sábado, abril 28, 2007

Soninha esclarece

Retirado do Blog da Soninha - link ao lado - sobre a "redução" da maioridade penal pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

“Comissão de senadores reduz maioridade penal”, diz o jornal.
Errado.
Não, não estou entrando na discussão sobre a maioridade penal, apenas gostaria de corrigir a manchete, que está ERRADA.
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado, ou das outras casas legislativas, tem a atribuição de avaliar se um projeto é Constitucional e Legal. Sim, porque é possível fazer um projeto de lei... fora da lei. No caso da Câmara Municipal, seria o caso de propor uma lei municipal que contraria a Lei Orgânica, por exemplo. O certo, nessa comissão, é avaliar apenas isso. Não importa se você concorda ou discorda do teor do projeto; naquela etapa, só se avalia a legalidade e constitucionalidade.
Como funciona na prática? Os projetos chegam para a Comissão e um relator é designado para cada um deles. Ele vai avaliar o projeto e fazer um parecer. Quando o parecer é entregue à Comissão, os outros parlamentares se manifestam em relação a ele – a favor ou contra. (Podem ainda, por vários motivos, se abster). Há uma votação: se o parecer tiver uma maioria de votos favoráveis, ele é aprovado. Existe uma porção de variações possíveis para o processo – alguém pode pedir vistas, fazer um outro parecer (o famoso “voto em separado”) – mas basicamente é isso.
CLARO que a política acaba interferindo. A análise não é puramente técnica, jurídica, legislativa. Se você gosta do conteúdo do projeto – ou, como costumamos dizer, se “no mérito, você não se opõe” – pode ter uma visão mais, digamos, flexível e generosa em relação à sua legalidade. Se você discorda da proposta – ou, nessas coisas típicas da política, se você é da oposição e a proposta é do governo ou vice-versa – pode ter um olhar mais rigoroso. Como no direito é necessário haver sempre uma interpretação, isso é inevitável. (Sabe aquele piada de advogado? “Escreve aí um parecer sobre Jesus Cristo”. “Contra ou a favor?”). Aliás, se não houvesse interpretações diferentes, nem precisaria haver CCJ...
Mas, voltando “ao caso em tela”: a maioria dos senadores da CCJ votou pela constitucionalidade e legalidade da proposta de redução da maioridade penal, com algumas modificações em relação às primeiras versões apresentadas, algumas de anos atrás. Essa aprovação, por enquanto, não muda NADA. Um parecer foi aprovado, só isso. Malissimamente comparando, é como se o mecânico apresentasse o orçamento do carro e você achasse que ele já consertou o motor. São coisas diferentes, etapas diferentes.
Isso lembra um pouco a notícia de semanas atrás sobre a “decisão” do TSE. O TSE, consultado, deu um parecer a respeito da possibilidade de cassar o mandato do parlamentar que muda de partido. “Na nossa opinião, o mandato é do partido e não da pessoa, então ele deve ser cassado, sim”. Isso não é decisão... Porque não é o TSE quem decide pela cassação de mandatos! É o STF... Que pode ou não concordar com o parecer do Tribunal Eleitoral. Putz, as coisas já são complicadas quando a notícia é correta. Quando a própria imprensa embaralha tudo, mesmo com linguagem simples, fica mais difícil de entender do que o texto aí embaixo.


outros texto no blog da Soninha.

Mil Palavras # 8




quinta-feira, abril 26, 2007

Tudo agora, tudo junto, ao mesmo tempo.

Estes dias tem sido de muita felicidade para mim, apesar do meu mau humor, uma dor de cabeça matinal - tipo de ressaca - mas não tem nada a ver com bebida, pois não estou bebendo por estas semanas, devido a um problema na garganta.
Bem, façamos igual ao Jack: vamos por partes - que humor tosco!

23/Abr - Segunda: Na segunda feira, consegui observar alguns girassóis, lírios, rosas e outras flores perfumadas na minha tão esburacada, perfurada e reformada escola. Explico: fiz o primeiro sarau do ano nas 5ªs séries. E foi lindo. O hino de abertura do Sarau não poderia ter sido outro: PERIAFRICANIA, do Gaspar do Z'África Brasil. Hino de abertura não, hino de guerra. E de re-humanização do ser humano, desbrutalização. Por que há uma coisa mais bonita do que uma criança de 11 anos com um livro de poesia nas mãos? Para mim não existe. Os alunos curtiram muito. Só o fato de saber que eles tomaram contato, muitos pela primeira vez, com os livros da Biblioteca e que nesta mesma semana já foram até lá para emprestar alguns títulos, é muito bom...

24/Abr - Terça: Outra magia: Eleições para o Grêmio Estudantil. Duas chapas disputavam a preferência. Evolução Mesquita e Evoluir e Reconstruir. Disputa acirrada, palmo a palmo, ou melhor, grito no grito. É, não deu para controlar muito bem o boca de urna. Mas foi muito legal o processo de votação, principalmente porque o filho da vice-diretora fez um programa no computador que permitiu que os alunos votassem diretamente nele. Isso mesmo, votação eletrônica.
Lindo foi ver a molecadinha do Ensino Fundamental, Ciclo I - 1ª a 4ª série votar. Aqueles pequenos, 07, 08, 09 anos exercendo a experiência de um direito democrático: o voto. Lindo era ver o sorriso deles de alegria após votar e confirmar o voto. É incrível - ou inacreditável - mas o sorriso confirmava que eles sabiam o que estavam fazendo...

25/Abr - Quarta: PARALIZAÇÃO. Quem ligou a TV ou leu jornal viu os mais de 10.000 professores reunidos em frente a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Eu também estava lá. O nosso querido governador, Serra-Serra-Serra-Dor, quer alterar as regras da Previdência Estadual, o que inclui professores titulares e não titulares. Bom, não quero me alongar sobre isso porque não foi o melhor da minha semana. Mas vale aqui o registro. Foi determinado GREVE a partir da próxima sexta, 04 de maio. Eu apoiarei. Veremos os próximos capítulos.

26/Abr - Quinta (Hoje): Estou moído, detonado, cansado. Mas um cansaço compensador. Não deveria trabalhar hoje, oficialmente, já que não tenho aula. Mas, como militante da educação - não apenas professor - havia combinado de fechar o Jornal dos Alunos da Escola hoje. Lá estava eu na minha escola, as 13hs, reunidos com os alunos para fechar a última máteria do jornal. E conseguimos. As 17hs - quatro horas depois - fechamos o texto! E ficou ótimo. É muito bom trabalhar com essa galerinha, na verdade 06 meninas, "super poderosas", comprometidas, interessadas, que desde que eu cheguei na escola me fizeram a proposta do jornal, a qual abracei com carinho, e até agora vem me trazendo gratas e boas surpresas. Depois de 07 semanas de trabalho, a primeira edição do jornal está quase pronta. Falta alguns detalhes finais. E como estou feliz com isso. Feliz por vê-las acreditar num projeto. Feliz por este estar se concretizando. Feliz por acompanhar o desenvolvimento, transformação e evolução - minha - e delas. Estou podrinho, mas feliz...

O que vira amanhã?

Tudo agora, tudo junto, ao mesmo tempo. Será que eu aguento?
Vamos indo...

Rodrigo

quarta-feira, abril 25, 2007

Poema da Dinha

O nome do rei

Quem foi que roubou
a idade

de Felipe,
Edmarcos?

Quem foi que roubou tua idade,
Gustavo?

Quem foi que roubou a idade
de Fernando
- o Maloterson ?

Quem deixou tua mãe órfã?

De tantos meninos guardados,
a idade,
quem roubou?

Será que foi um soldado, desses
honrados
que erguem a espada e acabam com o mal?

Eram maus,
vocês?

Quem te roubaria a idade?

Algum reloginho usado
a mando do rei?

Cadê tua idade,
Hilário?
Cadê tua idade,
Henrique?

Esconde a tua,
Renato,
esconde a tua,
Aristides,

que seja relógio ou soldado,
a mando da honra ou a mando do rei,
no mangue, nos becos, nas celas,
procuram
por vocês.

Quem vai te roubar a idade?

domingo, abril 22, 2007

Que saudade, Snoopy

Estes dias estive pensando muito, muito mesmo nas atividades que desenvolveria com meus alunos que ainda não sabem ler. Sim, 5ªs, 6ªs e 7ªs séries e tenho uma série de alunos que não sabem ler. É uma baita dor de cabeça. Como ensinar o conteúdo de História, reflexão, crítica, para alunos que muitas vezez olham para o papel e vêem, apenas, um embaralhado de letras? Situação difícil. Desconfortável. Fico muito, muito mal com isso. Estou preparando atividades, apesar de não ter experiência nenhuma em alfabetização, seja de crianças ou adultos. Mas, não posso me furtar a isso. Não tem jeito. Não tem saída. Para mim ou para eles...
Uma coisa que eu pensei é usar os quadrinhos. Não cheguei a falar disso aqui mas aprendi a ler e a gostar de ler com os quadrinhos. Cascão, Chico Bento, Magali, Cebolinha, depois X-Men, Homem Aranha, Wolverine. Depois, as tiras: Mafalda - mil vezes -, Snoopy, Calvin, entre tantos outros. Os quadrinhos não apenas tem algo de especial, mas estimulam a melhor leitura entre as crianças e adolescentes. Pelo menos foi assim comigo. Pelo menos é assim que eu vejo, pelo fascínio que vejo que alguns alunos tem quando aparece algum gibi.
Pensando, pensando... Talvez seja por aqui um dos caminhos.
Bem, vou aprendendo no próprio caminho, não é mesmo?
E aqui vai um pouquinho de Snoopy. Meu primeiro amigo:


clique nas imagens para ampliá-las
retirada do livro: "Que saudade, Snoopy!" - Charles M. Schulz

quinta-feira, abril 19, 2007

Poesia no ar...

Foi bonito!
E até agora fico imaginado para onde foram aquelas dezenas de balões, infestados de mensagens, palavras soltas e poemas, livres como crianças para brincar com a noite.
Por quanto tempo voaram? Murcharam? Estouraram? Ainda estão no ar? Seria possível um poema cair no meu quintal? Amanhecer com um pedaço de palavra vinda diretamente do céu?
Tudo é possível...

Enviei o poema que recitei no Sarau, "OUTRO 500", lido em homenagem a memória do Índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos, covardemente queimado vivo há dez anos atrás, em um ponto de ônibus em Brasília, no dia 20 de Abril. Já se acabara o dia do Índio...

Para quem não conhece este poema, ele foi publicado na Antologia Poética "SARAU da Cooperifa", edições Dulcinéia Catadora - 2007 / R$ 5,00. Segue ele abaixo:
OUTROS 500
Rodrigo Ciríaco

O que chamam de descobrimento
Eu dou por invasão
O que chamam de conquista
Eu dou por destruição
O que chamam de encontro
Eu dou por extermínio
O que chamam de civilização
Eu dou por latrocínio
O que chamam de religião
Eu dou por uma desculpa
E o que chamam de tragédia
Eu dou por nossas vidas.
outras fotos e infos. do dia de ontem, acesse o blog do Vaz - Link ao lado

Dia do Índio

"Todo dia, era dia de índio..."

"Mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente..."

quarta-feira, abril 18, 2007

MST Informa - Ano VI nº 131


Por que estamos mobilizados em todo o Brasil?

A Reforma Agrária deve ser um programa público promovido pelo Governo com base na aplicação da Constituição Federal para combater a concentração da propriedade – por meio da desapropriação e da indenização aos fazendeiros –, e democratizar o acesso a terra, que é um bem da natureza e que deve estar a serviço de toda população, não apenas de uma minoria.
O programa deve também organizar e promover a sustentabilidade dos assentamentos, uma vez que, o Estado tem a responsabilidade de garantir aos cidadãos e cidadãs, acesso democrático e igualitário ao emprego, à moradia, à educação e à saúde. Todos garantidos pela nossa Constituição.
Nos últimos anos, pouco ou nada foi feito para uma verdadeira Reforma Agrária. Os governos têm dado prioridade ao modelo agrícola do agronegócio, baseado na grande propriedade "modernizada" que usa elevadas quantidades de agrotóxicos, gera poucos empregos e produz somente para exportação, esquecendo a soberania alimentar.
O modelo agroexportador recebe vultosos investimentos em crédito dos bancos públicos, principalmente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além disso, não paga quase nada em impostos, graças à Lei Kandir. Ou seja, recebe muito dinheiro, paga poucos impostos e não tem nenhum compromisso social ou com o desenvolvimento nacional. Esse é um benefício que nenhum trabalhador, agricultor, comerciante ou industrial tem no país. É um benefício dado apenas para as grandes empresas nacionais e estrangeiras.
Aos pobres da terra, restam apenas as medidas de compensação social, como o Programa Bolsa-Família, o assentamento em projetos de colonização na Amazônia – distante dos principais mercados consumidores –, ou em lotes vagos em assentamentos antigos.
Por isso, nesses últimos 12 anos, a concentração da propriedade da terra continuou a crescer e agora com um agravante: o capital estrangeiro das grandes transnacionais também está comprando muita terra! Querem implantar grandes áreas de monocultivo de eucalipto, soja e cana-de-açúcar para obter lucro e atender apenas aos seus interesses. Deixam a depredação do meio-ambiente, o desemprego e a pobreza para os brasileiros.
Por essas razões, mais de 140 mil famílias de trabalhadores rurais brasileiros que são obrigadas a criar seus filhos debaixo de lonas pretas, em acampamentos ao longo das estradas, por causa da omissão dos governos, estão organizadas e lutando. Você pode imaginar ficar apenas esperando, inerte, ouvindo promessas de distribuição da terra, morando em um barraco de lona preta sem poder produzir por dois, três, cinco ou até oito anos?
Por isso, cansados de esperar, estamos nos mobilizando em todo o país. Estamos protestando para acelerar a Reforma Agrária.
O pano de fundo é o período em torno do dia 17 de abril, quando em 1996 a Policia Militar do Pará, sob os governos de Almir Gabriel e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) massacraram um acampamento no município de Eldorado de Carajás, resultando em 19 Sem Terra assassinados na hora, outros dois morreram depois de algumas semanas, 69 mutilados e centenas de feridos.
Passados todos esses anos, ninguém está preso ou punido. Como se sabe, aqui no Brasil, em geral, o Poder Judiciário só funciona para proteger o patrimônio dos ricos e, o direito dos pobres, sempre ficam em segundo plano.
Em homenagem aos mártires de Carajás, a Via Campesina Internacional decretou em todo o mundo o 17 de abril como Dia Internacional de Luta Camponesa. Aqui no Brasil, por iniciativa da então senadora Marina Silva (PT), o Congresso Nacional aprovou e o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou um decreto que declara a data como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
O que defendemos e esperamos que o governo federal cumpra com a ajuda dos governos estaduais?
1 – Agilização da desapropriação de fazendas improdutivas, como prevê a Constituição, priorizando as regiões próximas a centros consumidores, para facilitar acesso ao mercado e o desenvolvimento da produção de alimentos;
2 – Desapropriação de fazendas de empresas estrangeiras, que vieram aqui implantar seus monocultivos (de eucalipto, soja e cana) predatórios para o meio- ambiente, fazendo uso intensivo de agrotóxico e expulsando os trabalhadores brasileiros do campo;
3 – Realização de um verdadeiro mutirão de todos os órgãos públicos envolvidos na questão agrária para assentar em poucos meses todas as 140 mil famílias que estão há muito tempo esperando acampadas, vivendo debaixo de lonas pretas;
4 – Valorização da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); ampliação dos seus recursos e garantia a toda família camponesa assentada ou de pequenos agricultores, acesso ao programa de compra de todos os alimentos produzidos;
5 – Atualização da portaria que mede a produtividade das fazendas, que ainda se baseia em dados de 1975. Mobilização da base parlamentar do governo, que é a maioria no Congresso, pelo projeto já aprovado no Senado Federal, que determina a expropriação das fazendas que ainda têm trabalho escravo – que são muitas e envergonham a todos brasileiros.
6 – Organização de um novo modelo de assentamento, combinando um novo crédito rural, especial para os assentados, com a produção de alimentos e a instalação de agroindústrias cooperativas. Assim, as famílias obteriam maior renda do seu trabalho e seria gerado emprego para juventude que vive no meio rural.
7 – Desenvolvimento de um amplo programa de educação no campo, que comece com uma campanha nacional de erradicação do analfabetismo e sejam ampliados os cursos e vagas de cursos técnicos a serem destinados especificamente para a juventude do campo. Ampliação dos recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), viabilizando a demanda de cursos e convênios com as universidades brasileiras para dar acesso aos jovens camponeses em regime de alternância nos cursos superiores.
8 – Implantação de um programa nacional de reflorestamento nos lotes da Reforma Agrária e nas comunidades camponesas de forma subsidiada para que cada família seja estimulada a plantar pelo menos dois hectares de árvores nativas e frutíferas em cada área. Assim, contribuiríamos para preservação da natureza, evitando o aquecimento do clima, provocado pela monocultura predadora do agronegócio.
9 – Criação de um novo formato institucional para viabilizar a assistência técnica e extensão rural pública nos assentamentos. Para isso é necessário que se tenha um órgão público responsável pela assistência técnica e capacitação dos agricultores.
10 – Vinculação direta do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) à Presidência da Republica e formação, junto com a Conab e com o órgão de assistência técnica, de um novo formato institucional para viabilizar e acelerar a Reforma Agrária.
Com essas medidas, poderemos esperar que de fato a Reforma Agrária comece a sair do papel.
Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular !
17 DE ABRIL DE 2007
Direção Nacional do MST

terça-feira, abril 17, 2007

(rodrigo ciríaco)

"É o sangue do morro escorrendo na calçada..."

Antes,


Durante...


e depois.





"(...) A população é o maior exército, e permanece inerte, e pelas frestas relatam os fatos.

A burguesia, o sorriso desfeito pela insegurança, a grana já não garante segurança, a cidade se transformou em um campo de batalha de uma guerra não declarada.

É a formação de uma má educação e uma saúde precária, é o reflexo de uma classe social ignorada, é o sangue do morro escorrendo na calçada, é o vampiro sugando e dando risada."

Antônio, Helber Ladislau de Araújo

fotos retiradas do sítio: http://noticias.uol.com.br/ultnot/album/morromineira_album.jhtm?abrefoto=9 outras infos.: http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/04/17/ult1928u4137.jhtm

Lançamento Livro do Tião - Casa das Rosas, 24/03 - 20hs

Casa das Rosas e Projeto Dulcinéia Catadora

Convidam para o lançamento de

clique na imagem para ampliá-la
Cátia, Simone e Outras Marvadas
reúne poemas que versam sobre situações vividas pelo autor, como a vinda para São Paulo, a condição de albergado, a fome , a dura situação da população de rua, seu inconformismo com a injustiça social , suas fantasias e sonhos.

Sebastião Nicomedes
Integrante do Movimento Nacional da População de Rua, assina a coluna Direto da Rua, publicada no jornal O Trecheiro; é autor da peça Diário dum Carroceiro.

Projeto Dulcinéia Catadora
Livros de contos e poesias com capas feitas de papelão comprado de catadores. Capas pintadas à mão por filhos de catadores. Uma idéia simples, na contramão do mercado editorial, mostra que é possível divulgar autores novos com a venda de livros a R$ 5,00. Projeto artístico auto-sustentável que reúne artistas , escritores, catadores

sábado, abril 14, 2007

A porta está fechada

A porta está fechada
E entre quatro paredes
Não há diálogo, não há comunicação.

Falo para mudos ouvidos
Ausculto a surda manifestação.
Coisificamento? Sujeitação?
Qual a letra-palavra certa
para evitar a enforcação? Realizamento?

Os livros já não trazem respostas
Eles são sábios,
sem pressa
presságios
Mas não há conhecimento para explicar
O que não pode ser compreendido.

Debato-me na minha camisa-de-vênus
Buscando inutilmente no fundo da minha força
Pernas para continuar gozando, refletindo.
Camuflo espelhos para não ver a cara da derrota
Desistir. Desistir seria uma opção?

A porta está fechada
E entre quatro paredes
Um homem planta flores num jardim de cimento.

Os pássaros são escassos, mas ainda voam
Cinzentas borboletas morrem, nascem
E são esmagadas na parede
Como os pernilongos, zumbizando danças
Acabam em rubras manchas nas minhas mãos.

Um homem descalço se limpa na praça
Achando que é ponte, achando que é rio,
Se corta e faz sangrar as próprias asas
Enquanto salta para um imenso vazio.

Por que estás parado? Tem medo do pulo?
Vida ou morte é menos de um segundo.
Quando assumirá sua forma?
Força, Fêmea, Fera, Faca,
Fraca, Ferida, Furiosa Fênix?

A porta está trancada
E entre quatro paredes
Já não sei se estou
In,
Out,
Off?

Me perco entre simples palavras
Entre quartos e salas,
caminho ao lado da minha insônia.

Sou o retrato
Do meu próprio destino.


(rodrigo ciríaco)

Rubras cascatas de poemas

E hoje, Sábado, 14 de abril
19hIV Sarau da Ocupação João Cândido

Como chegar no acampamento:

De ônibus: no Largo da Batata, pegar o Valo Velho e descer no ponto final (Compre Bem). Depois da passarela (ao lado do ponto final), virar à esquerda na rua com placa para o Jd. Cinira. Descer até a padaria Flor do Valo, pegar a direita, na Av. Soldado Gilberto Augustinho, subir esta avenida e virar uma rua depois do Mercado Guimarães.

Ou: Ou: no ponto final do Valo Velho, pegar a van Cinira até a entrada do terreno, depois do Mercado Guimarães.

De carro: seguir pela estrada do Campo Limpo até o fim, virar à direita na Estrada de Itapecerica da Serra em direção ao Valo Velho. O acampamento fica na primeira à esquerda depois da passarela do Valo Velho (Km 26), entre a Av. Soldado Gilberto Augustinho e a Rua do Campestre.

outras infos.:
www.mtst.info

Filme - Oscar Niemeyer

clique na imagem para ampliá-la

PRESTES a POSTOS - Convite

quinta-feira, abril 12, 2007

Eu queria que a minha escola tivesse Educação!

Para quem não entendeu a raiva ou o desejo de vingança no meu último post, explico contra quem vai toda o meu pote de ira: contra a Escola, contra a Educação; ou melhor dizendo: contra quem faz nós termos um sistema educacional tão podre, tão capenga, que trata os alunos (e algumas vezes os professores) como verdadeiros animais, bestas feras que devem ficar apenas enjauladas. Sem direito à contestação, respeito ou raciocínio.

A Educação no Brasil possui uma das piores avaliações do mundo! Basta consultar as diversas pesquisas espalhadas em sítios especializados ou nos jornais. E apesar do caráter duvidoso destas pesquisas, não se precisa delas para se constatar o que é fato, principalmente na rede pública de ensino - não que a rede privada seja muito diferente mas, o meu interesse na discussão é a rede pública, gratuita.

Tudo isso sendo a Educação um dos temas mais recorrentes na boca de políticos, sociólogos, especialistas, pais, diretores, professores e o caramba a quatro. Quando se fala em soluções para o Brasil - sejam as mirabolantes ou as mais simples -, ela, coitada, é apontada como um dos possíveis caminhos para resolver o problema. Como se pudesse fazer um milagre. Coitada, se pensarmos em nossas escolas, não se aguentam sobre as próprias pernas.

O Estado de São Paulo tem um dos piores índices. E os problemas vão sim, desde a falta de infraestrutura, baixos salários, muitas horas de trabalho mas, na minha singela opinião, o maior problema que vejo dentro das escolas públicas - e falo com toda a autoridade de quem as conhece há 20 anos, seja como aluno ou professor - é o material humano. Como tem gente medíocre, mesquinha, despreparada, para lidar com pessoas dentro da escola! E não é a questão de avaliar a competência profissional de cada um apenas, não, mas o caráter, a postura.

Muitas vezes quando falamos dos problemas da escola, um dos responsáveis pela má-educação, pela "ruimdade" do ensino são os alunos. Reclama-se que são indisciplinados, desinteressados, fala-se sobre os problemas da desestrutura familiar, da fome, da miséria, da visita do Bush, da chegada do Papa, blá, blá, blá. E sobre os professores? E a direção, a coordenação pedagógica? Bom, os professores ganham mal, trabalham muito, são explorados, etc,...

Muitas vezes eu não entendo o motivo de tanto cuidado, tantas "meias palavras" para se falar do papel do professor e de outros profissionais da educação dentro da escola. Sempre em reuniões, conselhos de escolas, ouço falar que quem faz a escola é o aluno. E ponto. E discordo! Pois um aluno sozinho não faz a escola. Por que então para que serviria a direção, a coordenação pedagógica, o professor?

Tomo como parâmetro a minha escola. O que se faz lá é um crime. Não bastasse os problemas na infraestrutura do prédio, que como já falado aqui estava com infiltrações, goteiras, risco de curto-circuito, alagamentos, desmoronamento entre outros, lá parece uma terra sem lei. Praticamente não há direção. Ou melhor, há, no melhor estilo "finge que funciona". Para inglês ver.

Até semanas atrás não tinhamos uma lista dos alunos. Não podíamos preencher corretamente o diário, lançar notas. Até o presente momento (12 de abril) venho trabalhando no período da tarde sem um horário definido: sei os dias em que trabalho, não sei o horário que entro, não sei o horário que saio. Não sei quais turmas trabalharei nos dias, nem os alunos. Total prejuízo para a organização de qualquer atividade escolar. Fora os dias em que já trabalhei com duas salas em uma (mais de 50 alunos em uma sala), em salas com poeira (de cimento e cal) e aluno respirando tudo aquilo, ficando com dor de cabeça, passando mal. Fora o dia em que trabalhei sem água - com um calor insuportável, alunos ameaçando fazer "greve de lição" - rs - ou com excesso de água: goteira na cabeça. Em outros dias me colocaram em dois lugares ao mesmo tempo. No outro em nenhum. E me ameaçaram ficar com falta - apesar de estar na escola! Enfim, acho que já aconteceu de tudo...

E eu me pergunto? Como garantir, nestas condições, a qualidade de ensino?

Porque eu fico muito mal quando vejo as pesquisas dizendo que a educação está uma bosta. Sou professor, me sinto um pouco responsável. E eu fico muito mal quando eu corrijo provas, trabalhos, e vejo que a maioria dos meus alunos ainda não sabem ler. Sabem escrever, são copistas. E eu fico muito mal, mas com uma vontade louca de trabalhar e mudar tudo isso. Mas como, se não tenho condições para trabalhar? Se na minha escola não há organização? Se na minha escola a direção é lei, mão única, não há diálogo, comunicação? Apenas ordens, regras, imposição. Uma grande camisa de força, que engessa, impede o trabalho de alguns professores - que querem trabalhar - mas tem que virar "babás". Garantir o dia letivo. Aluno dentro de sala. Não importa a qualidade do ensino.

Como mudar esse sistema de ensino, que dá a condição, estabilidade para que maus profissionais continuem exercendo o seu ofício, que permitem que "profissionais" (será que são?) façam tudo de errado e tenham o seu emprego garantido? Que permite que os bons acabem pagando pelo mau trabalho dos ruins?

Não sei, estou pensando...

Sei apenas que eu queria que a minha escola tivesse Educação. Apenas isso.

Rodrigo Ciríaco

P.S.: ao menos aqui tenho a liberdade de dizer o que quero. Espero.

Um dia é do caçador, o outro...

"... fechou os olhos, de gastura, porque ele sabia que capiau de testa peluda, com o cabelo quase nos olhos, é uma raça de homem capaz de guardar o passado em casa, em lugar fresco perto do pote, e ir buscar da rua outras raivas pequenas, tudo para ajuntar à massa-mãe do ódio grande, até chegar o dia de tirar vingança."

Guimarães Rosa, do livro Sagarana:
A hora e vez de Augusto Matraga

domingo, abril 08, 2007

Projeto

Literatura (é) Possível






fotos: alunos durante o Sarau na escola/2006


“- Que esperava com a mão pronta? Pois tinha uma experiência, tinha um lápis e um papel, tinha a intenção e o desejo - ninguém nunca teve mais que isto” (Clarice Lispector, A maçã no escuro).

Um lápis e uma folha em branco – nunca ninguém teve mais do que isto.

Acreditando na incrível sensibilidade lispectoriana, resgatada pelas palavras do poeta Affonso Romano de Sant’Anna (no texto publicado aqui no blog, “O lápis e a folha em branco”), gostaria de apresentar o projeto Literatura (é) Possível.

Primo-irmão de trabalhos feitos por Alessandro Buzo, Sacola, Dinha, Sérgio Vaz e outros tantos poetas-amigos pelas periferias afora, o projeto levará poetas e escritores para a escola EE Jornalista Francisco Mesquita, Zona Leste. Ao meu convite, oficinas mensais serão realizadas com os alunos não apenas para os escritores divulgarem os seus trabalhos, mas para demonstrar que aprender a ler, a gostar de Literatura pode ser uma coisa divertida, gostosa, possível. Alunos serão convidados a criar e se apresentar, compartilhar e vivenciar o fazer literário. Afinal, temos o lápis, a experiência e a folha em branco nas mãos. “Nunca ninguém teve mais do que isto”.

As sementes foram lançadas na primavera passada. E neste ano, em pleno inverno, será possível observar o florescimento de novos frutos. Semeadores não faltarão: Marcelino Freire, Sacolinha, Dinha, Alessandro Buzo, Allan da Rosa e Sérgio Vaz já estão confirmados. Vamos derrubar a bastilha e os cadeados das bibliotecas escolares. A Rosa do Povo contará as Primerias Estórias para os Capitães da Areia. Diremos Feliz Ano Velho para alienados e Alienistas. Faremos a nossa Descoberta do Mundo, a la TAZ.

Porque se em nossa escola-caindo-aos-pedaços pública, ainda que esquecidos, trancafiados, oprimidos e humilhados respiramos, a Literatura é Possível!

Mais informações em breve!


Rodrigo Ciríaco

"Vai, Carlos, ser Marighella na vida"

Canção dos Lírios
Carlos Marighella*

Eu canto à vida,
eu canto a liberdade,
como os lírios crescem em nossos campos,
livres, selvagens.

Se já não crescem como antes,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.

Não me limitarei ao campo da arte...
e não escolherei momento, tempo e modo,
de exaltar-te,
lírio, flor, canção, fruto,
amor - a liberdade.
Não calarei jamais
e sempre te direi a mais bela, a mais pura.

Se já não crescem como antes os lírios
em nossos campos,
existe algo sombrio,
é preciso abrir uma clareira no bosque.

*comunista, poeta, guerrilheiro, revolucionário, assassinado pela Ditadura Militar em 04 de Novembro de 1969. Outras informações:

Mil palavras # 6


Boa Páscoa !

sábado, abril 07, 2007

Quando escrever não basta, não dissipa a angústia que corrói por dentro...

Poema Brasileiro de Nenhum Resultado
Rodrigo Ciríaco

Thiago trabalha
Muitas horas por dia
E em nenhuma delas
Sorri.
Não há motivos
Para alegria,
Só há mosquitos,
Raízes,
Uma água escura,
O mau cheiro
E o barro
Do mangue
Para caminhar,
Para o trabalho.

Carnaubeiras,
Norte do Maranhão.
Sem fábricas,
Sem empresas,
Sem terras,
Homens trabalham
E Tudo que vem
Sai do chão
Barrento
Com garras afiadas
Cuspindo vida.

Trabalhadores cedo saem
Em direção ao mangue.
Levam uma bota
Uma luva
E esterco.
Não, ainda não chegamos a
Este ponto.
O Esterco não é a ração.
Queimado, vira fumaceira
Espanta mosquitos,
Muriçocas.
Mas sobre a ração,
Estes trabalhadores comem
Não no mangue
Só oito, nove horas depois
Quando chegam em casa.
Isso, se tiverem comida
Pois de sobra, só a fome.

Já imaginou:
O mangue,
A lama,
As raízes,
O mau cheiro,
Os mosquitos
O trabalho
As oito horas
Sem comida.
Já imaginou?
Imagine.

Tudo isso por apenas
Um, dois reais
Por dia.
É a corda
Que dá vontade de amarrar
No meu pescoço
E que os catadores
De caranguejos
Do Maranhão
Perto do Piauí
Levam nos ombros.
A cada quatro caranguejos
Catados e amarrados
Forma-se uma corda
E o sustento pra casa.

Thiago tem treze anos
Sete irmãos
Uma mãe
E nenhum brinquedo.
Thiago não sorri,
Apenas trabalha.

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

0,25 centavos !
0,25 centavos !!
0,25 centavos !!!


E no mesmo dia
Em que conheci Thiago,
Eu vi o Diabo:
O famoso Chico.

Chico trabalha
Muitas horas por dia
E em quase todas elas
Sorri.
Há motivos de sobra
Para a sua alegria.
Um grande restaurante
Capacidade mil pessoas
Playground,
Piscinas,
90 funcionários
e o título
Chico do Caranguejo.

Fortaleza,
Centro econômico
Do Ceará.
Para o Chico
Não há misérias
E tudo que há de riqueza
Sai do chão
Barrento
Puxado por braços fortes
Afiados
Cuspindo frustração.

Chico é o rei
Dos caranguejos
Dos catadores de Carnaubeiras
De Thiago.
Chico é o dono,
O proprietário,
Seus caranguejos
Valem mais do que Thiago
Valem mais do que toda aquela gente.
Façam as contas:
Vende por dois reais
Pagando 0,25 centavos

Enquanto trabalhadores
No mangue
Sem comida
Trabalham oito horas por dia
Para receber por cada caranguejo
0,25 centavos
Chico vende
Cada um deles
A Dois reais
Num restaurante
Com capacidade para mil pessoas
Quase sempre lotado.

A dois reais,
Chico do Caranguejo
Vende centenas de Caranguejos
Por dia.
A dois reais
Pagando apenas
0,25 centavos.

Vende cada um
Por dois
Pagando apenas

0,25 centavos !
0,25 centavos !!
0,25 centavos !!!

Chico do Caranguejo:
Sucesso e felicidade
A custa de muito trabalho.
Diz ele, apenas,
O seu trabalho, de resultado.
Seu restaurante tem alegria
Diversão, música, piscina
E um imenso playground
Com muitos brinquedos.
Nenhum de Thiago.

Chico do Caranguejo
Ao custo de
0,25 centavos
Torna famílias e
Thiago
escravos.

Chico do Caranguejo
Explorador,
Safado,
Todos vocês
Que vivem da miséria
Botem as barbas de molho
E reforcem o pacto
Com o diabo.

Pois uma hora
Só o poema não me basta
como Robespierre
vou tocar o Terror
E como na França de reis
Vocês também serão
Guilhotinados.


0,25 centavos será mais
do que vale
a marca que deixarei no seu corpo
parco, barato.

0,25 centavos
não será nem o seu preço.

quinta-feira, abril 05, 2007

GUIA CULTURAL DA PERIFERIA

repassando mensagem recebida via email. por favor, DIVULGUEM:

"Essa é uma boa oportunidade de ajudar os grupos que realmente trabalham a consolidarem seus trabalhos: o Guia Cultural da Periferia, que está previsto para ser iniciado agora no mês de maio. Gostaria que se possível vocês, encaminhassem esse e-mail para algumas pessoas que vocês acham interessante e que possam contrIbuir para o Guia também.

Estamos desenvolvendo o projeto Guia Cultural da Periferia que consiste informar eventos, saraus, mostras, espetáculos, cursos, palestras, festas e serviços existentes na Periferia, promovidos por instituições governamentais ou não e grupos não formais.

A partir de informações trazidas pelos núcleos e identificadas por nossa equipe, ofereceremos uma agenda atualizada da cena cultural da periferia.

Atenção especial será dada ao hip hop, grafite, rodas de samba e literatura periférica, mas não deixaremos de cobrir as artes cênicas, filmes, festivais e quaisquer outras atividades relevantes.

Teremos um vasto panorama de iniciativas, resultando numa agenda densa e diversificada, evidenciando uma produção cultural invisível à população paulistana acostumada a pensar o roteiro cultural somente a partir dos equipamentos existentes nas regiões centrais.

Conto com a sua colaboração para divulgar os eventos existente nessa região e em outros locais também, por favor repasse esse email para pessoas interessadas em divulgar seus trabalhos.

Obrigada.

Contato:
Adriana Barbosa
adriana.barbosa@acaoeducativa.org
3151-2333 ramal 142
"

domingo, abril 01, 2007

Lula, Lula. Acorda, tá na hora de ocupar a cadeira...

ELIANE CANTANHÊDE
Nunca antes neste país?
BRASÍLIA - O governo Lula cedeu aos sargentos controladores de vôo e abriu uma crise com brigadeiros, generais e almirantes. O tempo dirá se foi um bom negócio. A história costuma dizer que não. No meio do tiroteio entre o governo e os sublevados, quem foi atingido por uma bala certeira, e não necessariamente perdida, foi a Aeronáutica, que foi desmoralizada. O comandante Luiz Carlos Bueno foi atropelado pelas negociações dos ministros da Defesa, Waldir Pires, e do Trabalho, então Luiz Marinho, com os sargentos que fizeram operação-padrão em outubro, contrariando as leis militares e até a Constituição. Agora, o novo comandante, Juniti Saito, foi desautorizado pelo próprio presidente. Perdem Lula, Alencar, Pires, Dilma, Saito e toda a cadeia de comando militar, resvalando no descontrole e no sacolejo do Estado democrático. Ganham os controladores de vôo, que foram à guerra e venceram. Em vez de punidos, como quis Saito, foram brindados com as promessas de vantagens e de desmilitarização do setor. No dia 30 de março de 1964, Jango se reuniu com sargentos no Automóvel Clube sob aplausos do então consultor-geral da República, Waldir Pires. No dia 30 de março de 2007, Lula ditou do AeroLula a ordem para seu governo ceder aos sargentos de vôo, com apoio do ministro da Defesa, Waldir Pires -que depois sumiu. O país não é o mesmo, a democracia é uma realidade e não há nenhuma hipótese de golpes. Mas essas coisas deixam marcas profundas. Lula e seu governo não estão apenas demonstrando incompetência num apagão mais do que previsto; estão brincando com fogo. A foto dos militares esparramados pelo chão, com uniformes amarfanhados, em greve num setor vital e parando o país, é uma imagem terrível do governo Lula para a história.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0104200704.htm


ANÁLISE
Militares nunca engoliram Pires
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O descaso do governo Lula com a gestão da crise aérea e a teoria sindicalista de relações de poder acabaram de colocar o Brasil frente ao maior impasse na área militar desde a redemocratização, em 1985.Houve crises anteriores. No governo Sarney, eram variadas -houve vazamento de planos para endurecimento do regime, em 87, e um quase-levante por melhores soldos no ano seguinte. Collor e Itamar tiveram relações difíceis, e mesmo o diplomático FHC teve de enfrentar uma revolta no generalato por mais verbas em 2000.Mas o ineditismo da crise atual reside no fato de que há uma quebra de hierarquia legitimada pelo poder civil. Não que alguém vislumbre idéias golpistas, cujas sombras sempre são exageradas; é a natureza da relação entre políticos e militares que está em jogo.O fundamento da instituição militar é o respeito pela hierarquia. Há intrigas, traições, grupos internos, como em qualquer agrupamento humano. Mas o edifício de uma Força militar é baseado na disciplina -com tudo de hipocrisia que isso possa implicar, e não está em questão na crise atual.Os militares nunca engoliram o ministro Waldir Pires, da Defesa. Nem tanto pelo passado antimilitar e esquerdista do ministro, mas pelo fato de ele ter tratado os controladores de vôo como "companheiros".Seu movimento inicial na crise, de abrir canais com os sargentos que controlam os vôos, acabou sendo desmontado aos poucos. A FAB endureceu progressivamente, seguindo o seu princípio da hierarquia.Como sempre, há abusos relatados. O Comando da Aeronáutica exagerou? Provavelmente. Mas é preciso ter em mente que, dada a estrutura precária do sistema de controle de vôo num ambiente militar, não havia outro caminho concebível para a FAB.Enquanto isso, o governo enrolou os envolvidos. Fez uma pantomima de desmilitarização, prometeu discutir aumentos e, principalmente, deixou os passageiros ao léu. Um sistema de gerenciamento civil ineficiente, baseado na Anac e Infraero, completou a equação junto a empresas despreparadas e gananciosas.Resultado: crise crônica com agudizações eventuais. E os controladores nem eram os principais artífices nos apagões anteriores, embora levassem a culpa sistematicamente.O problema é que anteontem a corda, esticada desde outubro do ano passado, estourou. Os controladores explicitaram de vez o poder que a estrutura lhes permite. Meia dúzia de sargentos podem parar o país.Sem opções ao ver o sistema aéreo entrar em colapso em 20 minutos na noite de sexta, o governo federal cedeu. Dobrou os joelhos e desautorizou o comandante da FAB, Juniti Saito. Como o presidente Lula está fora, a negociação foi tocada no melhor estilo chão-de-fábrica pelo ministro Paulo Bernardo.Humilhou Saito: além de vetar a ordem de prisão que ele pretendia aplicar aos amotinados, não permitiu que ele participasse das negociações. Saito pode até compor, ao estilo sindical do governo, mas o caminho natural seria entregar o cargo.Para piorar, o acordo que Bernardo costurou subverte a ordem militar, ao garantir que não haveria punições para uma situação de motim. O movimento pode incentivar a outros militares mal-pagos a fazer suas exigências. Militar não é sindicalista.O controle dos vôos deve ser civil? Há argumentos para o sim e o não. O que não dá é tentar resolver a coisa sob ameaça, com um documento rascunhado às pressas.E o governo não pode nem dizer que com isso evitou o caos. Ele já está aí, e o texto não dá garantia alguma de que os controladores não repetirão o movimento da sexta.Os sargentos têm seu ponto: são insubstituíveis no cenário atual. Os operadores da Defesa Aérea precisam de meses de treinamento para assumir as cadeiras dos colegas, para ficar na opção que Saito cogitou na sexta-feira. É receita pronta para novos acidentes.Lula, que se gaba de ter poderes fenomenais de negociação outorgados por anos de sindicalismo, terá que acalmar as Forças Armadas, provavelmente entregando a cabeça de Pires, mas é improvável que a situação na Aeronáutica se pacifique sem que os controladores sejam enquadrados. E, se isso acontecer, o país pode parar de novo. O nó é enorme.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0104200720.htm


Motim (Editorial da FOLHA)
Na crise que voltou a paralisar aeroportos, governo tinha obrigação de restaurar a cadeia de comando militar
A LENTIDÃO e a displicência do governo Lula perante a crise aérea terminaram por levá-la a um patamar inaudito. O motim que paralisou todos os aeroportos brasileiros na sexta, em atitude de aberta insubordinação militar, é a conseqüência da condução sindical empreendida pelo presidente da República desde o início do transtorno endêmico na aviação, há seis meses.Enquanto Lula seguia no seu confortável Airbus para Washington, os saguões dos aeroportos do país se apinhavam de gente, mais uma vez. Controladores militares simplesmente cruzaram os braços -são impedidos por lei de fazê-lo- e iniciaram uma greve de fome. "Reivindicavam" uma gratificação salarial e a suspensão dos remanejamentos de líderes da rebelião.O ministro Waldir Pires, a essas alturas o símbolo da incompetência governamental, reagiu com a vagareza de sempre. Em plena tempestade, prometeu enviar um relatório com os diagnósticos sobre a crise "em 10 ou 15 dias", acrescentando "no máximo". Para completar, por telefone o presidente Lula ordenou a seus ministros que cedessem à extorsão dos amotinados, desautorizando o comando da Aeronáutica, que se aprestava a punir os líderes da sublevação.Os ânimos dos controladores, registre-se, haviam sido previamente excitados com novas promessas, feitas pelo Executivo, de retirar o serviço da alçada militar. Os inconseqüentes sindicalistas que povoam o governo federal ainda não conseguiram entender o estrago que a sua atitude produz nas Forças Armadas, instituição cuja natureza está assentada na hierarquia.Ainda que o governo pense em cometer o erro de mudar de mãos o controle de vôo, transferindo-o para o âmbito civil, é um despropósito tomar uma decisão dessa gravidade sob ameaça. Sua obrigação imediata era restaurar a cadeia de comando militar. Até poderia ter acenado com contrapartidas materiais, mas precisaria ter erradicado a insubordinação e punido os infratores.Ao menos alguns contrapesos institucionais ao comportamento desastrado do Executivo nessa crise começam a funcionar. Agiu bem, e de acordo com a melhor tradição do Supremo Tribunal Federal, o ministro Celso de Mello ao determinar que a Câmara desarquive o pedido de criação da CPI sobre a crise aérea. Trata-se do primeiro passo para anular uma manobra da base governista e assegurar o direito da minoria.A aceleração da crise deverá levar a coalizão do governo a rever sua posição de confrontar o interesse público. Parece inevitável a instauração já nesta semana da CPI do tumulto aéreo.A crise também foi deflagrada, decerto, por razões estruturais. Nos últimos anos, explodiu a procura por transporte aéreo sem a devida ampliação da infra-estrutura; foi à falência a maior empresa de aviação do país.Mas nada disso torna tolerável um movimento que só não configura uma verdadeira quartelada porque, em vez de contestação político-ideológica, o que o define é a chantagem corporativa.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0104200701.htm


Veja a íntegra da nota da Aeronáutica
Em decorrência do acordo estabelecido na noite de 30 de março entre o Governo Federal e os controladores, o Comando da Aeronáutica propôs que os controladores passem a exercer, independentemente da gestão militar, o controle de tráfego aéreo de natureza civil, a partir da criação de um novo órgão, diretamente subordinado ao Ministério da Defesa. Os militares e civis que atuam em órgãos de controle de tráfego aéreo passarão à subordinação dessa nova organização.A Aeronáutica continuará com sua atribuição institucional de Controle do Espaço Aéreo, cabendo ao novo órgão a ser criado o Controle da Circulação Aérea Geral.O Comando da Aeronáutica compreende a posição assumida pelo Governo, em face da sensibilidade do assunto para os interesses do país, principalmente no tocante à garantia da tranqüilidade do público usuário de transporte aéreo.O Alto Comando da Aeronáutica, diante da gravidade da atitude adotada pelos controladores, destaca a importância da manutenção dos princípios basilares da hierarquia e da disciplina e reafirma a coesão da Força Aérea sob a autoridade de seu comandante.
Centro de Comunicação Social da Aeronáutica.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0104200706.htm


Na versão do Planalto, Lula não desautorizou comandante
KENNEDY ALENCAR VALDO CRUZ DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não considera que tenha desautorizado o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, ao determinar que houvesse uma negociação do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) com os controladores de vôo militares rebelados.Segundo a versão do Palácio do Planalto, Saito demonstrou ponderação na noite de sexta-feira e sai engrandecido do episódio na opinião do presidente.No início da noite de sexta, ainda de acordo com a versão do Planalto, quando a crise se agravou, Saito pretendia dar um ultimato aos controladores, alertando-os de que os que não retornassem ao trabalho seriam presos, mas concordou com avaliações feitas pelo gabinete de crise montado às pressas no sentido de que seria possível negociar uma revisão das punições.O próprio Saito teria, ainda na versão do Planalto, avaliado que, sem uma reserva de militares que pudesse realizar o trabalho dos amotinados, prender os controladores só geraria uma crise ainda maior.Quando Lula foi informado pelo chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, por volta das 20h40 de sexta em pleno vôo para Washington, o presidente avaliou que a aplicação de uma "lei seca" (prender e punir os amotinados) poderia gerar uma paralisação dos aeroportos por dias. O presidente entendeu que ir para o confronto era "uma posição aventureira" e não de governo.Essa avaliação recebeu a aprovação de Saito, conforme relato de auxiliares diretos do presidente. Daí Lula ter dado a ordem de negociação dizendo que era preciso não haver "quebra de hierarquia".Na prática, no entanto, foi o que aconteceu [quebra de hierarquia].
Nota
Pela manhã, após surgirem rumores de que poderiam haver demissões na cúpula da Aeronáutica, Carvalho, falando em nome de Lula, telefonou para Saito e disse que ele saíra engrandecido do episódio por ter tido abertura para negociação.Saito também teve uma reunião, classificada de "tensa" e "difícil", com seus auxiliares para discutir a crise dos controladores.Ao final do encontro, ficou decidido que seriam divulgadas duas notas, uma interna e outra externa.A interna teria o objetivo de acalmar os ânimos da Força, já que a decisão de acatar as reivindicações dos grevistas, com a promessa de não haver punições, foi vista como uma quebra de hierarquia e gerou insatisfação em oficiais.Nas conversas telefônicas com assessores do presidente Lula, o comandante da Aeronáutica reconheceu que há setores descontentes da Força Aérea com as decisões do governo, mas disse que "não tinha fundamento" a informação de que oficiais do Alto Comando estariam demissionários.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0104200709.htm


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Para a frente, Brasil!*
VIVA! TROCARAM de termômetro e o doente melhorou. Usando uma nova metodologia, o IBGE descobriu que, em 2006, crescemos 3,7%, e não 2,9%. Muito bom, mas ainda continuamos a ocupar os últimos lugares na América Latina. As boas notícias sempre vêm acompanhadas de maus presságios. Neste caso, tivemos dois. O primeiro nos conclama para uma grande dose de cautela antes de comemorar a nova descoberta. Sim, porque nesse maior PIB teve grande peso a incorporação da Cofins nos preços dos bens e serviços e o crescimento dos gastos do governo. Melhor seria se o resultado tivesse decorrido de um aumento efetivo da produção de bens do setor privado e de um encolhimento da burocracia e das despesas públicas. Em 2006, o crescimento da indústria de transformação foi de apenas 1,6%. O segundo nos informa que a taxa de investimentos produtivos do Brasil em 2006 (16,8%) foi bem menor do que os 20% ou 21% que se alardeava até então, que, aliás, já eram insuficientes para o tamanho e as necessidades do país. A combinação dessas duas notícias mais preocupa do que alegra. Com investimentos reduzidos, pouco se pode esperar em termos de um crescimento sustentado e de uma grande geração de empregos para os próximos anos. Pior. Se o consumo continuar crescendo -o que é bom- por força de injeções assistencialistas de dinheiro público no bolso dos consumidores -o que é ruim-, vamos nos defrontar com um dilema conhecido e já vivido pelo Brasil: a oferta será insuficiente para atender a demanda. Todos sabem as conseqüências desse desequilíbrio: inflação, agiotagem, sonegação de produtos e outras práticas abomináveis, das quais, a duras penas, conseguimos nos livrar nos últimos dez anos. Nesse caso, o Banco Central terá todos os motivos para manter os juros altos ou, quem sabe, até elevá-los, dando um sonoro adeus ao desejado crescimento. Essa é a leitura que faço do novo termômetro. É como a criança raquítica -não havia como engordar- que, colocada em nova balança, alegra os pais por mostrar mais uns quilinhos. Porém, ao encontrar o médico, os pais ficam sabendo que a capacidade respiratória da criança está aquém de suas necessidades, o que comprometerá o seu crescimento futuro. Seria bom se, em lugar de festejar a troca de termômetros, estivéssemos comemorando a realização efetiva (e não promessas) de investimentos produtivos. Essa noticia será bem melhor do que a revelada pelo novo termômetro.
mailto:antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

*Este texto entrou devido ao título "Para a frente, Brasil!". O título foi usado como uma forma ufanista de apoiar a seleção, enquanto o bicho pegava nos porões da Ditadura Militar. Mas que porcaria é esta de fazer um título deste neste momento hein, sr. Antonio Ermírio. Devido ao assunto tratado no texto, será que o sr. também apoiou a Ditadura Militar e o "Milagre Brasileiro"? Saudosista hein...