quarta-feira, novembro 26, 2014

FORTIFICANDO A MISSÃO: TRÁFICOS LITERÁRIOS

FLAQ – AQUIRAZ, CEARÁ. DOMINGO, 23 DE NOVEMBRO DE 2014

Estes dias tem sido de correria, trabalho intenso e muito, muito tráfico literário.

Domingo estive com o Ferréz na Festa Literária de Aquiraz, a FLAQ, em Aquiraz, Ceará. Um evento que está em seu segundo ano de realização, dentro de um ecoparque, a Engenhoca. Tivemos uma mesa com o tema “Literatura Marginal”, mediada por Nelson Lourenço.



Atividade bacana, público participativo, ideias loucas.

Mas o que mais marcou foi um menino, que acabei não perguntando o nome. Eu no bazar do lugar, comprando uma água e umas cachaças artesanais, ele perguntou: tinha, o que tem de R$ 1,00. A menina olhou e disse: nada. Ainda assim ele olhou, olhou os chocolates. Quanto é esse. Dois e cinquenta.

Fui lá, peguei o chocolate, pus na minha conta e dei pra ele. Como é que eu ia comprar cachaça e ver um moleque com vontade de comer chocolate do meu lado? Maldade pura.

Ele agradeceu muito, quis me dar o um real dele. Falei que não precisava, nos demos as mãos e saímos, ele para um lado, eu para o outro, felizes.

Da hora é que depois eu vi este mesmo menino, assistindo a minha palestra. E mais da hora ainda é que fiquei sabendo que ele havia ido todos – sim, todos – os dias da feira e assistido atentamente a todas – sim, todas – as palestras. Era fascinado não apenas por chocolate. Mas por literatura.

Achei da hora ter pago um chocolate para um futuro escritor...


Eu e Ferréz dormimos na casa do Rafael, camarada da hora que trombamos por lá e convidou a gente pra ficar em sua residência. Segunda a tarde, volta pra Sampa.

PAIXÃO DE LER, RJ. TERÇA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO

Ontem mesmo peguei voo das 07hs da matina e vim aqui para o RJ, onde estou no momento participando da 22ª edição do PAIXÃO DE LER, evento da Secretaria Municipal de Cultura que realiza atividades em Museus, Centros Culturais, Escolas, Bibliotecas, enfim, vários espaços de arte e cultura espalhados pela cidade.


Ontem estive na Escola Municipal Joracy Camargo, na Vila Cruzeiro, com uns 60 alunos de duas turmas, do quarto e sexto ano. Realizei o SARAUZIM – sarau pra molecada. E foi muito louco. Chegar na masmorra disfarçada de escola, pegar aquela molecada pressionada pelo silêncio, atenção forçada para uma atividade que eles não tem a mínima ideia do que vai acontecer, do que vai falar, e conseguir prender a atenção, recitar poemas, explicar o seu trampo, distribuir livros e ao final ouvir uma menina chegar em você e dizer:


- Sabe o que eu vou ser quando crescer?
- O quê?
- Poeta.

Não foi a primeira vez que vi esta fita. Mas sempre emociona. Assim como os olhos arregalados, as risadas, a troca. E a pergunta: você volta no ano que vem?

Claro que eu volto.

A noite, teve evento de abertura das atividades, no Memorial Municipal Getulio Vargas. E qual a minha surpresa quando chego e vejo vários versos, de uns 06 poetas selecionados, espalhados pelos muros, tal qual lambe-lambe que se espalham pela cidade. E quem estava ali nos muros, mochilas, camisetas? Sim, este camarada que vos fala.





Sem contar que, dentro das bolsas que a galera recebeu de brinde, levaram os pinos pó...éticos. Mais de 800 pinos encomendados pela Secretaria de Cultura e espalhados nas atividades.

Quer saber se estou feliz? Felicidade é meu sobrenome.

Fico por aqui no RJ até amanhã, dia 27. Hoje, atividade no MAR – Museu de Arte do Rio, com minha palestra “Vendo pó. Vendo pó... Vendo pó...esia”. Amanhã, encontro com outra molecadinha pra bater papo sobre escrita, produção literária e o que mais eles quiserem.

E a certeza: nós, poetas e escritores, temos uma longa, longa missão pela frente. A de formação de leitores literários, pessoas apaixonadas pela literatura, pela poesia. Há muitos, dezenas de milhares de vilas, comunidades, cidades, escolas, bibliotecas que temos que visitar para trocar ideia, espalhar a literatura. Nosso povo é muito, muito carente da cultura literária. E precisamos chegar até eles. E precisamos de apoio, incentivo, subsidio para chegar até eles. Fica a dica.

Eu to na missão. Sempre que precisar, eu to na pista.

É nóis.


Rodrigo Ciríaco

quarta-feira, novembro 19, 2014

LANÇAMENTO: TE PEGO LÁ FORA, RODRIGO CIRÍACO – LIVRARIA CULTURA











VEJA O ÁLBUM COMPLETO DE FOTOS AQUI:

Terça-feira, 18 de novembro foi um dia para ficar assim, tatuado na retina. Com tinta fresca. Expressiva. Para lembrar e relembrar e contar. O quanto é importante a nossa caminhada literária. Marginal, periférica. Solidária. Um caminho que não se constrói só. E principalmente, não se celebra só. A primeira vez, lançando um livro dentro de uma livraria. Parece estranho esta frase: livro na livraria. Pra gente não é. Pra gente o normal é livro no boteco. Na escola. Centro cultural, biblioteca, rua, praça, ônibus, terminal. Pra gente é normal o livro assim: internacional. Nas feiras, nos festivais literários. Na praia, na estrada, nos becos e vielas. Livro na livraria é quase luxo. Entende agora quando a gente fala “literatura marginal”? É por isso, meu camarada.

Mas deixa eu falar: da alegria da noite. Do livro exposto na bancada. Ao lado do “Contos Reunidos”, do João Antônio. E do Xico Sá. E me vem na memória Carolina Maria de Jesus, Plinio Marcos. Lima Barreto. E tantos outros parceiros. Que trilharam e venceram na estrada. Ainda que longe dos holofotes. Suas obras estão aí, marcadas. E a gente segue. Na caminhada. Livraria lotada. Havia outros eventos, mas eu reconheci quem esteve lá por conta da nossa pegada. Da nossa literatura, da nossa quebrada. E foi bonito. Saber. Que a Livraria Cultura queria apenas 50 livros pra vender. A Editora DSOP acreditou, apostou, insistiu. “Melhor pegar mais, vai bombar”. Ok, então me dá 80 livros. E foram. Assim. Saíram voando. Feito passarinhos. Uma atrás do outro. Algumas vezes em bando, que é como a gente gosta. E teve gente que ficou assim, sem pássaros na mão. “Acabou os livros”? Sim. Aqui na livraria acabou. A gente bombou, esgotou. Mas tem mais. Tem muito mais. Agora estará em todas as livrarias. De norte a sul do país. Uma distribuição que é assim, muito difícil sendo independente, periférico, marginal. Agora é isso, nego: a gente vai brigar de igual pra igual. E pode ter certeza. Não vamos brigar só. Estamos apenas alargando uma brecha de um movimento que veio pra dar nó. No mercado editorial. Nessa ditadura: cultural e desigual. Que diz que na quebrada não se gosta de ler. A gente não é possível criar, escrever. Não fica de toca. A gente tá fazendo trampo sério, bonito. Nossos livros não ficam parados, as moscas. Tem muita gente boa por aí. Precisando de uma oportunidade, um empurrão para as portas aí, se abrir. E a gente segue. Foi bonito. Foi festivo. Foi literário. O susto. Gritando na livraria: “Mãos ao alto, isso aqui é um assalto. Mãos ao alto: eu to roubando a sua atenção, mãos ao alto”. A galera em choque, mas passou. Ufa, é só poema, literatura, interpretação. Ou não. A gente tá vindo buscar o que é nosso. Por direito, por conquista. Por mérito – pra vocês que adoram uma “meritocracia”.

Sem ilusões. Sem atolar o chapéu. Ontem foi glória, hoje é mais. O trabalho segue: nos mesmos locais em que encontro aqueles que me fizeram grande: meus iguais. Que são gigantes. Minha mãe disse: “agora é um novo passo, né filho”. Eu disse: não, mão. É a continuação da caminhada. Não adianta a ilusão de achar que já tá tudo conquistado. Não, sigamos na mesma pegada. Boteco, escola, sarau; biblioteca, rua, praça, centro cultural. O artista tem de ir onde o povo está. E nós somos o povo e o artista. Há muita coisa ainda pra batalhar. A mochila segue pesada. Com livros pra espalhar, dividir na quebrada. Mas confesso: estou feliz. De chegar em uma das maiores livrarias da América Latina, com os amigos e parceiros, estourar no “norte” e sair assim, feliz.

Agradecimento a toda equipe DSOP: Reinaldo Domingos, Simone Paulino, André Palme, Christine Baptista, Renata Sá, Amanda Torres, Priscila Moreira, Alana Santos, Thais Ramone, Paulo Fabrício Uccelli. Rita Ramos, Adelino Martins, André Argolo. A todos, o meu fraterno abraço. Minha gratidão: pelo respeito, pela consideração, pela forma como fui recebido e até hoje tratado. Obrigado.

Gratidão ao mano Ferréz: que escreve essa caminhada da literatura marginal, com seu trampo autoral, revistas, publicações coletivas. Abrindo portas. Obrigado, Mano. Muito obrigado. Esse meu sonho está se propagando também por sua culpa. Os erros são meus. Os acertos são nossos. Gratidão. Valeu mesmo.

E sigamos em frente. Agora mais energizados e encorajados. Não apenas por acreditar, mas por saber (ainda mais) que somos possíveis.


Rodrigo Ciríaco

terça-feira, novembro 18, 2014

TE PEGO LÁ FORA - RODRIGO CIRÍACO


Foi o primeiro rebento. E como todo filho – na maioria das vezes – ele veio assim, inesperado. Nunca havia pensado em ser “escritor”. Quando pequeno, queria ser “artista”. Sem saber o que isso era, o que significava. Queria ser artista. Fiz desenho, fiz dança. Fiz música, fiz teatro. Ah, o teatro. O palco, a luz, a plateia. Ah, o teatro. O “semancol”. Não dava para o palco. Não era suficiente. Nunca era. Abandonei as pretensões. Mas sempre gostei de ler. Sempre gostei de escrever, muito. E conhecendo uma poeta chamada #Dinha, descobri que a palavra também podia ser arte. Ser linguagem. Ser literatura, poesia. E através da Dinha, e por outros caminhos, conheci os #saraus. O guerreiro #Sergio Vaz foi o primeiro que me chamou de poeta. O camarada #Sacolinha foi o primeiro a publicar um texto. E daí que comecei a gostar cada vez mais desta coisa de escrever, criar, recitar. Foi #Marcelino Freire que disse: “Ciríaco, você deveria escrever as histórias da escola. Só você pode fazer. Se não fizer, vai se arrepender”. E segui o que o cabramigo disse, investi. E um dia o #Allan da Rosa me chamou de canto, e falou: vamos publicar isso aí? Publicar o que? Não sou escritor, não sou poeta. Eu era. Para eles, eu já era. Tinha uma responsa nas mãos: organizar os textos, rejuntar as dores e os escritos, propagar a literatura da quebrada, marginal, periférica. E bater com eles, por aí. E assim fiz. E foi assim que me descobri “escritor”. Meus textos voando. Eu quebrando o casulo, desabrochando. Em São Paulo, no Rio. Pernambuco, Bahia, Minas Gerais. E outros voos, até internacionais: Alemanha, França, Itália, Bélgica, Argentina. Até na África, Argélia. Sem ter agente literário, sem ter editora: Paula Anacaona achou meus textos assim, na busca, na escolha. Nessa imensidão do mundo virtual. E foi: autor independente, periférico, marginal é convidado do Salão do Livro de Paris, em 2013. Sim, internacional. E tudo, tudo o que consegui, as viagens que fiz, todas pagas, foi por causa de você, literatura. Isso que alguém disse um dia que não ia dar em nada. Levar a nada, a lugar nenhum. Me deu amores, me deu amigos. Me deu uma esposa, companheira, amante, amiga: #Mônica. E com ela, a minha maior obra, a minha joia rara e preciosidade maior: Malu, Maria Luiza, Maluzinha. Minha filha. Minha luz, meu norte-sul, meu guia. Minha alegria. Agradeço a você, literatura. Por me dar tantas pessoas, tantos lugares: escolas, ruas, praças, parques. Bibliotecas, associações, universidades. Mas um lugar faltava. Um lugar que ainda não havia sido ocupado: as livrarias. De mão em mão, de mano a mano, mais de dois mil e quinhentos “Te Pego Lá Fora” espalhados, mas ainda faltava as livrarias. Doce pretensão. Este não é o seu lugar. Aqui é para os raros, os clássicos. Os comprados. Você não pode entrar. Até chegar um mano e dizer: chega mais. Borá arrebentar. O espaço é nosso, sim, vamos ocupar. Reginaldo Ferreira da Silva, o #Ferréz. Tão perto aqui, há treze anos na Caros Amigos, Pecando no Capão. Chega mais, vamos causar. Como causamos na gringa. Assustando os gringos, fazendo aquele teatro da “briga”. “Calma, calma, rapazes. Não precisa disso”. A gente na Sorbonne apavorando. Maloqueirando. “Ufa, era brincadeirinha”. As vezes. A parada aqui é séria. A nossa literatura é séria. Tem compromisso. Tem responsabilidade. Muito do que vai pro papel é o espelho da realidade. Distorcido, ficcionalizado, mas reflexo da realidade. Que agora a DSOP apostou em compartilhar. Que Simone Paulino, vinda também na sua origem, de Guaianazes, lado leste, veio a acreditar. Nesta criança. Que completa seis aninhos de sua produção independente. E que com essa idade já pode ser admitida no primeiro ano do Ensino Fundamental, dizem para virar “gente”. Mas o que ela quer mesmo é torcer. As grades da masmorra. Quebrar. Os muros que nos dividem. Ajudar: a transformar a escola. Sejam bem-vindos. Provocação garantida ou sua televisão e sofá de volta. Boa leitura. Ou não. Fique esperto, se vacilar: TE PEGO LÁ FORA!

segunda-feira, novembro 17, 2014

LANÇAMENTO - TE PEGO LÁ FORA - LIVRARIA CULTURA


VENHA CELEBRAR JUNTO!

Nesta terça-feira, 18 de novembro, 19hs, tem lançamento da 2a edição do livro #TePegoLáFora, contos ficcionais sobre o cotidiano da escola. O livro faz parte da coleção #LiteraturaMarginal, da Editora DSOP com curadoria do escritor #Ferréz.

O lançamento será na #LivrariaCultura da Av. Paulista, 2073. Teremos um pocket sarau, coquetel, sessão de autógrafos e muita, muita idéia, cultura e alegria.

A todos que se interessam pelo movimento de saraus, pela literatura marginal-periférica, a todos que trabalham ou são envolvidos com educação, a todos que desejam um novo modelo de sociedade e escola, chega junto. Venha fortalecer a sua #revolta, a sua #labuta. 

Porque é importante lembrar quem são nossos pares. Que não estamos sozinhos.