terça-feira, agosto 25, 2009

SUPLICY É O CARA!



Ainda bem que alguém naquele Senado tem coragem de mostrar um pouco da nossa cara de indignação. Ainda que riam dela. Foda-se. Cartão Vermelho pra eles.

SIM, NÓS ZOAMOS COM ELES


Este é o verdadeiro programa habitacional do Governo do Estado de S. Paulo. O resto é conversa fiada!

SIM, ELES BRINCAM COM A GENTE

para entender melhor a provocação clique aqui e também aqui

segunda-feira, agosto 24, 2009

UM PÉ DE MOINHOS DE VENTO

eu, diante de meu "pé" de OBA-OBA(!), em algum lugar de Recife, em janeiro de 2008


cortaram. cortaram
meus sonhos em pedaços.

e de tão picados que ficaram
resolveram fazer um ensopado.

pegaram água suja, pedra e sal
misturaram, ferveram e deram pra eu comer/beber

eu engoli tudo.
água suja e sal expeli pela urina

a pedra
ficou entalada na garganta.


homens vieram na claridade cegante da luz
e arrancaram rosas e girassóis do meu jardim.

eu chorei. das mãos que tentei salvar flores
ficou apenas sangue e lágrimas. das rosas, apenas espinhos

chorei. maldizi o mundo, fiquei de luto
por levarem assim - tão fácil - minha esperança

mas ela é criança, boba. não cresce e não se cansa
e toda manhã enquanto me puxa do sofá, geme e dança ela diz:

se levaram tuas flores, planta agora moinhos de vento.
anda, planta. planta agora moinhos de vento, menino!

sábado, agosto 22, 2009

"O POETA ESTÁ VIVO"

eu, de costas, em apresentação no Teatro Fábrica, 04 de dezembro de 2005

(...) Todo mundo é parecido
Quando sente dor
Mas nú e só ao meio dia
Só quem está pronto pro amor...

O poeta não morreu
Foi ao inferno e voltou
Conheceu os jardins do Éden
E nos contou (...)

RECADO AOS CHATOS(AS)

claro que eu te entendo. eu também sou um chato. de galocha. até minha mãe concorda. mas eu tomo chazinho, sabe? não, não é pra ficar calmo. é chá de simancol. experimenta. é bom. porque eu não te obrigo a vir aqui, entende. não obrigo ninguém a acessar meu blog, ler minhas postagens. e agora você deu de reclamar do que eu aqui coloco? me mandou eu me ligar, tirar? foda-se. vai pra outro lugar, porra. há trilhões de páginas da internet, bilhões de blogs. esse é meu espaço de liberdade. e libertinagem também. loucura. desilusão e esperança. e se não estiver contente, não apareça mais. certo? acho que ambos estaremos felizes. e tchau.

é cada uma que me aparece...

BADEN POWELL & VINICIUS

sexta-feira, agosto 21, 2009

DAMA DA NOITE - CAIO FERNANDO ABREU

"Como se eu estivesse por fora do movimento da vida. A vida rolando por aí feito roda-gigante, com todo mundo dentro, e eu aqui parada, pateta, sentada no bar. Sem fazer nada, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam para se comunicar quando rodam assim e assim por diante nessa roda-gigante. Você tem um passe para a roda-gigante, uma senha, um código, sei lá. Você fala qualquer coisa tipo bá, por exemplo, então o cara deixa você entrar, sentar e rodar junto com os outros. Mas eu fico sempre do lado de fora. Aqui parada, sem saber a palavra certa, sem conseguir adivinhar. Olhando de fora, a cara cheia, louca de vontade de estar lá, rodando junto com eles nessa roda idiota - tá me entendendo, garotão?
(...)
...mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro.
(...)
Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada"

quarta-feira, agosto 19, 2009

PODE SER QUE ALGUMAS PESSOAS NÃO GOSTEM DO QUE VEJAM, MAS...

chega de máscaras
a partir de agora
só vou usar
capacete
rodrigo ciríaco

ENTÃO NOVAMENTE - E SEMPRE - A SALVAÇÃO É ESCREVER

"A obra de arte é um ato de loucura do criador. Só que germina como não loucura e abre caminho. É, no entanto, inútil planejar essa loucura para chegar à visão do mundo. A pré-visão desperta do sono lento da maioria dos que dormem ou da confusão dos que adivinham que alguma coisa está acontecendo ou vai acontecer. A loucura dos criadores é diferente da loucura dos que estão mentalmente doentes. Estes, entre outros motivos que desconheço, erraram no caminho da busca. São casos para médicos, enquanto os criadores se realizam com o próprio ato de loucura."
Clarice Lispector, Loucura Diferente, Jornal do Brasil, 15/08/1970

OS SOBREVIVENTES - CAIO FERNANDO ABREU

"Eu quero chafurdar na dor desse ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, ginseng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina e ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum pana qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-essa-razão só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?”
do livro Morangos Mofados

RESPOSTA

devido ao sem números de respostas recebidas do anúncio,
declaro que o mesmo está suspenso por tempo indeterminado
- ou até contra-indicação médica.
(tá na hora de começar a rir de algumas coisas
e de algumas pessoas também)

quinta-feira, agosto 13, 2009

OLHE A FOTO ABAIXO E ACREDITE: ESSE POVO TODO SE REUNIU SÓ PRA OUVIR POESIA

"Se o barato é louco e o processo é lento, no momento, deixa eu caminhar contra o vento..."

E ontem o barato foi doido. Gente saindo pelo ladrão, livro despencando pra tudo quanto é lado. Duvida? Então visita o blog do Poeta. É foto que não acaba mais. É gente que não acabava mais. É livro que... acabou. Mais de quinhentos livros. Não é mole não...

quarta-feira, agosto 12, 2009

CONSTATAÇÃO (poemeto)


é fato:
todos os casais que conheço
são um saco.
um saco.

tão cheios de si
tão cheios um do outro
brigam mais do que cães e gatos
mas não tem coragem de chutar
o pau do barraco.

é fato:
todos os casais que conheço são um saco!

e eu me pergunto:
onde está o Amor?
cadê? cadê aquela flor roxa
que nasce no coração dos trouxa?
cadê?

eu quero a minha!
e por que me deixaram assim
sem nenhuma flor no meu jardim?
eu quero a minha, pô!

mas aí é só olhar pro lado e, que saco!
todos os casais que eu conheço
parece que só brigam...

porra, isso é um fato!
e é um saco,
um saco.

CHUVA DE LIVROS - COOPERIFA


hoje a noite vai chover

não adianta capa, nem guarda-chuva

vai ser o maior toró. idéias e livros espalhados

por todos os lados.


não entendeu? entra aqui então

ô cabeção!

ENCONTRO SOBRE ENSINO DE LITERATURA (PERIFÉRICA)


sou professor de história. apaixonado por literatura. e, contando com este ano, faz quatro anos que estou efetivado na rede como professor de história e também faz quatro anos que eu desenvolvo atividades - paralelas - com literatura na minha escola: seja através de saraus, uma oficina aqui, um trabalho com texto acolá, encontros com autores, etc. além disso, já tem um tempo que observo alguns parceiros e parceiras fazendo um corre parecido em outras instituições educacionais.

até aí, nada de novo. ou não? na verdade, pra mim tem. porque apesar da literatura ser trabalhada e ensinada na escola há muito tempo, é de hoje que eu observo duas coisas diferentes: 1) o trabalho com a literatura periférica na escola e 2) o método (ou metodologia?) do ensino de literatura na escola, estão diferentes. ao menos para este grupo citado.

literatura e escola sempre tiveram uma relação muito traumática. as leituras literárias, em sua maior parte, sempre entram como obrigação, nunca como prazer: para fazer um trabalho, uma prova, para passar no vestibular. além disso, muitas vezes são colocados aos nossos alunos livros que estão além da capacidade de apreensão deles, ao menos naquele tempo. explico: não é que sejam burros, mas cada coisa tem seu momento. um exemplo: eu amo Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas é o melhor livro que já li, o mais importante da minha vida, mas demorei vinte e sete anos para poder lê-lo. já havia tentado outras vezes, não conseguia e tal. então, cada coisa no seu momento.


tudo isso pra falar que eu vejo que tem uma turma fazendo um trabalho importante. diferenciado. e que muitas vezes a gente não se fala. não se tromba. não troca experiências, entraves, sucessos, possibilidades.

até agora.

há um mês mais ou menos venho articulando com alguns colegas. há umas três semanas eu fiz o convite. há uma semana atrás eu confirmei o lugar. e nesta sexta-feira acontecerá o nosso I Encontro Sobre o Ensino de Literatura (Periférica).

é um grupo pequeno, ainda. uma galera que trabalha em escolas, outra que trabalha na fundação casa. tem ainda algumas pessoas que pesquisam sobre o assunto. por enquanto é um grupo pequeno, fechado, porque, na verdade, a intenção é formar um Círculo de Estudo. discutirmos sobre o que é literatura (periférica) para nós, qual a sua importância, a questão do ensino, acesso, etc, além do lance principal: a troca de experiências. teoria não funciona sem a prática. e vice-versa. a idéia é ver o que cada um está fazendo, trocarmos e, principalmente, sistematizarmos as informações. porque senão elas se perdem. principalmente as coisas boas.

os vôos são altos. as possibilidades são muitas. e pra quem achou o lance bacana, ficou interessado, acompanhem pelo blog que a idéia é, que até o final de novembro, nós façamos, aí sim, um grande Encontro, aberto, para falar sobre Ensino de Literatura (Periférica) em Espaços Educacionais. Onde apresentaremos o resultado parcial deste Círculo de Estudos e todos poderão compartilhar, participar, pitacar, firmeza?

no mais, é isso. desejem boa sorte pra nóis, muito axé, muito estudo e muita força porque o lance envolve dinheiro nenhum, só muito trabalho, tempo e é todo de militância literária e pedagógica.


um por amor, dois pelos livros. três pela educação.

salve,

rodrigo ciríaco.


p.s.: as fotos são dos encontros literários já feitos na minha escola, durante os encontros com os autores, projeto Literatura (é) Possível.

segunda-feira, agosto 10, 2009

LEMBRANDO DRUMMOND

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

trecho de A Flor e a Náusea, em A Rosa do Povo

Quando? Quando foi
Que a Política deixou de ser
A arte de transformar o mundo
Para se converter – religiosamente –
Na arte de enganar todo mundo?
Quando? Quando foi?

Há no planalto federal senadores
Que só fodem o Brasil
Há no planalto e nas planícies
Deputados, vereadores que só fodem
O Brasil. Só fodem o Brasil
Prefeitos, presidentes, governadores
Que só fodem.

E por falar em Brasil, dizem
Que ainda somos o país do futebol
Que ainda somos pentacampeões mundial
Que ainda temos cinco títulos:
Da miséria, desigualdade,
Violência, corrupção e injustiça

E eu penso:
Quando? Quando foi
Que a Política deixou de ser
A arte de transformar o mundo
Para se converter – religiosamente –
Nesta merda?

Há no planalto central políticos
Que só fodem o Brasil.
Há no planalto e nas planícies
Políticos estéreis que só fodem o Brasil.
Só fodem o Brasil.
Políticos que só fodem. E são estéreis.

Não germinam nada.

quinta-feira, agosto 06, 2009

SARAU, TEATRO E UMA ENTREVISTA

salve, povo.

ontem a noite foi lôca. muito, muito boa. estou falando do sarau da cooperifa. e não é porque lá é meu recanto e refúgio. porque fazia um mês que não comparecia - e a saudade era tamanha que doía. é porque ontem tinha gente saindo pelo ladrão. mais de trezentas pessoas. e os poetas estavam afiadíssimos. um tiro, ou melhor, um poema mais chapado do que o outro. e se não bastasse tudo isso, a presença dos poetas - (tes)ouros - da casa que seguram o sarau, contamos ainda com a participação especial de Marcelino Freire, Paulo Scott, Ademir Assunção e Chacal. conhece? tá bom pra você? imagine pra mim.

clique no blog do Poeta e veja fotos desse sarau lôco.

e, apesar da ressaca, hoje levantei cedo e fui encontrar-me com a minha turma do Teatro, lá no Parque Ecológico do Tietê, aqui na ZL. já que as aulas estão suspensas, não podemos nos aglomerar em lugares fechados, a gente foi pro Parque. e foi ótimo, o sol finalmente resolveu dar as caras, conversamos bastante, acertamos detalhes de nossa futura peça e fizemos alguns jogos e exercícios. logo mais tem umas fotinhos aqui.

e EXTRA, EXTRA!!! hoje recebi do Oscar D'Ambrosio da Rádio Unesp FM a entrevista que eu dei para o mesmo na semana passada. falamos um pouco do meu livro, o "Te Pego Lá Fora", influências literárias, educação, Cooperifa entre outras cositas. acesse aqui o link do programa Perfil Literário, veja a minha entrevista (é a número 222 - três patinhos na lagoa) e aproveite e se delicie: são mais de 200(!) poetas e escritores falando de literatura. é palavra para todos os gostos.

até.

quarta-feira, agosto 05, 2009

O QUE DISSERAM...

e que eu até esqueci de comentar: na FLIP, além da repressão, rolou altos escambos. sim, entre os becos e vielas das pedras tortuosas foram feitos vários tráficos de informações entre os companheiros das letras. dois deles comentaram sobre o meu livro, o "Te Pego Lá Fora": a helena ortiz, e o tiago miçanga (ambos do rj). chega junto lá no blog dele e dela pra conferir o que disseram por aí.

POEMA - OU SERIA OUTRA COISA?

porra!

meu estado de excitação
poética era tamanho que fui
obrigado a fazer escorrer
pelos meu dedos muito mais
do que poemas...

porra!

DICAS DE LEITURA, ABSURDOS E BLOG

salve, povo.

estes dias estou vivendo um momento de excitação poética muito grande (como já exposto acima - rs). lôco, como há tempos não acontecia.

tudo começou na segunda-feira quando, aproveitando as "férias forçadas" eu fui fazer um rolê pelos sebos do centro e vila madalena. nada por acaso, já tinha feito a pesquisa de uns livros na estantevirtual, reservado, só estava indo buscá-los. eram eles "pensamento chão", da viviane mosé e "livro sobre nada", do manoel de barros.

porra, é difícil falar sobre os livros. eu já os li, mas eles estão na minha mochila porque eu vou relê-los. de novo. talvez umas duas ou três vezes. ou quatro. não sei. até quase decorá-los. até descobrir qual é a formula usada para se escrever daquela maneira. porque pra mim estes livros são isso: aulas de como se escrever (boa) poesia. ambos estão na minha listinha de "melhores livros". o "livro sobre nada" do manoel de barros está na minha lista dos "cinco mais", de toda a vida.

então, se puder, não deixe de ler.

agora, sobre um absurdo: já ouviu falar da lei da Vadiagem? sim, uma contravenção penal que pune as pessoas consideradas "aptas" para trabalhar mas que não possuem remuneração fixa. essa lei foi muito comum nos idos da década de 70, 60... pois é, ela voltou! pelo menos em Assis. passa lá pra ver. parece piada. um conto? por que não?

e, por fim, apenas uma divulgação. o grupo de teatro da qual faço parte na escola, os Mesquiteiros (junção de EE Jorn. Fco. Mesquita + os Mosqueteiros) abriram um blog pra divulgar o nosso trabalho, fotos, registros dos diários semanais que fazem, informações gerais, essas paradinhas. quem criou foi uma aluna minha e a gestão ficará por conta deles. por enquanto não tem muita coisa mas, quando puder, dá uma passadinha por pra valorizar a iniciativa dessa molecada, valeu.

no mais é isso,

salve.

rodrigo

terça-feira, agosto 04, 2009

IDÉIA FIXA - MINI-CONTO*

Era mais do que obsessão. Era loucura. Pensava, pensava e pensava. Passando batom, tomando banho. Até na hora do sexo. A voz estridente não a abandonava.

Já subia pelas paredes de seu pequeno apartamento. Pela rua, andava em círculos. No trabalho, sozinha, conversava. As pessoas comentavam pelos cantos. Alguns amigos passaram a não retornar suas ligações. O namorado há cinco dias não comparecia. Decidiu procurar um médico.

Atencioso, ouviu tudo sem dizer uma palavra. Prescreveu um tarja-preta. Ela esbravejou. Queria ser examinada. Não suportava mais aquela idéia fixa na cabeça. O doutor decidiu não contrariá-la. Examinou os olhos, auscultou o peito. Olhou dentro do ouvido. Não acreditou. Olhou de novo. Pegou uma pinça, enfiou com cuidado e puxou. A varejeira ainda estava viva.





*texto meu publicado em MOSCAS (antologia de mini-contos), org. Marcelino Freire, Edições Dulcinéia Catadora, novembro de 2007

domingo, agosto 02, 2009

POEMA (FUDEROSO!) DE VIVIANE MOISÉS

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando


muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão

mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema

pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima


lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema


palavra suor é melhor do que palavra cravo
que é melhor do que palavra catarro
que é melhor do que palavra bílis
que é melhor do que palavra ferida
que é melhor do que palavra nódulo
que nem chega perto da palavra tumores internos
palavra lágrima é melhor
palavra é melhor
é melhor poema

receita para arrancar poemas presos:

você pode arrancar poemas com pinças
buchas vegetais. óleos medicinais
com as pontas dos dedos. com as unhas
com banhos de imersão
com o pente. com uma agulha
com pomada basilicão
alicate de cutículas
massagens e hidratação

mas não use bisturi nunca
em caso de poemas difíceis use a dança.
a dança é uma forma de amolecer os poemas
endurecidos do corpo.
uma forma de soltá-los
das dobras dos dedos dos pés. das vértebras
dos punhos. das axilas. do quadril

são os poema cóccix. os poema virilha
os poema olho. os poema peito
os poema sexo. os poema cílio



ultimamente ando gostando de pensamento chão
pensamento chão é poema que nasce do pé
é poema de pé no chão
poema de pé no chão é poema de gente normal
gente simples
gente de espírito santo


eu venho do espírito santo
eu sou do espírito santo
traga a vitória do espírito santo

santo é um espírito capaz de operar milagres
sobre si mesmo

para uma nova gramática:

imagine um sentimento água. um sentimento árvore.
uma agonia vidro. uma emoção céu. uma espera pedra.
um amor manga. um colorido vento sul. um jeito casa
de ser. uma forma líquida de pensar. uma vida paredes.
uma existência mar. uma solidão cordilheira. uma alegria pássaro em chuva fina. uma perda corpo.

acho que hoje acordei semente. tenho andado muito temporal. minha irmã vive um momento tudo. a vida
às vezes transborda pelos poros. me atinge um estado livro. aurora em meus joelhos. tem pessoas ponte.
algumas carregam a gravidade nas costas. já conheci gente

FLIP, BOLETIM DO KAOS E ESCLARECIMENTOS

Para mim já era assunto encerrado, conversado com o Buzo e o Alexandre de Maio (editores do Boletim do Kaos), mas como ontem eu trombei com algumas pessoas que me lembraram sobre a matéria (uma delas foi inclusive o Marcelino Freire) e por eu ter divulgado aos quatro ventos que o lance sairia no Boletim do Kaos de Agosto (nº 05), deixo aqui alguns esclarecimentos:

a) antes de viajar pra FLIP, o Buzão havia falado comigo pra combinar um texto sobre a Flip para o Boletim do Kaos de agosto. Segundo ele, eu seria o "enviado especial" do jornal. Gostei da idéia e fechamos. Perguntei quantos caracteres (palavras, tamanho do texto) exatamente, ele não soube me informar. Disse apenas que fosse um texto de uma página, máximo uma página e meia. E que teria que enviar até o dia 15 de JULHO;

b) na FLIP fiquei preocupado sobre o que falaria da Festa para o Boletim. Não queria que fosse algo comum, batido. Levei caderno e máquina a tira-colo e, fui pensando no que escreveria. Até por conta disso estava com a máquina fotográfica quando rolou a apreensão dos livros do Pedro em que eu dei o flagra. E batata: a pauta para o Boletim do Kaos estava ali: a Repressão à Litera-rua na Flip. É pauta ou não é? Achei que era. E, ainda lá na FLIP, divulguei que estaria escrevendo para o Boletim e falaria sobre isso: a repressão;

c) voltando da FLIP, escrevi não apenas para o Boletim, mas para o meu blog. Para os emails dos parceiros e outros. Era uma parada que não dava pra ficar guardada até Agosto, para falar apenas no Boletim. O barato tava fervendo nas mãos, precisava ser divulgado. O fiz. Mas, como havia combinado com o Buzo, fiz um texto especial para o Boletim. O único problema: o texto tinha 03 páginas. Além do que havíamos combinado. Mas mandei. Na terça, dia 14 de julho. Um dia antes do prazo combinado.

d) pensando que eu não tinha cumprido com o combinado - passei duas páginas - refiz o texto para o Boletim do Kaos, incluindo nele uma pequena entrevista que tinha feito com o Pedro Tostes, o que deu uma página e meia, e mandei na quarta, dia 15 de julho, dentro do prazo combinado. Pra mim, estava fechado;

e) depois, recebi um email do Alexandre de Maio pedindo desculpas e tal e dizendo que o texto não seria publicado pelos seguintes motivos: 1) a parada sobre a Flip tinha que ser inédita (exclusividade do Boletim) e eu já havia colocado no meu blog e passado via email para outras pessoas; 2) o texto chegou depois do prazo, que era dia 10(?) e 3) eu tinha que ter escrito um texto com metade do que havia escrito, ou seja, meia página;

f) ainda conversei com o Buzo e com o Alexandre, dialogando sobre os três pontos: a"exclusividade" era do Boletim, já que o texto que eu mandei para o Boletim eu não tinha escrito para nenhum lugar, além do fato de eu ter sido uma "testemunha ocular" do que rolou na Flip e que nenhum outro jornal deu o devido destaque e respeito a que o fato merecia. Ou seja, só o Boletim poderia fazê-lo. Sobre o prazo, o Buzo havia sido categórico: dia 15, e não 10 e, sobre o tamanho também: uma página, página e meia.

Sobre o lance, fiquei meio chateado pois acho que perdemos um ótimo "furo" pra falar de um assunto que afeta a quebrada - repressão à litera-rua - num jornal da Rua. Além de ter dado mancada (no caso eu, já que eu que "prometi") com as pessoas que avisei que sairia a matéria, e não saiu. Por isso este ESCLARECIMENTO público: porque as pessoas estão me perguntando da matéria no Boletim, ou seja, estou sendo COBRADO.

E porque eu vi que, no Boletim do Kaos de agosto acabou saindo uma matéria sobre a Flip. Não a minha, mas uma feita pela "Redação". Uma matéria básica, falando do geralzão do evento. Citando em algumas poucas linhas a questão da repressão e tal. E algumas outras coisinhas do "grande evento" que é a Flip. E daí eu fiquei sem entender. Mas tá firmão.

Espero que eu tenha esclarecido as pessoas que estão me perguntando sobre o porquê da matéria não ter saído. Ou melhor, ter saído um texto sobre a FLIP, mas não aquele que eu havia prometido.

Salve,

Rodrigo Ciríaco

Observação: após aviso do Boletim do Kaos que o texto não saíria, os textos escritos exclusivamente para o jornal foram publicados no meu blog. Clique aqui para ver o primeiro texto citado (aquele, de três páginas) e aqui para ver o outro texto que eu (re)fiz, dentro do limite de uma página e meia que havia sido combinado.

Ah, e para ver a versão on-line do Boletim do Kaos 05, Agosto, clique aqui.