domingo, dezembro 30, 2007

MAIO - Literatura (é) Possível



Quem disse que aluno não gosta de livro é bobo da cabeça ou doente do coração. Quem disse que a Literatura na escola de uma maneira prazerosa, didática, educativa e atrativa não é possível, não conhece a Cooperifa. Não conhece Marcelino, Dinha, Allan, Vaz entre tantos outros. Foi não acreditanto em todas essas afirmações que comecei o projeto Literatura (é) Possível, que promove encontros literários entre alunos e escritores da atual cena brasileira, na escola. Autores vivos! E a vitória foi a cobrança, no final do ano, para que o projeto continue. Que venham mais autores. Mas é claro que sim!!!

Marcelino foi a primeira cobaia do projeto. E enfrentou muitas dificuldades, uma escola caída, alunos com problemas para escrever. Uma realidade que eu me deparo, confronto e tento mudar, todos os dias.

Algo importante aconteceu a partir deste primeiro encontro, no dia 10 de maio. Marcelino fazendo um exercício de escrita e criação com os alunos, colocou uma frase no teco de lousa: "Deus é brasileiro." Um aluno ao meu lado, completou: - É, Deus é brasileiro. Mas quem manda é o Marcola. A partir disso, nasceu o meu primeiro conto, abaixo:



A.B.C.

Deus é brasileiro. Mas quem manda é o Marcola. É, ele é o patrão. Ah prussôr, eu não vou entrar não. Ele é quem manda. Tá bom, tá bom, já que senhor insiste. Mas ó, não vou fazer lição. Ah muleque doido! Tô cansado. Quatro da manhã ainda era noite jão. Só fazendo avião. Depois, o Play 2. Não é mole não. O jogo é bravo. Exige concentração. Que fita que eu tenho? Daquela de tiro. Plá, plá, plá. Me imagino tipo com uma 765. Mas logo mais eu tô com uma automática na mão. É, cê vai ver doidão.

Ah prussôr, não vou fazer lição não. Não entendo nada mesmo. Tô cansado de ficar só copiando. Num sei lê, num sei escreve. Contá? Contá eu conto, claro. Trabalho com dinheiro vivo. Se eu não conta quem é que garante a minha mesada? É, a vida é cara. Quem paga meu tênis, minhas roupa de marca? Quem? Pai e mãe num tenho. Já foi. Tudo morto. Só balaço. Mas eu nem ligo. Já cicatrizô. Nem choro. É rapá, homem não chora. Só Jesus chorou. O cara era gente fina, mas ó, muito pacífico. Comigo não, é na bala. Minha vida é na quebrada. E no esquema. Nem olhe pra minha cara. Olho, plá! Levô tiro.

Quem guia a minha mão é o Marcola. Se eu já matei? Eh prussôr, da missa cê não sabe o terço? Já tenho treze anos pô. Sô bicho solto, bicho feito. Tô enquadrado. É, já to viradasso. Já paguei até veneno. Um ano na FEBEM. Várias rebelião e o caralho. Tô aqui de L.A. Só por causa do juiz. Memo assim, num tem quem me segura. Fico pelos corredor, só nas fissura. Dando umas volta, ganhando a fita. Estudá? Só entro na aula do senhor porque o prussôr é gente fina. Mas não estudo não. E só entro de vez em quando. É não tem mais jeito jão. É feio ficar chorando pelo que se rebento, já se estrago. Tem defeito. Minha vida agora é assim, só no arrebento. Mudá? Só se for de ponto. De vida eu não quero não. Tô bem prussôr. Valeu a preocupação, satisfação.

Ah muleque doido! Ó, tô saindo. Cansei de ficar na sala de aula, na escola, sei lá. Aqui é tudo muito parado. Vou pra rua. Lá que é o barato. É. Lá eu já sou mestre.

Um comentário:

Anônimo disse...

putz grila e um pedaço de louza pro mestre!
boa ciríaco e ó boa viagem e aproveite.

abraço, ivantunes