quarta-feira, maio 28, 2008

"NÃO DÁ PÉ, NÃO TEM PÉ NEM CABEÇA..."


É com pesar que vi no sítio do uol na tarde de hoje que o escritor Austregésilo Carrano faleceu, devido a uma infecção provocada por um câncer no fígado (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u406211.shtml).

Austregésilo ficou conhecido por conta do seu livro "Canto dos Malditos", que inspirou o filme de Laís Bodansky, o "Bicho de Sete Cabeças". Ambos narram a história de um adolescente que é pego pelo pai, pois fumava maconha, e é internado numa instituição psiquiátrica para realizar "tratamento".

Austregésilo mostrou a violência praticada dentro desta Instituição e se tornou um dos principais militantes da Luta Antimaniconial, em âmbito nacional.

Eu o vi há uns dois meses atrás, autografando livros na praça Benedito Calixto. Estava magro, abatido, mas não sabia que estava doente.

Perdemos um grande ser humano e um grande escritor. Triste.

"É tão estranho, os bons morrem jovens..."

mais pitangas espremidas

hoje é dia 28 de maio. 12 dias se passaram desde que eu e uma grande parte dos professores da escola protocolamos um documento junto a nossa diretora, uma relação de queixas: que não tínhamos condições de trabalho, o ambiente estava demais de sujo, não havia nem papel higiênico nos banheiros. não havia sequer giz. que os alunos estavam fazendo o que bem queriam. que ficavam circulando a vontade pelos corredores. que fumavam no banheiro. que ficavam em salas abandonadas - e abertas - fazendo o que não deviam. que atrapalhavam as aulas daqueles que queriam assistir as aulas.

12 dias se passaram. nada foi feito.

o banheiro ainda não tem papel. nem pra uma caganeira sequer. giz, de vez em quando. a escola continua suja, imunda. o mato crescendo, invadindo as salas. e os alunos. estão igual a direção da escola: nem aí. fazendo o que bem entendem.

choro tanto as pitangas aqui neste blog porque, já não sei mais o que fazer. estou desolado, abandonado. não sozinho. alguns companheiros sofrem juntos. poucos. mas também sofrem. porque o que queremos apenas é trabalhar. e ter condições de trabalho. mas está difícil, muito difícil.

hoje foi um dia bem complicado. estava fazendo uma atividade com os alunos - elaborando um telejornal, umas loucuras que criamos por lá, apesar de tudo. trabalho de pesquisa, produção de texto, discussões. tudo muito legal. hoje faríamos as gravações. precisaríamos de silêncio. dentro da sala, ok. não se ouvia nem a respiração dos alunos, tamanho interesse. já do lado de fora...

e a zona lá de fora interferia dentro da sala. precisávamos de silêncio. fui pedir uma vez. fui pedir duas. fui pedir três, para os alunos manerarem. não adiantou. apelei. fiz o que não gosto de fazer: bati boca com aluno. e o pior: fora de sala. nem eram meus alunos. lá dentro da minha sala estava tudo ok.

mas não havia ninguém da direção para cuidar da situação. a pessoa que fica por lá, conhecida vagamente como vice-diretora, não tem voz ativa. os alunos não a respeitam. e ninguém consegue colocar o mínimo de disciplina e organização na escola.

resultado: alunos frustrados, professor frustrado, aprendizado pedagógico prejudicado. trabalho não concluido.

e assim vamos indo. e já fiz reclamação verbal, e já fiz reclamação por escrito. e a diretoria de ensino sabe, e pessoas ligadas a educação sabe mas, nada acontece. nada acontece. putaquepariu, até quando nada acontece?

eu to cansando. pior, tô sentindo no corpo, na alma, que estou ficando doente. porque não basta coragem, determinação. é preciso saúde. e meu corpo está falhando. a cabeça está falhando. por mais que o coração queira, estou ficando mal. falhando. até as máquinas falham. e eu não sou máquina.

alguém tem alguma solução concreta para resolver isso?

olá, Terra? tem alguém me ouvindo?

que merda, não tem jeito. já perguntei isto outras vezes mas, ninguém responde.

bom, direto do planeta Terra, Rodrigo - desligo.

terça-feira, maio 27, 2008

TRECHOS DO LIVRO - LANÇAMENTO

TE PEGO LÁ FORA
Autoria: Rodrigo Ciríaco
Ilustrações: Yili Rojas
Fotos: Rodrigo Ciríaco e Tânia Canhadas
Edições Toró, São Paulo, 2008



Deus é brasileiro. Mas quem manda é o Marcola. (do conto A.B.C.)

*

E pá cumê? Me ofereceram dez real. Mas eu falei não, isso não. Isso aê só quando eu tivé di maió. Na quinta série. (do conto APRENDIZ)

*

A última coisa que Bia insistiu em dizer, antes de desmaiar de fome, foi: “Professor, eu, eu... Eu não sou merendeira.” (do conto BIA NÃO QUER MERENDAR)

*
O cigarro? Foi, professor. Foi nas balada o meu primeiro trago. Que qui tem de errado? Não aparece na TV, não é legalizado? Se nas escola até os professor fuma, então eles também tão errado? (do conto NOS EMBALOS)



O professor observa o menino no canto da sala, sozinho. Suando frio. Esfregando a mão dentro da calça. Estranha. Aproxima-se, com calma. O aluno de cabeça baixa, concentrado. Não percebe a chegada. Assusta. Coloca de volta, rápido. (do conto QUESTÃO DE POSTURA)

*

Meu sonho é matar meu padrasto. Essa noite eu consigo. Vou ferver o óleo de madrugada e jogar dentro do seu ouvido. (do conto MIOLO MOLE FRITO)

*

Quero parar. Não posso. Estephanie chora. Cansaço. Insisto. Os ombros arqueiam. Tenho medo. (do conto PERDIDOS NA SELVA)

*

Tio, me dá um... (do conto PEDIDO IRRECUSÁVEL)


Mãe, olha pra cara do seu filho. Olha bem. A senhora me desculpe mas, ele é retardado. (do conto CARA DE PAU)

*

Tava todo mundo metendo o pau, dizendo barbaridades pra mãe. O moleque acuado, calado. Ninguém se referia ao fato de ele estar na quinta série e não saber ler e escrever. (do conto UM ESTRANHO NO CANO)

*

Aí que um aluno teve uma idéia genial né? “Tia, o que é hemorróida?” Rapaz, essa mulher começou a gritar: (do conto SOCÁ PRA DENTRO)

*
Aqui, as coisas não são do jeito que você quer. Tudo tem o seu ritmo, o momento certo. Você não pode chegar aqui e querer mudar tudo. Fazer a revolução, entende? (do conto PAPO RETO)




Não me sai da cabeça a crueldade que é saber que tudo isso faz parte de um plano bem orquestrado. Que pessoas lucram. Que todos sabem. E nada fazem. Nada dizem. (do conto DA FRENTE DO FRONT)

*

NÃO ALIMENTEM OS ANIMAIS (do conto MEDO)

*

Se viu o que aquele menino aprontou? Aquele lá, o Escurinho, o Moreninho, o Marronzinho. O Chocolate, Pelé, Buiú. O número 23. Carai, eu tenho nome, professor. Num aprendeu? (do conto O LIVRO NEGRO)

*

A minha aluna virou uma Placa. Aconteceu na porta da escola. Um homem parou o carro importado, abaixou o vidro e disse: - Você leva jeito para Placa. Um cara branco, alto, malhado; peito raspado, gel e gravata. (do conto A PLACA)




Esse mundo é o cão. Cê pensa que eu num vi lá na banca de jornal, o caso lá dus pleibói, no ponto de ônibus, arregaçando com a tia? Bando de Zé-Ruela, pensaram que era puta. E se fosse a minha mãe, hein? Cadê a justiça? (do conto COBRA-CRIADA)

*

É, redução de carne, frango. Senão eles abusam. Outro dia passaro um comunicado que a empresa terceirizada precisava economizá. Pediro pras tia botá mais água na sopa. Misturá um pouco de carne com ração. Verdade. Acha que é brincadeira? Os menino gostaro. (do conto BOCA DO LIXO)

*

É tão difícil aceitar que esse mundo tá podre, que tá tudo errado, tudo pelo avesso? Que a vida não é o que se pinta nas novela da televisão, que escola não é o que aparece na Malhação? (do conto OBITUÁRIO)

*

Uma coisa espetou bem na sua bunda. Estava escondida debaixo do mato. Quando ele viu, não acreditou. Um brinquedo. Novo. Quer dizer, usado. Uma parte enferrujada, outra descascando. Um caninho longo, prateado. E um gatilho. (do conto UM NOVO BRINQUEDO)


O que mais vocês querem?
- De verdade?
- Sim, claro. É o que as pessoas querem saber.
- A gente quer o impossível. (do conto MENINAS SUPER-PODEROSAS)

*

Tá bom, tá bom. Só quero dizê que é sujeira. Cagaram na porta de casa. É. É melhor o Senhor sair fora de campo, limpá o salão, pará o jogo, sei lá... (do conto BOI NA LINHA)

*

Não se pode dizer não, não, não, eles não sabem. Não se pode dizer “são incapazes, perderam”. Os campos foram todos devastados, a vida é isto. Perdemos. (do conto LITERATURA (É) POSSÍVEL)

*

PEDRO: - Ô, ô, ô, vâmo pará as duas menininhas aí... Só ficam brigando. Querô, isso aqui é a Revolução, num lembra? A gente vai tomá a Bastilha cara. (do conto A QUEDA)

*

Não queremos nos mudar do lugar que sobrevivemos. Queremos mudá-lo.
Torná-lo mais bonito, mais solidário.
Mais forte. Mais humano. (do conto NÓS, OS QUE FICAMOS)


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LANÇAMENTO:
Dia 11 de JUNHO: COOPERIFA
Dia 12 de JUNHO: Ação Educativa
Dia 15 de JUNHO: Francisco Morato - 3º Encontro de Literatura Periférica

CONTAGEM REGRESSIVA

os problemas na escola continuam. um pouco piores, porque a guerra agora foi declarada. melhor, pelo menos eu sei quem é quem. só que o climas está mais tenso. sem problema, vou me fortificando junto aos meus aliados. os verdadeiros. os alunos e alunas.

e em relação a eles, não tenho problema. alguns, mas são poucos, pequenos. o que vale é que estamos crescendo. juntos. enquanto estudantes, enquanto professores, enquanto seres humanos.

agora, sobre outra pegada: a ansiedade está louca. batendo forte no peito. as vezes, de verdade, me falta até um pouco de ar. tudo bem, talvez eu precise praticar mais esporte mas, não é isso. é o friozinho na barriga. o medinho. e a satisfação, de ver o fruto de um trabalho duro, ralado, de horas e horas e horas nascer.

falo do livro. fiz a postagem de madrugada, as cinco da matina, antes de me preparar para ir pra escola. estava aguardando o envio do allan da rosa. e chegou. e que legal.

o livro tá tão louco que tem surpresa até pra mim. até o último momento. pra vocês entenderem: ainda não sei quem fez a apresentação/prefácio do mesmo. é mole? coisas da toró. muito lôco.

estou recebendo felicitações pelo livro, comentários, mas... é estranho. as vezes não tenho orgulho do livro. não por tê-lo escrito, não pelo trampo e por todos os que me acompanham nessa caminhada. mas é porque é dolorido. não queria ter escrito porque não queria que, muitas das coisas que ali estão, tivessem acontecido. não queria. mesmo. mas aconteceram. não tal qual está no livro mas, aconteceram. e acontecem. a escola está longe de ser um ambiente educativo. milhas, anos-luz distantes. mas, vamos batalhando por isso.

logo coloco algumas fotos, trechos dos contos aqui. pra dar um "gostinho", se é que posso dizer assim.

com respeito,

rodrigo.

VOCÊ NÃO PODE FALTAR, SE NÃO...

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TE PEGO LÁ FORA
contos de Rodrigo Ciríaco
Edições Toró, São Paulo, 2008

domingo, maio 25, 2008

AS HORAS

feriado? pra quem? quem disse que feriado serve pra descansar? você? vovô? cê viajô, jão?

eu tô cheio de trabalho. muito. desde não sei quando que eu não descanso. porque o barato não para. nem nos finais de semana, nem nada. mas, não tô reclamando. de maneira alguma. estou apenas compartilhando como está o processo final de produção do meu livro.

tá dando trabalho a criança. correria, encontros, discussões, reuniões. e alegrias. porque eu tô começando a rir da dor. tô começando a ler meus contos, aqueles que eu fiz com um puta dum sofrimento, uma puta duma angústia e, estou começando a rir deles. não de todos. nem das personagens, da situação que é trágica. mas é aquilo: a linha que separa a tragédia da comédia é tênue. mas, não é sobre essa teoria que eu quero prosar aqui.

só pra constar: quarta-feira foi leitura do livro. a nonagésima quinta. buscando o melhor lugar para os pontos, para as vírgulas; tentando decifrar a melhor palavra, a melhor frase. cortando os excessos ("menos é mais"), pensando na disposição das fotos, nos encontros. pensando sobre o que eu quis dizer com esse livro. todas estas paradas. quinta-feira, altos papos com o allan. o da rosa. acertando detalhes, organizando a reunião. sexta foi suave. é, sexta foi tranquilo.

ontem o bang foi lôco.

sentei com os caras da toró - silvio e allan - as onze da matina em frente ao micro. só levantamos, literalmente, as sete da noite. oito horas diretas na frente do computador. revisando página por página, vírgula por vírgula - as vírgulas principalmente, pois usamos uma fonte diferente e, no caso das vírgulas, todas tiveram que ser trocadas -, aspas, traços, textos, agradecimentos. ahhhh! depois, as fotos. aí foi pau - rsrs. três caras, com três opiniões diferentes. o silvio tava pensando numa parada. o allan em outra. eu, concordando e discordando com ambos, em alguns pontos, e pensando em outra. tensão. pensar, pensar. até descobrir a melhor forma. o processo criativo é chapado.

aliás, esses dois irmãozão são chapados. o livro tá ficando lindo. de verdade. acho que é coisa de "pai" da cria mesmo, sabe? mas, tá ficando lindo. falei pra eles: "é o livro mais lindo da toró". "falô - rsrsrs". eles deram risada. mas, é verdade. pra mim é. porque eu não estou vendo apenas a beleza estética, poética do livro, mas estou vivenciado a beleza produtiva, acompanhando, sugerindo, cedendo cada detalhe, cada traço. e é muito bom.

não sei se vou ter a oportunidade de lançar outro livro. não sei se vou escrevê-lo. querer eu quero mas, escrever por escrever também não é minha praia. enfim. mas, se fosse produzir outro, gostaria que fosse algo parecido com o que estou vivenciando com os parceiros da toró. acho que são poucos escritores que tem esse privilégio.

bom, se tudo der certo, amanhã eu já mando os convites. ajuda a divulgar?

cê vai estar presente? ó, vai ser lindo.

r.c.

p.s.: ah, ainda não acabou. daqui a pouco eu vou sentar de novo com os caras. o livro ainda não tá pronto. talvez, mais umas doze horas de trampo direto sobre ele resolva isso.

sábado, maio 24, 2008

CONVITE LANÇAMENTO - ELO DA CORRENTE


Eu participo no livro como convidado, com um poema e um conto, ao lado de vários aliados. Com certeza estarei por lá, dia 19 de junho, a partir das 20hs. E você?
Mais informações, direto na fonte:

quarta-feira, maio 21, 2008

ISSO NÃO É CRIME?

"Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto." - Luciano Huck, Pensamentos quase póstumos

Incitar a violência, a execução sumária de pessoas, não é Crime?

LIBERDADE DE REPRESSÃO

Acabei de ver no blog do Ferréz (www.ferrez.blogspot.com) que foi aberto um inquérito contra ele por Apologia ao Crime devido à publicação do texto "Pensamentos de um correria", na Folha de São Paulo do ano passado, em resposta ao texto do Luciano Huck "Pensamentos quase póstumos", na qual o sr. Luciano chora as pitangas pela perda do seu rolex e chama o BOPE para dar um jeito na situação em São Paulo - como se só a repressão e a violência policial resolvesse alguma coisa.

Quem quiser ler os textos, é só digitar no Google que é fácil encontrá-los.

Mas, eu fiquei pensando. Que porra de país é este?

terça-feira, maio 20, 2008

"GRATIDÃO, ESSA PALAVRA-TUDO" - CDA

queria mandar um abraço apertado, bem apertado, para tod@s aqueles que comentaram no blog por esses dias, no lance lá sobre a minha escola. de verdade. são pequenas palavras, simples, mas que fazem uma puta diferença para uma alma abalada e as vezes até enfraquecida.

obrigado.

r.c.

segunda-feira, maio 19, 2008

"Vê se ao menos me engole bem"

foto: Rodrigo Ciríaco
"não me mastigue assim"

RECOLHENDO OS MEUS CAQUINHOS

sim, estou me recuperando. o baque da semana passada foi grande. eu não entendo como as pessoas conseguem mentir tão bem, tão descaradamente, tão abertamente. e eu não entendo como as pessoas podem aceitar a mentira assim, tão lavada, e ficarem resignadas. a ponto de abaixar a cabeça.

o importante para a minha integridade foi que eu não baixei. fui até o fim. e mesmo quando uma pessoas mentirosa me chamou de mentiroso, eu resisti. pois ali todos sabiam quem estava mentindo.

agora, é preparar os próximos passos da guerra. porque o front está ali. precisamos encarar as batalhas. mas, algumas vezes é necessário recuar para depois avançar. e quem sabe, vencer.

só para ficar claro: não desisti!

entendeu, Diretora?

sexta-feira, maio 16, 2008

AUSÊNCIA SENTIDA

Minha Diretora é Incompetente. Ausente. Ela não cuida, não administra a escola. Ela não se responsabiliza pelo espaço. Pelo Público. Ela não se importa com o pátio sujo, com as salas de aulas sujas. Ela não se importa com as mesas meladas, manchadas, quebradas. E são tantas, à vista, espalhadas pelos corredores.

Ela não se importa se bebemos, se comemos. Se cagamos. Talvez, ela não se importe inclusive que nós sejamos seres humanos. Pois no banheiro não há papel. Não há papel para o rosto, não há papel higiênico. Cagou? Limpe com a mão o cu.

A minha Diretora não se importa com nada, nada nada que, se tratando da escola, os professores não tem sala de aula. Quando tem, não tem lousa. E quando não tem lousa, não tem giz. Nem um tiquinho de Giz. Nem Giz branco, azul, laranja, verde. Simplesmente, não tem.

A minha Diretora é tão ausente, tão ausente, que os alunos não a conhecem. Eles não sabem quem é a Diretora da Escola. E por isso, vão à forra. Fazem o que querem. Desrespeitam inspetores, desrespespeitam professores. Desrespeitam até a tia da Cozinha. E andam à vontade pela escola, e fumam cigarro no banheiro, e fumam maconha e dão "tiros" no banheiro. E pegam as salas de aula que não tem aula porque não tem lousa e porque não tem giz e fazem um motelzinho. Pegação geral. De manhã são os alunos do Ensino Médio com as meninas da sexta, sétima-série. De tarde é a molecada da sexta com as meninas da terceira, quarta. Você sabia disso, mãe? Você sabia disso, pai? Que o ambiente que deveria proteger e educar e formar os seus filhos na verdade é um pequeno drive-in? Motelzinho?

Tudo bem, minha Diretora não é tão incompetente. Não é tão ausente. Não é tão filha-de-chocadeira. Ela de vez em quando vai na escola. Dá uma olhada, vê a zona, e sai fora. Vazada. Mas antes ela assina o ponto. Sim, marca todos os dias que não esteve, marca todas as horas que não esteve como se lá estivesse e vai embora. Porque ela tem outros compromissos além da escola. Ela tem filhos, casa. Ela tem outro emprego. Você não gostaria de ter dois empregos e trabalhar em um? Trabalhar em um e ganhar por dois? Então, ela faz isso.

Hoje teve reunião na escola. A Diretoria estava presente. Os professores estavam presentes. Parecia que a Justiça estava presente. Porque todo mundo estava de saco tão cheio que resolveu dizer algumas verdades. Todo mundo resolveu dizer algumas obviedades. Todo mundo resolveu falar dos problemas da escola. Que ela estava suja. Que não tinhamos um papel sequer para limpar a bunda. Que não tinhamos giz. Que os alunos fazem o que querem. Que os alunos fumam, cheiram se drogam e se perdem. Que os alunos estão trepando dentro da escola. Que aquilo já não era uma escola, que estava muito difícil trabalhar, parecia tudo perdido. Inclusive ela, que devia estar se perdendo quando se colocava a caminho.

Achamos que a Justiça seria feita. Achamos que a verdade seria aceita. Achamos que o mundo seria melhor, ficaríamos felizes...

Doce ilusão. Isso não é um conto de fadas, é a vida real. E a vida é feia, suja e injusta. Os espertinhos vencem. Os bons, os sinceros, os justos, se fodem. Muitas vezes perdem o pescoço. E foi isso que aconteceu.

Eu perdi meu pescoço. Eu disse para ela que ela não trabalhava, ela falou pra eu tomar cuidado. Eu disse para ela que ela não fazia nada, ela perguntou se eu tinha bastante aliados. Eu disse para ela que não era mentiroso quando ela me disse que eu estava falando inverdades e, perdi a cabeça. Ela saiu rolando. Despencou sobre a mesa, cambaleou sobre o meu colo e foi para o chão. Rolando, rolando. E eu dizendo, "socorro, socorro!" mas eu não fui socorrido. Eu estava sozinho. Na verdade, eu não tive o apoio de ninguém.

quinta-feira, maio 15, 2008

TÁ NA HORA DO PAU!

"Porque o guerreiro de fé nunca gela, não agrada o injusto e não amarela..." (Mano Brown, Racionais)

Acho que era no Public Enemy que havia um dos integrantes que andava sempre com um relógio gigante pendurado no pescoço. Quando alguém perguntava para que servia aquele relógio, ele respondia:

- É para ver a hora na hora que a bomba estourar.

Eu tô assim. Com o meu relógio, pequeno, no pulso esquerdo mas, atento. Só observando a hora que a bomba vai estourar. Porque está perto, muito perto.

A situação na escola que trabalho chegou ao IN-SUS-TEN-TÁ-VEL! Isso mesmo, está quase impossível trabalhar lá. Eu cheguei ao ponto de, todos os dias, ficar sentado na beirada na cama, pedindo para o cara lá de cima me mandar boas vibrações, energias, pra suportar a batalha diária. Porque tá foda.

E tudo se resume a uma questão nada simples: a Direção da minha Unidade Escolar. Não bastasse os problemas de infra-estrutura com uma escola recém-reformada, aos frangalhos, nossa direção é ausente. E incompetente. Talvez uma coisa tenha relação com a outra. Talvez não, agora tenho certeza. Antes não ficava tão claro porque, preocupados com o nosso pedagógico, preocupados com a nossa aula, não acompanhávamos tão a fundo as questões administrativas e organizacionais da escola. Isso está mudando. Lentamente mudando. E estamos vendo muita, muita coisa errada.

Não cabe falar tudo aqui mas, vejamos algumas coisas:

- A minha escola está uma SUJEIRA só. Nojenta. Pátio sujo, lixos lotados. Mesa dos professores, mesa dos alunos suja, melada. E não apenas porque não temos funcionários suficientes, por que os alunos não colaboram. Não, falta tudo: falta saco de lixo, falta produtos de limpeza, falta detergente pra lavar os pratos da merenda. Falta, falta, falta. E não sabemos porque falta já que, ao que consta, a escola recebe verba para isso.

- Há um mês, os professores e alunos não sabem o que é ter papel no banheiro. Isso mesmo, papel. Seja para secar as mãos e o rosto, seja para limpar o cu. Desculpe o perdão da palavra, mas tenho que ser o mais claro possível. Porque alguém na escola esquece que as pessoas que ocupam aquele espaço são seres humanos. Que comem, bebem. E por isso, mijam, defecam. Mas não há uma folha sequer de papel higiênico para higiene pessoal. Uma violência. Um desrespeito.

- Já não sei mais há quanto tempo não temos giz na sala dos professores. Imagine, uma escola, sem sala de aula, sem lousa e, sem giz. Não temos GIZ na escola. Chegamos a este absurdo. Temos que contar com a solidariedade de colegas que emprestam, fazem um escambo de giz ou malabarismos com os toquinhos encontrados perdidos nas caixinhas. Veja se é possível?

Sim, é possível.

Se não bastasse, muitos alunos estão fazendo o que querem. Sim, fazem o que querem na escola. E não sei o que todos acham mas, pessoas sem limites, adolescentes e crianças, sem limites é um perigo. Para eles próprios, e para os outros. Resultado: alunos circulando pelos corredores em horário de aula, alunos que toda hora batem na sua porta, interrompem a sua aula, alunos fumando no banheiro - cigarros e maconha -, alunos usando espaços ociosos da escola pra fazer "motelzinho", alunos... Virou uma bagunça, generalizada. Os alunos fazem o que querem. E os inspetores perderam o controle. Os professores estão perdendo o controle. Não estão conseguindo trabalhar o pedagógico, discutir conteúdo, dar aulas. A Coordenação não coordena. E a Direção?

A Direção não vai na escola. Não é de hoje, é de sempre. Veja por exemplo, esta semana:

SEGUNDA: não apareceu ninguém na Direção da Escola
TERÇA: A Diretora chegou as 11hs e as 14hs foi embora
QUARTA: não apareceu ninguém da Direção na Escola
QUINTA (hoje): A Direção chegou as 11:20hs e saiu as... 11:35hs. Sem mentiras, sem brincadeiras. Quinze minutos na escola! E foi embora. Vapt-Vupt.

Agora, pega o livro-ponto...

Aliás, eu descobri que esta mesma Diretora, pasmem, deveria trabalhar como um trabalhador qualquer: de Segunda à Sexta, das 08 as 17hs. 40 horas semanais. Um absurdo. Uma mentira. Como já disse, se ela trabalha 20 horas por semana, é muito. E hoje eu fiquei ainda mais chocado. Eu descobri que ela não apenas SÓ assina o livro-ponto. Ela coloca o horário de trabalho:

Entrada: 08hs
Saída: 17hs


ISSO É UMA MENTIRA! NÃO HOUVE UM ÚNICO DIA, DOS QUASE TRÊS ANOS QUE ESTOU NESTA ESCOLA QUE EU VI ESTA DIRETORA CUMPRIR ESTE HORÁRIO.

REPITO: NÃO HOUVE UM ÚNICO DIA!

Resultado: a escola que temos.

Mas o grupo de professores está se organizando. Fizemos uma carta na qual está relatado todos os problemas acima mencionados, cobramos soluções, providências, inclusive na questão do esclarecimento do horário de trabalho desta referida pessoa. Mais de 20 professores já assinaram. Funcionários estão assinando. Amanhã iremos protocolar com a dita cuja. Isso se ela aparecer. E se aparecer, VAI TER PAU!

Estou cansado da fanfarra dos serviços públicos. Da sacanagem com o serviço público. Da sacanagem com o público que é atendido pelo serviço público: trabalhadores, geralmente de baixa-renda, da periferia. Está na hora destes sacanas pagarem pelas coisas erradas que fazem. Está na hora de alguém ser responsabilizado pelas cagadas que fazem. Por destruírem gerações. Por acabar com uma escola. Por - quase - acabar com um sonho que é ser Professor.

Se alguém tiver alguma sugestão objetiva e concreta de como resolver esta situação, além do que ja estamos fazendo, eu aceito.

ALÔ, ALÔ, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO, ESTÁ ME OUVINDO???

Direto do Front,

Rodrigo Ciríaco

quarta-feira, maio 14, 2008

terça-feira, maio 13, 2008

TOQUE O FODA-SE E SEJA FELIZ

Meu mundo desabou.
Estava de saco cheio de tudo:
Vida, mulheres, dinheiro. Pensamentos.
Voltando do trabalho parei num boteco
Pedi uma garrafa do pior vinho seco
Que de brinde trouxe uma dor de cabeça suave.
Só pra me sacanear,
Voltei pra casa num táxi.
Desabei sobre o colchão
Dormi até mais tarde.
Joguei o celular-despertador na parede
Quando ele fez aquele barulho desgraçado
E não fui trabalhar.
Quando cansei de ficar deitado, enrolando,
Levantei, não tomei banho, não lavei o rosto,
Não arrumei a cama e
Fui trabalhar.
Na primeira cornetada do patrão
Porque estava atrasado
Já o cortei, mandando-o pra casa
Do caralho. Antes que me mandasse embora
Toquei o foda-se: pedi demissão.
Meu mundo desabou.
Estou com dívidas, desempregado,
De ressaca, sem um real pra tubaína,
Andando pelas ruas do Centro, sozinho.
Mas aí, apesar de tudo
Começo a me sentir bem.

segunda-feira, maio 12, 2008

TERRA DE NINGUÉM

na vida, há poucas coisas que me deixam com tanta raiva, triste, revolta e deprê quanto a injustiça. é algo que pega no estômago, fica embargado na garganta, dolorido no corpo. me deixa angustiado.

no profissional, há poucas coisas que me deixam tão putos quanto o anti-profissionalismo. a picaretagem. a falsa cumplicidade com o Público - tanto o material quanto o Indivíduo - e o fato de ter alguém que atrapalhe o seu trabalho. algumas vezes, impeça-o.

pois ambas as coisas acontecem comigo, em um único lugar: a Escola. e as vezes eu canso. as vezes eu explodo. mas, no fundo eu gostaria de conseguir uma solução para resolver.

na minha escola, ambos os problemas acontecem por uma coisa simples: Direção. simplesmente não há Direção. e se não há direção, ficamos à deriva. perdidos.

tudo bem, você poderia me dizer. se não há direção, ótimo. tomemos nós a direção. foi isso que eu pensei. e é isto que eu venho tentado fazer mas, daí você descobre que sim, há uma Direção. mas ela é anti-profissional, irresponsável e ausente. para fazer alguns elogios.

só para dar uma idéia: este funcionário público - no caso funcionária - deveria cumprir 40 horas semanais. se trabalha 15 horas por semana, é muito. o horário de entrada é as 08:00hs. Hoje eu saí as 11:00hs e esta não havia chegado. e é normalmente assim, na terça, na quarta, na quinta, na sexta. e se você chega lá, muitas vezes as 15hs, 16hs, esta já foi embora.

agora pegue o livro-ponto na secretaria da escola. tudo lindo, muito belo. sem nenhuma falta, nenhum atraso. nenhuma ausência no prontuário. o funcionário público perfeito.

a consequência disso? bem, pra começar as condições de minha escola, que aqueles que visitam este blog já conhecem - e ainda assim, a Direção assinou o recebimento da obra, dando o OK - além de salas abandonadas, cadeiras e carteira quebradas jogadas em todos os cantos, espaços ociosos abertos e sem ninguém fiscalizando - onde os alunos fazem uma espécie de "motelzinho". isso por cima. além de outros absurdos.

hoje, o que me deixou puto a ponto de pegar minhas coisas na quinta aula e ir embora foi que, em plena segunda-feira a sala dos professores estava imunda. sujeira no chão, sujeira sobre a mesa. sujeira. fui ao banheiro, não havia papel - nem higiênico nem para as mãos. detalhe: estamos há um mês sem papel. fui separar o meu material para aula e, não havia GIZ. o cúmulo do absurdo, uma escola sem GIZ. "tudo bem", não ter lousa. agora, giz?!

e pra ajudar, em duas salas não havia porta. os alunos de outras salas, circulando livremente. passando pela minha porta, chamando os meus alunos, atrapalhando a minha aula. e, nada. tudo lindo e maravilhoso.

e quem deveria estar cuidando da administração do espaço escolar, devia estar dormindo sob dois edredons, bem quentinha nesta hora. enquanto eu lá, me matando, tentando dar a minha aula, e não conseguindo me concentrar, concentar a atenção dos alunos, desenvolver o conteúdo, raciocínio.

só queria saber o que se faz para tirar os maus funcionários públicos dos serviços Públicos? porque é absurdo. o pior é que, denunciar, não resolve. a primeira coisa que vão pedir é o livro-ponto e, como eu falei, a secretaria age como "comparsa" dessa picaretagem, ou seja, vai parecer que tudo é lindo. e eu sou o mentiroso.

o pior é que a pessoa é ruim demais para estar onde está. já fez cagada demais. atrapalhou demais o profissional e a vida das pessoas da referida escola. e não foi embora. pelo contrário, faz o que quer, chega a hora que quer e, tudo bem. a escola vai mal? culpa dos professores. a escola está suja? culpa dos funcionários. os alunos não aprendem? também, são burros. não interessa se não temos giz, se não há detergente, produtos de limpeza, sacos de lixo. não importa se não há o estabelecimento de um espaço educativo.

sinceramente, a educação está uma merda. tenho algumas sugestões do que fazer para resolver mas, é difícil.

não se faz omeletes sem decepar alguns pintinhos.

domingo, maio 11, 2008

MAIS UM PRESENTE

ontem comemorei meu níver no sarau do Zé, no Brás. meu aniversário foi terça mas, os corres da vida não me permitem comemorar aniversário durante a semana. enfim, foi bom. das trezentas pessoas convidadas foram dez, mas estas valiam por mil. sem piegas. e me fizeram ter uma noite feliz neste mundo frio e triste.

mas, o meu presente mesmo veio de uma estranha. estranha porque não a conhecia, só por isso. a partir de ontem não vou mais esquecer do seu rosto. apesar que, fiquei emocionado na hora com suas palavras, que esqueci de perguntar o nome. em breve corrijo a falha. mas, o que ela me disse que me deixou emocionado, veio depois de eu recitar Periafricania, do Z'África Brasil, lá no Sarau. sabe aquela: Antigamente Quilombos, hoje Periferia...

quando estava saindo do microfone ela me parou, com as duas mãos segurou a minha, e com os olhos mareados e uma voz suave de uma senhora negra com cabelos brancos que expressava uma vida bem vivida, me disse:

"Parabéns pelo Aniversário. Que você seja muito feliz. Só quero dizer também que eu sou neta de escravos. E alguma coisa do que você disse no poema, me tocou. Obrigada."

obrigado à Senhora pelas palavras. e o poema nem era meu, como já tinha anunciado antes de recitá-lo. mas, fiquei feliz que a minha leitura tocou alguém. mais especificamente aquela linda senhora. foi mais um presente que ganhei.

e pra quem não foi, perdeu. azar.

sábado, maio 10, 2008

UM NOVO BRINQUEDO - Conto


Gigante tem 12 anos. Está na sexta série. Quando soube que ia passar a estudar de manhã na sua escola, ficou preocupado. Afinal, apesar de estudar com o gêmeo, Gigante é bem diferente do irmão. Foi o segundo a nascer. E devido à algumas complicações no parto, ficou com um problema no seu desenvolvimento. Tem a estatura de um anão de jardim, ou um pouco menor, o que é motivo de zoeira, chacotas e muitas tretas na escola. Tretas porque ele não leva desaforo pra casa e, você sabe: os “Grande” gostam de zoar com os pequenos. Na lei da selva é assim. Mas, Gigante não se intimida: “tamanho não é documento.”

Hoje ele estava mais feliz. Conseguiu enrolar a mãe e ficar mais cinco minutinhos na cama. O irmão saiu mais cedo, naquele frio cortante. Ele estava quase atrasado. Eram cinco pra sete da matina. Pra encurtar caminho, ajeitou a caixa de feira que tava encostada ao muro da escola, subiu e, com a ajuda de um tiozinho que passava na rua, conseguiu se apoiar sobre o muro. O outro lado parecia uma imensidão. O chão lá embaixo, loooooonge. E só mato. Gigante respirou fundo, contou até três, fechou os olhos e pulou. Puff.

- Au!

Uma coisa espetou bem na sua bunda. Estava escondida debaixo do mato. Quando ele viu, não acreditou. Um brinquedo. Novo. Quer dizer, usado. Uma parte enferrujada, outra descascando. Um caninho longo, prateado. E um gatilho.

Ele sorriu.

Olhou para os lados. Não havia ninguém. Muquiou o brinquedo dentro da mochila e foi correndo pro portão da escola. Já eram quase sete e dez, a tia tava fechando. “Pérai, pérai, tia.” Gigante entrou.

As três primeiras aulas passaram que ele nem viu. Quando chegou, sacou logo o caderno, caneta e lápis, ajeitou tudo em cima da carteira e colocou a mochila em cima do seu colo. Os colegas estranharam: “Aê, Gigante, que vontade de estudar, hein?” Fingiu que nem escutou. E ficou lá, fingindo que prestava atenção na aula, fingindo que copiava com vontade a atividade mas, o pensamento tava longe. Na verdade, bem próximo. Sobre o seu colo. Pensava em como ia usar o seu novo brinquedo.

No intervalo, como sempre, saiu correndo da sala e já foi pra fila da merenda. Agora com a mochila nas costas. Os moleques do segundo ano do Ensino Médio passaram. Seguraram ele pelo braço e o levantaram: “E aí, Gigante. Vai acampar?” Tiraram um sarro. Gigante nem respondeu a provocação. Pensou no seu novo brinquedo na mochila. Sorriu.

Na saída, nem esperou o irmão. Foi correndo pra casa. A mãe e o padrasto estavam com certeza trabalhando. Ele teria um tempo sozinho pra analisar com detalhes cada parte da sua nova aquisição.

Entre a cama de solteiro que dividia com o irmão e a cama de sua mãe, no quarto, Gigante tirou o motivo de sua alegria da mochila. Ficou olhando, admirado. “Será que mostro o brinquedo pro Jú? Não, ele vai querer tomar de mim. Ou vai falar pra mãe que eu peguei de alguém. Apesar que a mãe não ia acreditar. Uma pelo meu tamanho. Outra, que ninguém perde um brinquedo desse e deixa quieto.” Gigante alisava o brinquedo. Observava o desenho, a forma, as cores. Fixou sua atenção sobre o cano longo. Olhava atentamente para dentro do buraco. Será que havia alguma coisa ali? Chegou mais perto, mais perto. O dedo apoiado sobre o gatilho. O irmão entrou no quarto, com tudo:

- Quê que cê tá escondendo hein ô, muleque!

Gigante se assustou. Apertou o pequeno gatilho, que disparou:

- Sguiiiiiiiiish!

Ainda havia água no reservatório do Caminhão de Bombeiro. Gigante ficou com a cara toda molhada. O irmão quase se mijou de rir da cena. Só parou quando viu o quanto da hora era o brinquedo. Tinha sirene, buzina. Até uma escada. Além do caninho longo, que servia como mangueira.

De alma lavada, Gigante colocou o brinquedo embaixo do braço e foi pra rua. Estava feliz. O Caminhão era quase novo.

quinta-feira, maio 08, 2008

Fotos - Literatura (é) Possível - Alessandro Buzo

A galera reunida

Buzo no destaque, entre dois alunos

Amanda, atenta a leitura de "Guerreira"

Feliphe

Dinês, fazendo a leitura

Pose "time de futebol"

Buzo, com Pamela e Feliphe, alunos contemplados com livros


ENCONTRO: LITERATURA (É) POSSÍVEL - Alessandro Buzo

hoje aconteceu mais um, dos dez encontros literários "oficiais" do projeto Literatura (é) Possível. o escritor convidado desta quinta-feira a tarde foi o Alessandro Buzo.

é meio tosco dizer que é indescritível o que aconteceu nesta tarde mas, é a verdade. a única palavra que consigo encontrar para dizer o que aconteceu foi indescritível. ou sublime. aliás, se o projeto não fosse Literatura (é) Possível, acho que hoje eu o chamaria de Literatura é Sublime.

agora, para não pararmos no indescritível, vou tentar dizer algumas coisas.

estas tardes de quinta-feira são os melhores momentos da minha vida. profissionalmente falando. amo ser professor. sou apaixonado por esta profissão. apesar das angústias, apesar do sofrimento. tudo isso faz parte, principalmente quando fazemos algo com entrega, com Amor. recomendo a todas as pessoas de bom caráter que conheço: se forme. estude. vá ser professor de uma escola pública. muitos torcem o nariz. outros dizem que vão pensar. e por trás me chamam de maluco.

mas, disse isso porque, apesar de curtir muito dar aulas, o projeto de literatura é a cereja do bolo, entende? a última garfada daquele prato suculento, na qual deixamos a melhor parte para o final. este projeto literário é o último pedaço da torta de limão do meu Bebê. e eu o devoro com gosto. aliás, estava pensando, não sei a eficácia do projeto para o incentivo à leitura e a produção escrita - que é a justificativa pedagógica para eu poder realizá-lo na escola. mas, só o fato de poder compartilhar momentos de alegria, liberdade, amizade, sorrisos e literatura com uma molecada que, se não estivesse ali, estaria limpando casa, cuidando de primo, jogando um game ou pensando alguma maldade na cabeça, já é da hora. muito bom.

agora, saindo de Marte, voltando pra Terra. Buzo: valeu. foi chapado o encontro. você soube conduzir bem o papo com a molecada, prendeu a atenção deles, falou de temas pertinentes a nossa realidade. tudo previsível, afinal, você é um suburbano convicto. e com você eles se identificam. os textos lidos foram bem escolhidos e, da hora o sarau improvisado. aos poucos, eles vão começando a se soltar. agora vem o desafio maior: fazê-los escrever.

mas, como deu pra perceber, quando eu saio destes encontros de quinta-feira a tarde, eu fico viajandão. flutuando. e é muito bom. porque vivemos uma situação de violência velada muito escancarada dentro da escola. na qual a nossa humanidade é tolida, dissecada diariamente. diariamente somos colocados em situações nas quais deixamos um pouco de ser humano. e nesses momentos nós recuperamos um pouco. da nossa humanidade perdida. a nossa e a de todos. se é que me entende.

direto do céu,

r.c.

quarta-feira, maio 07, 2008

CONVITE

salve, pessoas

Usando o pretexto do meu aniversário para encontrar os amigos e bebericar as palavras, gostaria de convidar a tod@s para um encontro neste sábado, a partir das 16hs, no Espaço Cultural do Zé – Sarau do Zé.

Trata-se do boteco poético mais periférico do Centro de Sampa. Localizado no bairro do Brás, a parada cultural é comandado pelo Marcos, da revista Ocas”. Há 01 ano e meio se realiza um Sarau no espaço com música, poesia e otras cositas mais.

A cerveja é gelada, a galera é firmeza e, o pastel de carne... é muito bom!

Então chega mais pra gente se ver, trocar umas palavras, molhar umas idéias.

Anotem aí:

ANIVERSÁRIO DO RODRIGO CIRÍACO e
SARAU NO BOTECO ESPAÇO CULTURAL DO ZÉ

SÁBADO, DIA 10/05/08, A PARTIR DAS 16HS

END.: RUA CAETANO PINTO, 547 – BRÁS

PERTO DO METRÔ BRÁS, PARALELA À RUA PIRATININGA, PRÓXIMO AOS PREDINHOS DA RUA CAMPOS SALES. AO LADO DO PRÉDIO DA CUT

TRAGA SUA CARA, SEU COPO, SUA MÚSICA, SEU POEMA!

abraços,

terça-feira, maio 06, 2008

A coisa mais bonita que eu vi hoje...

Recebi por escrito, carta de um aluno. Cito só um trecho:

"Feliz aniversário, que Deus te ilumine cada vez mais pra você mostrar que a literatura é possível. E que esses vinte e sete anos não sejam 27 anos e sim 27 conquistas."

De: B. V. R. - 7ª B
Para: Rodrigo Ciríaco

Além da carta, recebi hoje na escola uma demonstração de carinho dos alunos que nunca havia recebido antes. Fiquei muito emocionado. Não chorei porque, não sei porque, está cada vez mais difícil chorar. Um ato tão simples. E difícil. O choro agora é silencioso. Por dentro. Mesmo quando é de felicidade.

Algumas pessoas me perguntam, algumas vezes, se vale a pena o que eu faço, já que além das aulas, fico mais ou menos umas cinco horas a mais na escola, por semana, desenvolvendo atividades com o jornal, grêmio e projeto de literatura. Faz parte da minha militância política-pedagógica.

Agora, se vale a pena? Preciso dizer?

Literatura (é) Possível - Alessandro Buzo


três semanas depois do primeiro encontro do projeto Literatura (é) Possível, na qual recebemos na EE Jornalista Fco. Mesquita o poeta Carlos Galdino, os alunos farão um encontro literário nesta quinta-feira, as 15hs, com o escritor Alessandro Buzo.

o palco já foi armado. passei dois textos do Buzo para os alunos, algumas informações sobre o trampo do truta. passei o lance do programa de amanhã. agora, é só aguardar na quinta. um bate-papo sobre literatura, escola, agitos culturais e otras cositas mais. em breve você confere por aqui como foi o encontro e algumas fotos.

só para dizer que o projeto mudou um pouco a cara neste ano. agora eu não faço apenas os encontros literários e saraus em sala mas, faço uma reunião, toda quinta-feira, as 15hs com os alunos, na escola na qual estamos discutindo literatura, música, teatro, entre outras coisas. e está sendo bem lôco.

ainda neste mês de maio, no dia 27, receberemos a escritora Eliane Brum - do livro A vida que ninguém vê, vencedora do prêmio Jabuti.

ah, só uma última coisa: recebi alguns emeios, telefonemas de pessoas que querem participar do projeto. galera, desculpe mas, não rola. o projeto é destinado aos alunos da escola. tive mais de 100 inscrições, montei uma turma - até grande demais - via sorteio com trinta e seis alunos, vários ficaram de fora. infelizmente, não dá para incluir outras pessoas, ainda mais fora da escola.

podemos conversar, trocar idéias, infos., mas, o projeto é para os alunos da EE Mesquita, Vila Cisper, firmeza?

saudações,

NÃO SAIA DA FRENTE DA TV!

é isso mesmo, não saia da frente da tv. não nesta quarta. nem nesta quinta. o canal? 02. ou 16, depende se você tiver tv a gato - como dizem os meus alunos. tv cultura.


o motivo é que nesta quarta, as 19h30m, começa o programa MANOS e MINAS. tendo como mestre de cerimônia o Rappin Hood, o programa feito "por jovens da periferia para a periferia" - como cita a matéria do Estado, terá a participação ainda de Alessandro Buzo e Ferréz.

pena que eu não poderei conferir a estréia, estarei estudando no horário mas, toda sorte para Buzo e toda a rapa.



ainda na cultura, agora na quinta-feira, 23h30m, você não pode perder. de jeito nenhum. o excelente programa "provocações", de Antônio Abujamra, receberá o poeta do rap, GOG. para quem não conhece o poeta, esta é uma excelente oportunidade. prepare o seu colete a prova de balas.

então é isso. nesta quarta e quinta, tv cultura. não saia da frente da tv.

segunda-feira, maio 05, 2008

O Ivan Antunes convida...

clique no cartaz para ampliá-lo.

sábado estarei lá para prestigiar o ivan e convidados. quem quiser colar, será bem-vindo.
abraços,

sábado, maio 03, 2008

O MUNDO É BÃO, SEBASTIÃO...

Porque protestar é bom,
Mas gozar é melhor ainda...







Anote aí na sua agenda. Daqui a dois sábados, nós teremos um novo sábado. Dia 17 de maio. Será um dia lindo, começará todo laranja, com os raios de sol pedindo licença para as nuvens e para a noite e invadindo a manhã. E este mesmo sol irá brilhar por toda a tarde. Até se cansar e dar lugar novamente para a dama da noite. Este será o momento em que terminará o dia.

Mas não a festa. Porque no Chá na Concha a gente começa cedo e acaba tarde. Teve uma vez que começou cedo - as 15hs - e acabou cedo também, as 07hs da manhã. Todo mundo feito criança, babando e dormindo. E como é divertido.
Mas se não quiser ficar até de manhã, pode ir embora pra casa, sem problema. Basta pedir leite!

Lá a gente dança, pinta, canta, reclama e declama. O Chá na Concha é tão estranho, tão louco e maluco que lá eu sou músico. Isso mesmo, lá eu não sou um poeta e nem uma farsa, sou músico. Para tristeza de todos que participam do evento, já que não tem outra opção. Ou até tem. Tem o Muniz, o Gilvam, o Basílio - nêgo 100% - e você, se quiser chegar e fazer a bagunça-festa-alegria-de-li-ran-te. Porque o Chá na Concha é assim: é só chegar e somar. Quem faz a festa é nóis, então nóis por nóis é lindo. E tá valendo.

Agora já sabe: daqui a duas semanas, quando o sábado for um novo sábado, ele não será mais três, mas será 17. E às 15hs começa o "De Lírios". Traga sua roupa, sua música, sua água, seu poema, sua cara, sua cumidinha, seu grito. Porque de poeta, normal, músico e louco, todo mundo tem um pouco.
Venha enlouquecer com a gente.
Sábado, 17 de Maio, a partir das 15hs.
Local: Santos - Espaço da Concha Acústica
Orla da Praia - Próximo do Canal 03
Quanto? De graça. Porque só louco paga pra se divertir.
Organização: De Lírios
P.S.: Ah, e sem essa desculpa de que Santos é longe, é complicado, não rola, porque a minha namorada sobe e desce a serra quase todo dia. Tá, eu sei, ela é maluca, mas isso mostra que você não tem desculpa.

quinta-feira, maio 01, 2008

POESIA NO AR

galera após o sarau, se preparando para o lançamento


salve, povo!

ontem foi um dia muito especial, principalmente a noite. aconteceu na cooperifa o 2º ano do Poesia no Ar, atividade na qual, após o sarau, poetas, escritores e amantes da palavra mandam suas mensagens e textos literários para o céu, via balão. pura poesia. e foi especial. porque, mais do que nunca, a poesia estava no ar ontem, numa noite linda, muito linda.

pra começar, o bagúio tava lotado. muita, muita gente. gente nova, gente velha - no espaço. crianças, jovens, adultos, idosos. manos e minas de todas as zonas: leste, sul, norte, oeste. centro. e todo mundo afiado, sintonizado. poético, curtindo na boa, sem treta, sem cara feia. respeito prevalecendo, em primeiro lugar.

para mim, que fazia quase um mês que não comparecia no quilombo cultural - por questões escola, faculdade e outros corres - foi ótimo. para matar a saudade, para rever pessoas que eu gosto muito. para soltar a minha poesia - no caso, um conto - no ar.

bem, agora chega de babar ovo. quem estava lá, sabe que o bang foi lôco. e quem não foi, perdeu.

de toda forma, não fique triste. o próximo é no ano que vem. prepare-se.

O Iarlei mandou chamar...

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A Mafê convida...

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FAROL VERMELHO

Os vidros fecham
Os carros buzinam
E ninguém vê
Ninguém quer ver
O menino malabarista

Que faz da rua o seu circo
Da faixa o seu palco
E como adulto, brincando
Trabalha sustentando no alfalto
A sua família

Ninguém vê, ninguém quer ver
O corpo malabares
Que em segundos é arremessado,
Jogado pelos ares
Caindo inerte dois metros adiante
Na calçada sem fama

No farol vermelho
Um carro assustado acelerou
Sobre a criança
Precipitando a distância que separa
Vida e morte
Corpo e alma
Tragédias previstas

Todos vêem
Todos param pra vêr
O menino-artista
Ou o que restou
Do seu último show

De seus sonhos e traumas,
Do uniforme camiseta azul e branco
Desbotado da escola,
Das migalhas-moedas
E do farol,
Agora sempre vermelho