sábado, março 28, 2009

O QUE DIZEM SOBRE "ENTRE OS MUROS..."

Luciana Pennah:

"Fui assistir ao filme Entre os muros da escola. Se eu gostei do filme? Não. Buscarei explicar o fato. Não entendi a Palma de Ouro em Cannes, aliás, há muito não entendo as premiações. Elas apontam para idiossincrasias e políticas culturais que me escapam. Das quais desconfio, mas não tenho elementos suficientes pra sustentar qualquer aposta aqui. Quem sabe um dia.

O filme apresenta a relação de um professor de francês com uma turma de sétima série de uma escola pública da periferia parisiense. Deparamo-nos com um circuito fechado em que a incomunicabilidade comanda. Vemos a escola desandar em seu cotidiano, a burocracia contra, os próprios professores sem falar uma mesma língua, quem dirá os alunos. Estes, literalmente não falam mesmo, há umpersonagem descendente de africanos, cuja mãe sequer fala francês, que pode ser visto como um emblema do filme - e do preço alto que a França paga pela sua mão pesada na (neo)colonização -, aluno que não à toa é expulso. O sistema não está preparado para lidar com ele. Aliás, a ladainha do filme é: ninguém ali está preparado para lidar com as diferenças em nenhuma instância. O problema é que a reiteração incansável deste muro, do mesmo sobre o mesmo, torna o filme arrastado, insuportável e do meu ponto de vista pouco crível.

Nesse sentido, o que me incomodou sobremaneira, e pode ter significado as loas todas recebidas pelo filme, foi a claustrofobia narrativa, o sem saída de cada tentativa de contato entre cada um ali, as cenas se arrastam numa mesma tônica, que não é a dominante, mas a única. O enredo não dá descanso, não sai do entre muros, e “temos” de assisti-lo até o fim, até que a negra mais negra diga que o ano passou e ela não aprendeu absolutamente nada. Um desfecho fácil para tanto lero-lero, para tanta função fática, chamem do que quiserem.

Pra mim é tudo muito duvidoso, assistimos a um “sem saída” muito armado, muito arrumadinho. Em nenhum momento eu me esqueci de que aquilo se tratava de um filme tentando simular algo que não estava ali, por pior que seja a tal escola, ela não estava ali, os alunos não estavam. Aquela negra dizendo que não sabia nada também não estava, era um ponto final adequado demais para um longa que promete trazer algo novo. Não traz, nem na França nem na China, quem dirá aqui. Pura encenação, na pior acepção do termo. Não por acaso me incomodou o mesmo professor que escreveu o livro e viveu o drama se auto-macaquear, haja distanciamento para reviver aquilo tudo que ele narrou em letra na tela. Honestamente? Tem de ser um professor muito ruim como ele se mostra no filme para fazer este papelão, para ficar sete meses cozinhando a ferida, que no final das contas não deve ter doído tanto assim.

Que doa em nós, e sem doer, o que é muito pior. É cínico. Eu não acredito neste filme, na sua suposta denúncia, no professor, em nada. Se acusam o cinema nacional de apelar para estética da pobreza, olhem bem este filme francês e me digam que estética é essa? E que ética mora num teatrão blasé como este do Entre os muros?

Este post é só o começo de uma prosa, o levantar de uma lebre que também não está tão clara para mim. Pensemos.

P.S.: Colegas professores, eu não questiono o contexto que o filme trabalha, mas o filme. Voltarei para falar de educação, certo? E de professores."

do blog - http://sorrisodemedusa.wordpress.com/

Marcelino Freire:

"Ontem vi um filme de terror. Psicológico. E dos melhores. Desses de a gente ficar preso à cadeira. Da escola. Puta que pariu! A qualquer hora, alguém puxa um fuzil. Tem um surto e risca do mapa o mocinho, a mocinha. Que nada! É um filme sem heróis. Todos lançados ao mesmo abismo. De cabeça para baixo. Explico: trata-se do filme Entre os Muros da Escola. Sim, este de quem todo mundo anda falando. Portentosamente dirigido por Laurent Cantet, ganhou a Palma de Ouro de 2008 em Cannes. A saber: a fita mostra o dia a dia de uma escola secundária na periferia de Paris. E que bem poderia ser, aqui, na zona leste de São Paulo. Um corte: Rodrigo Ciríaco, no ano passado, lançou as narrativas de Te Pego Lá Fora (Toró Edições), em que ele reconta vários dramas da escola pública onde ele dá aula. Lembro quando Ciríaco chegou à sala, no curso de criação literária lá do b_arco. Cabra, o que não falta é personagem à sua volta. Eis sua tarefa-missão: fazer um livro mostrando essa mistura entre ficção e realidade. Da diretora folgada à aluna que vira placa. O livro é bem bom e, reaviso: daria uma minissérie endiabrada. Assim: repleta desses conflitos. Tão idênticos aos enfrentados pelo professor francês, curiosa e magistralmente interpretado por François Bégaudeau — ele que é professor de verdade, igualmente ao Ciríaco, e que escreveu o livro que deu origem ao filme e tenho ditO. Sem contar que vários dos atores são os próprios alunos. Ave nossa! Fazia tempo que eu não saía do cinema tão impactado, emputecido e amedrontado. De unhas vermelhas, de tanto roer. E de pensar. Em que recreio de mundo vivemos e saravá e mais não digO. Vale a pena ver. Para apreender a lição. Longe de querer saber quem tem razão. Ufa! Por hoje é só e bom final de semana. E beijos no umbigO. E fui. E aquelabração."

do blog - http://www.eraodito.blogspot.com/

E as minhas considerações, vocês encontram nas postagens anteriores. Mas o melhor mesmo é assistir o filme e tirar as suas próprias conclusões. Só não podemos deixar a peteca da educação ir pra lona.

Abraço,

R.C.

Um comentário:

Anônimo disse...

Rodrigo, escrevi no meu blogue um pouquinho mais sobre o assunto, explicíto nossa interlocução por lá. Sei que não caminhei muito, mas acho bom os leitores verem que os assuntos permanecem na cabeça.Vivos. E rolando por outros lugares.
Bjs, Lu