quarta-feira, novembro 25, 2015

QUANDO AS MÁSCARAS CAEM

Sempre tive problemas na escola. Principalmente quando me tornei educador. E meu problema maior não eram com os alunos. Mas com alguns ditos "professores e professoras" que não faziam valer o salário e o título que recebiam.

Sala dos professores sempre foi um ambiente muito complicado para mim, muitas vezes. Nunca gostei do "shopping", nunca gostei do ambiente de conchavos e fofocas que muitas vezes se instalava; nunca aceitei que o principal problema da educação, da escola fossem os alunos. Fosse a família, a sociedade. Nunca aceitei que nós não fizéssemos também parte do problema. Nunca passei pano para uma autocrítica, que dirá colocar na roda a "categoria". Nunca aceitei título de santo.

E agora, sinto dizer que tenho vergonha de alguns professores. Que estão no cargo de coordenadores, diretores, dirigentes. E que se colocam contra um movimento estudantil que, legítimo e importante, está fazendo o que nós, professores e professoras, muitas vezes não conseguimos nas últimas duas décadas: expor os absurdos e contradições deste Governo, principalmente na educação. Deveríamos dar as mãos para estes jovens, adolescentes. Assumir as responsabilidades lado a lado. E não - mais uma vez - abaixar a cabeça ao governo e "cumprir às ordens", como se não fosse com a gente. Como se não tivéssemos nada a ver com isso.

O movimento é estudantil. O comando é estudantil. Nosso papel enquanto educadores e educadoras é apoiá-los. Não bater de frente. Não ameaça-los. Não fazer o jogo sujo do governo que está se cagando de medo de ter que voltar atrás em sua decisão arbitrária, autoritária e reconhecer a derrota.

Todo apoio e solidariedade às #ocupações nas escolas.

#EuAcreditoÉNaRapaziadaNaMoçada
#OcupaEscola #NãoReorganização #BoicoteSaresp

sexta-feira, novembro 20, 2015

15 DIAS

15 dias. O que foram os últimos 15 dias? Não sei. Não deu tempo muitas vezes pra pensar. Pra falar. Pra responder. O lance é: você tem um trabalho a fazer. Vá lá e faça. E foi corrido. Foi difícil. Deixei de dormir. Deixei de estar com minha esposa e filha. Deixei de fazer o "fafezinho delícia" pra minha pequena. Mas foi necessário. Foi imprescindível. E deu tudo certo. E o prazer de se colocar uma meta e cumpri-la e atingi-la e ver tudo dar certo é inestimável. Em junho, exonerei, pela segunda vez, meu segundo cargo na rede pública. Não foi renúncia, foi escolha: como seguir caminhando na evolução? Ney Matogrosso canta que "Darcy fugiu do hospital para se tratar". Eu estava saindo da escola para educar. A sala de aula ficou pequena. Meu campo de educação é a escola e o mundão. E que lindo. De junho pra cá, mais de 70 atividades diferentes em escolas, espaços educativos. Entre saraus, palestras, debates, formações. Sem contar o trabalho cotidiano, semanal com os Mesquiteiros. Que segue tinindo. Mas estes 15 dias. Foram os mais difíceis. Feira do Livro em São Miguel: 03 dias, 12, 14 horas de trampo. Na rua, na Biqueira. Pega caixa, leva caixa, monta banca, desmonta banca. Trabalho braçal camara. E da hora. Eu gosto. Depois palestras: Guarapiranga, Interlagos, Centro, Itaim Paulista, Pinheiros. E faz sarau: na Sul, na Leste, no Centro. E roda fácil, brincando: mais de 2.000km em 15 dias. Bem mais. E edita livro: separa texto, faz revisão, manda pra diagramação: e encurta prazo, e estoura prazo, e procura gráfica, e pressiona gráfica, e pede clemência pra gráfica: ajuda. Ajuda veio. Aos 45 do segundo tempo, livro pronto, sim. E faz lançamento, sessão de autógrafos e ops: já estamos na segunda feira. Isso, segunda feira do livro, em menos de 10 dias. Monta caixa, coloca livro, leva nas costas, atravessa cidade, monta banca, monta biqueira. 02 dias, 14 horas de trampo ininterrupto na feira. E faz sarau, e faz palestra. E agita a galera. E presta contas: cara, prazo acabando. Você tem que prestar contas do Proac. "Mas eu tô sem tempo. Daí eu lembro. A noite serve pra quê? Madruga serve pra quê?". Trabalhar. O corpo dolorido, precisando dormir. Mas, bóra trabalhar. Dormir 04 horas na noite, acordar as 04, pra terminar o trampo até as sete. E pega nota, e faz calculo. E separa foto. E imprimi relatório. E confere. Último dia. Nada pode dar errado. E tem ligação. E tem email. E tem zapzap cobrando. E tem o mundão caindo. As crianças revolucionando, levantando, fechando as escolas para construção. E vai dar tempo. Eu consigo. Tô vendo a linha de chegada. Eu sou zica. Eu consigo. Eu consigo. E consegui.

Queria dizer que tô vivo. Feliz. Foi muito trampo, ansiedade, loucura. Insanidade. Em alguns momentos duvidei, jamais parei. E consegui. E a alegria de fazer tudo isso e agora poder baixar um pouco a bola, curtir a família. Não tem preço.

A você que deixei no vácuo, a você que não retornei a mensagem, o email. Foi mal. Não é proposital, não é pessoal. As vezes, algumas coisas passam, não damos conta. Depois que saí da escola, foi muito medo e insegurança das coisas não acontecerem. De não conseguir dar conta. Peguei trabalho demais, trabalho em excesso. Mas trabalho. E que coisa boa é ter trabalho. Principalmente quando você faz aquilo que ama, que escolheu.

Seguimos.

terça-feira, novembro 17, 2015

EU ACREDITO É NA RAPAZIADA. NA MOÇADA. NOS ESTUDANTES

EU ACREDITO É NA RAPAZIADA. NA MOÇADA. NOS ESTUDANTES!

11 anos como estudante de uma escola estadual. 05 anos como estudante de uma universidade estadual. 10 anos como professor de uma escola estadual. Tenho 34 anos de idade e destes, 26 anos tem relação direta com o Estado, primeiro como estudante, depois como educador. 20 anos dele submetido ao governo do PSDB, que governa SP desde 1995.

Agradeço a quem sou. Agradeço a quem me tornei. Com uma grande ressalva: mais do que resultado da educação do governo do Estado, sou resultado principalmente do confronto, do conflito contra os desmandos deste governo. Desde a época de estudante, na antiga EEPSG Irene Branco da Silva. Do autoritarismo de uma direção antidemocrática que impediu que alunos fizessem uma festa para arrecadar fundos a um professor querido que estava doente. Passando depois pela USP – Universidade de São Paulo, e 05 (cinco!) greves. A maior, em 2002, durou mais de 100 dias. E foi a mais vitoriosa. Estudávamos em salas com 200, 250 pessoas. Era necessário a contratação de mais professores. Ofereceram 03 para a História. Paramos. Foi duro. Briga boa. Longa. E válida. Ao final, os 03 se multiplicaram. Viraram 17. Não resolveu. Mas amenizou muito nossas vidas.

Mas a luta maior ainda estava por vir: professor na Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita. E descobrir que, se a máquina de moer gente chamada escola funciona da maneira como está, a culpa principal é do governo sim, que investe mal, planeja mal, administra mal, fiscaliza mal. Enfim, não tem interesse que funcione bem. Mas a culpa, é também dos profissionais da educação. De boa parte deles. Que aceitam sim o funcionamento da máquina, que executam as ordens, sem sérios questionamentos. Que se aproveitam, em alguns casos, do péssimo funcionamento do Estado em benefício próprio. Infelizmente, é fato.

Em 10 anos de Estado, não foram poucos os embates com colegas, que ocuparam cargos de dirigentes, supervisores, diretores, coordenadores – todos professores – por serem omissos, coniventes, agirem na ilegalidade. Desviando recursos públicos, superfaturando os cofres, favorecendo colegas em detrimento da lei; utilizando do público como se fosse privado, falsificando documentos, livros de ponto. A lista é longa. E conhecida: denúncias foram feitas, processos foram abertos. Legalmente, pouca coisa deu certo. Profissionalmente, tenho orgulho por nunca ter compactuado, nunca ter aceitado as injustiças que tive conhecimento.

E quem sempre mais sofreu, na mão do Estado, na mão de alguns profissionais que deveriam servir a sociedade mas serviam a seus próprios interesses? Quem? Todos. Professores sofrem. Funcionários sofrem. A sociedade sofre. Mas, principalmente, os estudantes. Jovens, adolescentes, crianças. Alunas e alunos da rede estadual. Sempre joguete. Sempre objetos. Sempre alvo da ausência de políticas públicas eficazes que fortalecesse a formação e um bom ensino. Crescendo com uma educação precária. Que admite alunos em séries avançadas com buracos no seu aprendizado. Analfabetos. Que permite que estudantes fiquem semanas, meses sem professores de determinadas disciplinas. Sem atingir a carga mínima de estudo. E serem aprovados. Empurrados. Expulsos, quando necessário.

Mas rapaz, tudo tem limite. Tudo tem uma hora. E a hora chegou.

Estudantes de escolas públicas estaduais tomando por posse aquilo que já é deles por direito. Tomando de fato aquilo que já é deles no discurso. Ocupando na prática aquilo que sempre foi deles, ao menos na teoria. Estudantes, ensinando a todos uma verdadeira aula de cidadania.

Independente do resultado (o jogo tá rolando), as ocupações das escolas públicas estaduais contra a reorganização(?!) do ensino no Estado, já são uma grande vitória. Política. Uma lição: pedagógica. De que tanto na prática do ensino quanto na execução de políticas públicas, é preciso considerá-los como sujeitos do processo. É preciso consultá-los. É preciso dar voz, voto e veto, se preciso para tomar as decisões. Não podemos fazer sozinhos. Não podemos fazer a revelia deles. Não podemos fazer por eles. Não podemos, não devemos e não faremos. Simplesmente porque eles não deixarão mais. E esse é o ensinamento mais belo, mais forte, mais potente que estes jovens, adolescentes, crianças estão nos repassando. Depois de décadas falando em protagonismo, postura crítica, posicionamento político, autonomia, eles entenderam. Estão praticando. Estão fazendo da maneira deles. E é fantástico. É revolucionário. É irreversível. E você pode não gostar, mas vai ter que engolir.

Todo apoio, toda solidariedade aos estudantes que ocupam as escolas estaduais. Muito orgulho, muito amor. Como estudante, como educador, como um lutador pelos direitos dos estudantes e da educação, sinto-me honrado e feliz por estar vivo e acompanhar a escrita desta página em nossa história. Vocês enchem meus olhos de lágrimas, meu peito de esperança e minha caminhada de alegria por ter sempre acreditado principalmente em vocês. Por estar há muito tempo ao lado de vocês. E por querer estar sempre. Obrigado, obrigado, obrigado.

#NãoFecheMinhaEscola
#OcupaEscola

Rodrigo Ciríaco
Educador e Escritor
Coordenador dos Mesquiteiros