terça-feira, outubro 30, 2007

"tenha fé porque até no lixão nasce flor..."

sarau, hoje, na escola. 5ª e 7ª série. apesar de tudo.





















é ou não é louca essa cena?
é por isso que vale a pena.

um dia daqueles...

ou um dia no inferno, talvez fosse o título mais apropriado.

é que a escola não é um inferno. não ela como um todo. eu particularmente não tenho nenhum problema com sala de aula. raramente tenho problema com alunos em sala. lógico, eles acontecem, mas ajo um pouco como Rogério Ceni: cobro penalti, faço gol de falta. de vez em quando algumas defesas, ou seja, dentro da minha "área" eu dou conta do recado.

o problema são os "outros" - o inferno são os outros, não lembro quem disse isso. e é verdade. hoje o caos, thanatos e marte estavam presentes na escola. junto com o cão. só que na escola não havia direção nem coordenação. então, quem teve que se virar com os pepinos extra-sala? professor rodrigo.

aliás, existe uma relação direta entre o o fato do campo de batalha que é a escola ser exaltado, amplificado em quarenta vezes quando não se tem direção lá dentro. os alunos são inteligentes. eles sentem a falta de autoridade - não confundir com autoritarismo -, a falta de organização pelo ar. no cheiro. e se apropriam disso.

bem, tudo começou na hora do intervalo. fui na cantina comprar uma água gelada, trincando, pois o calor estava de matar e na minha sala quase não tem janela ou ventilador, quando vi dois alunos chorando. haviam acabado de se pegar. o maior, cobrira de soco o outro, um pouco menor. e como que se resolveu a peleja? juntou um grupo, uma gangue, com mais seis moleques e foram pra cima do maior. resultado? bem, o menor da primeira briga estava com o rosto vermelho, machucado. o maior estava com marca de pontapés - dava quase pra saber a marca do tênis - nas costas, no peito e nas pernas. além disso, estava com falta de ar - tomara um soco no pescoço. os meninos já haviam se dispersado, mas percebia-se uma certa satisfação, um ar de vitória como se o que eles tivessem chutado fosse um penalti, e não a cabeça do colega. e ainda marcaram um belo gol.

o menino quase não estava conseguindo respirar e eu, que não entendo nada de primeiros socorros, estava começando a ficar desesperado. fiz o básico: tentei acalmá-lo, já que além da falta de ar estava nervoso. acompanhei-o ao banheiro, ajudei-o a lavar o rosto, conversei com ele. disse que estava errado mas os outros não tinham direito de fazer o que fizeram. pois bem, o menino ficou para fora da sala, chamamos a sua avó que toma conta dele e ele foi pra casa.

depois, foi a hora da devassa.

tinha os nomes dos meninos que participaram da sessão de linchamento. a maioria deles são os chamados "alunos-problemas": já repetiram, tem dificuldade de relacionamento com professor, muitas vezes não fazem as atividades. a maior parte deles são super inteligente, e posso me gabar por ter um bom trânsito entre eles. pois bem, fui atrás deles, um por um, juntei-os na sala dos professores - já que a direção estava fechada e, os professores, sozinhos, tendo que dar aula e resolver estas questões. dá para perceber que eu não tive intervalo hoje, não? - voltando... levei-os para a sala dos professores, pedi licença aos outros colegas e perguntei: vocês sabem por que estão aqui, não? eles sabiam. não tinha como mentir. e disseram que não fizeram aquilo por mal, na verdade o menino maior era muito maior que o menor - o que é verdade - e que eles tentaram separar mas, não deu, partiram para a agressão. conversei, conversei, conversei, disse que apesar da "boa intenção", não sei, eles não tinham que ter resolvido a situação. não daquela maneira. deveriam ter chamado alguém. princiapalmente, por que uma coisa ficou no ar:

se o menino realmente não tivesse conseguido voltar a respirar, quem iria ajudá-lo? quem iria se responsabilizar se alguma coisa tivesse acontecido com ele?

resumindo a história, não pegou nada pra ninguém. apenas conversei seriamente com os rapazes. eles me ouviram. de boa. eu os respeito e eles me respeitam. assim funcionam as coisas.

só que depois - parece que eu me chamo "solução de problemas", ou será que é por que eu trabalho? bom, parece que para alguma coisa eu sirvo - veio outro aluno me dizer que fulano falou que ia juntar uma turminha pra catar ciclano na saída. outra treta. como essa molecada não tá pra brincadeira, disse que ia averiguar. odeio quanto tem treta na escola, faço tudo para que elas não ocorram. fui conversar com fulano. ele folgadamente me disse que não avisa ninguém: ele faz. não duvidei, mas também não deixei por menos. resumindo também... não teve treta na saída.

para alguma coisa eu sirvo.

e ainda fiquei sabendo que uma aluna que tinha abandonado a escola para trabalhar como "placa", divulgando anúncio de uma construtora, foi parar na FEBEM. a mãe colocou ela lá, a amiga dela disse. eu estranhei. como a mãe colocou na FEBEM? aí, fiquei sabendo que ela roubou uns artigos dá mãe - celular, mp3, dvd - vendeu para o tráfico, não entregou e ficou com o dinheiro. se queimou dos dois lados. os manos foram cobrar na casa dela, quase sobrou pra mãe. ficou jurada. a mãe a colocou num abrigo.

ou seja, perdi mais uma aluna para o sistema. será que o pessoal do Travessia a encontrará na rua? infelizmente, esse é o caminho.

e aconteceram mais duas coisas fodas com ph mas que eu nem vou relatar aqui por que eu tô cansado.

e olha que as minhas aulas foram ótimas hoje. fiz saraus nas sétimas e quintas séries, li um conto do ferréz, li o poema do dugueto, os alunos leram. foi um dia chapado. dentro da minha sala, por que lá fora.

o bicho pegou.

e eu ainda tive que segurar a bronca. saí de lá com os nervos à flor da pele.

não gosto de me vangloriar mas, tem que ser guerreiro pra sobreviver na educação. não é nenhum mérito, mas só de estar lá, todos os dias, tentando fazer o melhor por aquela molecada, com essa estrutura podre que a gente tem, com a falta de união e apoio entre os professores, com essa molecada que não tem uma orientação, não tem um incentivo. é difícil.

e ainda dizem que eu sou um incompetente.

só por hoje, vocês: vão à merda!

Rodrigo

P.S.: ultimamente este blog está com um caráter meio confessional. não é proposital, mas escrevo aquilo que os textos pedem de mim.

domingo, outubro 28, 2007

pensamentos desconexos

Não existe nada mais irritante, nada mais desconfortável que um choro de criança. Principalmente, se for um choro de bebê. Aquela voz aguda, ardida e estridente, que faz com que a pequena fique toda vermelha, pulsando as veias da testa, parecendo que vai haver um descolamento das cordas vocais. Acho que não existe som mais desconfortável no mundo, seja no Ipiranga ou Paraisópolis, em São Paulo ou Xangai. Terra ou Marte. Ele simplesmente não deixa você descansar, não lhe permitir concentrar, ver TV. Quebra-lhe o sono e as vezes deixa-o num estado de transe, de profunda irritação que a vontade é de quebrar o pescoço da criança, se isso fizer com que ela realmente pare de chorar, ao menos por alguns instantes.

Penso eu que se um dia eu necessitar torturar alguém, vou colocar do lado de fora da porta da sala escura e fria um choro de criança. Sabe aquele, de cinco meses, quando está com cólicas na barriguinha. E digo, nem precisa ser a própria criança não ao rodapé da fechadura. Basta que seja uma gravação. Por que o que eu descobri sobre o choro de criança que, o que tanto irrita não é o choro da criança que está chorando, mas o despertar, o encontro que existe com a criança que está do lado de fora e a criança que está aqui, dentro de você. Dentro de cada um de nós. Aquela criança que nós abandonamos no leito do rio e nunca mais voltamos para buscá-la. Nem para ver se já havia se decomposto. Nem para saber se alguém já havia a retirado dali. E cuidava dela. E inutilmente vivia, trabalhava, sonhava e dormia para que ela fosse feliz.

E sobre esta criança que o choro incomoda. Não a que está fora. Mas a que está dentro.

Falando sobre tudo isso, preciso confessar que há dias estou tentando escrever alguma coisa sobre as mães que deixam seus filhos nos rios, carros, lixeiras e abandonam. Simplesmente viram as costas e vão. Como os homens sempre fizeram – e fazem -, mas o que mais surpreende é que a mulher, aquele ser que carrega a vida gestando durante nove meses sobre o seu ventre tenha coragem de fazer isso. Fuder, gestar, dar á luz e... largar. Para morrer.

Eu gostaria de escrever, não para mostrar o quanto estas mulheres são terríveis, inumanas, covardes, brutais, monstros, etecetera. Eu gostaria de escrever para mostrar o contrário. O quanto são humanamente corajosas. E o quanto o fazem aquele ato desesperador, por amor. Por que abandonar um filho recém-nascido necessita de uma coragem sobre humana que eu não tenho. Que muitos mortais não tem. E, antes de tudo, esse gesto parece ser alguma coisa que um gesto de amor pois é o reconhecimento de que não damos conta de nossas crianças, de que este mundo é cruel e filha-da-puta demais para que nós deixemos para ela a responsabilidade de sobreviver – e dizemos: vocês são o futuro do país. Façam melhor do que nós. As mães que abandonam os seus filhos nos rios tem uma coragem que a maioria de medíocres que vivem neste país – e no mundo, da qual eu não sou inocente e me incluo um pouco – não tem, que é qual: a de assumir a desresponsabilidade por criar uma criança, um filho. Por que mais cruel para mim são aqueles pais que simplesmente trepam com algumas mulheres, inserem o seu sêmen e somem. Pra nunca mais, como um vento. Muito mais cruéis são aquelas mulheres que se dizem mães, e que não são mães. Não assumem a maternidade, não se responsabilizam pelo seu filho. Já usei demais está palavra, mais é isso: não se responsabilizam pelo filho. Acham que criá-lo, que educá-lo é simplesmente mantê-lo vivo. Dar roupa, comida, brinquedos. Um colégio, um computador. Uma lan-house. Dinheiro para o lanche, para o passeio, para a namorada. Para o carro e pronto. Pra que educar o meu filho se eu posso dar dinheiro, dinheiro e dinheiro. Não é isso que ele precisa? Dinheiro?

As pessoas precisam começar a aprender que a vida não é uma nota de cem.

Dedico este texto para todas as babás que trabalham de segunda a domingo, como escravas, sem direito a retornar para casa, sem direito à liberdade, dormindo dentro dos casarões em quartinhos-senzalas para que as dondocas-sinhás possam viajar, passear, gastar o dinheiro do marido e curtir a vida enquanto outras mulheres, verdadeiras mães, trabalham para cuidar e educar de seus filhos. E no futuro são dispensadas sem direitos empregatícios. Sem o pagamento das madrugadas não dormidas para o consolo do choro seco e vazio. Sem poder levar a cria. Isso sim é cruel: ter que abandonar desse jeito um filho.

Dedico este texto para a Dinha, que vai ser mãe. E que sabe criar, não apenas os seus filhos. Mas os filhos do mundo.

sábado, outubro 27, 2007

Do que eu sei e do que eu vi por aí


Hoje tem lançamento do vídeo "É tudo nosso! - O Hip Hop fazendo história", dirigido por Toni C., às 14hs.


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Amanhã, o sarau da COOPERIFA - que esta semana completou seis anos de resistência quilombola na periferia - vai ao ar no programa Antena Paulista: Rede Globo, as 07hs da Matina. (http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/)


***


Segunda-feira, lá no B_arco Virgílio, a oficina "Narrativas Breves" ministrada pelo escritor e amigo Marcelino Freire recebe a ilustre visita de três convidados escritores: Ivan Ângelo, Ivana Arruda Leite e Marçal Aquino. E são todos convidados. Não perca. (http://www.eraodito.blogspot.com/)


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E alguma coisa maravilhosa que eu enxerguei e gostaria de compartilhar, lá do blog do Rodrigo Garcia Lopes (http://estudiorealidade.blogspot.com/). Aforismas, de Ezra Pound:



"Um escravo é alguém que espera outra pessoa vir libertá-lo."


"A maioria dos escritores carece de caráter e não de inteligência."

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sexta-feira, outubro 26, 2007

Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares

"Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Mesmo que os inimigos contra nós sejam milhares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Enfrento os Borba Gato e os Raposo Tavares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares..."

E foi assim, eu falando sobre as Bandeiras paulistas, o mito bandeirantes: heroísmo, coragem, a interiozação do Brasil, a descoberta das minas e tudo mais. E contando um pouco do outro lado da história: da escravização dos índios, da destruição dos quilombos. Lá vão os alunos, conversando, nem parecem me dar muita atenção. As vezes eu tenho certeza que sou um péssimo professor. Vou me esforçando. Um dia eu chego lá.

Aí eu tive a feliz idéia de pedir para Ricarda me passar o poema do Dugueto Shabazz, "Vamos pra Palmares", por que tem uma visão de um quilombola, falando sobre os Bandeirantes Militares. A visão da favela, consciente, que precisa ser ouvida, discutida, principalmente na escolas periféricas, quilombos que ainda precisam despertar.

E fiz a leitura do poema.

Ao meu jeito, é claro, pois a ginga, a malemolência; toda malandragem e poesia para recitar este poema de convocação para a guerra contra a mediocridade, só o Shabazz tem. Fiz a leitura, do meu jeito. Mas os meninos gostaram. E as meninas. Não de mim lendo, mas do poemas. Muito bom no final me pedindo para ver, perguntando coisas a respeito, querendo uma cópia do poema.

Melhor ainda é vê-los repetindo o refrão: "Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares." Tudo isso sem eu pedir que fizessem.

Digo pra vocês e repito: foi bonito.

Em dias de chuva, esse foi o meu pôr do sol no verão.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Em respeito aos poetas...

DESAVISO

Não sou um poeta
Eu, eu sou uma farsa
E como farsante
Conto verdadeiras histórias
Escrevo poemas
Para castigar a memória
Glorifico os vencidos
Para macular a vitória
Não sou um poeta
Eu sou uma farsa!

Não sou um poeta
Eu, eu sou uma farsa
Preocupa-me sim
a rima, a métrica,
o verso, a técnica, a palavra,
mas preocupa-me mesmo
é o SUJEITO!
Por ele até abdico
da suposta pretensão de ser poeta
e me contento apenas com isso,
com a farsa.

Não sou um poeta
Eu, eu sou uma farsa
E como farsante, eu sou exigente!
Não quero saber do escritor, do poeta
Que não concilie sua palavra com a prática
Que não seja o artista-cidadão
Que ignore os preconceitos, a desigualdade,
A Ética, o Amor.
Não quero saber do escritor, do poeta
Que decrete o Fim da História,
do meu Idealismo e de todas as
Ideologias.

Sem isso, o que sobra é punhetagem!
Nem o poeta
Nem a farsa.

Sacolinha convida para sentar na poltrona

Meus alunos vão curtir.
Sacolinha: não vá para a cama sem ele - risos.

quarta-feira, outubro 24, 2007

SEMANA DE ARTE MODERNA DA PERIFERIA


- PROGRAMAÇÃO -
clique no cartaz para ampliá-lo

quem não sabe, ensina.

hoje é quarta. um dia antes de quinta. e vejo que a minha última postagem foi quinta passada. quase uma semana sem publicar nada. enfim. não peço desculpas. chega de desculpas. para aqueles - se é que existem - que ainda acessam este blog, saiba que este será o funcionamento dele até o final do ano. final de outubro, novembro, quarto bimestre. fica tudo uma loucura. minha vida e a escola.

segunda-feira deveria ter ficado um pouco feliz por conta da escola. fiquei, mas só um pouco. explico: desde junho havia pedido uma verba - $$$ - para a coordenadoria de educação para: 1 - imprimir o jornal que fazemos na minha escola e distribuirmos gratuitamente e 2 - conseguir transporte para levar os alunos ao Museu da Língua Portuguesa. tudo relacionado aos projetos que desenvolvo na escola, jornal e literatura. pois bem, o dinheiro veio. bem atrasado, diga-se de passagem. mas veio. o duro é que tenho um prazo de um mês para gastar o dinheiro e, além de tudo, não será possível aproveitar toda a verba. motivo: tempo. só no estado essas coisas acontecem (?).

ontem não foi um bom dia na escola. não consegui preparar as minhas aulas, pois no lugar tive que fazer um levantamento das minhas nove salas dos alunos que estão com perigo de serem retidos por faltas. e não são poucos. além do levantamento, analisar a situação, um por um, dos mais de 300 alunos que tenho, tive que elaborar trabalhos de compensação de faltas. enfim, deu trabalho. perdi a noite da minha segunda feira e a manhã da terça. poderia ter me preparado melhor, ter preparado a minha aula. não consegui. o resultado foi uma aula medíocre. como eu não gosto. fico frustrado, não consigo envolver os alunos. o tempo não passa. odeio fingir que estou trabalhando, principalmente dentro de sala.

fora isso, várias coisas chatas aconteceram ontem: de manhã uma aluna veio reclamar que um menino estava brincando com o seu boneco dentro da sala - não foi na minha aula. depois, em outra sala, um aluno deu um soco bem dado na cara de uma outra aluna - 5ª série. a marca aparecia através do rosto corado, inchado e vermelho. em outra sala, também de 5ª série, um aluno estava assustando os outros mostrando uma arma. ainda bem que era de brinquedo. mas parecia de verdade. fora as outras coisas que relatei acima. enfim, ontem o caos estava instalado na escola. não quero a ordem, mas espero que as energias criativas e criadoras hoje possam se instalar e gerar um pouco mais de estabilidade, tranquilidade; produção, aprendizado e conhecimento.

e o que que o título tem a ver com tudo o que escrevi?

é que ontem estava pensando, como sou um cara frustrado. não por fazer o que faço. gosto. queria fazer melhor. talvez o tempo me traga isso. mas sou frustrado por que o meu sonho era ser músico. ou ator. desisti no meio do caminho por perceber que não tinha o dom. não levava jeito, não conseguia. e fazer por fazer nunca foi comigo. hoje em dia escrevo. mas nem isso faço por que levo jeito. escrevo por que preciso. e pronto. gostaria de ser um escritor, mas não sou. sou uma pessoa que gosta de escrever.

e já que não soube fazer bem aquilo que estava nos meus sonhos, o que gostaria de ter feito, sobrou a opção: ensinar. por que parece que é isso, quem não sabe - ensina. veja como está a nossa educação e pense.

quinta-feira, outubro 18, 2007

conto

A QUEDA


Acho melhor a gente voltar quando não tiver ninguém. Vamo chegá, mete o pé na porta, solta os cara e sair.

Cê tá louco Querô? Cheiro cola e comeu a lata? Já viu o tanto de chave e cadeado que tem, essa grade no portão. Cê acha que vai estourá com esse seu pezinho.

Aí, tá me tirando Baleia?

Êh, vamo pará com a treta aí. O negócio aqui é sério. A gente já tem todo o esquema traçado Querô. Cês deram um rolê pelo pavilhão?

É, naquelas né Pedro. Aquele véio fica de marcação. Mas conseguimo fazê uma lista de cada cela.

Passa aê, deix’eu ver: Mendes, Rosa, Drummond. Hum, João Cabral, Vaz, Bandeira, Sacolinha, he, he, esse é dos bom. Mas, só tem homi aqui mano?

Você nunca foi numa cadeia jão. Lá num tem essas coisa de homem com mulher não.

Caraiô, mas cê é burro pra cacete hein Querô.

Tô te avisando Baleia, vô te cobrir de sôco.

Ô, ô, ô, vocês são duas bichinhas mêmo hein. Só ficam brigando. O Baleia tá certo Querô, isso aqui é a Revolução, num lembra? A gente vai incendiá a Bastilha. E aqui não tem essa separação não. Acrescenta aí: Clarice, Dinha, Lygia, Cecília, Elizandra.

Mano, num vai dar pra levá todo mundo. E o Veríssimo, o Vinícius. O Plínio cara!

Infelizmente alguns vão ter que ficar. É como dizia a minha avó: vão-se as mãos, ficam os dedos.

Nóóóóóssa, que viagem jão!

Trocou tudo o Pedro, há há há há.

Xiiiiiiiiiiii!

Aí, vamo falá mais baixo que o Alemão tá de marcação. Querô, repassando o plano.

Tá, cada um pega a touca e vai prum corredor.

Certo.

O Baleia vai latir.

Isso, e aê?

Êh, eu sei do baguio mano. Pergunta pra ele agora.

Fala aí cadela.

Tá forgado hein Bala. A gente começa a tirar os livros, você assobia, dá o grito e a gente responde em coro.

E sai correndo.

Não, fica esperando o tiozinho pegá nóis. Moscão.

Então é isso rapá. É tudo nosso! Sem afobação, sem nervosismo. Chegou a nossa vez. Cês foram escolhido a grão. Isso num é pra qualquer um não. A gente vai ficá na história da escola. Na humildade, na malandragem. Sem pagá simpatia. Um por amor, dois pelos livros.

Um por amor, dois pelos livros!

Xiiiiiiiiiiiii! Silêncio.

Vai, vai, vai. Cada um pro seu corredor.

Meninos, vocês já sabem: um de cada vez, por favor.

Au, au, au. Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.

Vamos calar a boca Rogério? Maicon, posso saber onde você pensa que vai com essa pilha de livros. Parece que não conhece as regras. Ermeson, Ermeson! O quê é isso? Desce já dessa mesa.

Eu sou Pedro Bala, descendente de Zumbi. Irmão de Lima Barreto, neto de Lampião. Isso aqui é a Revolução Alemão. Livros são pra mexer!

Livros são pra mexer! Êêêêêê...

Seus estrupícios, vamos parar com essa bagunça. Vocês estão na Biblioteca! Ei, ei, vocês não podem sair com esses livros não. Volta, devolve aqui seus moleques!

Corre, corre, corre.

Ô Direção!

terça-feira, outubro 16, 2007

devaneios

ontem foi dia dos professores.

não recebi nada. poucos cumprimentos, lembranças. aliás, é o segundo ano consecutivo que não recebo nada. em dois anos oficiais que dou aula. não deveria me incomodar mas, incomoda. não pelo fato de ser professor. claro que é por isso. mas principalmente por ver que, realmente, não temos mais valor. ah, sei lá.

tô falando esse monte de merda apenas para introduzir a parte que mais interessa. domingo, através do evento das "satyrianas", participei de uma discussão legal no teatro da vila, dentro da escola estadual maximiliano. o tema era "ensino da literatura, literatura no ensino", e contou com a participação de carlos galdino (poeta pernambucano), ivan antunes (poeta e oficineiro de literatura em escola municipal), frederico barbosa (poeta pernambucano, professor) e marcelino freire (escritor pernambucano!) - Salve Pernambuco! o bate papo foi muito bom, éramos apenas quatro pessoas presentes mas, a conversa fluiu boa. serviu para oxigenar as idéias, elaborar a evolução.

o melhor de tudo foi ver o que o pessoal do aprendiz, satyros e várias parcerias conseguiram fazer numa escola estadual. tudo bem, vila madalena, escola estadual que está virando particular, para elite, muito dinheiro e apoio mas, ver aquelas oficinas de teatro, cinema e vídeo, letras, danças, música etc, etc, etc, motiva muito a você pensar que transformar a sua escola também é possível.

deve ter sido por isso que chegar segunda feira na escola, pleno dia dos professores, e encontrar a mesma invadida, porta da cozinha destruída, merenda roubada, panelas transformadas em ferro velho, objetos da cozinha roubados, impunidade, descaso, entre outras coisas deve ter me chocado tanto. fiquei triste. e revoltado. aquilo parecia irreal. mais uma invasão na escola. mais um roubo, mais uma destruição. isso numa escola que já não tem quadra. um local que já não tem mais sala de informática, não tem um vídeo, um dvd, um som decente. tem uma biblioteca boa, que vive fechada. aliás, será que as coisas não tem relação? as pessoas invadem, destróem e roubam a escola porque ela não tem nada ou ela não tem nada porque as pessoas invadem, destróem e roubam? pergunta tostines que o governo não se preocupa. aliás, governo é governo, nunca nada vê.

pra somar e fechar, finalizei a oficina de literatura. é isso mesmo, o projeto "literatura (é) possível" está encerrado. fica para o próximo ano, isso se tiver parceria, apoio e $$$. oficializei hoje para os escritores que participaram - e participariam, no caso do Buzo e do Vaz - e para os membros da escola. motivo: está difícil carregar o piano sozinho. está difícil bancar o piano sozinho. este mês mal recebi meu pagamento e já estava negativo em 130 reais. mas isto é outra história. mas assim não dá para eu pagar um escritor para ir na escola. e sou eu que banco o projeto. e eu preciso viver. estudar, comprar livros, pôr gasolina no carro, fazer a compra do mercado. mas quem se importa com isso? eu.

a secretária de educação disse hoje na folha que a gente ganha bem. poderia ter me xingado, seria menos cínico. disse também que melhorar o salário de professores não é a solução para melhorar a educação. realmente, não é. mas que ajudaria, ajudaria. com certeza. ou então investir mais - e melhor - na escola, construir mais escolas, diminuir o número de alunos em sala, investir na periferia, etc, etc, etecetera.

ah! é isso.

sábado, outubro 13, 2007

para não ficar com a bunda quadrada na poltrona

pessoal, final de semana prolongado, muita coisa acontecendo em São Paulo.

pra quem está na perifa da Zona Sul, pode acompanhar o Panorama Teatral Sul que, além das peças, vai contar com intervenções poéticas dos artistas da Cooperifa.

se vier mais para o centro, duas opções: o corredor literário na paulista, que está com mesas de debate, oficinas, entre outros (clique no http://www.corredorliterario.com.br/), ou ainda, se você gosta de Teatro, recomendo entrar no sítio dos Satyros e se programar para assistir alguma peça das Satyrianas. saiba mais clicando aqui também http://satyros.uol.com.br/. todas as peças são no esquema pague quanto puder. e é isso.

terça-feira, outubro 09, 2007

inVEJA


Se você também se indignou com a capa e matéria daquela publicação que se diz ser uma revista e atende pela alcunha de VEJA, leia o texto-resposta abaixo, de Gilberto Maringoni, da Carta Maior.

Acredite: os jornalistas ainda existem.


Rodrigo


Obs.: O texto não ficou muito bom, pois não consegui achar o artigo original na Carta Maior. Copiei do Blog do Ademir Assunção. Se quiser ler o texto com a pontuação, espaço, tudo certinho, acesse o blog do mesmo no link ao lado.



DEBATE ABERTO


Che Guevara e os mimos da família Civita


Dar a patinha, rolar no chão e falar mal de tudo que cheire a povo são as eternas gracinhas da pet shop chamada Veja. Os Civita adoram mascotes. Têm vários.


Gilberto Maringoni


A humanidade sempre gostou de animais de estimação, mas agora o costume virou moda. Pet shops tomam conta das cidades brasileiras e roupas, brinquedos e alimentos especiais para bichinhos disputam um mercado crescente. Escolas especiais pipocam por toda parte, sofisticando a pedagogia caseira de ensinar mascotes a sentar, dar a patinha ou buscar objetos atirados ao longe. Todos gostam dessas companhias domésticas. Fazem a alegria das crianças. Há uma família em São Paulo que parece adorar mascotes. É um clã de origem italiana, aqui radicado há décadas. Não se sabe bem o porquê, mas alguns de seus membros exibem socialmente um inconfundível acento novaiorquino. Manias, quem sabe. Trata-se da turma dos Civita, gente boa, com negócios para os lados da marginal Pinheiros.Os Civita adoram mascotes. Têm vários. Um dos orgulhos de sua casa de negócios atende pelo nome de Diogo. Aliás, são dois os Diogos amestrados daquele – chamemos assim – lar da marginal. Vamos falar de um deles, o Diogo Schelp (tem o Mainardi, mas este fica para outra hora). O Schelp é um espécime reluzente. Dá a patinha, busca o que o dono mandar e não gosta do que os Civita não gostam. Coisa bonita de se ver. Diogo Schelp deve andar aí pela casa dos trinta anos. Tem futuro. Cuba, Venezuela, MST etc.Os Civita detestam tudo que cheire a povo. Externam especial repulsa por coisas como Cuba, Venezuela, MST e quejandos. Quando precisam propalar aos quatro ventos seus desapreços, chamam um dos Diogos. “Vem, Diogo, vem”. E Diogo – qualquer um deles – faz a alegria da família. “Vem, Diogo, vem, desce o chanfralho no Chávez, vem!”. E lá vai Diogo, correndo, mostrar o serviço.Como toda boa família, os Civita têm sua sala de visitas, onde exibem tudo do bom e do melhor. A sala de visitas tem até nome. Chama-se Veja. Toda semana apresenta uma decoração nova, todas diferentes, mas iguais às anteriores, se é que dá para entender.Diogo é um fenômeno, dizíamos. É bom também não confundi-lo com Dioguinho, apelido de Diogo da Rocha Vieira, famoso bandido e salteador que aterrorizou os sertões da Mogiana, entre o final do século XIX e inícios do XX. Dioguinho era bandido de aluguel, que agia em troca de bom soldo. Diogo, o Schelp não aterroriza ninguém.Pois não é que depois de fazer das suas por várias vezes, exibindo língua solta contra a Venezuela e Cuba o Diogo resolveu voltar-se contra Che Guevara. Certamente fez isso depois de dar a patinha, rolar no tapete e pedir papinha, pois a vida não anda fácil.Pérolas e olfatosDiogo é uma graça. Ganhou uma capa – é capa da tal sala de visitas, a Veja – e mais um monte de espaço. Sua pérola chama-se “Che. Há quarenta anos morria o homem, nascia a farsa”. A obra é hercúlea. Diogo contou com a ajuda de outro civitete de estimação, um serzinho chamado Duda Teixeira. Para fazer das suas, foram falar com vários cubanos que, segundo ambos, conviveram com Che Guevara. Não foram a Cuba, mas entrevistaram quatro que moram na mais reluzente cidade latino-americana, chamada Miami. Tem uma comunidade cubana lá que é do balacobaco. Ajudaram a eleger George e seu irmão Jeb Bush. Gente fina. Entre citações dos tais cubanos e sacadas próprias, a dupla DD (Diogo e Duda) saiu-se com estas:“Che foi um ser desprezível”.“Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro”."Sua vida foi uma seqüência de fracassos".Como a vida da dupla DD é uma seqüência de sucessos, eles podem dizer esta última frase de boca cheia. Certamente ambos vão revelar proximamente terem feito algo mais grandioso do que uma revolução nas barbas do império (desculpem o uso da expressão antiquada) ou de terem dado a vida defendendo o que pensam. O mais legal é a especialidade olfativa dos DD. Sabem de cada uma. Vejam esta:“Che (...) não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido". Cheiro de rim fervido! Alguém sabe como é? Os DD, pelo visto, cultivam o salutar hábito de experimentar odores em busca de comparações espirituosas a pedido dos Civita.E tem mais. Como estão fazendo graça, dando a patinha e tal, os DD não se preocupam nem mesmo em dizer uma coisa no início da matéria e desdizer a mesma coisa linhas abaixo. Pois vejam só:“Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro”.Lá adiante, a dupla do barulho fala assim:“Che também se tornou crítico feroz da União Soviética”.Os Civita devem adorar. Os Civita gostam de dinheiro, poder e publicidade oficial, da qual suas revistas andam cheias. O governo deve gostar muito dos Civita e de seus mascotes, para dar esse ajutório todo.Mas deve haver uma hora que os DD cansam um pouco a família lá da marginal. Mesmo vivendo toda hora na sala e se exibindo para as visitas, há sempre um perigo maior. O de fazer xixi no tapete. Foi o que aconteceu agora. Graça demais não tem muita graça não.

FORMAÇÃO POLÍTICA - imprescindível

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O Fórum Centro Vivo, FCV, que conglomera os diversos atores e movimentos sociais - moradia, população em situação de rua, ambulantes, catadores entre outros - e faz a luta por um centro mais justo e democrático para tod@s, está realizando este curso de (in)formação política. Durante mais de dois anos fiz parte do Fórum - que atua em contraposição a Associação Viva o Centro, formada principalmente por comerciantes, banqueiros, empresários da indústria e especulação imobiliária - e recomendo profundamente o curso, devido a vivência e prática política de seus integrantes.


Se puder, não perca.

domingo, outubro 07, 2007

ROBSON CANTO convida

É nesta quarta, na Cooperifa.
Parabéns Vagabundo. Reserva já o meu.

Entrevista com o escritor SACOLINHA



publiquei no blog do jornal da minha escola - http://www.fiquedeolho-jornalmesquita.blogspot.com/ - uma entrevista concedida a nós pelo escritor e amigo Sacolinha, devido a sua visita a EE Jorn. Francisco Mesquita no dia 14 de junho deste ano, por conta do projeto "Literatura (é) Possível".

quer conferir a entrevista? acesse:


valeu,

rodrigo ciríaco

CAROS AMIGOS

car@s,

publiquei no correio Caros Amigos desta semana um artigo chamado "No meio do Caminho?", falando sobre as "Dez Metas para a Educação no Estado de São Paulo", lançado pelo Governo Paulista em 20 de agosto, sem qualquer discussão / divulgação entre os profissionais da educação e mesmo a imprensa. ficaria grato se pudessem ler e tecer comentários, críticas e sugestões ao texto, no Fórum Caros Amigos, dentro da mesma página.

acesse:
http://carosamigos.terra.com.br/

para conhecer as "Dez Metas":
www.educacao.sp.gov.br

rodrigo ciríaco

sábado, outubro 06, 2007

quinta-feira, outubro 04, 2007

Alessandro Buzo Convida

Lançamento do Livro Guerreira, pela Global Editora
Sexta-feira, 05 de outubro, a partir das 18h30m
Livraria Nobel do Shopping Center 3 - Paulista

terça-feira, outubro 02, 2007

TODO ÓDIO A QUEM NOS OPRIME

Che

Há quarenta anos morria o homem e nascia a farsa

"Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto." Há quarenta anos, no dia 8 de outubro de 1967, essa frase foi gritada por um guerrilheiro maltrapilho e sujo metido em uma grota nos confins da Bolívia. Nunca mais foi lembrada. Seu esquecimento deve-se ao fato de que o pedido de misericórdia, o apelo desesperado pela própria vida e o reconhecimento sem disfarce da derrota não combinam com a aura mitológica criada em torno de tudo o que se refere à vida e à morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna, argentino de Rosário, o Che, que antes, para os companheiros, era apenas "el chancho", o porco, porque não gostava de banho e "tinha cheiro de rim fervido".

http://veja.abril.com.br/031007/p_082.shtml


Todo ódio a Revista Papagaio Semanal e seus cães adestrados, erroneamente chamados de jornalistas. Quer saber o que é guerra de classes? Leia a revista desta semana então.

E não me diga que o muro caiu.
E não me peça para não sentir ódio.
E não me peça para esquecer e acabar com o rancor.