terça-feira, março 31, 2015

BON VOYAGE - SALÃO DO LIVRO DE PARIS, 2015 - #04

Encerra-se março. E com o mês, mais um ciclo. O primeiro trimestre vai embora. E a marca mais importante para mim foi esta viagem para a França. O reencontro com a minha literatura. O encontro com novas pessoas. Novas amizades se fortaleceram. Com certeza, renderão frutos. E aprendizados, muitos aprendizados. De não perder as raízes. De perceber as nuances da escrita e dos escritores. De não ser mais explorado, usado. De falar, na hora certa, para as pessoas certas, no local certo. Enfim, seguimos.

O saldo da viagem foram duas atividades na programação oficial do Salão do Livro de Paris, visita ao College Berange, ao Lycee Sophie Germain, visita a Alma, entidade que realiza um trabalho relacionado a direitos humanos na América Latina e África, além de batepapo com os alunos da Universidade Paul Valery, em Montpellier, pouco mais de 500 quilômetros de Paris, ao Sul da França.

O saldo da viagem foi a certeza da importância de finalizar logo o meu romance. De não se permitir travar no texto. De exercitar a escrita, sim. Mas exercitar também o ouvido, a observação. A leitura. Sempre e sempre. Com técnica, sensibilidade e disciplina.

Enfim, algumas poucas palavras por aqui. O momento é também de introspecção. E curtir as fotos. Vejam aí.

Abraço,


Mesa de autógrafos, no stand do Brasil


Eu e Fernando Morais


Sim, os doces são maravilhosos


Alunos do College Beranger


No Liceu Sophie German


Fotos com os alunos


Dedicatória na Universidade Paul Valery, em Montpellier

segunda-feira, março 23, 2015

SALÃO DO LIVRO DE PARIS, #03

Minha literatura elevada a um patamar que nunca imaginei. Caminhando ao lado de muitos que sempre li e gostei. Encontros, conversas, possibilidades de trocas profissionais e trabalho. Muito trabalho. Feliz. #SalonDuLivreParis 2015

Informações de uma das mesas que participei no Salão do Livro. Esta, ao lado de Ricardo Aleixo

"brésil - brasil": stand do salão do livro



 "Te Pego Lá Fora" também chegou aqui

 Guiomar de Grammont abrindo a mesa

 
 poeta Ricardo Aleixo: máximo respeito

 parte do público presente ao evento


 dedicatórias

 detalhe da mesa de autógrafos

 Conceição Evaristo: máximo respeito

 Integrantes da Editions Anacaona

 João Carrascoza e eu, autores do "Eu sou favela"

 Simone Paulino e Paulo Lins

Marcelino Freire, João Carrascoza, Ana Paula Maia, Conceição Evaristo, eu, Paulo Lins e Paula Anacona

sexta-feira, março 20, 2015

NOTA DE ESCLARECIMENTO ou SOLIDARIEDADE NA REVOLTA, PARIS #02

Não era pra ser. Mas foi. O principal assunto discutido entre os escritores brasileiros convidados para o Salão do Livro de Paris de 2015 no primeiro dia foi a remuneração. Ou a ausência dela. Explico: nenhum dos autores convidados para as atividades está recebendo cachê.

Eu, proletário das letras, nem estou acostumado com a palavra "cachê". Para mim é salário. É meu trabalho, tenho dedicação diária sobre isso. Esforço físico, intelectual. Literalmente, compro as fraldas de minha filha, faço mercado, feira, pago minhas contas com parte do que recebo neste meu trabalho literário. Claro que não posso me dar o luxo de viver apenas disso. Mas espero receber algo por ele. Quem me conhece, sabe que desde sempre tenho uma máxima: todo trabalho digno merece ser remunerado. É justo. E aqui, apesar de estar em Paris, cidade luz, maravilhosa, representando o Brasil, não estamos financeiramente recebendo por isso.

Quando fui convidado, não foi claramente explícito que seria desta forma. Soube apenas depois de um mês, quando estava me organizando, fazendo contas que perguntei sobre o "cachê". Ao que fui informado que não receberia. Mas teríamos uma "diária bacana", para passar os dias aqui. Se é assim, pensei: ok Apesar de ter 09 anos de estrada, sou novo nesta seara. Aprendendo ainda como funciona. Sempre recebo pelos trabalhos que faço. Mas aqui é diferente. E estar aqui presente, a divulgação do trabalho é importante. Mas estava preocupado com algo prático: como vou me virar em Paris? Cidade cara, custo de vida alto. E apesar da felicidade do convite, tenho minhas limitações financeiras. Não poderia me dar ao luxo de ficar cinco, seis dias aqui sem uma ajuda de custo decente. Afinal, deixei meu trabalho na escola no Brasil. Vou ter desconto destes dias que estou viajando. Além disso, abri mão de outras atividades remuneradas para participar do Salão. Enfim, de verdade: não teria condições de me bancar por aqui, nestes dias. Na crise que vivenciamos, não estou podendo me dar este "luxo".

A priori, fiquei muito chateado por achar que era algo comigo. Sou o escritor mais novo, tanto em idade quanto em projeção, daqueles que aqui estão. Pensei: "estão fazendo um favor em me levar, por isso não recebo". Mas não: ninguém está recebendo. Ninguém está ganhando nada. Aos menos os escritores.

E pensa que coisa maluca: um dos maiores eventos literários do mundo, com uma programação voltada e feita principalmente com e sobre os escritores, com presença de grandes livrarias, editoras, que podem vender seus livros - ou seja, terem lucro - mas que, a principal mão de obra produtiva, o "escritor", não recebe. Eu acho injusto. Ou todos ganhamos, ou ninguém ganha. Fazemos todos pela "causa", pela "literatura". E fica tudo certo.

Enfim, estou escrevendo este texto para me posicionar. Todos sabem o quanto o trabalho artístico é pouco valorizado, remunerado, principalmente para quem está longe da tela, dos holofotes das revistas e celebridades. Somos muitos poetas, escritores no Brasil que vivem e passam por situações precárias, dão sangue, suor e lágrimas pela sua arte sem muitas vezes terem um retorno justo e adequado sobre isso. A gente da periferia, principalmente, sabe do que estou falando. E isso precisa mudar. É preciso que alguns órgãos públicos, entidades privadas que trabalham com arte respeitem e valorizem o trabalho do artista, seja ele em qual área for. No Brasil, estamos discutindo o PNLL - Plano Nacional do Livro e Leitura, que pensa em criar uma política pública eficaz e produtiva para a área. Não podemos esquecer que, a valorização do trabalho do escritor é muito importante na chamada "cadeia produtiva" do livro. Valorizemos.

Escrevo também em solidariedade ao escritor Luiz Ruffato, que claramente em reportagem a Folha questionou algumas destas questões como pode ser visto em matéria abaixo, na qual a CBL - Câmara Brasileira do Livro diz que "no ato do convite (...) os autores foram informados do não pagamento de cachê" e que, na Homenagem ao país na Alemanha, tampouco houve remuneração.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/03/1604612-homenageado-brasil-busca-diversificar-autores-em-salao-do-livro-de-paris.shtml

É uma inverdade. Tanto eu quanto vários outros autores não fomos informados do não pagamento do cachê no ato do convite. Outra inverdade: vários autores que estavam em Frankfurt (Alemanha) confirmaram sim que houve remuneração naquele evento. O que é justo. Ninguém está pedindo favor, regalias, privilégios. Estamos pedindo respeito e reconhecimento ao nosso trabalho. Pode não parecer para alguns, mas é um trabalho.

Minha solidariedade ao Ruffato, que não pode levar sozinho o ônus deste questionamento. Ele é um questionamento coletivo. Minha solidariedade ao Ferréz, Marcelino Freire, Paulo Lins, Milton Hatoum, Cristovão Tezza e vários outros autores que tem uma trajetória bonita, de vida longa e representativa na literatura e merecem mais do que isso. Assim como eu, claro - rs.

Meu pensamento neste momento é que eu esteja me "queimando", ao jogar tudo tão as claras. Que este talvez seja um dos últimos eventos literários que faço representando o governo. Mas não poderia ser diferente. Não poderia participar, saber e ficar alheio a tudo o que está acontecendo e não me manifestar. E sei que sempre terei lugar garantido na quebrada, para manter viva a minha literatura, como sempre fiz até hoje. Então, sigamos assim, se for preciso.

Axé pra nóis. Posicionamento explicito, voltamos as atividades literárias. Independente de remuneração ou não, tenho uma representação aqui pra fazer. Das mais importantes, inclusive: da literatura marginal-periférica. Então, vamos aos trabalhos. Cabeça erguida e dignidade.

Salve, quebrada.

Rodrigo Ciríaco

quinta-feira, março 19, 2015

DIÁRIO DE BORDO, PARIS 2015 #01

19 de março de 2015. Finalmente, Paris. Finalmente pois a viagem foi difícil. A empresa aérea TAM, famosa em problemas nos ares resolveu atrasar o voo em 05 horas. Previsto para sairmos as 23hs, foi anunciado mudança para as 23h30, depois para a uma da manhã, duas e finalmente: 04hs. Pedi a mudanças de voo, cancelamento da entrada na imigração, fui no check-in retirar as malas. "Volte amanhã, duas horas antes do voo e você as pega". Nem pensar, quero agora. Espero. Uma hora depois: "Senhor, não foi possível reaver suas malas. Elas vão para Paris". O quê? Então eu também vou. Minhas malas, meus livros, minhas roupas não podem ir sozinho. "Senhor, lá vai para o setor LL e depois o senhor pode retirar". Ahã, sei. E Papai Noel vai aguardar junto, com um presente para mim. Não, quero ir agora. E fui, finalmente depois de 05 horas. Mais 11 horas de longa viagem, dois filmes, pés inchados e insônia depois, cheguei em Paris. Exatamente as 19 do horário local. Resultado: perdi a minha primeira atividade, na Science Po, excelente centro de estudo em Poitiers. Paula minha editora foi. Disse que os alunos estavam ansiosos, me aguardando. Haviam inclusive estudado, decorado trechos de minhas obras, em português. E não pude ver. Triste. Fica para a próxima.

#JeSuisFavela: ou devo ter cara de outra coisa. Por quatro vezes tomei um "enquadro" no aeroporto: passaporte, quanto tempo em Paris, o que vai fazer, escritor, ok, merci. Não sei se foi minha touca, minha careca, minha roupa, minhas malas, eu sei que outras pessoas passavam batidas, eu era parado. Na imigração, o policial pediu minha passagem de volta, quanto dinheiro eu tinha, cartão de crédito e só liberou depois de ler, minuciosamente, a carta de convite do Salão do Livro. Daí você pode dizer: normal. Não sei. Observei que com as outras pessoas foi mais fácil também. Ok. Faz parte. #Segurança...

Cheguei as 20h30 na cidade. Provisoriamente na casa de Paula, depois vou para o hotel. Deixei as malas fui dar uma volta nas ruas. Respirar o ar livre, sentir a brisa da cidade. Faz frio. Temperatura na casa dos 10 graus. Estava com fome. Primeiro desafio: vencer a vergonha de não falar francês, o fato de entender minimamente inglês mas eles não gostarem de falar em inglês e escolher um prato, pedir comida. Foi em portunhol selvagem, em um restaurante, não sei se turco. Era arabe. Um kebab. Gigante. Prato suculento. Na TV: Barcelona versus Manchester City. Neymar livre na grande área, mandou bola na trave. Quando saí, ainda estava 0 x 0. Depois vi que Barcelona se classificou.

Ainda confuso com o fuso, fui dormir a meia-noite. Estava bem agasalhado, mas o edredon era pequeno. Senti um pouco de frio. Acordei cedo, oito e pouco daqui. Já resolvi alguns problemas do Brasil, pensei na minha esposa e na minha filha, na minha família em geral. Na saudade de estar aqui. Tenho uma entrevista em uma rádio local, marcado para as 16hs. Pediram para escolher uma musica. Pensei em "Racionais - Vida Loka, Parte II". Por conta principalmente de um trecho que ficou na minha mente, desde que vim pra cá: "Pode rir, ri mas não desacredita não". E quem poderia dizer que  literatura marginal, que os nossos saraus de quebrada nos levariam tão longe. E ainda são tantos lugares a serem visitados. E ainda há tantos guerreiros e guerreiras merecedores de também estar aqui, assim como eu. As portas (para nós) são poucas, estreitas. Algo que penso quando participo de eventos como este é sempre em abrir mais portas, alargar as que existem. Estou aqui hoje, além da qualidade, do valor do meu empenho e trabalho, porque já fizeram isso antes. E sou agradecido. E tenho essa responsa nas mãos. Então, assim seguimos.

10h30 da hora local. Daqui a pouco parto para o hotel. A tarde, abertura do Salão. Muito trampo pela frente. E conhecer a cidade, que ninguém é de ferro. Para a minha família, Mô, Malu: se cuidem. Fiquem bem. Daqui a pouco estou de volta.

R.C.

segunda-feira, março 16, 2015

PERIFERIA NA GRINGA - SALÃO DO LIVRO DE PARIS 2015 - RODRIGO CIRÍACO


clique na imagem para ampliá-la

Nesta terça-feira embarco para #Paris, para juntamente com outros 47 autores participar do Salão do Livro de Paris, um dos maiores no mundo e que neste ano homenageia o Brasil.

Sinto-me honrado em participar deste evento, por integrar o movimento de saraus das periferias, por fazer parte da literatura #marginal. Por saber o valor e a qualidade que tem o nosso trabalho. Feliz.

Na medida do possível, vou atualizando e mantendo a todos antenados sobre as atividades, conversas e tudo mais. Abaixo, segue um breve cronograma das atividades. E seguimos.

A programação completa está aqui: www.salondulivreparis.com 

Minhas atividades em específico, abaixo.

Axé pra nóis.


SALÃO DO LIVRO DE PARIS - 2015
PROGRAMAÇÃO: RODRIGO CIRÍACO


QUARTA-FEIRA 18 DE MARÇO
Lugar : Science Po - Poitiers
14h30: Palestra com Estudantes


QUINTA-FEIRA 19 DE MARÇO
Lugar : Salão do Livro de Paris
17h30 - Inauguração


SEXTA-FEIRA 20 DE MARÇO
Lugar : Salão do Livro / Art Square (F51)
13h30-14h30 Encontro - Arte urbana.
Das paredes aos livros
com Rodrigo Ciríaco,
Christine Dauphant,
Bernard Fontaine
Lugar : Salão do Livro / Stand do Brasil (L70)

14h30-15h30 Autógrafos
Lugar : Salão do Livro


SABADO 21 DE MARÇO
Lugar : Salão do Livro / Stand do Brasil 2 (L70)
14h00-15h30 Encontro - Emergencência das poéticas da voz et do corpo no Brasil
(moderado por Idelette M-F dos Santos)
com Ricardo Aleixo,
Rodrigo Ciríaco,
Jean-Paul Delfino


SÁBADO, 21 DE MARÇO
Lugar : Salão do Livro / Stand do Brasil (L70)
15h30-16h30 – AUTÓGRAFOS

Lugar : Salão do Livro / Stand de la Région IDF (F80)
18h00-19h00 – AUTÓGRAFOS,  com Ferrez

Lugar : Livraria OFR (20 Rue Dupetit Thouars 75003)
19h30 Evento Anacoana


SEGUNDA-FEIRA 23 DE MARÇO
Lugar : Collège Béranger
11h00-12h00 – Palestra com Estudantes


TERÇA-FEIRA 24 DE MARÇO
Lugar : Lycée Sophie Germain
11h00-13h00 – Palestra com Estudantes


QUARTA-FEIRA 25 DE MARÇO
Lugar : Universidade de Montpellier
11h00-13h00 – Debate com Professores e Estudantes


QUINTA-FEIRA 26 DE MARÇO
Lugar : Livraria Aux Livres (10e)
18h00-19h00 - Evento

segunda-feira, março 02, 2015

A HORA E VEZ DO PNLL! - RODRIGO CIRÍACO

A HORA E VEZ DO PNLL!



PNLL é abreviação do Plano Nacional do Livro e Leitura. Trocando em miúdos, é uma proposta de institucionalizar no Brasil uma política voltada para o livro e leitura e toda a chamada “cadeia produtiva”: escritores, editores, livreiros, distribuidores, gráficas, fabricantes de papel, administradores, gestores públicos e outros profissionais do livro, bem como educadores, bibliotecários, universidades, especialistas, organizações da sociedade, empresas públicas e privadas, governos estaduais, prefeituras e interessados em geral, além do público leitor. Ufa! A turma é grande.

Essa discussão não é recente. O PNLL tem quase dez anos de atuação, com um acúmulo de discussões, textos, encontros, plenárias, propostas muito produtivas feitas por todo o Brasil. E além do PNLL, quando pensamos em políticas para o livro, leitura e biblioteca, podemos dar um salto ainda maior, de 90 anos atrás. Por exemplo em 1925, quando Monteiro Lobato cria uma editora brasileira de alcance nacional, com inovador sistema de distribuição que incluía lombo de burro, trem e barco. Ou ainda de 80 anos, quando em 1935, Mario de Andrade, diretor de cultura do município de São Paulo, expandiu a ideia de biblioteca, abrindo espaço para jovens e crianças, criando unidades móveis na biblioteca que hoje leva seu nome e, dois anos depois (1937), cria o Instituto Nacional do Livro, que existiu até 1990, quando o governo Collor entre suas “boas ações” extinguiu o Instituto e dispersou dezenas de seus funcionários, reduzindo ao Departamento Nacional do Livro (com apenas quatro funcionários), dentro da FBN – Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.[1]

Pensar um Plano Nacional do Livro e Leitura é colocar a formação de leitores como uma política de Estado, não apenas de um ou outro governo. É encarar a formação de leitores como estratégica no desenvolvimento do país, dentro de perspectivas indissociáveis como cultura e educação; governo e sociedade.

A primeira proposta do Plano para que isso efetivamente aconteça é deixar de ser um plano e tornar-se Lei, a partir da aprovação de seu projeto – que no presente momento está na Casa Civil, aguardando liberação de seu jurídico para ser encaminhado ao Congresso. Com isso, o Estado se vê obrigado a criar instrumentos gerenciais para sua aplicabilidade, que dentro da proposta é a (re)criação de um “Instituto Nacional do Livro e Leitura”, com equipe, estrutura e orçamentos necessários para efetivar esta política a nível nacional, estimulando os municípios e estados a elaborarem seus planos com diretrizes claras oferecidas pelo PNLL.

Uma política de formação de leitores, de incentivo a leitura, literatura e bibliotecas, não pode ser associada simplesmente a escola e educação, como muitas vezes acontece hoje. Até porque seus desafios vão muito além do ambiente escolar, com consequência para toda a vida: universitária, profissional (basta pensar nos milhões de jovens e adolescentes, que concluem o Ensino Médio ou abandonam a escola ainda como “analfabetos funcionais”). Ela necessita ser permanente, continuada, atrativa. É uma questão de “saúde pública”, como diria o poeta Sérgio Vaz - “Quem lê enxerga melhor”. De conscientização e libertação: crítica e política, como diria o poeta Binho – “Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo”. De redução das margens e da desigualdade social, como bem expressou o poeta Marco Pezão – “Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”. Aliás, Sérgio Vaz, Binho e Marco Pezão, referências como poetas e produtores culturais, na criação dos dois mais antigos e importantes saraus periféricos da cena paulistana: o sarau da Cooperifa e sarau do Binho.

A referência aos saraus aqui não é gratuita. Notoriamente reconhecidos como uma das ações mais importantes e significativas no campo da cultura brasileira contemporânea, são responsáveis pela “popularização” da literatura nos espaços mais diferentes e dinâmicos possíveis: bares, praças, ruas, ônibus, trens, metrôs, associações de moradores, e até mesmo em centros culturais, bibliotecas e escolas! Tem uma grande contribuição na mediação de leitura, na ressignificação do que é o livro, literatura e poesia; além de fomentar o surgimento de novos poetas, escritores, editores independentes e todo um mercado do livro e leitura para além do “mercado tradicional”, de grandes editoras e redes de livrarias.

Não apenas por ser “cria” dos saraus, mas vejo que estes são a referência mais explícita do que é a essência prática do PNLL – e seus 04 eixos de trabalho – em ação: 1) Democratização do acesso; 2) Fomento à leitura e à formação de mediadores; 3) Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico e 4) Desenvolvimento da economia do livro.

Com uma política nacional do livro, a perspectiva é que ações como a dos saraus, bibliotecas comunitárias, contação de histórias entre outros sejam ainda mais conhecidas, amplificadas e, principalmente, tenham condições e recursos para realizar seus trabalhos muito além de uma vontade política de governo ou partido “A, B, C”, ou de ações sociais de editoras, organizações não governamentais, ou ainda de militâncias pessoais, educativas e culturais. É imprescindível que ações como essa se tornem política de Estado. A formação de leitores como um verdadeiro (e não deturpado) ato de segurança e integridade nacional.

É chegada a hora e vez do PNLL. É chegado o momento de retomar ações de formação de leitores para além da escola, além de iniciativas pessoais ou localizadas. É chegado o momento de dar, ao livro e leitura, o status e importância que merecem. É como disse o poeta Mario Quintana: “Livros não mudam o mundo. Livros mudam as pessoas. As pessoas mudam o mundo”. Que possamos ser protagonistas destas mudanças, colocando as políticas do livro e leitura no lugar de destaque e projeção que elas merecem.


Rodrigo Ciríaco é educador e escritor, integrante do movimento de saraus periféricos de SP e representante da sociedade civil no Conselho Diretivo do PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura.




[1] SANT’ANNA, Affonso Romano; Apresentação em: CASTILHO, José Castilho (organizador). Plano Nacional do Livro e Leitura – Textos e Histórias (2006 – 2010) – São Paulo: CulturaAcadêmica Editora, 2010.



PARA SABER MAIS: 

PNLL: http://www.cultura.gov.br/pnll - site oficial do PNLL, com informações gerais, publicações e decretos.

PMLLLB / SP: http://pmlllbsp.com/ - A cidade de São Paulo está na fase de construção do seu Plano Municipal, entrando na etapa dos encontros regionais. #ProcureSaber e participe!