terça-feira, janeiro 30, 2007

Palestina - por Fernando Evangelista


"Foto (Matt Corner) Meninos palestinos na cidade de Belém, onde teria nascido Jesus...porque criança quer ser criança.

(...) A população de Belém nos recebe com festa. Os palestinos sabem que a presença de estrangeiros pode ser incômoda aos senhores da guerra. Em frente à Basílica da Natividade, erguida junto da gruta onde Jesus teria nascido, os ativistas conversam com as autoridades locais. De repente, atraído por esse insólito movimento, aparecem vendedores de colares, pedras, cartões-postais, bugigangas de todas as espécies. É um assédio desesperado. Trinta dólares, vinte, e o produto acaba sendo oferecido por cinco. O palestino Tufik Canavate, ex-guia turístico, explica: "Antes isto aqui era cheio, era gente que não acabava mais, agora não tem ninguém e não temos trabalho". Faço com Canavate um rápido passeio pelos pontos centrais de Belém. No caminho, atraídos pela minha máquina fotográfica, um grupo de meninos palestinos se aproxima. "De onde você é?", me perguntam. Quando respondo, vem a festa: "Romário, Ronaldo, Pelé". E eles não param. Falam de nosso futebol com familiaridade. "Nós temos o Brasil no coração", diz um dos garotos. Pedem que eu faça uma foto, fazem pose, me cumprimentam e vão embora. Canavate, depois de uma pequena caminhada, sem prática e sem fôlego, também se despede: "Olha, quer saber, eu acredito que, pela vontade de Deus todo-poderoso, a paz venha em breve e as coisas voltem a ser como eram antes". Horas depois, o todo-poderoso Tsahal, exército de Israel, invadiria Belém, matando vários civis, entre eles crianças e mulheres.

Foto (Fernando Evangelista) Enterro Coletivo em Ramallah

Texto: (..) O exército de Israel estabelece um cessar-fogo de duas horas para que os pacifistas, jornalistas e observadores internacionais deixem Ramallah, zona militar fechada. Segundo as fontes oficiais, essa medida é para a própria segurança dos estrangeiros. Nesse tempo, os palestinos aproveitam para enterrar. O hospital, com racionamento de luz, superlotado, deve se "desfazer" dos 25 corpos que estão nas geladeiras. Alguns homens, com auxílio de um trator, cavam um buraco no estacionamento, ao lado do hospital. Cai uma chuva fina. Os palestinos fazem uma oração coletiva. As mulheres choram, um choro agudo. Algumas gritam, balançam os braços, rezam. Depois, envoltos em lençóis brancos, um por vez os corpos são colocados na vala comum. Tudo é feito muito rápido, a toque de caixa assim mesmo, de qualquer jeito, sem flores ou ritos prolongados. Não há tempo nem estrutura. Segundo o exército israelense, todos esses mortos sem rosto são terroristas que perderam a vida em combate. Gente sem direito, culpados por princípio. Entre esses 25 corpos, algumas mulheres e duas crianças.

Foto (Matt Corner) Senhora palestina acompanha a operação israelense "Escudo Defensivo" em Ramallah em maio de 2002.

(...) um palestino pede ajuda dos ativistas estrangeiros. Sua mulher, de mais ou menos 50 anos, que acabara de sair do hospital com um pequeno problema no joelho, foi baleada no peito e no pescoço. "Precisamos de vocês, se eu for sozinho com as enfermeiras eles vão disparar em nós. Com vocês é mais seguro." Cinco pessoas se dispõem a ajudar. A senhora palestina esta caída no meio da rua, quase em frente ao hospital, imóvel. O sindicalista Roberto Giudici, italiano de 49 anos, foi um dos que se dispôs a servir de escudo humano. Ele conta: "Nós saímos para proteger as enfermeiras palestinas, de mãos para o alto. De repente, eles começaram a disparar na nossa direção tinha uma pessoa morrendo, precisando de atendimento". Mesmo sob os disparos, o grupo conseguiu levar a senhora para dentro do hospital. Ninguém viu quem atirou. Os franco-atiradores não têm rosto nem identidade. Mas, para quem está acompanhando a guerra, não existe dúvida de que lado estão esses assassinos. A senhora palestina morreu antes de ser atendida pelos médicos.""

Texto: Fernando Evangelista - fernando_evangelista@hotmail.com
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Nem todo Jornalista não presta! A maioria dos que conheço, mais pelo nome do que pessoalmente, são muito ruins, distorcem vergonhosamente os fatos. Mentem! Entretanto, há alguns ainda que realizam grandes, arriscados e sensíveis trabalhos. Estes precisam ser valorizados e agradecidos.

Assim é que como vejo Fernando Evangelista. Ele não é um simples Jornalista que publica matérias na Caros Amigos. Ele é meu Amigo. Mas Fernando é muito mais do que isso: o cara é Ético, Responsável, Sensível e dotado de um faro e um senso de Investigação e Justiça que sobrepõem-se sobre o seu medo, o receio de que algo possa acontecer a sua vida, e vai. Vai entricheirando-se pelas estúpidas guerras humanas que o mundo produz e ainda há de produzir para, através de uma sagaz arma mortal, a Palavra, a Informação, proteger outras vidas.

O detalhe da primeira foto me impressionou muito. A Periferia é lá, a Palestina aqui gente!
Quem quiser acompanhar um pouco do seu trabalho, pode ler algumas de suas reportagens: Fernando sugeriu a Caros Amigos de Maio, 2002, republicada no especial GRANDES REPORTAGENS, de Novembro de 2006. Eu sugiro a Caros Amigos, especial ORIENTE MÉDIO (trabalho recente) e Caros Amigos, Dezembro de 2006.

Fê, coragem! Que você continue com essa garra, essa força que vai muito além da defesa da vida, vai no arriscar a própria vida para defender o "justo, o bom, o melhor do mundo"

Grande Abraço,

Rodrigo Ciríaco

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Vai pra PQP

Para o Quarto Poder


Desconfie de sua
Ignorância!
Não seja breve
Não seja ingênuo
Não seja superficial
Na aquisição de sua informação
Política, estética, noturna,
Econômica, social ou matinal.

Por trás de toda notícia
Há uma intenção
Por trás de toda matéria
Há uma posição
Por trás de toda foto
Há um olhar, uma visão.

DESCONFIE!
Do que é noticiado
DESCONFIE!
Do que é impresso, falado
DESCONFIE!
Do discurso oculto
E do que é ocultado.

O quarto poder
Não está a seu serviço.
O editor não é poeta
Mas um excelente fingidor.

VEJA, quando ele olha para a
Folha em branco
O que mais ele pensa é
O Estado do seu bolso,
O anúncio pago
Os interesses comprados
O espetáculo
A notícia, a investigação
Se tornam banal.

DESCONFIE!
Busque o que está nas entrelinhas.
DESCONFIE!
Não acredite em tudo que você lê!
DESCONFIE!

O que realmente acontece está
Muito além
Daquilo que desejam
Que você vá saber.


(rodrigo ciríaco)

SARAU da Cooperifa - LIVRO / Edições Dulcinéia Catadora, Janeiro de 2007


Sábado, 27 de janeiro de 2007 foi um dia muito especial para esta humilde pessoa.

Após uma almoço preparado por mim e pela Tânia aos meus pais, e uma longa conversa com o meu pai na qual pude descobrir outras histórias de minha raiz caipira e nordestina, fomos eu e a Tânia ao SESC Pompéia para o lançamento do livro "SARAU da Cooperifa", pelas Edições Dulcinéia Catadora (mais informações nos históricos abaixo).

Em outubro conheci o projeto-irmão da Dulcinéia, a Eloisa Cartonera (Argentina) durante a Balada Literária, organizada pelo Marcelino Freire. Particularmente, fiquei fascinado com o trabalho. Não sei se por conta de que já desenvolvi um trabalho com pessoas em situação de rua (Ocas" www.ocas.org.br), e o projeto trabalha com catadores de materiais recicláveis, ou foi a produção artesanal de suas capas, que dão um caráter particular, único a cada um dos livros mas, fato é que me encantei! Comigo mesmo pensei que gostaria muito de publicar um livro com meus poemas neste formato, nesta edição. Pois bem, sonho realizado! E não foi um simples sonho. Estou ao lado de outras pessoas fantásticas, uma família que me acolheu e que faz-me sentir menos deslocado neste mundo louco e confuso em que vivo(emos).

O "SARAU da Cooperifa" é um livro que vem presentear a todos que trabalham com Amor, Raiva e Sinceridade para transformar não apenas a periferia, mas todos os periféricos, sensibilizados e/ou marginalizados por este sistema podre que aí está, que concentra e exclui, que competi e não solidariza.

Parabéns aos participantes. Parabéns ao Sarau da Cooperifa e todos os Cooperiféric@s. Parabéns ao Javier, Fernanda, Lúcia, tod@s os membros da Eloísa Cartonera / Dulcinéia Catadora e ao Marcelino Freire por propiciar este encontro. E que novos frutos sejam distribuídos, como objetos de (des)gosto, "doce ou amargo, depende de quem saboreia".
E como diz o meu grande Poeta da Periferia: É tudo nosso!!!
Abaixo, meu poema publicado:
OUTROS 500

O que chamam de descobrimento
Eu dou por invasão
O que chamam de conquista
Eu dou por destruição
O que chamam de encontro
Eu dou por extermínio
O que chamam de civilização
Eu dou por latrocínio
O que chamam de religião
Eu dou por uma desculpa
E o que chamam de tragédia
Eu dou por nossas vidas.
Rodrigo Ciríaco
SARAU da Cooperifa. Coletânea de poemas. Edições Dulcinéia Catadora. Ano 2007. São Paulo, SP. 32 páginas. Participações: Sales de Azevedo, Rose Dorea, Robson Canto, Daniela Meira, Tadeu Lopes, Mavot Sirc, Márcio Baptista, João Santos, Jairo (Periafricania), Dinha, Rodrigo Ciríaco, Sérgio Vaz e Allan da Rosa.

Oficina de produção dos Livros "SARAU da Cooperifa", Edições Dulcinéia Catadora

Livros da Eloísa Cartonera / Dulcinéia Catadora durante processo de produção das capas nas Oficinas abertas, SESC Pompéia, Janeiro / 2007

As oficinas contaram com grande participação de crianças.

Produção manual das capas de livros. Na era da reprodutibilidade técnica, a rehumanização através da Arte.

Mariana e as Tintas

Trabalho Minucioso: atenção e concentração

Minha Flor segurando "Uma flor", de Douglas Diegues

FOTOS - Lançamento do SARAU da Cooperifa / Ed. Dulcinéia Catadora

Sales de Azevedo, Rodrigo Ciríaco e Robson Canto, junto aos livros e membros da Dulcinéia Catadora

Robson Canto: Evézio, MST e Resistência


Detalhe da Capa de um livro "SARAU": cada exemplar é ÚNICO

Não, não estou rezando. Estou lendo... rs

Antonio Carlos, da peça "Diário de um Carroceiro", faz leitura de poema.

Sales Guerreiro!

Leituras: Sarau do SARAU

Equipe Eloísa Cartonera (Argentina) / Dulcinéia Catadora (Brasil)
outras infos. dos projetos, veja históricos abaixo.

sábado, janeiro 27, 2007

Carta enviada à Folha de São Paulo ONTEM: para Leitores e Editores

São Paulo, 26 de janeiro de 2007


Caros Editores da Folha de São Paulo,
Caro Jornalista Evandro Spinelli,

Assunto: Protesto na Sé e representatividade.


Estando presente e acompanhando o Ato realizado no dia de ontem, 25 de janeiro de 2007, na Praça da Sé, após a Missa e durante outros eventos referentes ao Aniversário da Cidade de São Paulo, não posso deixar de manifestar a minha indignação perante a matéria publicada no dia de hoje (26 de Janeiro de 2007), “Alvo de Protestos, Kassab enfrenta Manifestantes”.
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2601200713.htm)

De todos os fatos relacionados ao Ato, o caríssimo jornalista se prontificou a destacar uma suposta “bravura” (“Kassab enfrenta manifestantes) de nosso excelentíssimo Prefeito Gilberto Kassab, ou ainda o detalhe, de alguns “autores” do ato, utilizarem “broches do PT”, reduzindo uma questão tão séria quanto a discussão de Projetos de Políticas Públicas para a cidade de São Paulo a uma “briga” entre Petistas x Tucanos/Pefelistas.

Pois bem, eu fui um dos autores do Ato. Eu fui um dos manifestantes presentes. Eu não pertenço a nenhum Partido Político. Eu não preciso de representantes, eu me autorepresento. Eu não preciso de pessoas para me dizer o porquê de ficar indignado ao ver homens e mulheres sobrevivendo nas ruas, enquanto a prefeitura não cumpre a lei municipal 12.316/97 (que versa sobre o atendimento a esta população) e tem a preocupação de limpar e reformar espaços públicos da cidade, expulsando as pessoas com a força da GCM e apoio da Limpurb, tratando-as como lixo e não como seres humanos. Eu não preciso de representantes para expressar a minha opinião de que a prefeitura não possui uma política habitacional para a população de baixa renda da cidade, e que prefere despejar na rua centenas de famílias pobres, sem direcionar nenhum atendimento digno e adequado garantidos em lei, do que atendê-las através da expropriação de imóveis abandonados (e com exorbitantes dívidas) no centro da cidade e transformando-os em moradias populares. Eu não preciso de um partido para dizer a minha opinião sobre a política da prefeitura em relação aos trabalhadores catadores de materiais recicláveis. Eu não preciso. Eu simplesmente digo!

Além disso, o jornalista Evandro Spinelli deveria ter dado espaço em sua matéria sobre a truculência da PM (Polícia Militar) e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) que, por diversas vezes, interferiam para tentar impedir o ato, alegando a defesa da “Ordem Pública”, em contraponto a um direito Constitucional que é a livre manifestação e a liberdade de Expressão. Evandro Spinelli deveria ter noticiado a provocação da GCM e da PM que empurrou manifestantes, tentou arrancar faixas e, em certos momentos abusou e agrediu (sem gravidades) algumas pessoas presentes ao Ato (ou isso não é notícia?). Isso deveria ter sido noticiado no Jornal, na Mídia Impressa, como foi feito na Mídia Eletrônica, espaço mais restrito.

E corrigindo: Gilberto Kassab não enfrentou os Manifestantes, assim como não inaugurou a sua recém “revitalizada” Praça da Sé. Ele tentou. Corajosamente, diga-se, tentou mas, não conseguiu. Os gritos de “Fora Kassab”, “Queremos Moradia”, as vaias, os apitos, a coragem e as faixas dos presentes, sobrepuseram a pequena figura do prefeito e de seus correligionários, que ficou acuado, numa terrível saia justa ao enfrentar uma população indignada e autorepresentativa, exercendo um direito político da maneira mais simples e eficaz: a via direta.

E que fique claro: aquele foi um Ato Político sim, mas não foi um Ato Partidário. Foi uma atitude política, mas não Petista. Havia membros do referido partido sim, mas eram poucos, bem poucos. Não é necessário ter Partido para se tomar partido. Não é preciso ter uma bandeira para se ir a luta. É preciso ter consciência, coragem e disposição para expor e debater as suas idéias seja com quem for.

Espero que este Jornal cumpra o seu papel, claramente destacado em sua capa, “Um jornal a serviço do Brasil”, mas que seja efetivamente um jornal a serviço dos brasileiros. De todas e todos. Inclusive aqueles que construíram esta cidade, o edifício de sua redação, sua mesa, suas cadeiras e que ontem, estavam respeitosamente manifestando a sua opinião e exercendo o seu Direito.

Atenciosamente,


Rodrigo Ciríaco

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Lançamento do Livro SARAU da Cooperifa / Dulcinéia Catadora


(fotos dos livros da Eloisa Cartonera / Dulcinéia Catadora)
clique nas imagens para ampliar
Os degustadores vorazes da literatura sabem que Livros, por si só, já tem um sabor muito especial. E quando a produção deste livro é quase que artesanal, sendo cada um deles único, com uma capa exclusiva, beneficiando artistas, escritores e catadores de materiais recicláveis, o que pensar?

Esta é a proposta da Eloisa Cartonera, editora Argentina que edita seus livros com capas de papelão, comprados de catadores de materiais recicláveis e pintadas por eles próprios. Diversos autores latino-americanos já foram publicados e, entre os brasileiros, destacam-se Glauco Mattoso, Douglas Diegues e Manoel de Barros.
Este projeto, que já circulou na América Latina como um todo e em outras regiões além do Atlântico e Pacífico, chegou ao Brasil como exposição na última Bienal de Artes de São Paulo. E está deixando aqui uma semente apetitosa, uma prima-irmã para dar continuidade ao seu projeto: a Dulcinéia Catadora.
Com o apoio do SESC Pompéia, a Eloisa Cartonera e a Dulcinéia Catadora estão realizando no espaço das Oficinas uma produção de capas para o lançamento de um livro aqui no Brasil pela Dulcinéia Catadora, o SARAU. Esta edição será uma espécie de "transcrição" literária do Sarau da Cooperifa realizado no dia 24 de janeiro de 2007, e contará com a participação de poetas da casa: Sérgio Vaz, Salles, Marcio Baptista, Robson Canto, José Neto, Mavortsirc, Rodrigo Ciríaco entre outros.
As Oficinas de produção das capas são abertas, gratuitas e acontecem entre hoje e amanhã, no Sesc Pompéia, das 14hs às 17hs. Amanhã, sábado, dia 27, a partir das 17hs será o lançamento do Livro SARAU. Cada exemplar terá o custo de R$ 5,00 (cinco reais).
Não deixe de participar!
Lançamento do Livro SARAU, da Cooperifa
Edições Dulcinéia Catadora
SESC Pompéia: Rua Clélia, 93 - Pompéia
Sábado, 27 de janeiro, 17hs
outras informações, acesse:
Rodrigo Ciríaco

Sampoemas II

Apresentando o Sarau, o poeta Sérgio Vaz


Frederico Barbosa


Atenção do público


Mavortsirc e seu filho

Ademiro Alves, o Sacolinha

no poema perfomático, só a sombra do Guerreiro: Akins Kinte

Márcio (e filho) Baptista

Música de 1ª qualidade

Wesley Noog dá show


Não só de cara feia e protestos sobrevive esta humilde pessoa. Ontem a noite participei, junto à outros músicos, artistas, cidadãos e poetas do Sampoemas 2, evento realizado na Casa das Rosas (Av. Paulista) em virtude do Aniversário da Cidade. A convite de Frederico Barbosa, o poeta da periferia Sérgio Vaz conduziu um Sarau mágico a todo o público, participante e/ou presente na singela festa.

Apesar da cidade ser cingida, dividida, seja por conta da pobreza, do acesso aos recursos básicos, etc., sempre é muito bonito ver quando estes diversos fragmentos se juntam formanto um caleidoscópio multicolorido, multifacetado, com pitadas de Amor e Rancor, lágrimas e ódio.

Saudações,

Rodrigo Ciríaco

Aniversário de São Paulo - 453 anos!

Parabéns !!! (Êêêêêêêêêêêêê...)


Prêmio Higienista - 2006/2007
Minha singela homenagem às excelentíssimas autoridades de São Paulo: José Serra (Ex-prefeito escadinha, atual Governador), Gilberto Kassab (Prefeito não-eleito) e Andréa Matarazzo (Subsujeito Subprefeito da Sé).
veja outras infos em:
[São Paulo] Ato contra política de Higienização
[São Paulo] Ato contra política de Higienização 2

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Homenagem à Minha Vida


Moça bonita, Menina sapeca
para Izilda, minha Mãe

Menina sapeca pula arame da plantação
Vai roubá milho
Depena!
Faz dente de ouro,
Boneco, Visconde de Sabugosa
Com seus cachos dourados.

Menina sapeca pede pra mãe
O vidro do leite de vidro
Quebra o fundo!
Faz lente de aumento,
Luneta, se transforma em Cientista
Brincando com as estrelas.

Menina sapeca vai escondida
Nadá na lagoa do rio
Pelada!
Sem malícia.
A mãe descobre
Desce o vergão,
Desce a varinha,
Banho de sal pra curar as feridas.
Dá pena!

Menina pequena decide abandonar
A família
O sítio
O Interior
Foge correndo pra cidade grande.

- Vai passar fome menina!

Menina pequena vai trabalhar
Na casa de família
Dar purezinho de maçã na boca
Da filhinha da madame.
- Não pode comer a casca!
Foi despedida.

O tempo passa
E com ele menina pequena se transforma
Em moça bonita
Cabelo curto, coxas grossas
Arrasa esquinas, arrasa quarteirão.
Moça bonita chama a atenção
Para um outro coração.
Vai fugir de novo!

- Então vai, já não é mais menina!

Moça bonita acha que se realiza
Vai casar
Vai ser mãe
Vai ser avó.
E vai se sentir abandonada
Pelos filhos.

Moça bonita continua bonita
Mas já é uma Senhora
E rosada!
Pra não ficar triste
Vai ser presenteada
Com duas cachorras
Nina e Nani
Vai ficar renovada.
Em alguns momentos terá saudades
Do sabugo
Do vidro do leite de vidro
Da lagoa
Do pai e da mãe.

Em pensamentos perdidos
Senhora rosada vai se lembrar
Da moça bonita
Da menina pequena
Da menina sapeca
E vai julgar, olhando para os filhos
Para os cachorros,
os netos e o marido
Que foi muito feliz.

E apesar de tudo
Viver valeu a pena!
Né menina?

terça-feira, janeiro 23, 2007

Recomendação de Leitura

Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Márquez

Ninguém sai ileso depois de mergulhar na sensíveis teias de seda emaranhadas por Gabriel Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão. Diria Impossível! Tive uma certa angústia durante a leitura da obra, e um certo alívio ao seu término. Angústia por encontrar ali não a resposta a muitas de minhas dúvidas, questionamentos, assombrações com a política e com o cotidiano, com a angústia e o medo, a morte e a solidão, mas por compartilhar as emoções, vidas e sofrimentos de uma família e um povoado latino-americano que bem poderia ser a minha, a sua, a de nossos ancestrais na afastada cidade de Macondo, ou Palmares dos Índios, ou Taquaritinga. Sei lá!
Alívio, pois a profundidade com que me envolvi com o romance me fez vivenciar o dia-a-dia da família Buendía, dividir suas dores, suas guerras, suas insatisfações e amores, tão correspondidos a cada um deles quanto são a mim. Por vezes tive vontade de me deitar com Pilar Ternera, Remédios, A Bela, Amaranta Úrsula. Outras vezes, tive vontade de apoiar o Coronel Aureliano Buendía na Guerra, em outros momentos tive raiva e vontade de esfaqueá-lo. Revi, junto a José Arcádio Segundo os mais de “três mil homens” levados mortos pelo trem, lembrando de outros trens, barcos, helicópteros e aviões que levaram (e levam?) os corpos de trabalhadores mortos que ousaram bradar contra a injustiça dos poderosos em nossas veias abertas da América Latina.
Mas o que mais me identificou com o livro foi esta Solidão, taciturna, quase doentia que acompanha cada um dos membros das famílias e acompanha (penso) cada um dos seres vivos pensantes que existem sobre a face da terra. Pois o preço da consciência é a solidão. Como o preço da nossa suporta imortalidade (vivemos todos os dias como seres imortais, planejamos o amanhã, o futuro, como se a morte não fosse iminente, não tardasse a chegar, e isso é normal -?) é o esquecimento após duas ou três gerações. E não importa o quão grande tenha sido o seu sofrimento, a sua luta, a sua paixão, o seu Amor. A experiência é única e válida para cada um. Guarde-a com carinho. Pois o tempo, com as águas incansáveis que vêm e vão como ondas no mar, se encarrega de apagar tudo, com o tempo.
Faça a sua leitura e se deleite com as suas próprias ilusões. No final, isso é o que interessa em nossa curta trajetória literária chamada vida.

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ nasceu em Aracataca, Colômbia em 1928. Recebeu em 1982 o prêmio Nobel da Literatura e é um dos grandes representantes do realismo maravilhoso.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

O Urubu e a Carniça


Ah! Um urubu
também pousou na minha sorte!
Tinha pouco mais
de quinze anos de idade.

Contra todos os pensamentos,
Infortúnios e maus palavreados
Que sobre ele lançava,
Ele se mantinha firme, forte:
Peito ereto, asas abertas
Ameaçava atacar!
Resignado, passei a aceitá-lo
Como uma odiosa estimação.

Alimentava-o com as sobras
Das piores lembranças,
Detritos remoídos
Das mais dolorosas recordações,
E nos momentos de solidão profunda
Quem eu encontrava?

Tornou-se impiedoso.
Não contente com as reminiscências
Que ora ou outra eu o alimentava
Passou a me cutucar/provocar:
remexeu cicatrizes,
abriu baús de sofrimentos
E onde preferia esquecimento
Ergueu feridas
Transformando em chagas,
Carne aberta,
pústulas apodrecidas!

Hoje não mais o controlo
E não apenas de minha sorte
O urubu tomou parte
Quer se apoderar dos meus sonhos,
Minhas horas de sossego,
Meu trabalho e o meu corpo.

Já tão breve não espera
A hora de transformá-lo
Em carniça!


(rodrigo ciríaco)

Para Leitores(as) e Escritores(as) - 2º texto

ENSINO DA POESIA

Affonso Romano de Sant’Anna

A PUC de Belo Horizonte convidou sete escritores (Luiz Vilela, Sérgio Santana, Marina Colasanti, Antonio Cicero, Humberto Werneck, Miguel Sanchez Neto e a mim) para darmos uma “oficina de literatura” durante todo o ano de 2003. Os alunos podem optar e articular os módulos das “oficinas” de acordo com sua conveniência.
Quando se fala numa iniciativa como essa, a aprimeira pergunta que surge é: -Mas pode-se ensinar alguém a ser escritor? Resposta: pode-se ensinar uma série de técnicas, pode-se passar uma série de vivências, pode-se desenvolver o talento. Quanto ao mais, depende de cada um. Depende não só do talento inato, mas da perseverança e da neurose destrutiva ou construtiva de cada um.
No caso da poesia, a questão é ainda mais singular. Embora todos digam “minha vida daria um romance”, pouquíssimos se lançam à aventura de escrever um romance. Mas baseadas no ditado –“ de poeta e louco todos nós temos um pouco”, as pessoas num determinado momento, sobretudo na juventude, devem ter composto um poema qualquer.
Nada contra quem faça seus poemas para uso familiar, publicitário ou para se expressar. Contudo, quanto a se assumir como poeta, são necessários alguns cuidados e providências. A primeira é não apenas começar a ler bons poetas, mas inteirar-se que existe um sistema literário, com regras e leis, as quais temos que conhecer, nem que seja para contestá-las. Assim é imprescindível saber como funciona o sistema de produção( edição, divulgação, direitos, políticas literárias, agente literário, prêmios, etc.) e ler livros que, expondo a experiência de autores, mapeiem o processo de criação.
No caso da poesia, para começar, dois livros de Ezra Pound-“ABC da literatura” e “A arte da poesia”. É autor didático e polêmico. Pode-se depois discordar dele em algumas coisas, como o fiz no ensaio “O que fazer de Ezra Pound?” . Mas há que atravessá-lo primeiro. Leia também “Como fazer versos”, de Maiakovsky. Embora ele tivesse que dar satisfações politicas aos dirigentes da revolução comunista de 1917, há experiências pessoais interessantes. O compêndio “Vanguarda européia e modernismo brasileiros” orgnizado por Gilberto Mendonça Telles é fundamental para que se tome conhecimento dos manifestos literários nos últimos cento e poucos anos.é imprescendível sabe o que cada escola, época ou geração definia, como sendo poesia. O ensaio de Edgar Allan Poe “Filosofia da composição” é importante para se ver como o autor explica racionalmente a elaboração de seu famoso poema “O corvo”. Uma edição recente desse texto e do poema, com diversas traduções do mesmo, organizada por Ivo Barroso, retoma uma experiência que fizemos na revista “Poesia sempre”. Ver como poetas traduzem diferentemente um poema, é uma aula de poesia.
Algumas leituras iniciáticas são ainda necessárias: de Octávio Paz- “O arco e a lira” e “Signos em rotação”. O poeta mexicano reinstala a poesia na história da cultura. Ler “Homo Ludens” de Huizinga, especialmente os capítulos “O jogo e a poesia” e “A função da forma poética”. Procure os ensaios de T. S. Eliot, poeta que soube articular a tradição e a inovação. Evidentemente que sempre se lerá “Cartas a um jovem poeta” de Rilke, mas as cartas de Mário de Andrade, em geral, sobretudo as escritas a Fernando Sabino, “Cartas a um jovem escritor” são importantes. E nunca esquecer do despretencioso “Itinerário de Pasargada”, onde Manuel Bandeira faz algumas revelações sobre seu “métier” de poeta. E se quer saber de certos recursos e segredos estilísticos de Drummond, Cabral e outros, leia “Esfinge clara e outros enigmas” onde Othon M. Garcia exibe o que é uma análise estilística e temática. Colocaria aí até o “Pequeno dicionário de arte poética” de Geir Campos, uma maneira leve de tomar contato com técnicas intemporais. Lembro-me sempre de Manuel Bandeira me indagando quando, adolescente o fui visitar, se já havia feito algum soneto na vida. Era uma maneira de saber se a pessoa estava inteirada da tradição e de certas questões de técnica do verso.
Diria que isto é uma pequeníssima cesta básica. Para começar. Não se deve confundir oficina literária com curso de teoria. Evidente que o aprendizado é interminável. Ainda agora estava relendo “The life of the poet” do ensaista americano Lawrence Lipkling, que desenvolve a tese que os poetas sempre retomam ou contestam o projeto de outros poetas num processo edipiano de negação e auto-afirmação. Goethe rejeita Virgílio, Whitman rejeita Goethe e Virgílio, Mallarmé reverencia Poe, etc. A história da poesia é um tocante e tenso diálogo entre poetas de épocas diversas além de um mágico diálogo com o público. Por isto é necessário assenhorar-se do que já foi feito.
E nisto há um mistério. Mistério que Rubem Braga muito bem surpreendeu na crônica “O mistério da poesia”. Dizia que não sabia porque tinham ficado na sua cabeça, os versos de um poeta, que ele julgava ser boliviano, mas, na verdade, era o colombiano Aurélio Arturo . Volta e meia, quando estava aborrecido ou viajando, surgia esse murmúrio dentro dele:“Trabajar era bueno en el Sur. Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos”. E ele pôs-se a indagar qual o mistério dessas palavras tão simples que o alimentavam. Experimentou invertê-las, mudar o tempo verbal, tirar uma botar outra, mas nenhuma forma lhe pareceu tão tocante quanto essa. E anotou: “talvez o que impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia”.
E terminando ele a sua crônica e eu a minha, uso as palavras do cronista-poeta, que me dispensam de certos comentários: “Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas…”

E-mail para essa coluna: santanna@novanet.com.br

sábado, janeiro 20, 2007

Quem não luta...



... tá Morto!

Dia de Luta do Povo da Rua

O Centro de São Paulo ontem parou com o Ato organizado pelo Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). O protesto é contra a sistemática repressão policial registradas tanto pela PM (Polícia Militar) quanto - e principalmente - a GCM (Guarda Civil Metropolitana) contra a população pobre e/ou em situação de vulnerabilidade social.

O Ato iniciou no ato Páteo do Colégio, com a leitura de uma Carta Aberta redigida pelo Movimento e com o apoio de vários outras movimentos e entidades: movimentos de moradia, catadores, ambulantes, mulheres marginalizadas, direitos humanos, etc; além do registro público de várias violações.

Abaixo, algumas fotos registradas no Ato. Outras informações, acessem os links.

Rodrigo Ciríaco

Concentração em frente ao Páteo do Colégio: registro de denúncias

Cabelereiro impedido de trabalhar: apreensão de material de trabalho e multa de (aproximadamente) R$ 160,00. Prefeitura: "Ele não paga imposto!"

É de pequeno que se começa na luta.

MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis

Lembrete

GCM, em frente à Prefeitura ouvindo(?) as denúncias. É, eu também acredito em Papai Noel

Capoeiristas dão show no Centro

outras informações, acesse:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/01/371147.shtml - fotos 01
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/01/371164.shtml - fotos 02
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/01/371180.shtml - fotos 03

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/01/370970.shtml - Carta Aberta

http://apocalipsemotorizado.blogspot.com/

quinta-feira, janeiro 18, 2007

COOPERIFA - 1º Sarau do Ano

O que foi aquilo ontem? Não sei. Foi um barato lôco, emocionante. Eu não consigo encontrar palavras pra traduzir. Foi como caminhar lado a lado com mais de 200 mil pessoas no Fórum Social Mundial/2005. Ou na Marcha da Consciência Negra, 2006: outras 20 mil pessoas. Sem brigas, sem tretas. Só conversa, diálogo, alegria. Foi como a primeira vez que subi em um palco, ou quando vi o meu nome na lista do vestibular. Enfim, vou parar porque não consigo decifrar, traduzir.

Sabe, ver o show do GOG, a poesia de Helber, Kennya, Dinha... Cara, o que é aquele Dugueto Shabazz convocando as pessoas pra Palmares? É tudo único, belo, sincero.

E isso não é (es)história. É real. Tá acontecendo agora jão, tempo presente saca? Toda quarta-feira uma bomba no colo, uma energia, uma emoção diferente. Você pode participar. Você pode fazer parte. É só colar, Bar do Zé Batidão, na humildade. É como o Vaz perguntando ontem: cadê a violência? Cadê? Lá não tinha.

Lá tinha uma periferia ativa, criativa e guerreira, que não aparece sob as manchas de sangue das manchetes dos jornais. E não se trata de "gozolândia" não. É um trabalho de cidadania. Artistístico, Cultural, Social e Cidadão.

É só estando lá amigo. Quem não conhece não sabe o que está perdendo! Talvez, nem vá sentir, não vá fazer a mínima diferença.

Eu sinto muito por vocês. Mesmo.

E a todos que comungaram deste dia de paz, rap e poesia, fraternidade, alimento e preparação para a guerra: obrigado!

Rodrigo Ciríaco

p.s.: abaixo, um recorte do depoimento da Eliane Brum quando recebeu o 2º Prêmio Cooperifa. Ela diz coisas que eu gostaria de ter dito. Bom, ela escreveu um livro que eu gostaria de ter escrito: A vida que ninguém vê. Se você não conhece, não leu, fica a sugestão.

"Pra mim não tem prêmio maior que esse. É uma honra. E essa não é uma palavra vazia. Aqui não é lugar de palavras vazias. É isso que me emociona na Cooperifa. As palavras aqui têm sangue, têm vísceras, têm espinha. São palavras que não se dobram. Como vocês. Como nós. Eu acho que é isso que mais me honra nesse prêmio. Ser não mais uma estrangeira, ser também periferia. Porque para além da geografia, para além de todos os muros que nos separam, a poesia - e principalmente a palavra - nos une no sonho de mudar o mundo."

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Perante a Esfinge

O que fazer quando as palavras não bastam,
e tudo o que temos é a somatória de promessas
e discursos vazios?
Quando o desespero toma conta do corpo
atingindo o sangue
como o sangue que a parede tingiu,
deixando ao lado apenas o corpo
massa desfalecida do que antes era chamado
Vida.

O que fazer?

Profano, me indago:
seriam os deuses
tão corruptos quantos os homens
feitos a sua imagem e semelhança
para que o pêndulo do destino
seja sempre favorecido
àqueles considerados mais fortes, mais cultos,
aos homens proprietariamente mais ricos?
Ou isto não seria um assunto
dos deuses?

Cansado eu estou,
com as guerras e trincheiras
estabelecidas no mundo
que derrubou o muro
mas ergue cercas eletrificadas
na Palestina ou no México,
nos condomínios ou Fortes Armados
da minha cidade.

Cansado eu estou,
com a fome e a violência,
que vitimiza o estômago de meus irmãos nordestinos,
na Periferia ou no Sertão,
ou além do Atlântico, os Africanos,
preenchidos apenas pela terra
e órfã madeira apelidada de caixão.

Cansado eu estou,
com a desigualdade,
tida como natural no mundo de posses,
propagandeando maravilhas da modernização,
alimentam os sonhos dos pobres
e aos ricos garantem
o status quo da situação.

Cansado eu estou,
com esta indiferença
chamada de Paz.

Cansados, muitos estamos.
Por isso me pergunto:
O que estamos dispostos a fazer
para mudar tudo isto?


(rodrigo ciríaco)

+ críticas à polícia

O Estado de São Paulo - 12/01/2007
ONU critica polícia de São Paulo
Organização cita o PCC e afirma que policiais são corruptos, torturam e executam criminosos

Anne Warth

O relatório anual de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado ontem, faz duras críticas à área de segurança no Brasil, principalmente a de São Paulo. O documento classifica a polícia brasileira de 'freqüentemente corrupta e abusiva', ressalta que os direitos humanos continuam a ser violados e conclui que 2006, no Brasil, ficou marcado pelos confrontos entre policiais e integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e as rebeliões em massa nas penitenciárias, 'que culminaram com a morte de centenas de detentos'.Apesar de citar a violência policial no Rio de Janeiro, o destaque do relatório é o Estado de São Paulo, especialmente o episódio dos ataques do PCC ocorridos em maio. 'A polícia respondeu aos ataques de forma agressiva e, em alguns casos, com uso excessivo da força', destaca o relatório.Ao citar as mortes ocorridas nos dias dos atentados do PCC, o relatório das Nações Unidas ressalta que 'investigações preliminares de um comitê independente' revelam que muitas das mortes foram 'execuções extrajudiciais'. Estimativas oficiais apontam que cerca de cem civis e 40 agentes de segurança foram assassinados no período, de acordo com o relatório.No item Tortura, outra vez a polícia brasileira é alvo de críticas da ONU. 'Relatórios apontam que policiais e agentes penitenciários torturam pessoas sob sua custódia como forma de punição, intimidação e extorsão. A polícia usa a tortura como meio de obter informações ou confissões forçadas de suspeitos de terem cometido crimes.'A superlotação das prisões brasileiras também é destacada no relatório. Segundo a ONU, o sistema penitenciário brasileiro mantém 371.482 detidos, mas possui capacidade para 150 mil. A rebelião ocorrida em junho do ano passado em Araraquara, quando 1,5 mil presos foram mantidos em um pátio com capacidade para apenas 160, a céu aberto, por três semanas, é citada como um dos exemplos de violação de direitos humanos no Brasil. 'Os detentos foram forçados a permanecer no local sem roupas. Embora alguns prisioneiros sofressem de doenças como tuberculose, HIV e diabetes, eles tiveram negado o acesso a assistência médica.'A Febem (hoje Fundação Casa, que abriga jovens infratores), também não foi esquecida pelo relatório. Segundo a ONU, ao menos 28 adolescentes foram mortos nos centros de detenção juvenil do Estado nos últimos três anos. 'Em maio de 2006, um adolescente foi morto com golpes de estilete na Unidade 12 da Febem', relembra a ONU. A Fundação Casa contesta os dados do relatório e informa que houve 27 mortes de internos nos últimos cinco anos.As ameaças aos defensores dos direitos humanos e a impunidade policial são outros problemas brasileiros que receberam menção especial no relatório. A absolvição do coronel da reserva da Polícia Militar Ubiratan Guimarães (morto em setembro passado) é lembrada como um exemplo de impunidade no Brasil. O relatório conta que Ubiratan havia sido condenado a 632 anos de prisão por comandar o massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram assassinados pela polícia paulista.'O Tribunal de Justiça de São Paulo anulou a decisão com base no argumento de que o coronel havia atuado de acordo com o estrito cumprimento do dever legal ao chefiar a invasão do centro de detenção para se conter uma rebelião. Até o momento, nenhum outro policial foi julgado', informa a ONU.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Panelaço contra a Violência Policial


Ato contra a
VIOLÊNCIA POLICIAL
Dia: 19 de Janeiro - Sexta-feira
Local: Páteo do Colégio
Horário: 13:00hs


Realização: MNPR -
Movimento Nacional de Luta em Defesa dos
Direitos da População de Rua

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Como a saudade dói!


Tô louco para voltar a trabalhar.
Não aguento mais estas férias compulsórias.
Quero a minha sala de aula,
meus alunos e alunas.
Tá chegando...

Serviço de Utilidade Pública 2 - Para Cidadãs e Cidadãos

Dica para quem já tomou ou sabe que vai tomar uma "Geral"





(clique sobre as imagens para ampliá-las)

A informação é uma arma ("Gambé forgado perguntou se eu era Advogado/Eu exigi respeito, meus direitos no enquadro" - Dugueto Shabazz)! E esta, tanto quanto a palavra, precisa ser extremamente utilizada e divulgada.

Pensando nisso, o CDHS - Centro de Direitos Humanos de Sapopemba fez uma excelente prestação de serviço público: elaborou uma pequena cartilha, simples, didática sobre o que pode ou não fazer as autoridades policiais durante uma Abordagem Policial.

É claro que sabemos quando os nossos direitos são violados, o que pode ou não ser feito durante uma abordagem, quando há "abuso de autoridade", mas a cartilha deixa mais claro quais violações são cometidas e sugere como podemos nos defender.

Para quem quiser baixá-la na Internet, segue o link abaixo:


ou você pode tentar conseguir uma cartilha - como a minha - direto no CDHS: cdhs@terra.com.br

Divulguem!

Serviço de Utilidade Pública 1 - Para Leitores(as) e Escritores(as)

Car@s,

Por estes dias, mantive contato com o poeta Affonso Romano de Sant´Anna (http://www.palavrarte.com/Equipe/equipe_arsantanna.htm) pedindo a sugestão de alguns textos, livros para enriquecer a minha leitura e, quem sabe com isso, melhorar a escrita. Pois bem, o poeta me enviou três Crônicas suas, reunidas no livro "A Cegueira e o Saber", publicado pela Ed. Rocco. Li-as com voracidade e reflexão e posso dizer que são muito importantes para qualquer pessoa que gosta de escrever e possui o desejo contínuo de aprimorar ainda mais o seu talento ou simples vontade de lapidar as palavras.
O Poeta autorizou a publicação destes mesmos textos neste blog então, ao longo desta semana eu colocarei-os aqui para degustação de todos, ok?
Qualquer coisa, escreve aí.
Abraço,

R.C.


"ONDE A PORCA TORCE O RABO

Affonso Romano de Sant’Anna


Às vezes, leitores escrevem a mim e a outros escritores, perguntando se podem enviar (ou já enviando) seus textos. Em geral, repetem algumas coisas, que retratam o desconforto dessa situação. Primeiro, que carecem da opinião de alguém mais experimentado, que lhes oriente e, em muitos casos, querem saber se devem ou não continuar a escrever.
Nem sempre são jovens, mas pessoas maduras em quem, de repente, a literatura (ou a liberdade de expressão?) aflorou. Faço o possível para responder. Às vezes sugiro a leitura de vários livros, muitos citados em “A sedução da palavra”(Ed. Letraviva), que tem o propósito expresso de orientar iniciantes e repassar experiências literárias. O ideal é que houvesse uma “clínica de textos”, que acolhesse essa demanda profissionalmente, porque nenhum escritor tem disponibilidade para esse árduo e delicadíssimo trabalho. Seria um trabalho de consultoria, como qualquer outro, com hora marcada, tabela de preço, para dar logo mais seriedade à atividade.
Alguns pedem logo uma orelha ou prefácio, caso o livro seja do agrado. Isto também é complicado. O solicitante tem a ilusão que uma apresentação vai lhe abrir as portas. Não vai. Só vai se o livro for bom mesmo. Neste caso nem precisa de orelha ou prefácio para se impor. Claro, há autores que elogiam todo e qualquer livro, por generosidade ou por não quererem magoar as pessoas.
Quando o autor pergunta se deve continuar ou não a escrever, digo que esta é uma questão que ele, e não outros, deve responder. Dá vontade de lembrar aquele conselho de Rilke ao jovem poeta, que se escrever não for uma necessidade vital, então é mesmo melhor parar e ir cantar noutra freguesia.

Às vezes, os que pedem tal opinião estão num estágio pré-literário.Escrevem só de ouvido.Repetem lugares comuns. Não sabem nem o que é lugar comum ou como lidar com ele. Não estão a par da história literária, dos movimentos que se sucederam, dos diferentes estilos e técnicas. Não são nem sequer leitores, bons leitores, aqueles que convivem e assimilam os grandes e pequenos autores. Pensam que escrevem, mas estão sendo escritos por uma linguagem que já existe. Desconhecem que o escritor é aquele que ocupa um lugar na linguagem. O texto está entre o prosaico de certas letras banais de música e simples(ainda que legítimas) anotações emocionais. Nesses casos não há muito ou nada que fazer. (O mesmo se dá com quem resolve pintar, fazer teatro, música ou o que seja de artístico, movido por impulsos superficiais e descomprometidos).
Mas o caso mais difícil é daqueles que têm realmente talento e já se expressam de uma maneira mais madura e pessoal. Não vamos encontrar em seus trabalhos falhas primárias. Já têm leitura. Conhecem alguns clássicos de ontem e de hoje. Não são incautos. Estão numa situação que é grave e delicada, estão na borda de alguma coisa que pode, ou não, acontecer. Ou seja, podem ou não virar socialmente artistas.
E é aqui que a porca torce o rabo.
Tirando de lado as pessoas que realmente não têm talento, há outras que são capazes de produzir uma pintura ou escultura correta, até com certa inventividade. Pessoas que são capazes de produzir um ou mais contos interessantes, mesmo um romance. Pessoas que podem produzir uma ou outra música que nos diz alguma coisa. E assim por diante, uma peça de teatro ou, cinematograficamente, um curta ou longa. Pessoas, enfim, que podem produzir alguns bons poemas.

Até diria que uma coisa é estar artista e outra é ser artista. Pode uma pessoa numa determinada circunstância ou período de sua vida, eventualmente, estar em condições tais que suas emoções se precipitem em determinadas formas de expressão. É como se tivesse se conectado com forças e energias que a ultrapassam e a resgatam.

Mas uma coisa é a capacidade de fazer algo razoavelmente bem feito num determinado instante. Outra é comprometer-se com um projeto onde vida-e-obra se confundem. É como se tivéssemos achado umas pepitas de ouro na superfície de um terreno. Mas a riqueza está no fundo e exige paciência, técnica e aprofundamento. E é aqui que muitos embatucam, porque achavam que bastava balançar a árvore dourada e os frutos cairiam aos seus pés de Midas.
Ao contrário, daqui para frente é que o desafio vai começar. Agora é que há que atravessar o deserto por quarenta anos e cultivá-lo “como um pomar às avessas”. É como se alguém tivesse as ferramentas, alguns tijolos e pedras: resta uma construção por fazer. Cadê o projeto? E a construção é aquilo que se constrói enquanto se constrói. Sendo a obra de arte, segundo Joyce, uma obra-em-progresso, como diria o nosso Rosa, é travessia.
Por isto, as pessoas que têm alguns dos atributos necessários para se tornarem artistas, num determinado instante encontram-se naquela situação que a antropologia chama de situações limites. Há um ritual a cumprir para se passar de um estágio a outro. Ultrapassar essa linha divisória entre o amadorismo e o profissionalismo, entre o episódico e o sistemático, entre o aleatório e um projeto estético-existencial, eis o desafio. E nisto, de novo, há uma pesada solidão. Solidão dificil de ser compartilhada. Tenho dito a algumas dessas pessoas que surpreendi na soleira desse rito de iniciação: agora depende de você. De você e de uma série de fatores aleatórios. Pois assim como o criador tem que cavar no escuro de si mesmo a sua pretensa riqueza, entrar no sistema literário e artístico é entrar numa selva escura. Talentos podem se perder, ou terem seu percurso mutilado, enquanto outros são espantosamente superestimados.

O artista autêntico, no entanto, tem a coragem e a audácia de abrir e povoar uma clareira ou receber esse raio na cara, não apenas eventualmente, mas a todo instante. Mas isto é altamente perigoso. Diante dessa situação, alguns entram em pânico e se demitem. Abrir-se à arte é dar um salto mortal no escuro, para que todos vejam.

E -mail para esta coluna: santanna@novanet.com.br"



E para quem quiser saber mais sobre o Affonso Romano de Sant'Anna, não deixe de ler a sua Poesia Reunida, volumes 01 e 02 publicado pela L&PM Pockets.

domingo, janeiro 14, 2007

Sonho Possível!


foto: Fernando Evangelista
FSM - Fórum Social Mundial 2005

Algumas questões?

Intervalo Doloroso

É um livro de Fernando Pessoa? Ou a angústia entre o acidente e o atendimento? É quando a palavra insiste em não escorrer da caneta? Ou seria a pausa no meio da rua para se escrever um poema? Dentro de um ônibus, entre uma sala e outra, uma escola e outra? Parando num posto, dentro do carro? É a mãe que aguarda a noite o filho sem o telefonema? Ou o viciado entre um gole e outro? Um tapa e outro? Um tiro no outro? É a espera entre a coxia e o palco? Ou a semana inteira sem ensaio? É uma reflexão? Um desabafo? Um grito mudo que não se permite calado? É uma certeza ou uma dúvida? Uma angústia ou uma dádiva? Resposta ou pergunta? Cremado ou Enterra? É um braço estendido ou um tapa na cara? Fome zero ou Direito? Artigo Constitucional número 06? Invasão ou Ocupação? Direito Social ou Propriedade? É acordar no meio da noite para escrever este texto? Sonho ou Pesadelo? Loucura ou Ansiedade? O beijo amigo? A véspera do escarro? Seu não telefonema? Sua não visita? É aguardar o próximo disco dos Racionais? Um bom lugar? A liberdade de Dexter? São os anos de cadeia? Soro positivo e a espera? Da cura? Da Morte? Da espera? É transar com ou sem camisinha? É viver sem os avós? Perder pai? Perder mãe? Estar de passeio, não de passagem? Dizer ou Calar? É aguardar uma oportunidade? 06 meses na busca de um emprego? 51 dias como técnico bancário? É o livro? Aguardar um filho? É quando a pessoa amada vai embora? É o Adeus? A criança sem escola? O poeta sem a caneta? Edílson sem a bola? Roberto Carlos sem a... como chama mesmo? É o meu pensar sobre deus? Ou além Dele? É um livro de Alberto Caeiro? São os poemas de Bertolt Brecht? Carlos Drummond ou Affonso Romano Sant´Anna? Marcelino Freire? É ver o corpo boiando no asfalto? O sofrimento de Antonio? Viver sem Helber, Seu Lourival, Rose, Dinho Love, Binho, Kennya, Dugueto, Allan da Rosa, Silvio Diogo, Dinha, Robson Canto, Neide, Sérgio Vaz, Jairo, Cocão, Sacola, Alessandro Buzo? É esperar toda quarta a Cooperifa? São os dias sem a comida da mainha? Rua ou Albergue? Luta ou a falta? Tinta ou rastros de sangue? É um desejo suicida? A espera da Revolução? Evoluir? É a ausência de Che? Paulo Freire? Olga? Marighela? Renato Russo ou Cazuza? Os meus Amigos? São as minhas férias? O meu dia sem aula? Sem Aluno? É não conhecer Clarice? Estado de Graça? O ovo e a Galinha? Sartre ou Nieztche? Tudo ou Nada? Céu ou Inferno? É Aqui? Uma certeza ou a Espera? Amor ou Vida?

Decifra-me ou te devoro?

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Timelo(s)

Boca do Leão. Ao redor da pequena fogueira-churrasqueira improvisada, formada por tijolos de barro e alimentada por folhas de jornal, madeira e qualquer outra coisa que servisse de combustão, jogávamos conversa fora e batatas ardentes adentro, até as primeiras horas da madrugada.
O papo podia ser qualquer coisa. Éramos adolescentes, entre 12 e 17 anos e assunto não faltava. De mulheres a carros, pipas e futebol. Brigas ou bicicletas.
- Bater em bêbado ou mendigo não vale! Lembrava o Japa, sempre bom de briga. “É como meu pai sempre fala, cê qué se homi tem que sair na mão. Nada de pau, ferro ou puxa cabelo. Isso é coisa de menina. Agora, bater em bêbado ou mendigo também não vale.” E era quase como uma regra. Volta e meia no bar que tinha lá próximo, se tinha alguém “bom” que se atravesse a bater em bêbado, alguém interfiria.
Mas eu lembro de já ter visto meu irmão dar uns peteleco num cara chapado que bebeu e não quis pagar a conta no bar lá do meu pai!
Lembro também do Timelo. Timelo foi uma figura, que se não fosse real poderia ser lendária, lá das quebradas da Vila Rui Barbosa, perto do Tiquatira, Zona Leste.
O cara era um andarilho. Um mendigo, como insistimos em dizer hoje em dia. Não sabia onde vivia, não sabia onde dormia. Nunca o vi pedindo nada, mas as pessoas davam. Roupa, sapato, comida. Sempre puxava um saco de papelão, uma sacola de plástico. O cabelo um pouco cumprido, sempre desgrenhado. Suuuujo! O coitado pouco tomava banho. Também pudera. Ninguém conhecia sua família, sua história, sua casa. Acho que não tinha uma.
Era bode expiatório da Vila. Volta e meia alguém estava de saco cheio, cadê o Timelo? Era zuado! E não falava nada. Não respondia, não devolvia. Nunca. A nada.
Um dia eu e o Idalho, moleques que éramos, resolvemos aprontar. Dias antes já tínhamos colocado um morteiro numa caixa de correio e... Nem deu tempo de ouvir o barulho do estouro. Saímos correndo! Porém, dentro do nosso plano infalível havíamos nos esquecido de pensar para onde correr, onde se esconder? Demoramos tanto que o dono da casa nos achou. Soube de supetão que fora nós, os artistas de tão estimada obra, pela nossa cara de apavorado. Nos levou de volta até a sua casa, para mostrar o que acontecera: um belo buraco! A caixa de correio foi parar em baixo do seu Jipe. Deu uma puta duma bronca, mas não chamou nossos pais, nem a polícia – freqüentemente alguns vizinhos diziam que iam nos mandar pra Febem, sempre que jogávamos bola na rua e esta invadia as suas casas ou batia nos carros.
Neste dia, o alvo era o Timelo. Estava perto de um terreno baldio, próximo a nossa casa. Ficamos chamando ele, zuando, xingando. Nada! Nem um olhar. Estávamos tomando um sorvete e, entre uma lambida e outra: - Oh Timelo, oh fedido, olha pra cá. Vai sujeira. Raspa de bosta de cavalo. Oh Sarna!
Éramos cruéis. Crianças, infantis, inconseqüentes e... cruéis.
Até que o Idalho teve uma idéia! Perto de nós tinha uma pilha. Pilha de rádio, controle, jogada no chão. Resolveu jogar no Timelo, pra chamar a sua atenção. O alvo foi certeiro: acertou-lhe a cabeça!
Pela primeira vez em minha vida eu VI o Timelo! Sabe, olhar de verdade. Ele ameaçava esboçar uma reação. Olhou pra nós com um olhar fulminante. Nos assustou! De repente, resolvera vir em nossa direção. Começou a correr...
Eu e Idalho não acreditávamos naquela cena. Não sabia o que era algo surreal mas, era aquilo. Aquilo não estava acontecendo.
Depois de um tranco, eu e ele começamos a correr. Correr, correr, correr. Atravessamos a Rua Paulo Primo Bertoco em menos de 10 segundos, em 04 subimos a Boca do Leão e em 08 cruzamos a Rua Haia inteira, completando quase que a volta no quarteirão. Chegáramos a Rua Quárunas, rua que eu morava e era quase que de esquina a casa do Idalho. Olhares atentos. Procurávamos o Timelo. Olhávamos pra trás, pros lados. Até pra cima! – ora, podia estar vindo pelo telhado! Nada. Estávamos aliviados.
De repente, lembramos do sorvete. Era uma super bola, desses sorvetes de máquinas (aquelas antigas) sabor morango, com uma casquinha maravilhosa. E, cadê o sorvete? Na corrida, sobrara só a casca. E quebrada! De tão apavorados que estávamos, o sorvete caiu ou escorreu pelas nossas mãos, pois estavam meladas. Não sobrara nada. Só a casca quebrada.
Mas, havíamos sobrevivido.
Poxa, isso já faz um catorze anos...
Hoje a Boca do Leão continua lá. Na planta da SubPenha diz que é uma praça. Na verdade é um morro, todo cheio de mato, com algumas casas em volta. A molecada se diverte soltando pipa ou descendo o morro, com a bunda sobre a madeira lisa que hora e outra pode ser encontrada por lá. O Timelo nunca mais vi!
Mas ainda encontro muitos outros “Timelos”, espalhados por aí. Não é difícil encontrar. Em São Paulo, uma pesquisa comprova que tem mais ou menos 12.000 pessoas em situação de rua, só na cidade.
As brincadeiras, verdadeiras maldades contra estas pessoas continuam. E não são só feitas mais por crianças. Há muita maldade no coração das pessoas, e muita gente ignorando o que está acontecendo.
Ontem mesmo mais uma pessoa em situação de rua foi queimada na cidade. Em Itaim Paulista, Zona Leste. Minha Zona Leste, tão querida, que sempre foi berço de muitos migrantes – incluindo meus pais – que chegavam na capital de São Paulo. E o pior é que não é só lá não. De Leste à Oeste, de Norte a Sul, no Centro, a violência contra a população de rua não pára. Eu sei, eu sei, mas violência acontece em qualquer lugar! Concordo. A violência urbana é um dos grandes problemas das grandes cidades. Mas tem algo novo na parada. Tão matando pessoas em situação de rua adoidado.
Ora aparece um queimado, ora outro que foi espancado. A cabeça parece ser o alvo preferido, seja para uma tijolada ou uma porrada, com pau ou cano de ferro. Morador de rua sempre morreu, envenenado ou de frio principalmente mas, desde a Chacina de Agosto de 2004, a Mídia – finalmente, bom ou não – está mostrando mais estas mortes. E como ela está se tornando cada vez mais constante, com métodos ardilosos e cruéis. As pessoas são descartáveis! E, já não bastava o sofrimento por sua condição, ignorada pelo Poder Público e por grande parte da sociedade agora estão morrendo... Eu iria dizer violentamente morrendo mas, a morte por veneno ou frio também é violenta. Enfim, estão morrendo com uma maior agressividade. E a tristeza de tudo isso é que sim, poderia ser evitado. Sim, estas mortes poderiam ser interrompidas. Como o sofrimento de meu povo periférico e tantas mães que choram por seus filhos e filhas poderiam ser interrompidas.
Há quem chore pelas pessoas em situação de Rua?
Infelizmente, duvido.
Hoje fico triste pelas maldades que fiz ao Timelo. Mas, fico mais triste ainda por saber que as “brincadeiras” de criança agora pioraram e são feitas por adultos, pessoas más que insistem em cometer maldades e não assumir responsabilidades. E não crescer. Humanamente crescer.


Rodrigo Ciríaco

Indignação

11/01/2007 - 13h43
Morador de rua morre queimado na zona leste de São Paulo
da Folha Online

Um morador de rua morreu na madrugada desta quinta-feira depois de ser queimado sob um viaduto no Itaim Paulista (zona leste de São Paulo). Ele não foi identificado.A Polícia Militar foi acionada por volta da 0h15. A informação apontava um caso de agressão na rua Domingos Fernandes Nobre.Os policiais encontraram a vítima já sem vida, com marcas de agressões e queimaduras por quase todo o corpo.De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 63º Distrito Policial (Vila Jacuí), alguns moradores de rua viram o homem em chamas. Segundo o relato, eles observaram de longe o que seria uma fogueira. Ao se aproximarem, encontraram a vítima.O DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa) investigará o caso, de acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública).

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u130368.shtml

Revolta

11 de janeiro de 2007 - 16:42
Nova Praça da República terá bancos à prova de mendigo
A principal mudança na praça, que será reinaugurada no dia 25, será a troca dos assentos, chamados de ´apoios glúteos´, onde só dá para encostar
Thalita Pires

SÃO PAULO - Uma praça sem banco. Assim será a Praça da República depois da reinauguração, no dia 25 de janeiro. No lugar deles, serão instaladas estruturas metálicas chamadas ´apoios glúteos´. A mesma iniciativa foi tomada na Praça Dom José Gaspar, para evitar que moradores de rua durmam no local.
Outra novidade será implantada em regime de teste. As grades que cercavam a praça serão retiradas. "Vamos esperar para ver o resultado. Se houver degradação, fechamos de novo", disse Andrea Matarazzo, subprefeito da Sé. A iluminação também foi reformulada. Além dos antigos postes de 10 metros, foram instalados outros de cinco metros de altura. Esse tipo de equipamento aumenta a iluminação local.
Todas as mudanças para melhoria da segurança, como rebaixamento do piso e das muretas, serão complementadas com rondas da Guarda Civil Metropolitana. "A vigilância será mais freqüente do que antes", garantiu Matarazzo.
As obras de revitalização das praças da República e da Sé foram aceleradas esta semana para ficarem prontas até o aniversário da Cidade. "Queremos dar esse presente para São Paulo", afirmou Matarazzo. Os trabalhos estão atrasados por causa das chuvas. "A impermeabilização não pode ser feita em dezembro por causa da umidade."
Apesar de faltarem apenas 10 dias para a inauguração, Sé e República ainda parecem canteiros de obras. Para dar conta do trabalho que falta, o número de funcionários nas obras aumentou cerca de 30%. Se for necessário, outros trabalhadores podem ser deslocados para os dois locais.

http://www.estadao.com.br/ultimas/cidades/noticias/2007/jan/11/227.htm

LUTO e Tristeza

do sítio da Caros Amigos: http://carosamigos.terra.com.br/

Morre Leo Gilson Ribeiro

Faleceu na tarde do dia 11 de janeiro, aos 77 anos, o jornalista e crítico literário e teatral Leo Gilson Ribeiro, editor da seção Janelas Abertas de Caros Amigos. Tendo sido alto executivo da Olivetti, Leo Gilson, nos anos 1960 optou por ser crítico literário na imprensa, tendo passado pelo Jornal da Tarde, muito influente na época, e pelas revistas Realidade e Veja. Era doutor em literatura pelas universidades de Hamburgo e Heidelberg e amigo pessoal do escritor Guimarães Rosa e da poeta Hilda Hilst; com toda essa bagagem, tornou-se um dos críticos literários mais influentes e mais respeitados do país. Foi premiado com o Jabuti em 1968 e com o Esso (de reportagem) em 1969.

Durante toda a sua vida Leo Gilson foi um batalhador pela cultura das letras no Brasil. Atacava ferinamente as traduções malfeitas, as edições improvisadas – procurava impor o respeito ao leitor. Combateu incansavelmente a incultura nacional, procurando difundir a boa literatura por todos os meios a seu alcance. Profundo conhecedor da literatura universal, não se conformava com o fato de os brasileiros não terem maior consideração pela sua própria leitura; achava, por exemplo, perfeitamente cabível que o poeta Carlos Drummond de Andrade fosse considerado como sendo de estatura mundial e merecedor do Nobel. Além dos muitos ensaios publicados, escreveu livros de crítica literária entre os quais se destacam “Cronistas do Absurdo” (ed. José Álvaro, 1964) e “O Continente Submerso” (Editora Best-Seller,1988). No teatro escreveu a peça “Balada de Manhattan” que recebeu o Prêmio Governador do Estado em 1971 e traduziu textos de Tennessee Williams e Steven Berkoff.

Politicamente, Leo Gilson era acima de tudo um defensor da liberdade, e se opôs, por exemplo, ao regime soviético, por sua censura aos escritores, e, ao regime cubano, além disso, pela homofobia de seus dirigentes principais. Mas também compartilhava dos sofrimentos da grande maioria da população brasileira e mundial, e, levado por sua conversão ao budismo, lutava também incansavelmente pela melhoria das condições de vida dos povos, pela paz e pela solidariedade internacional.

O sepultamento se dará no dia 12, após velório, no Mausoléu dos Jornalistas, no Cemitério São Paulo, em horário ainda a ser estabelecido. As informações sobre os horários, do velório e do sepultamento, serão dadas pelos telefones (11) 3819 0130 (Revista Caros Amigos) e (11) 3032 5986 (Cemitério São Paulo).