segunda-feira, março 30, 2009

ELITE DA TROPA


sexta-feira fui fazer comprar no mercado. coisa básica, não queria gastar mais do que vinte reais. mas é inevitável passar pelo setor de livros, dvds e otras cositas. é quase uma compulsão, não posso negar, mas eu só vou atrás das promoções. principalmente quando a grana tá escassa.

foi quando eu vi o livro "elite da tropa". valor: R$ 9,00. sim, apenas nove reais. até nem acreditei que era verdade, botei no carrinho. tive vontade de ler o livro durante a febre do "tropa de elite", mas não comprei. não era uma de minhas leituras prioritárias e, o $$ na época, mais de quarenta reais, não era nada atrativo.

pois bem, fui passar pelo caixa, a moça avisa: "o livro tá com preço errado". sabia. já estava preparado pra brigar, por conta da etiquetona gigante marcando nove reais, quando ela falou - "tá marcando nove mas passou oito reais e sessenta e nove centavos..." se é pra menos tudo bem, eu falei.

tudo isso pra dizer que li o livro em dois dias. é um livro ágil, prosa direta, objetiva e cortante. aliás, até demais. na primeira parte, "diário de guerra" dividida em espécies de contos, é o BOPE navalha na carne. duro. é de doer. quem achou o filme forte, não leia o livro. os autores conseguiram transmitir uma imagem viva da tensão e da crueldade do batalhão. é pesado. e real, por isso a dor.

a segunda parte, "a cidade beija a lona", mostra a politicagem, a corrupção, a bagunça que ronda as polícias - não só no rio de janeiro - os acordões com o tráfico, os políticos; a g(r)ana pelo poder a qualquer custo, a qualquer preço e por aí vai.

não esquecendo que, a polícia, é uma instituição. que os policiais são servidores públicos e, como professores e agentes da saúde - médicos, enfermeiros - vivem em condições estressantes de trabalho com salários mal-remunerados, tendo que muitas vezes que fazer jornada dupla - ou tripla! eu lembrei e pensei: putz, o buraco é sempre mais embaixo.

falamos mal da polícia - e temos que falar, dos MAL PROFISSIONAIS, que não são poucos - porque eles tem uma arma nas mãos, e podem matar; falamos mal dos profissionais da saúde, porque eles tem a cura nas mãos, e podem matar e, fiquei pensando: qual o estrago que um professor pode fazer?

sei lá, divagação pura este texto. a cabeça a mil, pensando em muita coisa ao mesmo tempo, na escola, nas obras super-faturadas, nos cinismos, nos professores de porta (depois eu escrevo mais sobre eles) nas crianças não-alfabetizadas, nas enganações com a qual nos iludiamos no dia-a-dia e, queria dizer que apesar de tudo, o livro vale a pena ser lido. até para vocês ficarem confusos como eu estou agora.

mesmo porque ficar assim é bom pra caramba!

r.c.

CHARGE - CARVALL

sábado, março 28, 2009

TE PEGO LÁ FORA


Te Pego Lá Fora

Contos de Rodrigo Ciríaco
Edições Toró, São Paulo,
1ª edição: Junho/2008 (esgotada)
2ª edição: março de 2009

Contatos para comentários, aquisição de livros e/ou palestras:
(11) 9457-6708

QUESTÃO DE POSTURA

O professor observa o menino no canto da sala, sozinho. Suando frio. Esfregando a mão dentro da calça. Estranha. Aproxima-se, com calma. O aluno de cabeça baixa, concentrado. Não percebe a chegada. Assusta. Coloca de volta, rápido. O professor, meio sem jeito, pergunta:

- O que é isso, Lucas?

O aluno não vê outra solução. Abaixa o zíper. Mostra o revólver.

- Ah! Tudo bem. Pensei que fosse outra coisa.

- Ôh, que isso! Tá tirando prussôr?
**

conto do livro Te Pego Lá Fora, (Rodrigo Ciríaco, Edições Toró, SP, 2008)

O QUE DIZEM SOBRE "ENTRE OS MUROS..."

Luciana Pennah:

"Fui assistir ao filme Entre os muros da escola. Se eu gostei do filme? Não. Buscarei explicar o fato. Não entendi a Palma de Ouro em Cannes, aliás, há muito não entendo as premiações. Elas apontam para idiossincrasias e políticas culturais que me escapam. Das quais desconfio, mas não tenho elementos suficientes pra sustentar qualquer aposta aqui. Quem sabe um dia.

O filme apresenta a relação de um professor de francês com uma turma de sétima série de uma escola pública da periferia parisiense. Deparamo-nos com um circuito fechado em que a incomunicabilidade comanda. Vemos a escola desandar em seu cotidiano, a burocracia contra, os próprios professores sem falar uma mesma língua, quem dirá os alunos. Estes, literalmente não falam mesmo, há umpersonagem descendente de africanos, cuja mãe sequer fala francês, que pode ser visto como um emblema do filme - e do preço alto que a França paga pela sua mão pesada na (neo)colonização -, aluno que não à toa é expulso. O sistema não está preparado para lidar com ele. Aliás, a ladainha do filme é: ninguém ali está preparado para lidar com as diferenças em nenhuma instância. O problema é que a reiteração incansável deste muro, do mesmo sobre o mesmo, torna o filme arrastado, insuportável e do meu ponto de vista pouco crível.

Nesse sentido, o que me incomodou sobremaneira, e pode ter significado as loas todas recebidas pelo filme, foi a claustrofobia narrativa, o sem saída de cada tentativa de contato entre cada um ali, as cenas se arrastam numa mesma tônica, que não é a dominante, mas a única. O enredo não dá descanso, não sai do entre muros, e “temos” de assisti-lo até o fim, até que a negra mais negra diga que o ano passou e ela não aprendeu absolutamente nada. Um desfecho fácil para tanto lero-lero, para tanta função fática, chamem do que quiserem.

Pra mim é tudo muito duvidoso, assistimos a um “sem saída” muito armado, muito arrumadinho. Em nenhum momento eu me esqueci de que aquilo se tratava de um filme tentando simular algo que não estava ali, por pior que seja a tal escola, ela não estava ali, os alunos não estavam. Aquela negra dizendo que não sabia nada também não estava, era um ponto final adequado demais para um longa que promete trazer algo novo. Não traz, nem na França nem na China, quem dirá aqui. Pura encenação, na pior acepção do termo. Não por acaso me incomodou o mesmo professor que escreveu o livro e viveu o drama se auto-macaquear, haja distanciamento para reviver aquilo tudo que ele narrou em letra na tela. Honestamente? Tem de ser um professor muito ruim como ele se mostra no filme para fazer este papelão, para ficar sete meses cozinhando a ferida, que no final das contas não deve ter doído tanto assim.

Que doa em nós, e sem doer, o que é muito pior. É cínico. Eu não acredito neste filme, na sua suposta denúncia, no professor, em nada. Se acusam o cinema nacional de apelar para estética da pobreza, olhem bem este filme francês e me digam que estética é essa? E que ética mora num teatrão blasé como este do Entre os muros?

Este post é só o começo de uma prosa, o levantar de uma lebre que também não está tão clara para mim. Pensemos.

P.S.: Colegas professores, eu não questiono o contexto que o filme trabalha, mas o filme. Voltarei para falar de educação, certo? E de professores."

do blog - http://sorrisodemedusa.wordpress.com/

Marcelino Freire:

"Ontem vi um filme de terror. Psicológico. E dos melhores. Desses de a gente ficar preso à cadeira. Da escola. Puta que pariu! A qualquer hora, alguém puxa um fuzil. Tem um surto e risca do mapa o mocinho, a mocinha. Que nada! É um filme sem heróis. Todos lançados ao mesmo abismo. De cabeça para baixo. Explico: trata-se do filme Entre os Muros da Escola. Sim, este de quem todo mundo anda falando. Portentosamente dirigido por Laurent Cantet, ganhou a Palma de Ouro de 2008 em Cannes. A saber: a fita mostra o dia a dia de uma escola secundária na periferia de Paris. E que bem poderia ser, aqui, na zona leste de São Paulo. Um corte: Rodrigo Ciríaco, no ano passado, lançou as narrativas de Te Pego Lá Fora (Toró Edições), em que ele reconta vários dramas da escola pública onde ele dá aula. Lembro quando Ciríaco chegou à sala, no curso de criação literária lá do b_arco. Cabra, o que não falta é personagem à sua volta. Eis sua tarefa-missão: fazer um livro mostrando essa mistura entre ficção e realidade. Da diretora folgada à aluna que vira placa. O livro é bem bom e, reaviso: daria uma minissérie endiabrada. Assim: repleta desses conflitos. Tão idênticos aos enfrentados pelo professor francês, curiosa e magistralmente interpretado por François Bégaudeau — ele que é professor de verdade, igualmente ao Ciríaco, e que escreveu o livro que deu origem ao filme e tenho ditO. Sem contar que vários dos atores são os próprios alunos. Ave nossa! Fazia tempo que eu não saía do cinema tão impactado, emputecido e amedrontado. De unhas vermelhas, de tanto roer. E de pensar. Em que recreio de mundo vivemos e saravá e mais não digO. Vale a pena ver. Para apreender a lição. Longe de querer saber quem tem razão. Ufa! Por hoje é só e bom final de semana. E beijos no umbigO. E fui. E aquelabração."

do blog - http://www.eraodito.blogspot.com/

E as minhas considerações, vocês encontram nas postagens anteriores. Mas o melhor mesmo é assistir o filme e tirar as suas próprias conclusões. Só não podemos deixar a peteca da educação ir pra lona.

Abraço,

R.C.

terça-feira, março 24, 2009

É PRECISO CHAMAR A RESPONSA PRA SI

Enquanto cada um aqui não chamar a responsa pra si;
Enquanto cada um de nós não tomarmos a rédea da vida em nossas mãos;
Enquanto aceitarmos trilhões pra banqueiros, bilhões pra açougueiros, milhões pra uzineiros e centavos para o povo;
Enquanto não houver uma justa distribuição de renda, a reforma agrária;
Enquanto houver hospitais, colégios particulares para a classe abastada;
Enquanto a gente achar que só fazer música, teatro, poesia e outras artes já é a revolução antecipada;
Enquanto votarmos nos lacaios dos proletários;
Enquanto nós esquecermos a cada ano quem são os espertos que nos fazem de otários;
Enquanto tivermos o desejo capitalista e individual de sermos milionários;
Enquanto não nos unirmos e não nos darmos as mãos
Enquanto ficarmos discutindo, separando, desagregando sobre quem tem a melhor idéia para a transformação;
Enquanto formos medíocres, acharmos tudo normal,
Enquanto não nos preocuparmos, verdadeiramente, com a Educação, a Saúde, e lavarmos o nosso lixo matinal com a mangueira em mãos no nosso quintal;
Enquanto não desligarmos a TV, marcarmos reuniões e festas em que a gente se toque, se converse e se vê
Enquanto o assunto mais comentado da semana for o BBB;
Nossa vida continuará na merda.
É preciso agora, a partir de hoje, já, aqui, se interessar
Correr atrás, perguntar, questionar, estudar e se informar.
É preciso cada um de nós matar a bola no peito, tabelar a redonda com o parceiro, driblar com vontade o zagueiro, chutar de trivela, com efeito.
É preciso marcar o gol. Comemorar a vitória do time justo e guerreiro.
Chega de ausências, omissões e abstenções.
É preciso cada um de nós chamar a responsa pra si.

ISTO NÃO É UM CONTO

- Professor, eu não entendi a questão 03...
- Tá. Senta aí. Lê pra mim a questão.
- "Na África do Sul, uma das línguas oficiais é o inglês, outra é o zulu. Por quê?"
- O inglês é uma língua originária da África do Sul?
- Não.
- Quais os países de língua inglesa?
- Não sei.
- Pensa um pouquinho...
- {silêncio}
- Olha, a gente tem os Estados Unidos, a Inglaterra. Os Estados Unidos falam inglês porque foram colonizados pelos...?
- {silêncio}
- Então, vamos lá, Gabi. Deixa eu te perguntar: Portugal fica aqui?
- É.
- A gente mora em Portugal, Gabi?
- Não sei.
- Gabi, a gente mora em Portugal?
- Não.
- Qual é o nosso país?
- {silêncio}
- Vâmo lá, em que país a gente vive?
- São Paulo.
- Não, não, São Paulo não é um país. É uma cidade. Qual é o nosso país? O que nós somos?
- {silêncio}
- Ó, deixa eu te dizer. Eu acho que você tá nervosa, não tá raciocinando direito. Então, respira fundo, fica calma, eu não mordo, se você errar eu não vou brigar, quem tem que saber as coisas aqui, principalmente, sou eu, tá? Eu só quero que você se concentre e pense um pouquinho antes de responder, ok?
- Tá bom.
- Então ó: São Paulo é uma cidade. A nossa cidade. Também é um estado, certo? E país, em qual país nós vivemos?
- {silêncio}
- Brasil, Gabi! Nós somos brasileiros, não?
- Ah, sim.
- Que língua nós falamos?
- O português.
- Exato. E nós falamos português porque fomos colozinados por...?
- {silêncio}
- Quem colonizou, quem invadiu, quem dominou estas terras que hoje a gente chama de Brasil, Gabi?
- Não sei...

A mesma aluna não conseguiu identificar o continente africano - num mapa da África -, não conseguiu localizar e intepretar informações da legenda, não conseguiu responder a várias outras questões simples. Está alfabetizada e, há três anos, estuda comigo (6ªs, 7ªs e agora, 8ª série). Todas estas questões já foram abordadas em sala de aula, nos anos anteriores, exaustivamente explicadas e trabalhadas. E o que mais me assusta é:

1) Ela não é a única a ter estas dificuldades;

2) Ela esta há três anos comigo e eu não consegui desenvolver/estimular a sua capacidade, não da maneira esperada e desejada e;

3) Não vejo perpectivas de mudanças tão em breve. As aulas de reforço são medíocres, as salas de aula continuam cheias, o que dificulta em muito para eu dar uma atenção mais especial para ela e outros que possuem dificuldades semelhantes - ou mais agravantes -;

4) Eu vou me sentindo um lixo, um incompetente, por fazer parte disso, acompanhar tudo isso e não dar conta de transformar isso;

5) Sabendo que é possível mudar. Basta competência, vontade política, humana e vergonha na cara pra fazer o que precisa ser feito. Nada de receita pronta. Trabalho.

Mas, DE VERDADE, quem se importa? E, acaso se importe, o que anda fazendo?

segunda-feira, março 23, 2009

AQUI, ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

Hoje eu dei uma desanimada grande na escola. De verdade.

Não sei o motivo. Cansei, sei lá. Não sei se foi o fato da correria destes dias. Por exemplo, sexta não tinha aula mas fui na escola durante a parte da manhã organizar os livros da biblioteca, que estavam jogados na sala de informática. No sábado, eu, o diretor (novo) e algumas pessoas da comunidade - alunos e um camarada - estivemos na escola das 08hs até as 16hs, para acabar a organização dos livros da biblioteca, para instalar ventiladores nas salas. Trampo pesado. Pra aliviar o calor, pra desocupar o espaço de ventiladores parados e não usados. Tudo isso foi muito cansativo, só eu sei. Quase não deu pra preparar as minhas aulas, quase não deu para curtir o final de semana, quase não deu para fazer as minhas coisas. Só eu sei, das esquinas por que passei, só eu sei...

Também não sei se foi o fato de hoje os meus alunos da manhã (oitavas séries) estarem muito dispersos. Só querendo falar de sexo, timão e BBB. Apesar de ter levado um filme (Um Grito de Liberdade), para discutir a questão do Apartheid na África do Sul, a questão do Neocolonialismo, Imperialismo, Capitalismo e outros ismos. Não sei se é o fato de estar com serviço acumulado, de toda hora ser procurado pra tudo na escola - enquanto outros profissionais ficam meio que de braço cruzado. Não sei se é o fato de não ter, há duas semanas, dez reais sobrando na conta pra gastar com qualquer bugiganga, o fato de ser constantemente cobrado, responsabilizado, penalizado: pelo Estado, pelos jornais, por encarregados. Não sei se é uma destas coisas específicas, o fato da minha vida estar de cabeça pra baixo, o fato é que eu fiquei cansado, bem cansado, eu estou cansado e, pensando de verdade se vale a pena, se a minha alma não é pequena, se eu não tenho que pensar um pouco mais em mim.

Não sei. De qualquer modo, vou prosseguindo.

No meio deste fogo cruzado, estou organizando um grupo de teatro na escola. Os alunos já foram escolhidos. Estão pilhados. Vou começar os ensaios no dia 09 de abril. Toda quinta, das 16hs às 18hs. Não sei se terei espaço na escola. Mais um trabalho volun(o)tário (?). Mais uma corda pra me enforcar mais um pouco. Mais uma coisa pra investir parte do meu parco salário. Mas são escolhas. Que eu fiz. Ninguém me obrigou, ninguém me forçou. Eu quiz. E continuo querendo. Por ideologia, por militância. Meus heróis morreram de overdose. Meu inimigos estão no poder. Então, eu sigo assim.

Até quando? Não sei. Por enquanto, mudaram as estações, nada mudou e eu vou prosseguindo.

Até porque, se parar, eu caio da bicicleta. E levantar é bem mais difícil.

Direto do front,

R.C.

P.S: tive apenas duas aulas a tarde. E a molecadinha das quintas, sempre tão energizadas, agitadas, aceleradas, hoje estavam calmas. Justo hoje que eu estava um bagaço. Não sei se sentiram no meu olhar, na minha respiração. Não sei. Só sei que este comportamento inesperado me acolheu como um afago. Um forte abraço. E eu pude respirar um pouquinho mais fundo. E descansei. Não o suficiente pra continuar, mas o necessário para não desistir. Ainda.

domingo, março 22, 2009

PROVA DO CRIME - conto

Morrer é pouco. Para um estuprador, um pedófilo, morrer é muito pouco. É preciso fazê-los sangrar. Com arte, com técnica. Fazê-los sofrer. É. Sabe o que eu acho devia fazer? Devia era pegar esses caras e amarrar em praça pública, como se fazia antigamente. O suplício. As mãos, os braços e as pernas afastados, bem separados. Abaixar a calça, rasgar a sua cueca e com uma faca bem afiada, passar no pinto. Castrar os filhosdaputa, castrar. É uma excelente opção. Depois, pegar um punhado de sal grosso e apertar com força sobre a ferida. Para que doa na alma. O pinto podia jogar para os cães, se eles quisessem. E aí, só aí, poderiam prendê-los. Deixar apodrecer no fundo de uma cela escura e imunda, por pelo menos uns trinta anos. Estaria bom. Aí sim eu ficaria um pouco satisfeito. Só assim. Matar não. Matar, pra eles é a redenção. E eles não merecem o paraíso.

Eu tinha cinco anos. Faz mais de vinte anos que aconteceu mas eu ainda me lembro. Eu tinha cinco anos. Era julho, eu estava de férias da escolinha. Uma manhã chuvosa de inverno. Meu pai tinha saído para trabalhar. Minha mãe fora fazer compras. Deixou-me sozinho com um tio que morava no interior. Eu tinha cinco anos. Ele uns quinze. E um jeito um tanto afeminado. Mas não era viado, diziam. Pois bem, depois de um tempo que minha mãe saiu, ele quis brincar comigo na chuva. Eu gostei da idéia. Ficamos no quintal. Corríamos para escorregar sobre o piso de azulejo molhado. Ele pegou um pouco de sabão em pó e jogou no chão. Fez bastante espuma. Nós corríamos, deitávamos, rolávamos. Para mim era só brincadeira, pura diversão. Pra ele não.

Depois de um tempo, fomos para o quartinho das bagunças, no fundo da casa. Lá tinha várias coisas, bugigangas: alimentos, roupas, sapatos de minha mãe. Ele separou uma bota preta de couro de cobra que minha mãe adorava. Pediu para eu calça-la. Eu o fiz. Depois tirou minha camiseta molhada, minha bermuda, pediu para eu colocar uma saia e uma blusa. Eu o fiz. Eu não tinha malícia. Ele disse que íamos brincar de casinha. Ele ia ser a mamãe. Eu, a filhinha. Chamou-me para sentar no seu colo. Eu sentei. Ficou brincando, falando com voz de criancinha, como se eu fosse um bebezinho. “Ah, hum, nenezinho gotozinho. Quer chupetinha, quer?” Colocou a mão no meu pinto. Eu deixei. Achei engraçado. Ele ficava mexendo, pra cima e pra baixo. Lembro até fiquei de pau duro. Foi quando ele enfiou a mão e colocou a cueca de lado. Enfiou o dedo no meu cu. Eu disse: “Pára, tá machucando.” Ele me pediu para relaxar. Era só brincadeira. E continuou. Eu dizia para parar, mas ele continuava. As vezes me apertava, me dizia no ouvido “Gostoso. Fica calmo. Você vai curtir”. Me colocou em cima de uma mesa. De quatro. Abaixou as minhas calças e, me penetrou por trás. Com força. Eu gritei. Ele tapou a minha boca, me mandou calar a boca, e continuou: pra frente e pra trás, pra frente e pra trás, me segurando, me apertando e, eu apaguei. Apaguei tudo, juro. Tento me lembrar como foi a partir dali, o que aconteceu mas, não dá. Bloqueei.

Eu encontrei com ele várias vezes depois. Era irmão da minha mãe. Hora nos víamos quando íamos para o interior, hora quando ele vinha para cá. Nunca mais tocou no assunto. Eu também não. Eu não entendia o que havia acontecido, se tinha sido só um pesadelo, alucinação. Duvidava, custava acreditar que tinha feito. Quando tinha certeza, não entendia a gravidade da situação. Pensava que tinha sido uma brincadeira de muito, muito mal gosto. Eu não entendia o fato. Não entendia o que aquilo tinha significado. Não como entendo hoje. Com o desprezo, o nojo. Porque, o senhor sabe, ninguém tem o direito de interferir assim na vida de uma criança. Ninguém tem o direito de cometer tal abuso, tal absurdo no seu corpo. Aproveitar-se da sua inocência, fazer algo dessa maneira, forçado, sem o consentimento. Uma criança de cinco anos pode consentir em alguma coisa? Eu não podia, eu não sabia o significado daquilo. Ele sim, ele sabia. Ele não era mais tão inocente. Quinze anos. Várias pessoas já o chamavam de viado naquela época. Sua mãe já havia até encaminhado ele pra fazer tratamento psicológico por causa disso. Ele sabia o que estava fazendo. Eu não. E você não sabe o tamanho da violência que é uma criança sofrer um abuso sexual. O desvio na rota da sua vida, os traumas, as neuras; a mancha que isso traz a sua trajetória, ao seu caminho. Coisas como essa volta e meia martelam a sua cabeça, fazem a gente lembrar. Daria anos da minha vida pra não lembrar desse ocorrido. Não ficar pensando, esquecer. Eu só queria esquecer. Mas eu não esqueci.

Por isso que fiquei feliz quando agora ele quis ficar na minha casa. Vinte anos depois, olhe só. Disse que tinha um curso para fazer aqui em São Paulo, minha casa ficava no centro da cidade, ficaria mais fácil. Perguntou se tudo bem, eu falei: “Sem problema. Pode vir.” Eu quase pude sentir a sua risada no telefone. Ele gostou da idéia. Achou que ia ter uma segunda chance. Eu também.

Ele chegou na sexta-feira. Todo sorridente, uma caixa de bombons nas mãos, só faltou as flores. Nos abraçamos, ele beijou o meu rosto. Conversamos bastante, naturalmente. Há muito tempo que não nos víamos. Falamos sobre coisas triviais: família, trabalho, primos. Demos boas risadas. Ele estava casado fazia sete anos. Tinha dois fillhos. O mais novo, Denis, de dois anos. Thiago, o mais velho, cinco. A mesma idade que eu tinha quando ele roubou meu sorriso. Tomamos vinho, comemos uma porção de salame. Ficamos bêbados. E fomos deitar. Eu na minha cama, no meu quarto. Ele também.

Ele me beijava com delicadeza, com calma. Sentia carinho por mim. Eu queria uma coisa mais raivosa, agressiva. Rasguei a sua roupa, coloquei ele de quatro e comi o cu dele. Comi com força, o fiz sangrar, como ele havia feito comigo. Ele me chamou de pauzudo, gostoso. Fiquei com mais raiva ainda, tive vontade de bater na cabeça dele com o despertador que estava sobre o criado-mudo. Mas me contive. Falei que estava só começando. Apresentei os meus acessórios para o segundo round: quatro algemas. Ele ficou meio contrariado, mas concordou. Algemei seus punhos e tornozelos, cada um nos quatro cantos da cama. Ele ficou aberto, feito uma estrela. Eu me levantei. Ele falou: “Hei? Onde cê vai? Volta aqui.” Eu não disse nada. Fui na cozinha, peguei a faca. Você não sabe, mas demorei trinta dias pra deixá-la afiada. No ponto de bala. Dava pra cortar um fio de cabelo no meio com aquela navalha. Voltei. Na hora que ele viu o tamanho da lâmina, seu sorriso tremeu. “O que você vai fazer com isso?”, perguntou. Eu não respondi. Fui apenas me aproximando da cama. Ele começou a se debater, puxou os braços, pernas, fez força para se soltar. A cama estava reforçada, nem em dez anos ele ia conseguir. Começou a gritar, gritar, até a hora que eu segurei as bolas e o seu pau, assim, por baixo. Olhei pra sua cara, ele tava assustando. E eu levantei. Com calma e gosto puxei, devagar, e fui subindo. O prateado ficando vermelho, conforme eu ia passando, subindo. Zoom. Foi no primeiro corte, arranquei tudo. Bolas, pinto, pêlos, tudo. Ele parou de gritar. Não morreu, não. Na verdade estava sufocado. Queria gritar mas não saia nada. Parecia em choque. Eu me levantei. Tomei banho, lavei a faca, vesti a melhor roupa que tinha e vim. Não quero fugir, não tenho o porquê de me envergonhar do que fiz.

Eu não sei se ele está morto agora, seu Delegado. Deve ter sangrado bastante. A faca, a arma do crime o senhor não vai encontrar. Nunca. Ela é o meu troféu, tá guardado num local bem especial. A motivação o senhor tá sabendo agora, porque eu lhe contei. Mas se ainda estiver duvidando, estiver achando que é lorota, que eu sou louco, que tudo isso é só história, é só abrir essa bolsa térmica cheia de gelo que eu trouxe e dar uma olhada. A prova do crime tá aí. Já deve estar meio murchinha, é verdade. Mas está aí.

É COMO DIZEM

Só contam as pinga que eu tomo
Ninguém fala dos tombos que eu levo.

quarta-feira, março 18, 2009

BARRIGA-RELÓGIO

A menina me olhou acabrunhada me chamou fora da sala e me disse professor eu estou grávida. Aquela notícia me veio como pedrada na cara eu disse o que você quer que eu faça e ela disse me acuda. O Deus do céu me acuda uma guria de quinze anos pedindo ajuda com o bucho carregado de uma nova criatura o que eu posso fazer? Ela disse professor eu já sei eu quero abortar o bebê mas menina isso é ilegal eu não posso me envolver mas ela insistiu em falar que se ele nascer eu vou morrer. O meu pai é um cara encucado já enfrentou juiz capitão delegado ficou doze anos preso por morte nas costas e me diz que mais uma ou outra não vai doer. Perguntei pelo pai da criança é também um menino que ainda não encontrou a dança tem quinze anos sem emprego e juízo o que faz bem é comer dormir e meter. E ela ali com os olhinhos cheios d’água inundando quase o corredor e a minha sala e todos os meus alunos no canto da porta se espremendo e botando os olhos pra fora e perguntando e aê? E aê que eu não sei o que fazer dizer correr abortar matar ou morrer ninguém me chamou na hora dos zoínho virado ninguém me escutou na hora que eu disse encapa o danado ninguém pode ignorar mais essa situação crianças de doze treze anos trepando transando não se amando acabando com o seu futuro sem razão veja só você.

domingo, março 15, 2009

CHARGE - BRASIL DE FATO


MINI-CONTO - "MIL PÉS"


- Pois é, tia, enquanto minha mãe tem nos cabelos uma chapinha de mil dólares eu ando na cabeça com piolhos de mil pés.


*mini-conto baseado na história de uma colega que leciona num colégio particular. Aliás, estou começando a considerar a possibilidade de trabalhar neste outro lado do muro, só para escrever outro livro.

sexta-feira, março 13, 2009

PIADA DE MAU-GOSTO


Sexta-feira 13. É o dia. Dia do azar, dia do coisa-ruim, dia do sei-lá-mais-o-quê. Pra mim, foi o dia da indigestão. Dia do sapo. Duro, duro de descer e engolir a matéria do jornaleco AGORA São Paulo.

Estava passando em frente a banca quando eu vi estampado a manchete: BÔNUS DO ESTADO DEVE PAGAR ATÉ R$ 8.700 AOS PROFESSORES. Não acreditei. Parei o carro, estacionei, fui ler a matéria. 8.700 reais para os professores? Não, não pode ser. É mentira.

E é. O valor de 8.700 pode ser pago para um Dirigente de Ensino, cargo mais "alto" da carreira. Mas não é o valor que pode ser pago para um professor. Para mim, Dirigentes de Ensino não são mais professores. Talvez por formação, não pelo trabalho pedagógico, cotidiano. Dirigente de Ensino, cargos "chaves", indicados por figurões da Educação são cargos administrativos. Não confundam com professores.

E o que eu fiquei mais puto é que sim, eles vão receber os 8.700 reais, como os diretores da Escola receberão os seus quase 6.000 reais e Coordenadores receberão outra bolada. Porque o bônus, além de DIZER que é calculado pela melhoria do desempenho das escola, é feito sobre o número de faltas do profissional ao longo do ano na escola. E como um colega de trabalho já me disse: "Eu nunca vi um dirigente ou um diretor de escola não receber uma licença-premium". Por quê? Porque eles nunca faltam.

Ou vamos esclarecer melhor as coisas. ELES FALTAM SIM. Faltam demais. Nem sei tanto dos dirigentes, ouço falar, não tenho conhecimento direto de causa, mas em relação aos Diretores, em sua grande maioria, eles faltam sim. E muito.

Tem que cumprir 40 horas semanais, não cumprem. Tem que estar na escola, não estão. Tem que assinar o ponto todos os dias, não assinam. É uma farra, uma vergonha. Lembro da época que estudava e, se eu visse o diretor na minha escola uma vez por mês, não importa o período, era muito. Em mais de quatro escolas diferentes que eu já trabalhei nos últimos anos, a mesma coisa. O mais grave é numa escola que não vou citar o nome - mas eu tenho provas - que a Diretora ia uma, duas vezes por semana e, no final do mês, gabaritava o livro de ponto. Ótimo. Nota 10 para ela.

E dá-lhe bônus, dá-lhe licença-premium. Dá-lhe gratificações e benefícios. E eu? Eu me explodo. Professor não tem essa "mamata-anti-moral-e-ética". Professor tem que ir e pronto. Trabalhar como todo mundo, o que é o correto. Se não estiver em sala, está com "bolinha" no prontuário, e outro professor no lugar. Desconto garantido, afinal não dá para bancar dois professores para a mesma aula.

Mas o que me deixou revoltado com o jornal AGORA e com a sua chamada de capa foi - e é - a falta de bom-senso, jornalismo profissional e seriedade para tratar o assunto. A Educação está em crise, e não é de hoje. Vários fatores estão envolvidos nisso e, um deles, com certeza, é a falta de valorização do profissional de Educação. Nós ganhamos um salário de merda. De merda! Eu trabalho há mais de quatro anos no Estado: 25/horas aula por semana, mais umas 15 horas em casa, preparando aulas, corrigindo trabalhos, fazendo leituras. Isso, toda semana. É sagrado. Não tenho outra escola por querer valorizar a minha aula, achar que a qualidade cairá se eu ter outro emprego - segundo a CLT não é saudável um trabalhador exercer mais de 44 horas semanais de trabalho, correto? E ganho quanto? Pouco menos de três salários mínimos por mês. Três salários mínimos por mês! Para mim, que não sou casado, não tenho filhos, moro sozinho, é pouco. Sempre fico no vermelho. Imagine para um pai, uma mãe de família?

E não sou de fazer extravagância. Sou um cara caseiro, não curto muitas baladas, meu único excesso são os livros. E tem mês que não posso comprar livro, tem mês que não posso ir ao cinema, tem mês que não assisto nenhuma peça de teatro por não ter dinheiro. E tudo isso é fundamental para o trabalho docente, para a sua formação, o desafio da sua sensibilidade. Ou não? Eles exigem, exigem, exigem, mas não nos dão respaldo.

E a revolta minha maior foi por lembrar do ano passado. O mesmo jornal AGORA anunciou que os professores receberiam bônus de até R$ 5.200 reais. Lembro que foi o maior fudúncio, um monte de gente achando que a gente ganhava bem e tal e, sabe quanto eu recebi de bônus? Se prepare, hein, vai lá. Tá preparado? R$ 30,37. Isso mesmo: TRINTA REAIS E TRINTA E SETE CENTAVOS. Isso que, no ano avaliado, eu tive um projeto aprovado pela CENP - Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas - da Secretaria de Educação, pela primeira vez a minha escola recebeu uma verba de um projeto específico para ser desenvolvido e eu, autor do projeto, presente na escola, recebi míseros R$ 30,37. (Logo mais eu coloco o meu holerit aqui, para comprovar).

Não sei quanto vou receber este ano. E de verdade, não quero saber. Acho este bônus uma palhaçada, uma porcaria. A Secretaria de Educação não sabe avaliar os seus profissionais, dá várias brechas para os irresponsáveis aproveitarem-se dela e, parte da mídia, faz matérias de capa exaltando essa mentira em plena época de crise financeira mundial. Uma agressão, contra a população e contra os professores que trabalham decentemente.

Professor não tem que ter bônus, tem que ter salário digno, honesto. Mês a mês. Professor tem que ter condições para trabalhar. Deve ser valorizado e, a partir disso, cobrado. Inclusive em resultados, desempenho de alunos. Bônus, uma vez por ano, desorganizado como é, valorizando quem não trabalha, não pode.

Estou cansado demais do Estado. É excessivamente burocrático, paga mal, não valoriza os seus profissionais, não fornece condições adequadas de trabalho, não fornece material, é uma porcaria. Já recebi propostas bem melhores de emprego, com valorização, reconhecimento salarial, material pedagógico. Não fui embora por conta dos alunos. Não que algum aluno do Estado precise de mim, mas eu vejo a Educação Pública, Gratuita e de Qualidade, pra todos, como um objetivo de vida, questão ideológica. E ficar faz parte da minha militância, apesar de todas as adversidades.

Só para finalizar, no texto final da matéria, a Secretaria de Educação afirma que "é preciso excluir do benefício os professores que não colaboraram com a escola." Ou seja, o pagamento do bônus é uma punição. Eu não concordo. Não acho que é preciso excluir do benefício os professores (ou profissionais) que não colaboram com a escola. É PRECISO EXCLUIR DA ESCOLA. Em qualquer lugar do mundo é assim, o camarada não trabalha legal, não tem decência ou profissionalismo, é demitido. Por quê que no serviço público não pode ser assim? Quem disse que estabilidade é sinônimo de imunidade? Se pensam assim, aconselho a ler o Estatudo do Funcionalismo Público. Há sim coisas para se fazer contra os maus profissionais. Precisa é ter competência, organização e vontade política. E também há muito por se fazer para os bons profissionais, não nos esqueçamos disso.

Sinceramente, com essa matéria eu só consigo me lembrar da metáfora do Circo. O Circo é o Estado. Os professores são os palhaços, do imenso picadeiro que são as escolas. O problema é que nem os alunos, nem a sociedade estão rindo desta piada de mau-gosto que é o nosso ensino.


Rodrigo Ciríaco
Professor de História

terça-feira, março 10, 2009

FOTOS EXTRAS


além das fotos que entraram na revista, várias outras fotos foram feitas com os alunos durante a matéria. O Marcelo Min, fotógrafo que nos acompanhou, enviou algumas outras. Escolhi três para publicar aqui. Elas retratam bem o clima bacana que rolou no processo da matéria e a nossa raiz: Periferia-Brasil-SãoPaulo-ZonaLeste.

Os créditos são de Marcelo Min. Valeu cabra,

Abraço,

R.C.

ALGUMAS IDÉIAS

"tá ficando famoso, hein..." - disse um amigo sobre a matéria na Época. não, com certeza não. nem de longe. mesmo porque se ser famoso é ser reconhecido por onde passa, ter dinheiro e otras cositas, estou passando longe. dinheiro está em falta, não bastasse o salário (ó) pequenininho, nestes meses é IPVA, IPTU, dívidas de natal - ainda - a máquina de lavar quebra, o preço dos alimentos sobem, você tem dívida de um livro pra pagar e... tudo bem, não estou reclamando: apenas constatando.

reconhecimento, dos alunos, principalmente. e para mim é o que basta. muitos colegas - de dentro e de fora da escola - ignoraram a matéria, a conversa, tal qual ignoram muitas coisas que faço dentro e fora da escola. tudo bem. enquanto os alunos, os principais aliados, estiverem lado a lado, tá valendo. e eles curtiram a matéria, acharam importante. então, isso é o que vale.

no mais, sem muitas notícias por estes dias. apenas que chegou a 2ª edição do livro, agora eu tenho uma nova dívida para pagar a gráfica; estou na APM da escola como Diretor de Patrimônio - cargo que eu não pedi mas, já que me colocaram, eu vou executar, principalmente com alguns pequenos probleminhas que estão surgindo na escola - e, estou finalizando um processo para montar um grupo de teatro com os alunos. os ensaios serão as quintas-feiras, fora do horário de aula, trabalho militante, não-remunerado mas, tá valendo. os alunos estão pilhados, muito afim então, vamos pras cabeças.

este ano eu continuo com os saraus em sala de aula mas, acho, que os projetos de Literatura e do Jornal ficarão de lado. é muita coisa para eu tocar sozinho e, tá difícil encontrar adesão na escola entre o grupo de professores. eu até entendo o lado deles, até porque é complicado você tocar projetos paralelos na escola sem incentivo, principalmente financeiro. todos precisamos trabalhar, temos contas pra pagar, é complicado.

no mais, é isso. não tô famoso, estou no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas. meu nome é trabalho. e ele não pára.

r.c.

sexta-feira, março 06, 2009

MATÉRIA - REVISTA ÉPOCA - NA ÍNTEGRA

A França é (quase) aqui

O enredo do filme vencedor da Palma de Ouro de Cannes é sobre conflitos na escola na França. São bem parecidos com os vividos no Brasil

Ana Aranha

As escolas públicas brasileiras não estão tão longe da realidade francesa. Infelizmente, não nos fatores que indicam qualidade de ensino, como investimento nos professores, bons livros didáticos e turmas com poucos alunos. As escolas francesas e brasileiras se igualam nos aspectos que não têm relação com o conteúdo das aulas: nas perguntas que fogem da matéria; nas tentativas do professor de se aproximar dos alunos; na atuação da turma do fundo, que tira sarro de quem erra as respostas; nas reuniões do conselho, em que os professores gastam mais tempo discutindo a máquina do café que educação.

Essa realidade é mostrada no filme francês Entre os muros da escola, ganhador da Palma de Ouro do festival de cinema de Cannes, na França, que estreia no Brasil na sexta-feira. Nos 30 países por onde passou, o filme foi aclamado como um retrato universal da relação entre professores e alunos nos dias de hoje. Uma relação em crise. No Brasil, a semelhança foi constatada por dois professores e oito alunos de duas escolas públicas paulistas que ÉPOCA convidou para assistir ao filme e debatê-lo. Para cada cena, eles tinham uma história similar, vivida na periferia de São Paulo.

Um professor e uma classe são os protagonistas da história. Ele, um professor de francês calejado pelos quatro anos de trabalho na periferia de Paris e empenhado em convencer seus alunos a fazer melhor uso da língua. A classe, uma turma de 7a série dividida pelas diferenças de religião, classe social e nacionalidade (a França recebe muitos imigrantes da África), mas unida na convicção de que a aula não lhe interessa. Para filmar situações fiéis ao cotidiano da escola, o diretor Laurent Cantet usou professores, alunos e pais de verdade como atores. Rodado o tempo todo dentro da escola, com os burburinhos do pátio e o som estridente do sinal como única trilha sonora, o filme faz o espectador sentar dentro da sala de aula. Ele se insere no estilo “docudrama”, que vem fazendo sucesso hoje. O estilo confere um tratamento de dramaturgia aos fatos reais e aproxima o espectador das emoções da história.


ALUNOS BRASILEIROS E FRANCESES: HISTÓRIAS CRUZADAS Alunos franceses que fizeram o filme Entre os muros da escola no estúdio em Paris (fundo branco). Em frente ao muro grafitado, alunos da periferia paulista que se identificaram no filme: 1. Bruna da Silva Fermino Bezerra 2. Rebecca dos Santos Teixeira 3. Brena Marielle Silva Martins 4. Danilo Emerson Salomão de Castro 5. Paloma Gabrieli Santos Gonçalves 6. Bruno Vieira Rodrigues 7. Eduardo Rodrigues Valadão 8. Arnaldo Santos Trentin Morais



Cantet tomou como base um livro de experiências escrito pelo professor da periferia de Paris François Bégaudeau, que interpreta a si mesmo no filme. O livro será lançado no Brasil junto com o filme (Entre os muros da escola, Editora Martins Fontes, 262 páginas, tradução de Marina Ribeiro Leite). Com a sala montada e as câmeras ligadas, o diretor dava a deixa das situações descritas no livro a um ou dois personagens. Sem saber o que ia acontecer, o resto da sala improvisava a partir daí. Uma das cenas capta o diálogo truncado entre professor e alunos durante uma aula de gramática. “Por que quando o senhor vai dar exemplos usa sempre esses nomes ‘coxinha’, tipo Bill?”, “Para que vamos aprender essa linguagem da Idade Média?”, “Estão dizendo por aí que o senhor gosta de homem. É verdade?”. A aula acontece em círculos. Entre descobrir que “coxinha” é uma gíria para careta, convencê-los de que vão precisar usar o imperfeito do subjuntivo e “não, não sou gay, qual o problema se fosse?”, o professor tenta puxar os alunos de volta para a aula sem deixar de responder a seus questionamentos.

“Fora a estrutura da escola, os diá­logos são os mesmos que vivemos aqui”, diz o professor de história da rede estadual de São Paulo Rodrigo Ciríaco. Como François, ele escreveu um livro de contos inspirado em sua experiência na rede pública, Te pego lá fora (Edições Toró, 107 páginas, R$ 15). Em um dos contos, Ciríaco descreve uma reunião do conselho escolar em que se julga o que fazer com um aluno que discutiu com o professor e, sem querer, o machucou. Ciríaco, na figura de um rato que assiste a tudo de fora (ou de baixo), é o único a perceber que o aluno só perdeu a cabeça porque foi pressionado a fazer algo que não sabia: ler. No filme, em uma cena de conselho muito parecida, François é o único a saber a verdadeira razão do aluno em julgamento por ter agredido sem querer uma colega.

As mesmas situações, acontecendo em contextos tão distintos, revelam um ponto de tensão da educação pública. O (des)equilíbrio de força entre professores e alunos. A partir da década de 70, educadores passaram a questionar a autoridade excessiva do professor – antes o dono da verdade e da palmatória. De lá para cá, os alunos são menos reprimidos e cada vez mais estimulados a participar da aula e a desenvolver o senso crítico. Mas a mudança deixou um laço solto: sem o medo, como conseguir que um adolescente respeite seu professor? Para agravar o problema, alguns pais dão liberdades excessivas para as crianças em casa, e elas chegam à escola com resistência em aceitar limites. “Muitos adultos hoje confundem o conceito de igualdade perante a lei com a igualdade de papéis. Isso gera uma horizontalização das relações, que coloca em xeque a autoridade do professor”, afirma Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Ciríaco já gritou, fez longos silêncios, bateu na mesa, até apito usou para chamar a atenção da sala. “Eu vejo a aula como um fronte de batalha. Os alunos são aliados que você conquista no dia a dia. Não tem receita nem garantia para as próximas aulas. Se mostrar fraqueza, eles são cruéis.” O filme mostra como pequenos deslizes do professor podem levar a situações-limite. Ao dar abertura demais para a turma, François é bombardeado por críticas e agressões verbais. E começa a responder em tom de ameaça: “Se você continuar assim, vai se dar mal!”. Quanto mais respostas atravessadas ele dá, mais é questionado. Até que explode e passa a usar a mesma linguagem agressiva dos alunos. Ver o professor deslizar de seu papel foi um choque para os adolescentes do filme e da plateia. A reação foi em cadeia: “Nooossa...”.

Ao sair do cinema, Ciríaco e Silvia dos Santos Mello, professora da Escola Estadual Condessa Filomena Matarazzo, também convidada a assistir ao filme, tentavam entender onde François errou. Eles já viveram situações parecidas, quando sua autoridade foi desafiada diante da sala toda. “Nessas horas, cai um véu na minha frente, preciso me acalmar para enxergar o que deve ser feito”, diz Ciríaco. “Ali, dependendo de sua reação, ou você perde ou ganha a classe toda”, diz Silvia. Ela viveu isso durante a aplicação de uma prova. Um aluno estava ditando alto as respostas para os outros, e ela lhe advertiu que, se continuasse, sua prova seria anulada. Em tom de ameaça, o aluno ficou em pé na sua frente e, olhando em seus olhos, pediu para ela repetir o que faria. “Ele tinha 2 metros e já tinha batido em vários alunos. Eu me vi caída no chão, agredida. Mas a classe estava esperando, tive de repetir o que já havia dito.” A reação do aluno foi amassar a prova, jogá-la no lixo e sair da sala. Para Silvia, a melhor solução dentro das circunstâncias. “Já vi aluno ameaçar professor dizendo ‘conheço quem mata’. E tem professor que responde ‘conheço quem morre’. Eu não entro nesse jogo.”

Silvia sabe que, igualando-se aos alunos, dificilmente conseguiria conquistar seu respeito. Para quatro adolescentes recém-formados em seu colégio, que também foram assistir ao filme, algumas das piores recordações da escola são da aula de uma professora que vivia na defensiva. “Por causa de três alunos, ela cismou que a sala estava contra ela e passou a tratar a gente de forma diferente”, diz Eduardo Rodrigues Valadão, de 17 anos. Brena Marielle Silva Martins, de 17, uma das mais estudiosas da sala, desistiu de tirar dúvidas porque só recebia respostas pela metade. “Isso quando ela não fingia que não ouvia a gente chamar”, diz Rebecca dos Santos Teixeira, de 18. A professora que não ouvia os alunos também deixou de ser ouvida por eles. Além de sua aula ter o maior nível de bagunça; segundo os alunos, ela ganhou apelidos pejorativos. Para Arnaldo Trentin Morais, de 18, os professores não deveriam se ofender com a indisciplina, porque nenhum aluno começa a fazer bagunça para provocá-los. “É mais um jeito de fugir da aula, por falta de interesse na matéria mesmo.”

A distância entre o conteúdo e a realidade dos alunos é a origem de grande parte dos problemas na escola. Por mais flexível e dinâmico que o professor seja, ele continuará falando de regras trigonométricas, fórmulas de física ou características do barroco para adolescentes em fase de ebulição hormonal. Até adultos teriam dificuldade em se concentrar nesses temas durante quatro horas. Ciríaco vive o dilema todo começo de ano em que dá aula para a 5a série. É quando ele precisa explicar o que é história e o que é tempo cronológico para meninos de 11 anos. “Eu olho a carinha deles e só vejo pontos de interrogação. O conteúdo é muito abstrato para essa idade.”


INSPIRAÇÃO FRANCESA François é o personagem principal do filme, baseado nas histórias de seu livro


REALIDADE BRASILEIRA Ciríaco escreveu um livro de contos inspirado nas situações que viveu como professor


No fim do ano letivo do filme, uma aluna confessa – em voz baixa, e só para o professor – que não aprendeu nada. O espectador afastado da escola pode imaginar que a cena é um toque de ficção. Até François resiste em acreditar no que está ouvindo. Nada? Mas alunos e professores da periferia paulista foram unânimes em reconhecer, na personagem, uma figura comum das escolas públicas no Brasil. É o aluno que não aprendeu a ler e escrever direito nas primeiras séries, mas, graças à política de progressão continuada (em que o aluno raramente repete), ele segue passando de ano. Ciríaco calcula que, em média, há quatro alunos não alfabetizados em cada classe em que ele já lecionou. “Na 5a série, estudei com um menino que não sabia ler. Eu ficava feliz quando o via desenhando, pelo menos estava fazendo alguma coisa”, diz Bruna da Silva Fermino Bezerra, aluna de Ciríaco. “Aí, do nada, ele se transformava e queria ser o bambambã, bater nos outros.” A professora Silvia diz que é comum encontrar grandes dificuldades de aprendizado entre os alunos mais bagunceiros. “É difícil lidar com a carga de não acompanhar o resto da turma, muitos acabam descontando na agressividade com os colegas ou com o professor.”

François, Ciríaco e Silvia dizem que procuram se aproximar desses alunos – e de todos os outros –, mas convivem com colegas que já desistiram de suas classes. Há no filme uma cena em que um professor volta da aula transtornado, desistindo de tudo. “Eles parecem animais no cio, que apodreçam nesse bairro de fim de mundo em seus empregos de classe baixa”, diz. Segundo os quatro alunos de Ciríaco que foram assistir ao filme, todos na 7a série, não é difícil perceber quais são os professores que assumem essa postura. “Tem uns que falam na nossa frente ‘vocês aprendendo ou não, eu ganho meu salário igual’”, diz Paloma Gabrieli Santos Gonçalves, de 14 anos. “Outros entram, passam a lição na lousa e vão embora, como se a gente nem estivesse lá”, afirma Bruno Vieira Rodrigues, de 13. Em ambos os casos, a reação da maior parte da turma é a mesma: desistir daquela aula.

O maior sinal para a classe de que a bagunça está liberada é quando o professor faz ameaças de punição, e elas não são cumpridas pela direção. Um problema que, pelo menos segundo o filme, parece exclusivo do Brasil. Danilo Emerson Salomão de Castro, de 15 anos, conta que certa vez foi enviado à direção com a promessa de que sua mãe seria chamada. “A professora ficou lá dentro um tempo, nem sei se falou mesmo com o diretor ou se só pegou um cafezinho. Depois voltamos para a sala e nada. Aí é que a gente conversa mesmo.” É o professor quem sai manchado, mas a ausência de punição não é culpa dele. Muitos diretores da rede pública de São Paulo têm outros trabalhos e não passam o dia todo na escola. Quando o professor chega com o aluno a sua sala, pode dar com a cara na porta. E há os que simplesmente despacham os dois de volta, como aconteceu com Danilo.

No filme, François vive o drama inverso. Ele teme recorrer à direção da escola, que é muito rígida em seus procedimentos e pode exceder na punição de um aluno que, na verdade, precisa de cuidados especiais. Para o professor da USP Yves de La Taille, lidar com o comportamento do aluno é mais difícil quando a escola tem uma direção ausente. “Falta às instituições no Brasil explicitar suas normas e fazê-las valer por intermédio da direção e da coordenação.” Ele afirma que regras, limites e punições sejam bem divulgados para os alunos antes que os problemas comecem a acontecer. Assim, todos os funcionários da escola podem agir com o respaldo da instituição, e o aluno sabe as consequências de sua ação.

As tensões das relações humanas são as mesmas no Brasil, na França e no mundo. Mas as carências de gestão e de estrutura da rede pública brasileira multiplicam os problemas. O colégio Jornalista Francisco Mesquita, onde Ciríaco dá aula, em nada lembra o ambiente limpo e colorido do filme. Enquanto François dá aula para 25 alunos, os professores do Mesquita lidam com 45 por turma. Já deram aula em salas com goteira, infiltração e até alagamento. Na hora de educação física, os alunos usam uma quadra descoberta, há anos esperando reforma. Em volta da quadra, há um gramado abandonado que dá para os fundos da escola. Como o muro é baixo, há dias em que usuários de maconha invadem a escola e fumam ali dentro, enquanto os alunos fazem ginástica.

Foi nesse cenário que, no ano passado, um grupo mais agressivo de alunos quebrou todas as regras e tomou conta da escola. Eles começaram se atrasando para a aula. Como nada acontecia, nem entravam mais, ficavam pelos corredores ouvindo música alta. No meio do ano, passavam abrindo as portas das salas só para tumultuar as aulas. De vez em quando, despejavam uma lata de lixo e saíam correndo. A diretora (que depois foi afastada) não era muito presente, e o inspetor e os coordenadores não conseguiam controlar o grupo. Ninguém sabe se foi a troca de diretor, que chegou restringindo a liberdade deles, ou a notícia veiculada na mesma semana de que adolescentes do bairro do Belém haviam feito uma “rebelião” em sua escola. Mas, no dia 17 de novembro, o grupo resolveu mostrar sua força. Jogaram bombas caseiras pelos corredores, incendiaram latas de lixo e quebraram janelas, carteiras e luminárias. No mesmo dia, uma forte chuva estourou parte do telhado, o que fez despencar uma cachoeira no meio do pátio. A luz da escola acabou. Para se proteger, os outros alunos corriam de um corredor para o outro. Alguns professores se trancaram em uma sala. A polícia foi chamada.

ÉPOCA tentou entrar nessa escola para fotografar os alunos e entender o que gerou o descontrole, mas a Secretaria Estadual da Educação negou o pedido. Por meio da assessoria de imprensa, disse que a entrada de uma repórter atrapalharia a rotina escolar. A secretaria também negou autorização para os professores e alunos assistirem ao filme. Os professores aceitaram ir por conta própria, e os pais dos alunos autorizaram sua ida. Na véspera da sessão, Silvia recebeu o falso recado de que ela havia sido cancelada. A informação chegou por meio de sua diretoria de ensino, subordinada à secretaria. Pelos depoimentos dados nesta reportagem, os professores correm o risco de sofrer processo administrativo. Há uma lei em São Paulo, e em outros 17 Estados, que proíbe funcionários públicos de criticar os atos da administração. Promulgada durante o regime militar, ela caiu em desuso – mas ainda provoca receios nos professores. Esses receios e as reações das autoridades responsáveis pelo ensino público são um forte indício de que os problemas de relacionamento nas escolas não estão apenas dentro das salas de aula.

QUE FOTO LÔCA, HEIN POETA?


O Poeta e General das palavras, Sérgio Vaz, em foto para a Revista Época falando sobre o Sarau, Cinema na Laje entre outras coisas.

Eu, Cooperifa e Vaz na mesma edição de uma revista, aí já é demais.

Pensando bem... Não é não.

É tudo nosso!

MATÉRIA - REVISTA ÉPOCA





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BASTIDORES DA MATÉRIA "REVISTA ÉPOCA"

A caminho da Sessão, na Reserva Cultural (Av. Paulista)

A galera das escolas, antes da sessão

No escurinho do cinema, com lanchinho e tudo

Minhas alunas: Paloma, Bruna e Vanessa

Danilo e Clayton, conhecendo o espaço
Clayton, Danilo, Bruno, eu, o banner do filme, Vanessa, Bruna, Paloma e Nathalia, agachada

A hora do rango: parada num rodízio



Paloma e Bruno, felizes por pagarem toda a conta (rs) - brincadeira

Obs.: nem todos os alunos que assistiram o filme participaram da matéria pois o debate, entrevistas com a Ana (jornalista) foi feita na sexta-feira pré-carnaval e alguns deles tiveram que viajar. Uma pena.

HEY! TEACHER! LEAVE THE KIDS ALONE (?)

“Entre Muros” é um filme importante. Não porque fala sobre educação, mas principalmente porque fala sobre a escola. A partir da visão de quem está na escola, e está disposto a falar, dar a cara a tapa sem enaltecer apenas os problemas e dificuldades ou cobri-las de falsos elogios. Mostrar a vida como ela é, ou melhor: como ela está.

O filme foi baseado na obra de Francois Bégaudeau, professor de francês e nas suas experiências de ensino. E acredito que aí está a riqueza, além da sua própria atuação no filme e de vários alunos, desafiados a improvisar o cotidiano de uma sala de aula.

Quando finalizamos a sessão de pré-estréia do filme, a convite da Revista Época, uma das alunas fez um comentário muito significativo na minha opinião: “O que eu achei interessante é que os diálogos são bem vivos, bem realistas. Se mudasse apenas o cenário da escola, colocasse uma sala de aula, um espaço mais parecido com o nosso, podia muito bem falar que era uma escola do Brasil”. E em grande parte do que ela disse, é verdade.

O filme traz o retrato de um ano letivo numa escola pública da periferia de Paris. Primeiramente observamos o grupo de professores, à volta as aulas, apresentações, expectativas; depois os alunos, o encontro entre velhos amigos, as surpresas do “novo” e, finalmente, o encontro, que muitas vezes parece mais uma trombada: docentes e estudantes, juntos, na sala de aula.

Por se tratar de um filme que aborda principalmente as relações pedagógicas e sociais dentro da instituição escola, ele toca em questões cotidianas, quase banais para a maior parte dos profissionais que faz parte deste lócus, mas que são universais, pertinentes – acredito – em qualquer lugar do mundo: seja uma escola do sertão do Pajeú, em Pernambuco, seja uma escola canadense ou chinesa: a comunicação muitas vezes truncada entre educadores e estudantes, os conflitos de gerações, sociais, culturais e econômicos; o questionar da autoridade, a indisciplina, a dificuldade do mestre em lidar com determinadas situações, nossas limitações e acertos. Talvez este enfoque sobre o cenário da escola tenha sido o responsável para o filme ter obtido tamanha repercussão em diferentes países.

Longe da áurea de romantismo ou desqualificação e criminalização total das pessoas que rondam sobre o tema, “Entre os Muros” expõe o recorte do cotidiano escolar de uma forma mais realista, com um olhar que procura mais entender do que julgar. Trazer indagações, questionamentos sobre este ambiente, mais do que apontar o dedo para vilões e mocinhos, anjos e demônios. Se bem que eles existem, dentro e fora, dos dois lados do muro.

Principalmente por ser professor, existiram várias partes em do filme que houve empatia minha com alguns personagens, ou que estabeleci relação com determinadas situações que vivencio na escola, seja pelo fato de ter acontecido comigo ou de ter presenciado com colegas e alunos: as conversas na sala dos professores, a perda da estribeira de um docente que não consegue trabalhar; o conselho de classe na qual duas alunas tem uma postura extremamente desrespeitosa, mas nenhum adulto lhes chama a atenção, a agressão verbal do professor a duas alunas dentro da sala de aula (chamando-as de vagagunda) e, o extremo: a agressão física de um estudante a outro dentro da sala de aula.

Apesar das semelhanças de situações de lá e cá, não significa dizer que as escolas públicas da periferia de Paris são iguais as da periferia de São Paulo. Longe disso, cada lugar guarda as suas especificidades e riquezas, mas o filme demonstra o quanto as relações entre professor e aluno são parecidas e destaca como a postura de um professor pode fazer a diferença – ou não - no cotidiano escolar e na vida do aluno. E isso é um fator a ser considerado.

Mas é preciso ficar claro: as escolas não são feitas apenas de relações humanas e, se alguns professores podem fazer a diferença, ela será mínima se não houver planejamento, organização, disciplina, compromisso, responsabilidade e seriedade em todas as instâncias que envolvem este trabalho. Apesar dos diálogos serem parecidos, não significa que as unidades escolares sejam as mesmas e que os alunos tenham o mesmo aprendizado. A estrutura, o ambiente escolar faz diferença, assim como o número de alunos em sala, os programas curriculares, as políticas educacionais, a fiscalização, o salário dos profissionais da educação, entre outros. Não queremos “super-heróis” salvando algumas escolas. Queremos trabalho sério, em todos os lugares. Fazer valer o que é de direito, para todos.

Enfim, “Entre Muros” é importante menos por falar sobre a Educação, no geral, mas por trazê-la para a cena. No caso a tela. Um tema reconhecidamente imprescindível no discurso de políticos, burocratas, editores de jornais da mídia impressa e falada e pais quando se pensa no futuro do país, mas que não merece a devida atenção e dedicação nas ações, na nossa prática cotidiana: há sempre uma crise, um acidente, um problema, parece haver sempre algo mais “importante” para se preocupar do que com a famigerada Educação. Ou quando se aborda sobre o assunto é sempre de maneira superficial, sem tocar no cerne do problema. E é extremamente necessário falar sobre este tema, agir. Sem medo, sem cortes, sem censuras, seja de qualquer parte. A escola, sozinha, entre muros, não redimirá o nosso caótico mundo. Mas é um grande passo neste longo caminho. Todos sabemos disso.

Chega de colocar-mos apenas outro tijolo no muro.

R.C.

SOBRE "ENTRE OS MUROS DA ESCOLA"


"Uma criança marroquina chama de “macaco” outra de Mali. Uma jovem tunisiana recusa-se a ler um trecho de um livro porque não lhe apetece. Um filho de portugueses aparece com uma camisa da seleção de futebol e o cabelo espigado à Ronaldinho. Estas são algumas das situações que o professor de ENTRE LES MURS, de Laurent Cantet, tem que enfrentar todos os dias na aula de Francês que leciona num Liceu de Paris; mas não é por isso que o filme, terceiro e melhor do trio que a França apresentou na Seleção Oficial do Festival de Cannes, se resigna aos clichês sensacionais do subgênero “filme de escola problemática”.

Cantet disse numa entrevista que “todos produzem discursos ideológicos sobre a escola, mas muito poucos a conhecem e vão ver como funciona”. Por isso, pegou a idéia que tinha de fazer um filme de ficção sobre a vida num liceu “difícil” e propôs ao jornalista, escritor e professor Francois Bégaudeau a adaptação ao cinema do seu livro ENTRE LES MURS, baseado nas suas experiências de ensino. Mais: além de ter convidado Bégaudeau a co-escrever o argumento com ele e com Robin Campillo, Cantet propôs-lhe ainda que interpretasse o papel principal, o de um professor chamado… Francois.

Para transferir para a tela a autenticidade do livro, o diretor e o autor decidiram que os alunos seriam interpretados não por atores jovens recrutados em castings, mas pelos alunos de um liceu de Paris, que fizeram workshops dramáticos e foram encorajados a improvisar durante as filmagens, mantendo seus nomes originais na fita, tal como os professores.

O resultado é uma crônica de um ano letivo numa sala de aula que é um microcosmo de milhares de outras em escolas “duras”, não apenas na França, mas também em qualquer país da Europa aonde os filhos dos imigrantes africanos, asiáticos e também europeus vieram engrossar as fileiras escolares dos naturais. Onde dar aulas requer a um professor não apenas a normal preparação pedagógica, como ainda paciência de santo, muita criatividade e uma autoridade feita de parte firmeza, parte diplomacia, e o dia-a-dia é gasto a dar matéria e a tentar explicar aos alunos as regras básicas do respeito, da boa educação, do convívio social e do comportamento em público - especialmente numa sala de aula.

Colado ao máximo à realidade, Laurent Cantet descreve os confrontos diários intenso, exigentes e ingratos entre um adulto e um grupo de adolescentes em que se transformou o ensino em muitas das escolas das sociedades contemporâneas, sem desabar ou no discurso catastrófico do apocalipse escolar, nem nas piedades ingênuas das pedagogias redentoras, sem crucificar ou endeusar os professores ou transformar os alunos em estereótipos ou carne para canhão do politicamente correto. E sem esconder que ensinar pode por vezes parecer uma missão quase impossível, em face de quem não quer, não consegue ou resiste, com insolência e hostilidade, a ser ensinado. ENTRE LES MURS é um filme sobre cenas da luta na classe."




veja trailer do filme, aqui: http://www.youtube.com/watch?v=YD7CFS0mLaY

COISAS IMPORTANTES - 2ª EDIÇÃO DO MEU LIVRO E REVISTA ÉPOCA

Este sábado será um dia especial para mim. Receberei na minha casa a 2ª edição do meu livro, "Te Pego Lá Fora". Uma conquista. Pela maneira como ele foi criado, pelas alegrias - e tristezas - que ele me proporcionou. Por menos de nove meses depois (o livro foi lançado em junho do ano passado), quase 600 exemplares terem ido embora. Isso num trabalho de vendas de mano a mano, sem grandes propagandas, livrarias e outros estabelecimentos fixos para a venda. Conheci, ainda que de passagem, quase todas as pessoas que adquiriram o livro, diria que 70%, conversei com algumas delas, antes e depois e, para um autor, isso não tem preço.

O livro está igual: mesmo conteúdo, apresentação do Sérgio Vaz, etc, com uma única diferença: a capa. Não, não mudei a foto da capa - em que aparece uma sala de aula alagada depois de uma reforma de meio milhão de reais -, mudei o papel da capa, mais duro, mais firme. Mais especial, principalmente para mim.

Outra coisa importante é a matéria da Revista Época. Ainda não li a matéria, não sei o que irá sair, exatamente, mas estou botando fé e confiança na jornalista Ana Aranha. Menos por ser da revista Época (da editora Globo), mais, muito mais por ser amiga da jornalista Eliane Brum e por tê-la conhecido na Cooperifa. Boto fé por tudo isso. Talvez eu me engane, talvez não.

A matéria surgiu por conta do filme francês "Entre os Muros da Escola", indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro neste ano - não levou a estatueta - e que estará nos cinemas aí, a partir da semana que vem, dia 13 de março. O filme fala sobre o cotidiano de uma escola pública na periferia de Paris, os conflitos entre alunos, professores, professores e alunos, entre outros, e foi baseado num livro, do mesmo professor que atua no filme - a ser lançado no Brasil pela editora Martins Fontes. Neste livro, o professor relata experiências de seu trabalho na escola.

Devido as semelhanças - o meu primeiro livro, de contos, aborda o cotidiano da escola pública na periferia de São Paulo -, o fato de sermos professores, a Ana convidou-me, eu e alguns alunos e uma outra professora, a participar de uma sessão fechada do filme para, depois, discutir sobre o mesmo e sobre a situação de nossa escola.

Eu não ia perder essa oportunidade por nada neste mundo. A minha briga sempre foi essa: mais espaço para a educação, mais espaço para a discussão, mais espaço para ações efetivas. E ponto. Quero melhorar a minha escola, quero melhorar o ensino público e gratuito, quero mudar a minha escola e não mudar da minha escola. Então, como disse, não ia perder esta oportunidade. Apesar da desconfiança em dar uma matéria para a Época - não confio muito na mídia gorda -, apesar da proibição da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em não autorizar eu e os alunos a falar. Mas, tudo bem, eles podem me proibir de falar enquanto professor e em nome da escola, mas a Constituição Brasileira é soberana a qualquer Estatuto de funcionário e, enquanto cidadão, eu tenho direito de expressar a minha opinião, com responsabilidade, é claro. E o Estado não pode impedir que estudantes falem se os pais destes autorizam, como foi o caso.

Pois bem, assistimos o filme, conversamos sobre o mesmo, sobre a escola, as dificuldades, problemas, lutas e vitórias e, acho, a matéria ficará bacana. O processo, apesar de cansativo - principalmente as horas de entrevistas - foi muito bom, a Ana demonstrou ser uma jornalista competente, respeitosa e, mais importante para mim, os alunos ficaram bem satisfeitos.

Agora, é aguardar até amanhã para a chegada da 2ª edição do meu livro e a matéria da Época, abrir um guaraná e comemorar. Ainda que seja por um dia, afinal, ainda estamos no front.

Como diria o poeta Sérgio Vaz: "tamo junto, mas só com quem tá misturado!"

Aquele abraço,

R.C.

CONVITES

Pra não ficar sentado na poltrona no dia de Sábado e Domingo:

- Sábado, 07 de março, a partir das 07hs
Qualquer banca do Brasil
Matéria na revista Época

A convite da revista Época, eu e um grupo de estudantes fomos assistir ao filme "Entre os muros da Escola", indicado ao Oscar 2009 de melhor filme estrangeiro pela França, para debatermos algumas questões do filme e o atual cenário da educação na periferia paulista.


- Sábado, 07 de Março, as 10hs
Rua Barão de Limeira, em frente à Folha
PROTESTO CONTRA A FOLHA DE SÃO PAULO

Em 17 de fevereiro de 2009, em editorial do jornal, a Falha de S. Paulo chamou a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985) de "ditabranda", comparada com outras ditaduras. Várias personas, entidades e jornais manifestaram repúdio a esta afirmação. Ato em frente a sede do jornal;


- Sábado, 07 de Março, a partir das 15hs
Concha Acústica, Santos - Canal 03, Posto 04
CHÁ NA CONCHA

Evento organizado pela galera da saúde mental da Baixada Santista, busca integrar pacientes, trabalhadores e a comunidade da baixada com música, informação, desenho, artes plásticas, sol, chuva e muita poesia.

- Domingo, 08 de março, 16hs
Livraria da Vila - Shopping Cidade Jardim
Companhia de fadas

A minha grande amiga Patrícia Rodrigues, educadora social, terapeuta ocupacional e contadora de histórias, convida para uma roda de "Contos de mulheres e suas aventuras", no dia Internacional da Mulher. Outras infos, acesse: companhiadefadas.blogspot.com

segunda-feira, março 02, 2009

AGUARDEM


600 foram poucos... Em breve, 2ª EDIÇÃO
Nova capa, mesmo conteúdo. Apenas R$ 15,00
Apresentação do Poeta
Sérgio Vaz

O POETA MANDOU CHAMAR

COOPERIFA LANÇA PROJETO "CINEMA NA LAJE"

A partir de março, a periferia de São Paulo vai ganhar uma sala de cinema ao ar livre, e na primeira e terceira segunda-feira do mês, a laje do Zé batidão, onde acontece há sete anos, o tradicional sarau da Cooperifa, vai virar o cinema Paradiso da Zona Sul paulistana.O Cinema na laje vai ser um espaço alternativo para exibição de filmes e documentários de todas as partes do Brasil e do mundo. E criado principalmente para dar vazão ao cinema produzido por jovens da região.Além dos filmes já estão agendadas algumas mostras, debates e visitas de alunos de escolas da região (no lançamento duas salas do CIEJA foram convidadas). A Exibição dos filmes é da PACO´S PRODUÇÕES.Para o lançamento do projeto teremos a exibição de dois documentários realizados na periferia :"Povo lindo, povo inteligente", de Sérgio Glagliardi e Maurício Falcão e a "A Ponte", de João Wainer e Roberto T. Oliveira.E para manter o velho charme do cinema antigo, um lanterninha foi contratado para que ninguém se perca no escurinho da laje, a entrada é franca e a pipoca é grátis...

CINEMA NA LAJE.
Dia 02 de março 20hs.
Cooperifa
Bar do Zé batidão
Rua Bartolomeu dos Santos, 797
Chácara Santana Zona Sul - São Paulo12o lugares
Infs. 72074748
http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/

Primeira sessão:.“POVO LINDO, POVO INTELIGENTE ”
Sarau poético da Cooperifa que acontece há sete anos na periferia de São Paulo.O documentário “Povo lindo, povo inteligente!”, produzido e finalizado pela DGT Filmes em 2008, sem nenhum patrocínio, revela o poder de transformação do Sarau da Cooperifa que exerce sobre os participantes, além de lançar um olhar sobre momentos especialmente marcantes do sarau, no qual diferentes estilos e conteúdos se encontram com um invejável espírito democrático, permeado por qualidade literária e forte conteúdo emocional.

Direção: Sérgio Gagliardi e Mauricio FalcãoFotografia: Toni Nogueira, Mauricio Falcão, Badú Nogueira - Roteiro: Sérgio Gagliardi Produção Executiva: DGT Filmes
Duração: 50 minutos.

Segunda sessão: “A PONTE”
Documentário aponta soluções para a periferia de São Paulo. O rapper Mano Brown, a educadora Dagmar Garroux e o escritorFerréz convivem diariamente com as dificuldades da periferia de SãoPaulo. Cada um a seu modo, trazem uma bagagem de experiênciasque merece reflexão. É o que faz o documentário "A Ponte",produzido pelo Instituto Rukha e que foi exibido na TV Cultura no DiaMundial dos Direitos Humanos.

O filme, de 42 minutos, mostra a situação da desigualdade social naZona Sul de São Paulo por meio da figura de Dagmar Garroux,conhecida como Tia Dag. Ela é a fundadora de uma das mais exitosasexperiências de educação integral do Brasil, a Casa do Zezinho. A entidade trabalha desde 1994 com o desenvolvimento de crianças ejovens. No início eram 6 “Zezinhos”, hoje a Casa conta com mais de1200 crianças e jovens.
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Direção: Roberto T. Oliveira e João WainerTrilha sonora: DJ ZeGon (Zé Gonzalez) e Daniel Ganja Man (ColetivoInstituto)Duração: 42 minutos

DITABRANDA

Em recente editorial (17/02/09) criticando o governo Venezuelano de Hugo Chaves, a Falha de S. Paulo classificou o período do regime militar brasileiro (1964-1985) de "Ditabranda". Afora o desrespeito com a memória de milhares de vítimas do regime militar e com os sobreviventes, parece que a Falha quer, como sempre, manipular a história. Segue abaixo excelente charge de Carlos Latuff que eleva ao máximo a famosa frase: uma imagem vale por mil palavras.



domingo, março 01, 2009

PAGANDO PRA VER - conto

Consumo, consumo, consumo. A natureza buscando o equilíbrio, o ser humano o excesso. E consumo. A menininha descolada, lápis no olho, cabelo desfiado, diz que faz, sabe tudo, manda brasa e reclama. Super-engajada, usa Nike, toma Coca e vai no Mc Donalds toda semana. “Mc lanche Feliz, please”. E eu tentando lembrar quando começou essa zona. Mas a única imagem que vem na cabeça é a da destruição da Amazônia. Pode? Derrubar mata pra colocar pasto. Gado pra matança? Que desperdício. Fico pensando e me chamam de viado. Lesado, idiota. Onde já se viu, vinte e sete anos e gostar de história? Ser professor? “O senhor tem problema?” Todos, menino. Ganho pouco, trabalho muito, saco esgotado e ainda tenho que ouvir você pagar de gatinho. Mas não se preocupe. Pode ficar no seu mundinho. Doze anos e troca de celular toda semana. Pensa que é cueca é? Acha bonito pagar de bacana? Não esquenta. Vai ficar feito freada: tudo borradinho. Quando a mãe Terra vir cobrar o preço, vai sair caro. Não vai dar pra usar cartão, cheque especial nem o seu salário. É, daí eu quero ver. Momento raro. Você buscando no Google, Wikipédia e até nos livros que despreza quando foi que a bosta começou a feder. “Onde foi que erramos?”, vai ser a pergunta que procurará responder. E a verdade vai doer. Tanto que você, que sempre foi ateu, vai ajoelhar, louvar os santos e rezar pra Deus. Tsc, tsc, tsc, não, não. Faz isso não, filho. Deixa Ele de fora. Cê tá ligado, pagou pra ver. E tem mais: Deus, se existir, não tem nada a ver com isso.

CONVITE - CHÁ NA CONCHA - SANTOS/SP


outras informações, acesse:

http://www.de-lirio.blogspot.com/