quinta-feira, julho 16, 2009

ESCLARECIMENTOS DA OFF-FLIP

caros,

o Ovídio, organizador da programação literária da Off-FLIP, enviou-me o texto abaixo para prestar alguns "esclarecimentos" em relação a atitude da Off-FLIP sobre a questão da repressão e apreensão dos livros durante a FLIP.

só para ficar claro: este é um esclarecimento da OFF-FLIP. se a FLIP - chamada oficial - quiser se manifestar por aqui, eu "deixo" (rs). apesar deles não deixarem - ou melhor, publicarem - a gente em lugar nenhum.

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Sobre a apreensão de livros durante a FLIP

A humanidade progride.
Hoje somente queimam meus livros;
séculos atrás teriam queimado a mim.
(Sigmund Freud)


Caros amigos,

Gostaria de tecer alguns esclarecimentos sobre a minha intervenção e dos demais organizadores da OFF FLIP diante do ato medieval e insano de apreensão de livros em Paraty durante a última FLIP.

1- Na quinta pela manhã (2 de julho), algumas pessoas da nossa equipe foram abordadas por fiscais da prefeitura e da FLIP exigindo que parassem de distribuir material de divulgação que continha parte de nossa programação. Ciente do fato, fui à Casa da Cultura conversar com Bernardete (relações institucionais da FLIP) e assim que a abordei ela recebeu pelo walk-talkie ligação da Casa Azul (organizadora da FLIP) pedindo para falar com alguém da coordenação da OFF FLIP sobre o ocorrido. A pessoa que ligou informou que se tratava de um equívoco e que a OFF FLIP estava “autorizada” a divulgar o material. Respondi que não precisávamos de autorização para fazê-lo e que equívoco era pensar que alguém precisasse de autorização para distribuir material de divulgação literária nas ruas (o que aliás sempre ocorreu durante as edições anteriores da FLIP).

2- Pouco tempo depois, estava na base da OFF FLIP (não temos sede) quando os integrantes do coletivo Poesia Maloqueirista (Caco Pontes, Berimba de Jesus e Pedro Tostes) vieram me procurar para informar que 16 livros deles tinham sido apreendidos por um fiscal da prefeitura. Imediatamente fui procurar por Mauro Munhoz, diretor da Casa Azul, que naquele momento estava em reunião na base da OFF FLIP com representantes de comunidades quilombolas, indígenas, caiçaras e artesãos discutindo o encaminhamento da manifestação que ocorreria na cidade. A reunião estava bastante acalorada e disse aos Maloqueiristas que iria conversar com o Mauro assim que a reunião terminasse. Logo em seguida, Alexandre Malachias (escritor, colaborador da OFF FLIP e advogado) tirou duas fotos com Pedro Tostes expondo o auto de apreensão medieval (as fotos estão anexas) e se ofereceu para impetrar mandado de segurança contra a prefeitura e ação indenizatória por constrangimento e danos morais, tendo dado aos companheiros do coletivo o seu cartão.

3- Como a reunião se estendia, achei melhor não interromper e chamei uma das pessoas presentes (Bernardete – relações institucionais da FLIP) para conversarmos sobre a apreensão dos livros, ato nunca ocorrido nas edições anteriores da FLIP e sob todos os aspectos inadmissível. Na conversa que tivemos, informei que os Maloqueirstas estavam na programação da OFF FLIP e pedi que fosse passado um rádio para todos os fiscais para que deixassem os nossos autores em paz. Imediatamente ela ligou para Didito Torres (coordenador de produção da FLIP) solicitando que fosse transmitida a informação. O diálogo que se seguiu entre mim e Bernardete teve ares surrealistas: perguntado como os autores da OFF FLIP seriam “identificados”, disse que na verdade qualquer autor tinha a liberdade de divulgar seu trabalho, fosse ou não autor convidado da OFF FLIP, mas se pairasse “alguma dúvida” bastava os fiscais olharem a programação da OFF que ali estariam os nomes dos cerca de 80 autores que reunimos este ano. Ironicamente, adverti que depois que o material havia sido encaminhado à gráfica mais alguns autores ingressaram na programação e os fiscais teriam “dificuldade” de achar o nome deles no nosso jornal. A resposta foi kafkiana: e se fosse colocado um crachá de identificação nos autores? Respondi que Chacal, Plínio Marcos e tantos outros nomes que fizeram e ainda fazem a literatura brasileira nunca usaram crachá ou coisa parecida.

4- Na sexta, final da tarde, corria nas ruas a notícia de que o ato insano fora revogado – o que deve ser atribuído à intervenção conjunta de vários escritores e de várias pessoas identificadas com as liberdades públicas, entre as quais integrantes da coordenação da OFF FLIP. Intercedemos junto à Casa Azul e também junto ao gabinete da prefeitura, além de procurarmos a imprensa nacional denunciando o fato. Em todas as mesas da programação literária da OFF FLIP condenei o ocorrido, inclusive na quinta à noite durante a Conversa de Botequim no Dinho’s Bar, onde estiveram presentes em intervenção musical e poética os Maloqueiristas e também integrantes da Cooperifa.

5- Na sexta de manhã, dei entrevista à Rádio MEC (retransmitida para 11 emissoras) e repudiei o ocorrido, lembrando que a literatura nasceu em torno da fogueira nas sociedades comunitárias e que morrerá no dia em que for afastada das ruas. Ao final da entrevista, sugeri à emissora que fizesse uma matéria com Pedro Tostes, um dos atingidos pela apreensão (a entrevista aconteceu no mesmo dia à tarde).

6- No sábado pela manhã, em entrevista ao Caderno B do Jornal do Brasil, reuni na mesma mesa o coletivo Poesia Maloqueirista, Laura Bacellar (Editora Malagueta - SP) e Rodrigo Rosp (Não-Editora – RS) para falarmos sobre editoras alternativas, entre as quais o Selo OFF FLIP. O tema da apreensão veio à tona e ao final da entrevista os jornalistas presentes colheram depoimento de Pedro Tostes sobre o ocorrido. A Casa Azul e a prefeitura seriam consultadas para oferecer a sua versão e a matéria seria publicada, o que não ocorreu (a matéria de capa do Caderno B de 6 de julho tratou somente das editoras citadas). ("grifo meu")

A OFF FLIP segue sendo um desdobramento necessário da própria FLIP e sobretudo um evento paralelo, alternativo, independente e complementar em relação à festa literária internacional. Nos últimos anos, reunimos centenas de escritores em nossa programação literária, além de termos criado um prêmio literário (local, nacional e internacional) e um selo editorial, sem falar que este ano iniciamos um programa de bolsas de criação literária em parceria com a FLIPORTO. Isso a OFF FLIP vem fazendo com uma equipe pequena e em meio a dificuldades de toda sorte, sem perder a sua marca de origem ligada às manifestações culturais locais e acolhendo manifestações artísticas de todo o Brasil e também do exterior.

Um abraço a todos,

Ovídio Poli Junior
escritor, editor do Selo OFF FLIP,
organizador da programação literária da OFF FLIP,
coordenador do Prêmio OFF FLIP de Literatura

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apenas algumas correções minhas sobre o texto do Ovídio:

no item 02, quem o procurou na base da Off-FLIP foi Berimba, Pedro e Eu. O Caco não estava conosco, ainda neste momento;

no item 04, apesar de termos sidos "liberados" no final da sexta-feira a tarde, um fiscal me abordou durante a apresentação da Poesia Maloqueirista. eu nem estava divulgando os livros, naquele momento, mas ele perguntou se os livros eram meus e se eu estava vendendo. disse que sim e, ao confirmar ele virou e me disse: "não pode. sou da prefeitura, vou ter que apreender." apesar de insistir em explicar que aquilo era um mal entendido, já resolvido, já estávamos "autorizados" ele insistiu. disse apenas que ia buscar o termo de apreensão para eu assinar e pediu que eu aguardasse a sua volta - não é mentira e nem piada (rs). ah, e ainda neste item, na Quinta-feira, no Dinho's Bar não havia integrantes da Cooperifa. havia apenas eu, que também faço parte da Cooperifa.

e claro, "à César o que é de César": foi fundamental a mobilização de algumas pessoas que estavam por lá e correram atrás dos seus direitos: para trabalhar, para expressar a sua literatura e tal. mas, deixemos claro que, a principal ação, prática, solucionadora, foi a intervenção de Marcelino Freire diretamente ao Flávio Moura, diretor de programação. tanto que, após o contato com Flávio, conseguimos falar com o sr. Didito - que estávamos buscando já fazia dois dias - e aí, conseguimos a suposta "autorização". como se precisássemos, mas tudo bem.

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