedores, administrar o dinheiro, vencimentos, pagar contas no banco; fazer reposição de mercadorias, limpas estantes, passar pano no chão. Cansativo, mas nada extraordinário, nada de outro mundo e outra: um cansaço físico, somente. Tanto que eu sentia que eu saía de lá novo, pronto pra uma balada, um cineminha, uma leitura, o que fizesse. Estava cansado, não esgotado.

A comparação se faz necessária para entender. Na escola, quase todo dia, chego ao meu esgotamento físico, mental e emocional. É muita informação, é muita energia cruzando o seu dia – negativas, principalmente. É muita treta. Passo pela mesma loja dos meus pais, lancho e, quero ir para casa. Deitar e descansar, dormir. Tem dias que oito horas da noite já estou pregado na cama, babando no travesseiro apesar de inúmeras coisas que tenho pra fazer. Há noites que ir para a Cooperifa, que é uma das coisas que mais gosto de fazer, é difícil. Simplesmente, não agüento.

Não sou o único a sofrer desse mal. Milhares – diria milhões – de outros profissionais também se sentem assim, principalmente nas chamadas profissões de risco: saúde, educação, segurança – todas elas em que a tensão e a compensação financeira encontram-se em disparidades extremas. A primeira lá em cima, a outra, láááááá em baixo. E por isso, fico mais incomodado. Se fosse uma questão individual, a solução fica fácil. A questão é política. Precisamos ter melhores condições de trabalho.

E não falo da questão salarial. Já disse: abro mão de um aumento se eu tiver condições de trabalho decentes, se eu puder fazer um planejamento, ação e avaliação de que meus alunos estão aprendendo, de que eu não estou sendo explorado, estropiado, etc. Esta seria a minha maior conquista. E quando falo em condições de trabalho falo em menos alunos por sala, ambientes limpos, com número de profissionais suficientes, com profissionais respeitados, presentes, etc.

Está uma loucura as minhas quintas séries. Vários são os fatores. Primeiro: trinta e cinco alunos em sala, é muita coisa. Muitos alunos para um único professor, principalmente quando estes possuem defasagem de aprendizagem imensa. Quando não estão inclusive alfabetizados. Fiz duas avaliações "diagnósticas" por estas semanas. Diria que apenas 30% dos alunos de quinta série da minha escola deveriam estar na quinta série. Outros 35% deveria voltar para a quarta. E os 35% restante poderia tranquilamente voltar para a terceira, segunda. Não ajudasse, quase todos os dias, quando chegamos, o ambiente educativo não é dos melhores. Há carteiras demais dentro das salas – de manhã há quase 50 (cinqüenta) alunos no Ensino Médio – elas ficam amontoadas, bagunçadas (claro, não há espaço físico suficiente) e, para ajudar, as salas estão sujas. E não é aquela sujeira apenas de pichação, ou de chiclete seco preso no chão: são papéis, pacotes de salgadinhos, balas, pirulitos, lápis e outras coisas espalhadas pelo chão. O problema? Falta funcionário. Muito trabalho - pesado, diga-se de passagem - para pouca gente. E agora me diga: quem tem motivação para aprender – e para ensinar – num ambiente destes?

Outra coisa que atrapalha demais a vida é a falta de professores. Todos os dias, faltam professores demais. Pelo menos um, dois, três. Eu até entendo os motivos das faltas, que na maior parte das vezes são por questões de saúde – e não é difícil entender como que uma pessoa fica doente dentro deste ambiente citado – mas aí ter falta todo dia - porque é todo dia - e não ter uma organização sobre isso, complica tudo: não é feita uma seqüência no trabalho, os alunos ficam mais dispersos, mais falantes, mais agitados com os chamados "professores eventuais". Isso quando tem professor "eventual" suficiente, quando não tem eles ficam em aula vaga mesmo, pentelhando no corredor, no pátio (com certa razão, se não tem professor, vai fazer o quê?) e, entrar numa sala assim, já viu. Até fazer os alunos apagarem um pouco o facho, abaixarem a bola para se concentrarem em atividades corriqueiras como a leitura de um texto, a realização de exercícios, fica quase numa missão impossível. Eu peço silêncio, eu falo um pouco mais alto, eu faço um longo silêncio dentro da sala, apenas observando com um olhar reprovatório os grupos que estão conversando – sendo que muitas vezes eles me olham, percebem o meu olhar, e voltam a falar – até a hora que eu preciso explodir: gritar, mandar ficar quieto, calarem a boca, literalmente...

E aí é uma porcaria. Primeiro, porque eu não gosto desta postura. Segundo, quando você grita, você não apenas demonstra que perdeu o controle. Você se esgota. Os dias que eu preciso me esgoelar são os dias que eu saio mais cansado, mais esgotado, mais derrotado da escola. E, além de tudo, isto está gerando um problema: estou ficando com uma dor crônica de garganta. E afônico.

Tomo um cuidado excessivo com a minha voz. Ela é um dos meus principais instrumentos de trabalho. Procuro sempre deixá-la lubrificada – uma garrafinha com água faz parte do meu kit básico –, de vez em quando até faço alguns exercícios, mas ela está sofrendo. Sofrendo com as condições de trabalho, sofrendo com os gritos desnecessários, sofrendo com a rotina que estou imprimindo a mesma. Vários colegas já falaram para eu procurar um fonoaudiólogo. Que isso pode ficar mais complicado, que eu posso estar com um calo nas cordas vocais, etc. Eu sei, eu quero, mas está difícil. O plano de saúde que meus pais pagam, não cobre. No hospital do servidor público, eu simplesmente não consigo agendar. No hospital público comum então, talvez eu consiga daqui a um ano.

Bom, mais um problema que tenho que enfrentar dentro da educação. E com este, eu tenho que tomar cuidado. Se enquanto professor eu não tenho mais uma “voz política”, no sentido de que ninguém ouve o que a gente diz, ou pelo menos não quem deveria – e se ouve, se faz de surdo -, agora eu corro o risco de ficar sem a “voz falada”. Isso, para mim, é um mal que, definitivamente, eu não quero.

Ainda bem que agora tem alguns dias do final de semana para recuperar para o próximo confronto. Só vou ter que cortar a 'geladinha'. É, não tem jeito. Tudo isso é uma pena mesmo...

r.c.