domingo, julho 29, 2007

GUERREIRO DE FÉ

Ontem sabadão, frio de 0º grau pra rachar o côco e trincar os dentes em toda a São Paulo, rolou o 13º FAVELA TOMA CONTA, evento de Hip Hop que acontece na zona leste de Sampa, Itaim Paulista, idealizado, organizado e com todas as honras e dívidas para o Alessandro Buzo.


Apesar do frio também fui compartilhar o evento, pela primeira vez, e pretendo voltar em outras edições. Barato responsa, família. Só para ter idéia, na entrada, ao invés da tradicional "geral", o mano te estende a mão pra te receber. É isso aí.


E quero parabenizar a luta do Buzo, não só pelos seus trampos com o Hip Hop, com a Literatura, mas, principalmente, por querer fazer a diferença na periferia. Saindo da casa dos meus pais (Cangaíba), fui cruzando a Avenida São Miguel, Nordestina, Marechal Tito, até chegar no bloco Santa Bárbara, e o que mais chama atenção são as lojas, lojas, lojas, comércio, hiper-supermercados, consuma-me, consuma-me, consuma-me. Nada de Teatros, Bibliotecas, Espaços Culturais. Tá certo, "periferia é periferia em qualquer lugar", mas ainda me surpreendo com isso. A parte mais "ajeitada" é a frente das subs, onde tem até jardim - quem será que eles querem enganar ? Quer dizer, dentro deste universo onde os acesso as oportunidades de cultura e lazer são raras, quem briga pra fazer um evento como o FAVELA, promovendo o Hip Hop, sem apoio muitas vezes principalmente dos órgãos dito governamentais, está de parabéns, só pela coragem de ousar contra o sistema.


E quem quiser ver mais fotos e comentários, acessa os blogs do Buzo e da Marilda, sua esposa e fotógrafa:



www.suburbanoconvicto.blogger.com.br/
www.marildafoto.blogger.com.br/





Alessandro Buzo e eu

quarta-feira, julho 25, 2007

Os urubus vieram jantar.

Sentam-se à mesa, iniciam seus trabalhos.
Lentos e ávidos.
Cutucam meu um, dois olhos
Furam minha garganta
Peito, testículos e uma unha encravada.
De tão cinza confundem trânsito e frustração:
pulmão e coração.

Nem se dão conta que ainda estou vivo.

domingo, julho 22, 2007

EDUCADOR SOCIAL


Ih tio, eu tô aqui há mais de cem anos. Praça da Sé, República, Anhangabaú. Patriarca, Ipiranga com São João, Largo do Paissandú. Faz tempo. Agora vem a Prefeitura querendo me tirar da rua? Pra quê? Pra me jogar no abrigo? Esconder us moleque debaixo do tapete. Não. Deixa, deixa a vergonha dessa cidade exposta na cara. Bem no centro.

É, o Centrão que é a viração. Vixi, tem várias fita aí tio. Outro dia uma senhora quis me levar pra casa. A minha não, a dela. Levou eu e mais dois. Sem safadeza, sem pilantragem. Chegamo lá e tomamo um banho. Leite quente com chocolate. Sabe como a gente devolveu a caridade? Trancamo a tia no banheiro. É, depois fuçamo tudo a casa. Achamo jóia, dinheiro. A gente só caiu nessa mão porque demo muito bandeira, senão, tava com o meu doze mola até agora. Também, a tia é loki, querendo me levá embora? Eu tenho família jão. Minha mãe e mais seis irmão.

Quê cê quer saber tio? Deve tá tudo espalhado no mundão. Depois que o fogo cozinho nosso barraco a gente ficamo por aí, entre a calçada e o chão. Aí desandô. Eu desgrudei. E nunca mais voltei. Miséria por miséria fico aqui. Aqui pelo menos não tenho que dividir meu colchão. E aqui eu não passo fome. Lá não, é fome, treta. Muita raiva jão.

Sei que cê qué me ajudar tio. Cê vai dar um emprego pra minha mãe? Uma casa pra gente mora? Então, qué ajuda como? Veneno eu já passei e tô cansando. Meu primeiro cobertor foi um saco de lixo. Agora cresci. O saco preto eu deixo prus puto que agora eu vô cobri. Ta ligado no meu apelido? Bisturi. Então, a fita é essa aí.

Muitos não rouba por que qué não tio. Muitos rouba porque precisa memo, igual eu. Eu preciso. Mas se fô pra eu caí igual a fita lá da tia do apartamento e minha mãe te que ir na Fundação, fica gastando comigo, eu vou logo pro arrebento. Zé povinho eu lamento mas a vida é isso. A revolta já se instalou no meu peito. Quê se pensa? Como é que a gente vai cresce como uma pessoa igual a qualquer outra aí, que ainda tem uma ajuda de um pai, de uma mãe, que chega e auxilia sempre. Então o moleque ainda cresce normal, cresce sem nenhuma maldade, agora nóis? Êh tio, fala sério. Nóis é criado num local que já não é um lugar prum ser humano vivê, que já tem treta direto das família e tal, muita humilhação e pá, o maluco vai crescendo revoltado né mano, agora cê queria o quê? Que eu ficasse por lá quietinho, vaquinha de presépio, indo pro abatedouro? Aqui não, aqui é Vida Loka.

Esse mundo é o cão. Se pensa que eu num vi lá na banca de jornal? Os playboy no ponto de ônibus, arregaçando com a tia? E se fosse a minha mãe? Cadê a justiça? Não, minha justiça eu memo faço. E se tromba os boy por aí eu vou pro arregaço. Tá certo, não sou de aço. Mas também não vim pra semente jão. E se eu tô aqui nessa situação é por vocês, pensa que eu num sei? Moeda trocada. Essa é a Justiça. Minha única lei.

quinta-feira, julho 19, 2007

uma outra cara para o mesmo dia: 17 de julho

Ontem, no intervalo da fria garoa que caía nos dias quentes de inverno
Fui passear com meus pés pela rua.
Parei num posto de gasolina
E me abasteci de cigarros.
Atravessei ruas, subi ladeiras
E no muro de uma escola eu vi um pássaro
Levemente agachar as pernas
E cagar

Síntese de nossa civilização!

Muros pichados me apresentavam
Golfinhos, praias, rios,
Tucanos, onças e pardais
Preserve a natureza!
Cegamente eu me perguntava
Mas onde está ela?

Um carro com grandes rodas passa lentamente ao meu lado
Não me diz boa tarde, apenas me encara
Apontando escuros olhos para os meus olhos quase vazios
Abaixo a minha cabeça, enquanto na rua deserta
A minha alma não sorri

Por que tenho medo?

Catadores de papelão trabalham,
Na porta do bar um copo segura um homem, e pergunta:
Pra quê?

Entro no mercadinho da esquina
Observo cuidadosamente as paredes, o seu azulejo quadrado
Chocolates, salgadinhos, o piso vermelho encerado
Lembro que estes mercadinhos estão em vias de extinção.
O homem atrás do balcão não é simpático
Na verdade sabe dizer apenas
Obrigado
Depois de ver a cor do meu dinheiro, que é pouco
Mas é o movimento do dia.

Caminho lentamente de volta a minha casa
Vejo uma Casa Espírita, muros baixos
E espinhos fazendo as cercas entre os vizinhos.
Ouço algumas pombas,
Vejo bonitos pássaros
Tento adivinhar os seus nome, que na escola, infelizmente,
eu nunca aprendi.
Me aproximo de um
Ele não voa, mas tem medo
Em pequenos saltimbancos, escapa e sai.
Vai beber a água suja debaixo de um carro
Parece feliz.

Chego na porta do meu prédio
Um homem não se apresenta, não há para quem dizer
Boa tarde, boa noite, bom dia
Apenas o portão eletrônico se abre
Após o olho eletrônico identificar-me e seguramente
Registrar a confirmação.
Vidros fumes escondem o rosto do trabalhador do meu prédio
Segurança é tudo hoje em dia.

Abro a porta do meu apartamento
Dentro da caixa não há ninguém para me receber
Apenas a voz de Lenine no rádio ligado, esquecido, dizendo
Paciência. A vida é tão rara,
A vida não pára não
A vida não pára.

mudando de assunto

car@s,

gostaria de dizer que um novo link foi adicionado nas minhas contra-indicações. portanto, por favor, não acessem o blog abaixo:

malocapraquetequero.blogspot.com/

mantenha a mediocridade em dia.

rodrigo

uma tragédia na sociedade do espetáculo ou mais um espetáculo numa sociedade trágica?

recesso escolar. não sei se é o curto período de férias mas, que preguiça! ao contrário do que faço quando estou dando e preparando aula, corrigindo provas, preparando textos, neste recesso não estou lendo. apenas sentado. ouvindo filmes e vendo músicas. muitas.
tragédias.
por favor, parem de repetir as imagens. chega de links ao vivo, corpos sendo retirados. explosões, cenas exclusivas, novos depoimentos. chega de hollywood. chega de espetáculo. a lente da tv não consegue dimensionar uma tragédia como essa. não será a lente da tv que medirá o tamanho da frustração, da raiva das pessoas. da tristeza.
um acidente premeditado como esse - afinal, você já olhou ao redor de congonhas? só tem casa amigo - na principal cidade latino-americana está sendo um prato cheio para a mídia gorda. tudo bem, estão tristes. lógico, quase todo mundo está. mas, que prato cheio. estão se esbaldando com a miséria alheia. e a classe média, preocupada em culpados, preocupada em linchar o lula-escariotes, nem percebe a exploração de sua tragédia.
besteira da minha parte? lembro muito bem, no ano passado quando caiu o avião da gol, no meio da mata. não tinham imagens, não tinham links ao vivo, não tinham fácil acesso. apenas a confirmação da tragédia: mais de 140 mortos (pensava-se). o que a mídia fez? preferiu dar o "escândalo" das fotos vendidas pelo "políça" federal. lembram? aquelas fotos que mostram o pacotão de dinheiro em cima da mesa? igual a que fora encontrada antes com a candidata que virou picolé? a sarney? não lembra? então esquece. naquela época era reta final da eleição presidencial. e como o picolé de chuchu tinha esperança de ganhar do lula, preferiram noticiar, 1ª capa a foto. o acidente da gol, na época o maior da história, foi colocado a segundo plano.
não tinha foto. não tinha link ao vivo. não era espetáculo. não virou notícia.
e nem bem os culpados foram apurados, o linchamento já começou. ao vivo. e vivo. o principal alvo, você ainda não viu?
os poupados?
não sabe do que estou falando?
ah, não vou abrir os olhos de ninguém. aqui eu só coloco os efeitos colaterais "que o teu sistema fez". e se você não sabe do que estou falando é por quê não estamos no mesmo planeta.
agora, chega de espetáculo. apurem-se os fatos. identifiquem os culpados. cumpra-se o puna-se. e tratemos de outras tragédias que estão no ar, no chão de terra batida, entre becos, vielas e barracos. há muito mais tempo.

rodrigo

terça-feira, julho 17, 2007

segunda-feira, julho 16, 2007

Texto INdispensável do Excelentíssimo Sr. Antônio Ermírio de Moraes

Parabéns pela cidade limpa

ENTROU EM vigor a todo o vapor na última segunda-feira (2/7) lei do Cidade Limpa na capital de São Paulo (14.223/ 2006), que visa disciplinar o uso de anúncios. Naquela data acabou o período de adaptação, e os infratores passaram a ser multados. E as multas são pesadas. Começam com R$ 10 mil e vão subindo numa progressão geométrica e meteórica para que os cidadãos pensem duas vezes antes de invadir a cidade com anúncios inadequados. Houve tempo para tomar providências. E isso foi muito bom. Sem punições, a maioria dos responsáveis entendeu que deveria respeitar as normas de civilidade, providenciando a retirada de anúncios que tornavam São Paulo uma das cidades mais poluídas do mundo. Aos poucos, os paulistanos foram descobrindo uma cidade esquecida ou que nunca conheceram. Uns ficaram admirados com a arte embutida na arquitetura das construções. Outros se assustaram com as rachaduras nos edifícios, estruturas maltratadas, marquises caem-não-caem, redes elétricas a céu aberto e outros problemas que eram escondidos pelos anúncios. Está aí uma lei de boa qualidade. O povo gostou. No início, os infratores reclamaram, mas acabaram se ajustando. A nova lei surtiu efeito antes mesmo de entrar em pleno vigor. O que está faltando, agora, além da retirada das armações dos anúncios, é uma ação educativa e repressiva aos pichadores e aos moradores de rua que emporcalham as paredes dos prédios e que usam as praças e as ruas da cidade como dormitórios, banheiros e lavanderias. Há anos manifesto o meu inconformismo com a inaceitável sujeirada que tomou conta da cidade. Será preciso fazer uma outra lei para corrigir esse problema? Penso que não. Na lei do Cidade Limpa há dispositivos que se referem ao combate à poluição visual, bem como à degradação ambiental. Quer mais degradação do que o emporcalhamento da Biblioteca Municipal Mário de Andrade? Ou gente que dorme, urina e lava roupa em plena praça Ramos de Azevedo, nas barbas do Carlos Gomes? Se lei existe, o que falta é um programa efetivo por parte da prefeitura para acabar com as pichações indecorosas que ainda banham a bela cidade. Não é possível continuar com esses maus exemplos. O turista que vem a São Paulo fica com a impressão de ter chegado a um planeta diferente, onde nada se entende do que é escrito nas paredes e tudo se faz nas ruas e nas praças. A cidade merece um tratamento condigno em vista do que já fez e continua fazendo para o progresso econômico e social de São Paulo e do Brasil.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0807200706.htm

E você, o que acha disso?

quinta-feira, julho 12, 2007

tudo pela DINHA!

caríssimos e caríssimas leitores e leitoras deste blog,
foi me concedido o privilégio de apresentar para vocês uma entrevista exclusiva com uma das maiores poetas da nova geração de escritores - vale dizer não apenas da literatura periférica -, a Dinha.
não fui eu quem realizou a entrevista mas, a mesma foi feita a partir de uma matéria publicada no JT sobre a Coleção Literatura Periférica, da Editora Global, na qual já foi lançado o livro do Sérgio Vaz (Colecionador de Pedras) e será publicado ainda outros autores: Sacolinha, Alessandro Buzo, Allan da Rosa e, por fim, a Dinha. como na entrevista não foi aproveitado muito bem todas as perguntas, a Dinha perguntou se eu tinha interesse em publicá-la, na integra, aqui neste modesto espaço. é claro que sim amiga, e com prazer. afinal, como diz o Vaz: -"É tudo nosso."
vou aproveitar que estarei fora de sampa por uns dias e deixarei-a no ar. leia (e releia!) com moderação e reflexão. vale a pena:


1- Na sua opinião, qual a importância desta coleção da editora Global para a literatura brasileira?
A coleção apresenta um universo que, apesar de não ser estreante no cenário da literatura, é apresentado de forma sistemática, representativa, na medida do possível, de diversos gêneros literários produzidos nas periferias.
Mas mais importante é que os leitores e leitoras terão a possibilidade de nos conhecer, rsrsrsr. Lógico. Porque o que vai nos conferir importância não é a coleção em si, mas a nossa sobrevivência, o fato de as pessoas nos lerem, ou não, depois que ser preto/a e pobre deixar de ser moda. A coleção possibilitará o acesso das pessoas aos textos produzidos pelas periferias.


2- E qual a importância desta coleção para as periferias brasileiras?
Depende. Se as pessoas tiverem acesso, poderá ser tão importante quanto o Hip Hop. As pessoas gostam de se verem representadas, de preferência, sem estereótipos, de forma realista ou não, mas respeitosa sempre. (Porque somos nós que estamos produzindo e eu, pelo menos, costumo me respeitar. Sei – porque sinto na pele – que somos a mesma pessoa: eu, minha família, meus vizinhos. Se um morre ou passa fome ou outro aperreio. Também sou eu quem estou morrendo, passando fome e todo o resto.)


3- Qual a importância desta coleção para vocês, escritores marginais?
A principal é a oportunidade de ser lido por outros públicos – periféricos ou não.
Escrevo pra todo mundo. Faço questão de que todo mundo leia. Fico feliz quando uma moradora de rua (mais marginal que eu) lê e gosta dos meus poemas. Mas também fico satisfeita quando pessoas de outras classes e culturas lêem e gostam.


4- Prefere o termo literatura periférica ou literatura marginal? Existe diferença entre eles?
As palavras têm muito peso. Elas criam. Por isso discutimos as nomenclaturas. Mas, a princípio, é apenas uma questão de nome. Os ditos "marginais" e os ditos "periféricos" são hoje as mesmas pessoas. A diferença fundamental, pra mim, é que "marginal" até Caetano foi (uma amiga me lembrou isto uma vez). Periféricos ou, "de periferia", tem a ver com um contexto atual, difícil de confundir, por isso prefiro este último.


5- Considera que o adjetivo, tanto periférica como marginal, é usado de forma pejorativa, de modo a excluir vocês do time "oficial" de escritores?
A periferia é um mundo inteiro e tudo o que tem a ver com pobreza costuma ser tratado de forma pejorativa. Eu não me esforço pra parecer pobre. Sou pobre. Não tenho intenções de parecer e nem de ficar mais rica. Não admiro a outra classe. Se eu entrar pro tal time e não for lida pela minha mãe, filha, esposo, amigos, etc, de nada me serve a oficialidade.
Digo isso porque cultura oficial, geralmente quer dizer cultura de elite, de quem tem poder aquisitivo. Essas pessoas, ou nos tratam como folclore, ou tendem a diminuir nossa produção cultural. Diante disso, a reação natural é reforçar que somos o que somos. Depois que estivermos bem firmes, deixaremos de desperdiçar energia com quem não vale o esforço e nos dedicaremos completamente à gente da gente.


6- A periferia lê a literatura feita na periferia?
Além dos livros publicados de forma independente, à revelia das grandes editoras e dos raros incentivos governamentais, existe ainda nas periferias diversos movimentos de acesso à leitura e formação de leitores e leitoras: são bibliotecas comunitárias, produção e circulação de fanzines, jornais de bairro, saraus literários e projetos independentes de oficinas literárias que possibilitam acesso à leitura sem que a gente deixe de comprar arroz e feijão.
Significa dizer que a parte leitora da periferia, também lê seus próprios autores.


7- Os moradores da periferia terão acesso à coleção da Global?
Lógico. Se não, pra quê publicar? Se não, pra quê servem as bibliotecas, saraus e tudo o mais que respondi na pergunta anterior?


8- O que significa uma grande editora lançar uma coleção de literatura marginal?

Significa que estamos sendo valorizados como autores/as, independentemente dos rótulos que se coloque. Mas significa também que estamos virando mercadoria vendável e que, portanto, corremos sério risco de virar escritores e escritoras rotineiras, de transformar nosso cotidiano, nosso mundo (com suas maravilhas e misérias) em material de consumo para outras classes – aquelas que não têm coragem de entrar numa favela, mas se delicia com esse contato "seguro".
Significa que a luz amarela do farol está acesa.


9 - Você considera que tudo que vem da periferia ,ou é feito para e sobre a periferia, é positivo?
Nem o que vem da periferia e nem o que é alheio a ela são simplesmente positivos ou negativos. O Movimento Hip Hop, por exemplo, vem narrando, oralmente, através do Rap, várias nuances da perifeira. Isso é bastante positivo pra mim que nunca havia lido/visto/ouvido minha história, da minha família e dos meus vizinhos, a não ser a partir de olhares de fora, estrangeiros. Entretanto, o Movimento é mesmo machista e sexista , assim como a grande maioria das pessoas da nossa sociedade também o são. Isso não tira sua importância.


10 - Quais são os planos futuros?
Estudar. De preferência não trabalhar fora. Só para minha casa, família e comunidade. Cuidar das minhas filhas (a que é grande e a que está por nascer). Produzir e distribuir muitos fanzines (de graça, que é a melhor parte), participar de muitos saraus. Escrever muito. Até ano que vem, publicar o outro livro - "Morrer, só se morre uma vez?" – para o qual estou juntando munição.


11- Qual a maior contribuição dos saraus da Cooperifa ?
Reunir, compartilhar, multiplicar e produzir talentos entre nós, por nós.


1 2 - Como se tornou escritora?
Lia até pedaços de jornal velho – porque não tinha livros em casa. Depois comecei a escrever um diário, com uns 12 anos, mais ou menos. Como eu não tinha chave, percebi que as palavras poderiam dizer sem dizer. Comecei a usar metáforas como chave de palavras. Daí pra escrever poesia foi questão de tempo e muito segredo escrito. Depois senti vontade de mostrar. As pessoas gostaram e eu passei a produzir fanzines literários, com meus próprios textos. Faço isso até hoje. Me tornei escritora quando as pessoas passaram a ler meus trabalhos, multiplicar e pedir mais.


13 - Quais os autores te influenciam ou influenciaram ?
Li bastante Drummond, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Fernando Pessoa e Manuel Bandeira. Agora leio Cadernos Negros e autores de Angola e Moçambique ( que são coisas que eu estudo). Leio muito também os autores periféricos, ou que freqüentam o sarau da Cooperifa. Trocamos influências mútuas. Me influenciam também alguns rappers como GOG e o grupo Clã Nordestino. Me traduzem.


14- Se tiver alguma coisa que vc queira comentar...se puder também, conte o que anda fazendo.
Bom... acabei de casar, estou grávida de 6 meses, cursando mestrado na USP, na área de Literatura Comparada. Trabalho como educadora em uma ONG da cidade e sou responsável, entre outros, pela parte de saraus no Núcleo Cultural Poder e Revolução. Quero reforçar que apesar de escrever PARA todas as pessoas, escrevo, principalmente, POR mim. E eu sou mais que eu mesma. Sou meus irmãos, minha comunidade. Fico feliz que conheçam e admirem nossa história, nossa sensibilidade. Mas isso não significa que vou aliviar o lado de ninguém, nem me encantar a ponto de deixar de ser quem eu sou. Não quero enriquecer, sair da periferia e continuar a escrever sobre ela, de fora, como todo mundo que não é da periferia faz. Primeiro porque não tenho esse desejo, como disse, não admiro a outra classe. Não quero morar no Paraíso, Vila Madalena ou Morumbi, nem comer um pedaço de pizza que custe R$4,50, nem ter carro do ano, ou as outras coisas mais que desconheço. Quero mais é que as feridas se abram e o povo tome, à força se for preciso, o que é nosso por direito.
Se eu fizer o contrário do que estou dizendo, me desconsiderem.
Como diz o amigo, escritor e rapper Dugueto: Quem não tem valor, tem preço.




E pra quem quer conhecer um pouco mais do trabalho da Dinha e do Núcleo Cultural Poder e Revolução, acontece neste sábado, 14/07, a partir das 16hs um SARAU e uma FEIRA DE TROCAS NO MALOCA (Rua Particular, 556 - Pq. Bristol). A Dinha informa que está trocando poemas por roupas de neném, carregador de pilhas por liquidificador ou roupas de grávidas. Outras informações, como chegar: milakizzy@yahoo.com.br ou 9969-1010

texto DISPENSÁVEL aos ortodoxos e puritanos em matéria de Cristo

SAI DE BAIXO

Pai, dessa vez não tem jeito, eu preciso descer.
Calma Filho, calma. Lá vai você querendo salvar o mundo de novo.
Não pai, não é isso. Você tem visto os jornais?
Eu não. Deixei de ler há muito tempo. A gente trabalha, trabalha, trabalha e só recebe uma notinha, um rodapé de vez em quando.
Então. O Vaticano declarou: “Única Igreja de Cristo”.
Ah, é isso? Esquece. Já pensou você aparecendo: -“Irmãos, algumas questões precisam ser esclarecidas.” Vão te chamar de doido, vão te internar no hospício.
Eu tava pensando em colocar uma Carta Aberta nos jornais.
Não. Relaxa e louva meu filho.
Não pai, não dá. Tem muita gente fula com esse monopólio. “Única Igreja de Cristo.”
Então, de novo te patentearam na cruz, martelo batido. Sua cabeça já foi a prêmio. Mas não se preocupe. É só mais uma bobagem dessa Igreja. Logo ninguém mais fala disso.
Será Pai? Já tô ouvindo algumas piadinhas. Tem alguns me chamando de vendido.
Você? Vendido? Garanto que foi alguém da imprensa. Eles não tem mais nada que inventar mesmo.
É, mas tem cristão no meio. Mas o que mais me incomoda mesmo é essa obsessão, essa posse pro meu lado. Ta me enchendo o saco. Meu lema é a Liberdade, Paz e Amor, mas não. Eles insistem em me pregar. Só faltava chamar uma nova Cruzada contra os infiéis pra varrer o mundo, com a minha benção.
Ah, isso você não precisa se preocupar. Eles já deixaram para os americanos.
E a mãe, ta sabendo?
Tá.
O que achou?
Xiii. Essa daí ficou brava. Você sabe como é que é né, mãe. Quando mexe com a cria. Queria até fazer uma nova aparição. Mas aí pensou bem. Disse que não tinha mais idade pra isso. Tem muita câmera escondida espalhada por aí. Achou melhor não ir.
É. Nem a mãe escapa ao pecado da vaidade.
Pois é.
To vendo que eu vou precisar contratar um advogado.
Fala com o Lúcifer.
O que? Com o Tinhoso, o Pau Mandado? O Cão?
Calma meu filho. Melhor do que o Advogado do Diabo é o próprio. Ele vai te defender bem, você sabe que ele tem bom trânsito, bom relacionamento com pessoas influentes na Igreja. Fala com ele. Ele vai saber como consertar isso.
Isso não vai dar certo. Onde já se viu, o diabo me defendendo?
Acredite em mim meu Filho. Ele é profissional. Sabe separar as coisas. Pagando bem, que mal tem?

quarta-feira, julho 11, 2007

Ocas'' comemora 5 anos com Seu Jorge, sarau e futebol

Festa em SP contará, entre outras atrações, com show do cantor fluminense e apresentação dos jogadores que irão disputar a Copa do Mundo de Futebol de Rua, na Dinamarca

Em julho de 2002, com um evento no Pátio do Colégio e outro no Largo São Francisco, a Ocas'' foi lançada, respectivamente, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para celebrar a vitória de estar há cinco anos nas ruas, vendedores e voluntários do projeto prepararam uma programação que inclui sarau, dança, teatro e muita música. Um dos destaques é a participação especial de Seu Jorge, que divulga o quarto e novo CD, "América Brasil", e foi entrevistado pela nossa equipe. O resultado estará na capa e nas páginas da revista comemorativa, n.54 (Julho/Agosto 2007).
Além das intervenções culturais, serão apresentados os integrantes da seleção que irá representar o país na 5a edição da Homeless World Cup, a Copa do Mundo de Futebol de Rua. Realizada em Copenhagen, entre os dias 29 de julho e 4 de agosto, a competição reunirá mais de 500 jogadores de 48 países. Vendedores da Ocas'' vestiram a camisa do Brasil nos três últimos torneios. A equipe, que está há seis meses em intensas atividades de preparação e treinamento, conquistou em junho o terceiro lugar no Campeonato de Futsal Solidário - organizado pela prefeitura de São Paulo - e espera retornar da Europa com o título da Copa.

Sobre a Revista Ocas''
A revista Ocas'' é vendida exclusivamente por pessoas em situação de rua ou em extremo risco social, que têm neste trabalho uma chance de mudança efetiva em suas vidas. O resultado decorrente da venda permite que elas estabeleçam novos contatos, ampliem sua rede de relacionamentos e dêem passos rumo à cidadania. Os vendedores ficam com R$ 2 do preço de capa, R$ 3.
Ao longo destes 5 anos, mais de 1500 pessoas cadastradas pelo projeto colocaram em circulação cerca de 250 mil exemplares da revista, o que chega a representar mais de R$ 500 mil transferidos diretamente ao público beneficiário.
Para obter mais informações sobre a Ocas'' e relação de atividades da organização, que inclui seções de psicodrama, oficinas de redação com os vendedores, espaço de informática, teatro e projeto esportivo, acesse www.ocas.org.br. Visite também o site da Copa do Mundo de Futebol de Rua, em http://www.homelessworldcup.org.

Serviço:
Festa de 5 anos de circulação da revista Ocas''
Quando: 14 de julho, a partir das 16h.
Onde: Rua Domingos Paiva, 672 - ao lado da estação Brás do metrô.
Entrada: R$ 5 - dá direito a um exemplar da revista, exceto edição n.54 - Julho/Agosto 2007.

Assessoria de Imprensa: Carolina de Barros ( ocas@ocas.org.br e 0/xx/11 9273 -7978).

bilhetinhos


sexta-feira, julho 06, 2007

devo, não nego, pago quando voltar...

exercendo o ditado "devo, não nego, pago quando... voltar", eu e tânia estamos fazendo as malas rumo a Parati.
já faz um tempo que eu não viajo e o contato com a natureza fará muito bem aos meus pulmões e ao meu desânimo pela vida. levo na bagagem a expectativa de conhecer pessoas interessantes naquela cidade que, no momento, está acontecendo a flip, além de encontrar alguns conhecidos, principalmente na off-flip (marcelino, pessoal do maloqueirista, entre outros) já que não pretendo gastar um centavo nas palestras, conferências, apenas curtir uma viagem e bons amigos.
se o robson cano não der para trás, ele e sua esposa neide darão o ar da graça junto conosco.
estou levando na bagagem também alguns exemplares dos livros das edições dulcinéia catadora. faremos a divulgação do trabalho e quem sabe, ganhar alguns trocados.
nem sou escritor mas, sei que essa vida não é fácil.
e é isso. tô enjuriado hoje pra escrever por acabar de ver uma pessoa batalhadora pra caramba passar mó perrengue pra pagar suas contas, tendo que talvez voltar pra rua se a maré não mudar. sei que não é o último, nem é só ele mas, é que eu não me acostumei nem me conformo com essas coisas ainda.
mas é isso. por esses dias visite outros blogs aí indicados. depois volte. será bem vindo.
até quem sabe por aí,

rodrigo

quarta-feira, julho 04, 2007

fotos - FLAP 2007

mesa de abertura da FLAP. entre os convidados, glauco mattoso e marcelino freire

mesa "a turma do fundão - a literatura na sala de aula"

eu, muito nervoso.

teatro dos satyros I - praça roosevelt

público presente

"ando, meio desligado..."

há tempos que não posto nada por aqui.
nem tanto pelo clima de férias. mais por um pequeno incidente que me "travou" as costas e me deixou com um belo colar de gesso, por uns dois ou três dias. desde segunda feira que praticamente estou de "molho". mas vai melhorar.
é preciso.
esta quinta tem lançamento do livro do sérgio vaz. sexta feira tenho que entregar notas, resultados das avaliações na escola. sexta feira pode ter ainda a flip. quem sabe? eu não sei.
e a partir do final de semana eu vou aproveitar as minhas pequenas férias. dez dias de recesso mas, quero aproveitá-los bem.
para quem visita o blog, eu contra indico todos os blogs e sítios ao lado.
ah, e digo mais: a flap foi muito boa. aproveitei apenas a sexta e o sábado mas, digo que foi boa. a mesa da qual eu participei - a turma do fundão, a literatura na sala de aula foi frutífera. o tempo foi curto mas, pequenas provocações, reflexões foram colocadas e isso é o que basta.
não tenho mais nada para dizer então, é isto.
para quem não for curtir umas férias, não trabalhe tanto!
abraço