quinta-feira, julho 30, 2009

...

Estar preso a um amor não resolvido é como estar parado no limbo. É sentar-se na poltrona diante do filme chamado “A Sua Vida” e vê-lo passar repetidamente, ininterruptamente. Você apenas acompanha o correr de imagens: ri, chora, brinca, toma banho, almoça, fica doente, vê televisão, se corta, mas não age. Você não interfere, não decide. Você não comanda. Você observa o tempo passar a espera de que algo aconteça. Algo que te faça tomar as rédeas novamente em suas mãos e galopar a pêlo sentindo a sua bunda assar, o vento correr e a crista do cavalo roçar-lhe a testa, o nariz. Mas sobretudo sentir. Porque estar preso a um amor não resolvido é não sentir. É viver sem presente, com lembranças de um pretérito imperfeito e um futuro sem particípio conjugal. Não, o futuro é uma dúvida, angústia e castigo cumprido religiosamente de joelho sobre o milho. Todos os dias. Estar preso a um amor não resolvido e sentar-se sobre os trilhos e aguardar a chegada do trem. Para saber a sua reação: ou te atropela e passa ou pára. Sobre você. Mas ele não vem. Chegam novos passageiros, aguardam a sua decisão. Dão sinais, chamam sua atenção. Você acena, manda beijos, chega a tocar em alguns. É tocado, mas não sai da linha. Alguns te acham especial, e aguardam. Horas, meses, semanas. Outros vão embora. E você não se dá conta de que poderia embarcar em outras paradas. Ou até se dá, mas não liga. Muito. Pois você aguarda o trem. Aquele, que já te passou por cima, uma, duas, cem vezes. Aquele que te levou por viagens ao centro do umbigo e no enlaçar de corpos te fez descobrir que há mais coisas entre o céu e a terra do desconfia o seu plano físico. Aquele que te deixou na estação Purgatório, bem distante do Paraíso. Aquele: o Amor não resolvido. Deve ter encontrado uma pedra. Deve ter descarrilado no meio do caminho. Pior: deve ter atropelado outro alguém e agora está, neste momento, lambendo as suas feridas em outra estação.

quarta-feira, julho 29, 2009

"LIBERDADE É POUCO. O QUE EU DESEJO AINDA NÃO TEM NOME." (C.L.)

Minha amiga e companheira de luta Talitha me mandou este email há um tempo atrás. Já li e reli, já conhecia a Escola da Ponte de outros tempos. E diante da minha insatisfação com a nossa (des)educação, o meu desejo de algo - que ainda não tem nome - e a minha intenção em largar a escola e fazer um tour mundo à fora, que inclui no roteiro alguns meses de estudo e estadia na Escola da Ponte, em Portugal, publico aqui a entrevista. Para ver se ilumina algumas pessoas. Quem sabe?

***

"Trabalho há mais de 30 anos com escola que não tem aula, série e prova, e dá certo", diz educador português

Simone Harnik
Em São Paulo

http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/06/30/ult105u8320.jhtm

Idealizador da Escola da Ponte, em Portugal, instituição que, em 1976, iniciou um projeto no qual os estudantes aprendem sem salas de aula,divisão de turmas ou disciplinas, o educador português José Pachecoafirma que as escolas tradicionais são um desperdício para os estudantes e os professores.

"O que fiz por mais de 30 anos foi uma escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor escola nas provasnacionais e nos vestibulares", diz. "Dar aula não serve para nada. É necessário um outro tipo de trabalho, que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão.

"O formato tradicional das escolas está ultrapassado? Opine

Aos 58 anos, o professor que classifica autores como Jean Piaget como"fósseis", fez uma peregrinação pelo país. No trabalho de prospecçãode boas iniciativas em colégios brasileiros, Pacheco só não conheceuinstituições do Acre e do Amapá e diz ter somado cerca de 300 voos noúltimo ano.

Com a experiência das viagens, escreveu dois livros de crônicas: o"Pequeno Dicionário de Absurdos em Educação", da editora Artmed, e o"Pequeno Dicionário das Utopias da Educação", da editora Wak. Apontaainda que a educação brasileira não precisa de mais recursos paramelhorar: "O Brasil tem tudo o que precisa, tem todos os recursos e osdesperdiça". Veja a entrevista:

O educador português José Pacheco

UOL Educação - Em suas andanças pelo país, qual o absurdo que maischamou sua atenção?
Pacheco - O maior absurdo é que a educação do Brasil não precisa de recursos para melhorar. O Brasil tem tudo o que precisa, tem todos os recursos e os desperdiça.

UOL Educação - Desperdiça como?
Pacheco - Pelo tipo de organização. A começar pelo próprio Ministério da Educação. Eu brinco, por vezes, dizendo que o melhor que se poderia fazer pela educação no Brasil era extinguir o Ministério da Educação. Era a primeira grande política educativa.

UOL Educação - Qual o problema do ministério?
Pacheco - Toda a burocracia do Ministério da Educação que se estende até a base, porque a burocracia também existe nas escolas, à imagem esemelhança do ministério. No próprio ministério, o contraste entre autopia e o absurdo também existe. Conheço gente da máxima competência, gente honesta. O problema é que, com gente tão boa, as coisas não funcionam porque o modo burocrático vertical não funciona. É umdesperdício tremendo.

UOL Educação - Como resolver?
Pacheco - Teria de haver uma diferente concepção de gestão pública, uma diferente concepção de educação e uma revisão de tudo o que é o trabalho.

UOL Educação - O que teria de mudar na concepção de educação?
Pacheco - O essencial seria que o Brasil compreendesse que não precisair ao estrangeiro procurar as suas soluções. Esse é outro absurdo. Quais são hoje os autores que influenciam as escolas? Vygotsky [Lev S.Vygotsky (1896-1934)], Piaget [Jean Piaget (1896-1980)]? Não vejo um brasileiro. Mas podem dizer: "E Paulo Freire?". Não vejo Paulo Freire em nenhuma sala de aula. Fala-se, mas não se faz. Identifiquei, nos últimos anos, autores brasileiros da maior importância que o Brasil desconhece. Esse é outro absurdo. Quem é que ouviu falar de Eurípedes Barsanulfo (1880-1918)? De Tomás Novelino(1901-2000)? De Agostinho da Silva (1906-1994)? Ninguém fala deles. Como um país como este, que tem os maiores educadores que eu jáconheci, não quer saber deles nem os conhece? Há 102 anos, em 1907, o Brasil teve aquilo que eu considero o projeto educacional mais avançado do século 20. Se eu perguntar a cem educadores brasileiros, 99 não conhecem. Era em Sacramento, Minas Gerais, mas agora já não existe. O autor foi Eurípedes Barsanulfo, que morreu em 1918 com a gripe espanhola. Este foi, para mim, o projeto mais arrojado do século 20, no mundo.

UOL Educação - O que tinha de tão arrojado?
Pacheco - Primeiro, na época, era proibida a educação de moços e moças juntos. Só durante o governo Getúlio Vargas é que se pôde juntar os dois gêneros nos colégios. Ele [Barsanulfo] fez isso. Ele tinha pesquisa na natureza, tinha astronomia no currículo oficial. Não tinha série nem turma nem aula nem prova. E os alunos desse liceu foram aelite de seu tempo. Tomás Novelino foi um deles e Roberto Crema, que hoje está aí com a educação holística global, foi aluno de Novelino.

UOL Educação - Por que o senhor fala desses autores?
Pacheco - Digo isso para que o brasileiro tenha amor próprio, compreenda aquilo que tem para que não importe do estrangeiro aquilo que não precisa. É um absurdo ter tudo aqui dentro e ir pegar lá fora.

UOL Educação - Qual foi a maior utopia que o senhor viu?
Pacheco - O Brasil é um país de utopias, como a de Antônio Conselheiro e a de Zumbi dos Palmares. Fui para a história, para não falar em educação. Na educação, temos Agostinho da Silva, que é um utópico coerente, cuja utopia é perfeitamente viável no Brasil. Ou seja, é possível ter uma educação que seja de todos e para todos. O Brasil, dentro de uns 30 ou 40 anos, será um país bem importante pela educação. São os absurdos que têm de desaparecer, para dar lugar à concretização das utopias. Acredito nisso, por isso estou aqui. (Pacheco ministra curso no colégio Pueri Domus, na zona sul da capital)

UOL Educação - Os professores são resistentes às mudanças?
Pacheco - Os professores são um problema e são a solução. Eu prefiro pensar naqueles professores que são a solução, conheço muitos que estão afirmando práticas diferentes.

UOL Educação - Práticas diferentes como a da Escola da Ponte?
Pacheco - Não são "como", mas inspiradas, com certeza. São práticas que fazem com que a escola seja para todos e proporcione sucesso para todos.

UOL Educação - Dentro da escola tradicional, onde ocorre o desperdíciode recursos?
Pacheco - Se considerarmos o dinheiro que o Estado gasta por aluno, daria para ter uma escola de elite. Onde o dinheiro se desperdiça? Porque em uma escola qualquer, que tem turmas de 40 alunos, a relação entre o número de professores e de alunos é de um para nove? Por que os laudos e os atestados médicos são tantos? Porque a situação que se criou nas escolas é a do descaso. Esse é um absurdo.

UOL Educação - Onde mais ocorre o desperdício nas escolas?
Pacheco - O desperdício de tempo também é enorme em uma aula. Pelo tipo de trabalho que se faz, quando se dá aula, uma parte dos alunos não tem condições de perceber o que está acontecendo, porque não têmos chamados pré-requisitos, e se desliga. Há um outro conjunto de crianças que sabem mais do que o professor está explicando - e também se desliga. Há os que acompanham, mas nem todos entendem o que o professor fala. Em uma aula de 50 minutos, o professor desperdiça cerca de 20 horas. Se multiplicarmos o número de alunos que não aproveitam a aula pelo tempo, vai dar isso. O desperdício maior tem a ver com o funcionamento das escolas. Os professores são pessoas sábias, honestas, inteligentes e que podem fazer de outro modo: não dando aula, porque dar aula não serve para nada. É necessário um outro tipo de trabalho, que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão.

UOL Educação - As famílias não estão acostumadas com escolas que não têm classe, professor ou disciplinas. Querem o conteúdo para o vestibular. Como se rompe com esse tipo de mentalidade?
Pacheco - Pode-se romper mostrando que é possível. Eu falo do que faço, e não de teorias. O que fiz por mais de 30 anos foi uma escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor escola nas provas nacionais e nos vestibulares. Justamente por não ter aulas e nada disso.

UOL Educação - Por que uma escola que não tem provas forma alunos capazes de ter boas notas em provas e concursos?
Pacheco - Exatamente por ser uma escola, enquanto as que dão aulas não são. As pessoas têm de perceber que não é impossível. E mais, que é mais fácil. Posso afirmar, porque já fiz as duas coisas: estive em escolas tradicionais, com aulas, provas, com tudo igualzinho a qualquer escola; e estive também 32 anos em outra escola que não tem nada disso. É mais fácil, os resultados são melhores.

UOL Educação - Na concepção do senhor, o que é uma boa escola?
Pacheco - É a aquela que dá a todos condições de acesso, e a cada um, condições de sucesso. Sucesso não é só chegar ao conhecimento, é a felicidade. É uma escola onde não haja nenhuma criança que não aprenda. E isso é possível, porque eu sei que é. Na prática.

UOL Educação - O professor que está em uma escola tradicional tem espaço para fazer um trabalho diferente? O senhor vê espaço para isso?
Pacheco - Não só vejo, como participo disso. No Brasil, participei de vários projetos onde os professores conseguiram escapar à lógica da reprodução do sistema que lhe é imposto. Só que isso requer várias condições: primeiro, não pode ser feito em termos individuais; segundo, a pessoa tem de respeitar que os outros também têm razão. Se,dentro da escola, os processos começam a mudar e os resultados aparecem, os outros professores se aproximam. Não tem de haver divisionismo.

UOL Educação - O senhor acha que a mudança na estrutura da escola poderia partir do poder público ou depende da base?
Pacheco - Acredito que possa partir do poder público, mas duvido que aconteça. As secretarias têm projetos importantes, mas são de quatro anos. Uma mudança em educação precisa de dezenas de anos. Precisa de continuidade. E isso é difícil de assegurar em uma gestão. Precisa partir de cada unidade escolar e do poder público juntos.

CONVITE - TRIBUNA POPULAR

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terça-feira, julho 28, 2009

LEITURAS E DIVAGAÇÕES

pois é, minha televisão queimou. simples assim: no sábado assisti a um filme. estava funcionando. no domingo, nada. apagou. tipo a morte, sabe? aquela que não manda aviso.

agora dentro das coisas que eu tenho que arrumar em casa estão: máquina de lavar, que não está batendo a roupa, a pia da cozinha, que está caindo, os armários da cozinha, que já caíram, o telefone, que não está carregando, uma estante, para guardar os livros, o rádio, que travou os cds e, a televisão, que agora queimou.

hahahahaha! eu tô fudido - rs.

não aguento minha mãe me cobrando: você tem que fazer isso, tem que arrumar aquilo, não deixa acumular. poxa, mãe: não arrumo não por preguiça. não tá sobrando grana. cê entende, né?

agora, mais do que nunca, vou me aprofundar nas leituras. já passei da metade da leitura de "Dois Irmãos", do Milton Hatoum. livro bom pra caralho! tô curtindo. frases geniais, uma prosa extremamente poética que revela um pouco do Brasil não conhecido: Manaus, Amazonas. bom, quando acabar eu falo mais um pouquinho dele por aqui.

e para quem gosta de ler uma boa crônica literária e, principalmente, gosta de escrever - contos, romances, cartas, poemas - a dica é o livro "A Cegueira e o Saber", do excelentíssimo poeta Affonso Romano de Sant'Anna. o livro é a reunião de crônicas publicadas pelo autor em um jornal que me escapa o nome agora. há textos excelentes, que nos ajudam - e muito - a escrever e a repensar o fazer literário. leitura obrigatória.

e daqui a pouco eu estarei na Rádio Unesp, no centro aqui de Sampa, gravando o programa Perfil Literário, da mesma rádio. vários autores já passaram por lá: o próprio Milton Hatoum, Marcelino Freire, Ademir Assunção, Xico Sá, Ivana Arruda Leite, entre outros. depois que eu tiver o link para a entrevista, eu passo aqui para vocês.

hoje teve escola, de novo. mas nada de novo ou interessante que mereça o comentário.

ah, tem sim: fui intimado para depor, no dia 01 de setembro, na Procuradoria Geral do Estado, referente a todo o movimento deflagrado na escola no ano passado que resultou no afastamento da direção da unidade escolar. muita água ainda vai rolar. roupa suja pra lavar. vamos ver no que vai dar. espero que em Justiça.

no mais, vou ver se acho nos sebos aqui de Sampa minhas próximas leituras: Veias Abertas da América Latina, Eduardo Galeano; O Processo, do Kafka e Hamlet, do Shakeaspeare. só os "crássico", classe A.

precisando beber destas fontes para ver se eu destravo o meu "processo criativo". não tá saindo nada ultimamente.

é isso. salve,

r.c.

FRASE DA SEMANA, SENTIDA NA ALMA

"Você sabe que uma pessoa pode encalhar numa palavra e perder anos de vida?"
Clarice Lispector

segunda-feira, julho 27, 2009

"ÔOOH, SEMPRE MAIS DO MESMO..."

hoje voltei para a escola. as aulas ainda não voltaram. voltam apenas na quarta. hoje nós tivemos o que chamam de planejamento. um REplanejamento.

que na verdade eu não sei para que serve. não replanejamos nada. não pegamos o passo inicial, não discutimos os caminhos percorridos, não discutimos os desvios. de importante, para mim - se é que a minha opinião valha alguma coisa - não se discutiu muita coisa. porque não se discutiu, no cerne da palavra, os problemas: os alunos não alfabetizados, os analfabetos funcionais (só estes dois grupos somam mais de 70% de todos os alunos da escola); não se discutiu os alunos fora de sala, a dificuldade em aplicar o projeto pedagógico, etc. o único fator novo foi a apresentação de duas novas vices-diretoras. e só. no mais foi perda de tempo, ofensas indiretas, muito sapo engolido e a indignação cotidiana de sempre que antecede um sentimento já presente: tudo vai continuar do mesmo jeito. o que interessa, mesmo, vai continuar do mesmo jeito. alunos fingindo que aprendem, nós fingindo que estamos ensinando. a educação seguindo.

o replanejamento de hoje para mim mais DESagregou o grupo do que o uniu. o sentimento que eu tenho dentro da minha escola é de uma disputa: direção e coordenadores X professores X funcionários X alunos. eu só queria saber qual é o prêmio que está em disputa, porque a educação com certeza não é. se fosse, não deveríamos trabalhar em DISPUTA, concorrendo um grupo contra o outro, mas deveríamos trabalhar juntos. em regime permanente de COOPERAÇÃO, COLABORAÇÃO. principalmente os três primeiros grupos, que tem por obrigação fazer a educação acontecer na escola, apesar da falta de apoio, de dinheiro, estrutura, etc.

é uma cena muito triste, pra não dizer deprimente. pessoas que não sabem dialogar, pessoas que cobram demais sem cumprir com o seu papel. pessoas. alguém já disse, "nada do que é humano me é estranho", mas eu ainda consigo me surpreender com o ser humano. com a raça humana. aliás, é necessário dizer: humanidade é um conceito em vias de extinção. SER humano, no âmago, na alma da palavra é algo cada vez mais difícil de ser visto, feito, praticado.

tem leitores que acompanham este blog que não devem estar entendendo nada. é normal, viu galera. algumas vezes faço deste espaço aqui uma espécie de diário, de desabafo e terapia pessoal. aqui eu exerço o meu direito de liberdade de expressão ao extremo. grito pelos dedos coisas que eu não consegui dizer olhando no olho. não por falta de coragem, minha fama de chato, encrenqueiro já chegou a escola, exerço ao máximo lá a liberdade de expressão; mais porque as vezes a indignação é tamanha que falta voz, o grito fica sufocado entre os nós da garganta. aí eu grito aqui o que não consegui lá. e no mais, o blog é público, e de fácil acesso - e acompanhamento - para muita gente e sei que algumas pessoas o seguem feito novela (rs).

quero dizer também que o sentimento que eu tive hoje, na volta para a escola, é que a minha escola não tem problemas. nenhum. o problema está em mim, nos professores. que não preenchem o seu diário - uma ferramenta IMPORTANTÍSSIMA, óóóóóhhh.. - corretamente. que eu tenho faltas demais. que eu não colaboro com os colegas. que eu sou incompetente, incapaz, etc., etc., etc. talvez seja mesmo. talvez eu não esteja fazendo o meu serviço direito. talvez esteja na hora de eu pedir para sair. e ok, estou pedindo para sair.

se alguém souber de alguma vaga de trabalho, onde talvez eu tenha o chamado "perfil", eu possa trabalhar, por favor me comunique. de verdade. estou em busca de novos horizontes. um lugar onde eu possa encontrar companheiros de trabalho que não tenham medo de sonhar e vislumbrar mudanças. não tenham medo de trabalhar, de errar e, acima de tudo RECONHECER os erros, e buscar fazer melhor. um lugar onde eu tenha respeito e tratamento digno.

nossa, será que este lugar existe? será que eu tô viajando outra vez?

brincadeiras a parte, o interesse por novos horizontes é real.

r.c.

sexta-feira, julho 24, 2009

DAS COISAS QUE VALEM A PENA





na próxima quinta, retomo as atividades com a minha turma de teatro, "Os Mesquiteiros". voltamos com força total, com ensaios e exercícios as quintas e sextas-feiras. a idéia é termos algo apresentável montado para o início de novembro deste ano.

estou ansioso com o retorno com o grupo. neste segundo semestre, ainda, a minha idéia é fazer pelo menos uns três encontros literários com a turma. para quem não sabe, a idéia de montar um grupo de teatro foi um desdobramento dos encontros literários que faço na escola já tem três anos, em que eu convido escritores para fazer atividades, bater um papo com os alunos. aliar literatura e teatro, minhas duas paixões, é algo que me cativa muito e me deixa muito feliz também.

e, das poucas coisas boas que consigo fazer na escola, apesar de tudo, essa turma de teatro com certeza está na ponta. financeiramente não ganho nada, na verdade tenho até prejuízo (rs), mas a conquista, a realização profissional e pessoal que eles me trazem, não tem preço. é muito bom conviver, ensinar e aprender com essa molecada. eles valem muito a pena.

é claro: apesar do tamanho, nenhum deles tem a alma pequena!

é isso.

quarta-feira, julho 22, 2009

MEMÓRIAS DE MINHAS PUTAS TRISTES


é do caralho! não no sentido literal da palavra, no figurado. muito bom. Gabriel Garcia Marquez faz parecer fácil uma coisa que, para mim pelo menos, é extremamente trabalhosa: escrever.

este romance, curto, fala da história de um homem, na verdade um velho, um tiozinho, que ao completar 90 anos de idade, tem um desejo um tanto quanto inusitado: deitar-se com uma jovem. virgem. vai ser tarado assim no inf...

a história desenrola-se a partir do encontro deste ancião com a jovem, e suas lembranças das atividades como jornalista, escritor, família e (des)amores vividos. além de algumas de suas "putas tristes", claro.

gosto do livro porque é narrado em primeira pessoa, principalmente. parece que estamos conversando com o narrador, numa tarde de domingo, depois do almoço. isso muito me agrada.

e porque, no final das contas, fica claro que, para o Amor, não há idade. isso já é um puta de um chavão. a genialidade está em como pegar estas coisas, frases simples, e construir verdadeiras obras de arte.

pra quem não conhece o Garcia Marquez, transcrevo aqui um trecho do livro que gostei muito. só para dar "água-na-boca":


"A única relação estranha foi a que mantive durante anos com a fiel Damiana. Era quase uma menina, mais para forte e xucra, de palavras breves e terminantes, que se movia descalça para não me estorvar enquanto eu escrevia. Recordo que eu estava lendo La lozana andaluza na rede do corredor, e a vi por acaso inclinada no tanque com uma saia tão curta que deixava a descoberto suas coxas suculentas. Presa de uma febre irresistível levantei-a por trás, baixei suas prendas até os joelhos e avancei pelos fundos. Ai, senhor, disse ela, com um queixume lúgubre, isso não foi feito para entrar, mas para sair. Um tremor profundo percorreu seu corpo, mas se manteve firme. Humilhado por tê-la humilhado quis pagar a ela o dobro do que custavam as mais caras daquele tempo, mas não aceitou nem um tostão, e tive que aumentar seu salário com o cálculo de uma montada por mês, sempre enquanto lavava roupa e sempre pela retaguarda."

terça-feira, julho 21, 2009

NÃO É QUALQUER COISA

o título de uma obra, um conto, um poema, não é qualquer coisa. não se trata apenas de apresentação, o nome, muitas vezes, é a primeira coisa que dá destaque pra gente. dá forma, dá sentido. num texto, é o que pode te prender ou afastar.

tô falando tudo isso porque estou lendo "Memórias de minhas putas tristes", do Gabriel Garcia Marques. o título é muito bom. no mínimo instigante. "o que que é essa porra, é pornografia? putaria? livro de memórias?" são várias as perguntas que vêm as cabeças das pessoas que me vêem circulando com ele por aí: meu pai, o cobrador do busão, a tiazinha da padoca, a atendente do supermercado, o moleque da lan house. da para ver nos olhos, a reprovação ou interesse. o desejo ou repugnância. muito lôco.

mas o título, por si só, não garante nada. não se pode julgar um livro pela capa, quanto mais pelo nome. e o conteúdo do "Memórias..." é muito bom. estou na metade dele. amanhã, talvez, eu termino. depois eu comento sobre.

falando em título, desculpe a falta de modéstia, mas "Te Pego Lá Fora" foi uma boa escolha. o título, um certo tom ambiguo, já me rendeu boas histórias. pelo menos é um ótimo quebra gelo na hora de abordar alguém oferecendo o filhote.

e aí: alguém já lhe disse "te pego lá fora" hoje?

salve,

r.c.

segunda-feira, julho 20, 2009

DESEJO

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo. Com sabor de fruta mordida. Nós, na batida, no embalo da rede. Matando a sede na saliva..."

Cazuza - Todo amor que houver nessa vida

E AÊ?

a tensão FLIP repressão passou. ficou o aprendizado, ficou a lição. a literatura incomoda muita gente. ainda. ainda bem. só o que não ficou bem foi o silêncio de alguns parceiros. ok. outras pessoas gritaram. nos comentários, por emails. assim prosseguimos.

daquela coisa que atacou os meus pulmões, parece que já foi embora. não totalmente. ainda estou um pouco fraco, expelindo uma coisa não muito agradável de se ver. a cabeça dói, consequência da sinusite. mas estou bem. melhor. o que foi bom disso tudo é que estava com uma mania feia, consequência da minha dificuldade de resolver os problemas, stress e ansiedade: o fumo. algo que passei incólume na minha adolescência. mas quando a água bate na bunda, todo mundo aprende a nadar, eu parei de fumar. é, quando você realmente sente falta dos seus pulmões, você percebe o quanto eles são importantes. e merecem ser cuidados.

no mais, preparando-me para a última semana de recesso. na segunda, volto para a escola. de verdade, não queria voltar. não porque não gosto da escola, não gosto de dar aulas. não. amo o que faço. faço o que amo. mas não gostaria porque, a impressão que tenho, é que tudo permanece igual. não conseguimos propor nada de novo, não conseguimos fazer nada novo. e isso é angustiante. e deprimente. pois o que está aí não está bom. está péssimo. e precisamos fazer diferente.

domingo, julho 19, 2009

"DIAS SIM, DIAS NÃO..."

O TEMPO NÃO PÁRA
Composição: Cazuza / Arnaldo Brandão

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara

Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

quinta-feira, julho 16, 2009

NOTÍCIAS DO FRONT E AGRADECIMENTOS

car@s

ainda estou me recuperando da tal "traqueobronquite". hoje pelo menos consegui sentar-me frente ao computador, por uns trinta minutos, sem tossir demais e quase sufocar sozinho - isso aconteceu ontem. estou melhor, nada de programa extra-casa este final de semana mas, sem problema.

queria apenas aproveitar pra agradecer a tod@s que se manifestaram sobre a parada da repressão na FLIP, fizeram comentários, divulgaram nos seus blogs e tal. os comentários foram tantos, alguns emails a mais e tal que não foi possível responder um por um. mas fica o meu agradecimento geral e satisfação em perceber que não apenas nós que estávamos lá e passamos por esta situação ficamos indignados. por tudo isso, obrigado.

r.c.

MAIS DO MESMO

hum... maizômeno. na verdade, é sim. é um outro texto sobre a FLIP. falando de coisas que eu já falei. de um outro jeito, o texto havia sido pensado para o Boletim do Kaos, de agosto. mas como não sairá mais - problemas técnicos e outros detalhes -, eu já havia escrito e tem uma pequena declaração inédita (óóóóóóhhhhhh...) do meu amigo Pedro Tostes sobre o ocorrido, publico abaixo.

LITERA-RUA BARRADA: REPRESSÃO NA FLIP

“- Mão na cabeça!”

“- Mas pra quê iss...”

“- Cala-a-boca. Abre a maleta. O que você tem aí na bolsa?”

“- Só livros, tô trabalhando senh...”

“- Livros? Olha só, que pilantra Jackson. Da cana nesse cara aqui e apreende a mercadoria. Tá maluco? Vender livros!”

Foi assim que poetas e escritores da litera-rua se sentiram durante os três primeiros dias da FLIP: Festa Literária Internacional de Parati, que aconteceu entre os dias 01 e 05 de julho deste anos. Literalmente marginais.

Uma das marcas que sempre marcou o encontro, considerado um dos mais importantes do país, é a presença de poetas e escritores divulgando seus trabalhos pelas estreitas e tortuosas ruas de pedras largas. Recitais, saraus, rodas de poesia pipocam em vários lugares, muitas vezes de maneira voluntária, quebrando o “protocolo” das atividades oficiais.

Mas este ano foi diferente. Já não bastasse ter sido ignorada da programação oficial durante as sete edições do evento a literatura marginal e periférica foi tratada quase como que uma contravenção penal. O tráfico de informação, ou melhor, a venda de livros foi duramente reprimida e censurada por fiscais e seguranças do evento, que tinham uma postura “a la BOPE”. Intimidação, perseguição, ameaças verbais.

O barato mais lôco é que não ficou apenas na ameaça: Pedro Tostes, do coletivo Poesia Maloqueirista, teve 16 (dezesseis) livros apreendidos. Alguns deles estavam na sua bolsa, que foi vasculhada pelo fiscal.

A justificativa inicial para a repressão, censura e perseguição foi a de que não tínhamos autorização para trabalhar. Qual autorização? O livro é um produto cultural, desde 2004 isento de impostos, não estávamos pirateando, o livro não era roubado. Nós o escrevemos, nós o produzimos, nós estávamos divulgando. Qual lei nós infringimos? Qual autorização precisávamos para trabalhar?

Por várias vezes perguntamos. Mas depois de muito pelejarmos atrás da administração e produção da FLIP, da central de atendimento dos autores e da própria prefeitura atrás da suposta autorização, descobrimos que o problema não era esse. Na verdade, não tinha nenhum problema. A decisão de barrar escritores e poetas marginais e periféricos era pessoal e arbitrária. Alguém decidiu e pronto. Acabou. Ninguém discute. Não! Nós fizemos barulho.

Tanto é verdade que no sábado, quarto dia do evento, conseguimos trabalhar. Como? Além da agitação junto à turistas, poetas, escritores e pessoas ligadas a imprensa para que pudéssemos vender a nossa “mercadoria ilegal”, a intervenção do cabramigo e escritor Marcelino Freire junto à Flávio Moura, diretor de programação da Flip foi fundamental.

Da batalha pra garantir o nosso direito ao trabalho, a liberdade artística e de expressão, vencemos. No quarto dia de Festa Literária a litera-rua finalmente ocupou o lugar em que se sente mais à vontade: as praças, bares, vielas. Todavia, muitos parceiros de caminhada saíram feridos. O fato de termos sidos caçados e reprimidos durante três dias causou não apenas revolta, mas prejuízos. Muitos poetas e escritores tiveram que voltar pra casa praticamente zerados, e com a maleta cheia de frustração, indignação e livros. Isso sim pode ser chamado de ilegal e criminoso.

Pedro Tostes fala sobre a repressão e apreensão dos seus livros.

Rodrigo Ciríaco: O que você achou da repressão contra os poetas e escritores "da rua" que rolou em Parati?

Pedro Tostes: Achei descabida e nonsense. Uma festa que se pretende "literária" jamais deveria repreender seu principal convidado, a literatura. Infelizmente me parece isso ter sido fruto de um preconceito recorrente que diz que a literatura popular e de rua, por não ser avalizada pelo cânone, é uma sub-espécie de literatura quando, na verdade, é a sua expressão mais criativa e vicejante.

R.C.: Qual a sensação de ter seus livros apreendidos?

P.T.: A inicial é altamente opressiva e indignante. Não existe nada pior que a sensação que você é obrigado a praticar sua literatura às escondidas, na calada da noite. Depois até achei graça (desgraça), pois apreender livros é digno do FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assolam o País). No entanto, não tem graça nenhuma. Um atroz desrespeito a liberdade artística e de expressão. o escritor não deve ser caçado, calado ou apreendido nunca. Essa é a matriz principal de uma democracia.

ESCLARECIMENTOS DA OFF-FLIP

caros,

o Ovídio, organizador da programação literária da Off-FLIP, enviou-me o texto abaixo para prestar alguns "esclarecimentos" em relação a atitude da Off-FLIP sobre a questão da repressão e apreensão dos livros durante a FLIP.

só para ficar claro: este é um esclarecimento da OFF-FLIP. se a FLIP - chamada oficial - quiser se manifestar por aqui, eu "deixo" (rs). apesar deles não deixarem - ou melhor, publicarem - a gente em lugar nenhum.

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Sobre a apreensão de livros durante a FLIP

A humanidade progride.
Hoje somente queimam meus livros;
séculos atrás teriam queimado a mim.
(Sigmund Freud)


Caros amigos,

Gostaria de tecer alguns esclarecimentos sobre a minha intervenção e dos demais organizadores da OFF FLIP diante do ato medieval e insano de apreensão de livros em Paraty durante a última FLIP.

1- Na quinta pela manhã (2 de julho), algumas pessoas da nossa equipe foram abordadas por fiscais da prefeitura e da FLIP exigindo que parassem de distribuir material de divulgação que continha parte de nossa programação. Ciente do fato, fui à Casa da Cultura conversar com Bernardete (relações institucionais da FLIP) e assim que a abordei ela recebeu pelo walk-talkie ligação da Casa Azul (organizadora da FLIP) pedindo para falar com alguém da coordenação da OFF FLIP sobre o ocorrido. A pessoa que ligou informou que se tratava de um equívoco e que a OFF FLIP estava “autorizada” a divulgar o material. Respondi que não precisávamos de autorização para fazê-lo e que equívoco era pensar que alguém precisasse de autorização para distribuir material de divulgação literária nas ruas (o que aliás sempre ocorreu durante as edições anteriores da FLIP).

2- Pouco tempo depois, estava na base da OFF FLIP (não temos sede) quando os integrantes do coletivo Poesia Maloqueirista (Caco Pontes, Berimba de Jesus e Pedro Tostes) vieram me procurar para informar que 16 livros deles tinham sido apreendidos por um fiscal da prefeitura. Imediatamente fui procurar por Mauro Munhoz, diretor da Casa Azul, que naquele momento estava em reunião na base da OFF FLIP com representantes de comunidades quilombolas, indígenas, caiçaras e artesãos discutindo o encaminhamento da manifestação que ocorreria na cidade. A reunião estava bastante acalorada e disse aos Maloqueiristas que iria conversar com o Mauro assim que a reunião terminasse. Logo em seguida, Alexandre Malachias (escritor, colaborador da OFF FLIP e advogado) tirou duas fotos com Pedro Tostes expondo o auto de apreensão medieval (as fotos estão anexas) e se ofereceu para impetrar mandado de segurança contra a prefeitura e ação indenizatória por constrangimento e danos morais, tendo dado aos companheiros do coletivo o seu cartão.

3- Como a reunião se estendia, achei melhor não interromper e chamei uma das pessoas presentes (Bernardete – relações institucionais da FLIP) para conversarmos sobre a apreensão dos livros, ato nunca ocorrido nas edições anteriores da FLIP e sob todos os aspectos inadmissível. Na conversa que tivemos, informei que os Maloqueirstas estavam na programação da OFF FLIP e pedi que fosse passado um rádio para todos os fiscais para que deixassem os nossos autores em paz. Imediatamente ela ligou para Didito Torres (coordenador de produção da FLIP) solicitando que fosse transmitida a informação. O diálogo que se seguiu entre mim e Bernardete teve ares surrealistas: perguntado como os autores da OFF FLIP seriam “identificados”, disse que na verdade qualquer autor tinha a liberdade de divulgar seu trabalho, fosse ou não autor convidado da OFF FLIP, mas se pairasse “alguma dúvida” bastava os fiscais olharem a programação da OFF que ali estariam os nomes dos cerca de 80 autores que reunimos este ano. Ironicamente, adverti que depois que o material havia sido encaminhado à gráfica mais alguns autores ingressaram na programação e os fiscais teriam “dificuldade” de achar o nome deles no nosso jornal. A resposta foi kafkiana: e se fosse colocado um crachá de identificação nos autores? Respondi que Chacal, Plínio Marcos e tantos outros nomes que fizeram e ainda fazem a literatura brasileira nunca usaram crachá ou coisa parecida.

4- Na sexta, final da tarde, corria nas ruas a notícia de que o ato insano fora revogado – o que deve ser atribuído à intervenção conjunta de vários escritores e de várias pessoas identificadas com as liberdades públicas, entre as quais integrantes da coordenação da OFF FLIP. Intercedemos junto à Casa Azul e também junto ao gabinete da prefeitura, além de procurarmos a imprensa nacional denunciando o fato. Em todas as mesas da programação literária da OFF FLIP condenei o ocorrido, inclusive na quinta à noite durante a Conversa de Botequim no Dinho’s Bar, onde estiveram presentes em intervenção musical e poética os Maloqueiristas e também integrantes da Cooperifa.

5- Na sexta de manhã, dei entrevista à Rádio MEC (retransmitida para 11 emissoras) e repudiei o ocorrido, lembrando que a literatura nasceu em torno da fogueira nas sociedades comunitárias e que morrerá no dia em que for afastada das ruas. Ao final da entrevista, sugeri à emissora que fizesse uma matéria com Pedro Tostes, um dos atingidos pela apreensão (a entrevista aconteceu no mesmo dia à tarde).

6- No sábado pela manhã, em entrevista ao Caderno B do Jornal do Brasil, reuni na mesma mesa o coletivo Poesia Maloqueirista, Laura Bacellar (Editora Malagueta - SP) e Rodrigo Rosp (Não-Editora – RS) para falarmos sobre editoras alternativas, entre as quais o Selo OFF FLIP. O tema da apreensão veio à tona e ao final da entrevista os jornalistas presentes colheram depoimento de Pedro Tostes sobre o ocorrido. A Casa Azul e a prefeitura seriam consultadas para oferecer a sua versão e a matéria seria publicada, o que não ocorreu (a matéria de capa do Caderno B de 6 de julho tratou somente das editoras citadas). ("grifo meu")

A OFF FLIP segue sendo um desdobramento necessário da própria FLIP e sobretudo um evento paralelo, alternativo, independente e complementar em relação à festa literária internacional. Nos últimos anos, reunimos centenas de escritores em nossa programação literária, além de termos criado um prêmio literário (local, nacional e internacional) e um selo editorial, sem falar que este ano iniciamos um programa de bolsas de criação literária em parceria com a FLIPORTO. Isso a OFF FLIP vem fazendo com uma equipe pequena e em meio a dificuldades de toda sorte, sem perder a sua marca de origem ligada às manifestações culturais locais e acolhendo manifestações artísticas de todo o Brasil e também do exterior.

Um abraço a todos,

Ovídio Poli Junior
escritor, editor do Selo OFF FLIP,
organizador da programação literária da OFF FLIP,
coordenador do Prêmio OFF FLIP de Literatura

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apenas algumas correções minhas sobre o texto do Ovídio:

no item 02, quem o procurou na base da Off-FLIP foi Berimba, Pedro e Eu. O Caco não estava conosco, ainda neste momento;

no item 04, apesar de termos sidos "liberados" no final da sexta-feira a tarde, um fiscal me abordou durante a apresentação da Poesia Maloqueirista. eu nem estava divulgando os livros, naquele momento, mas ele perguntou se os livros eram meus e se eu estava vendendo. disse que sim e, ao confirmar ele virou e me disse: "não pode. sou da prefeitura, vou ter que apreender." apesar de insistir em explicar que aquilo era um mal entendido, já resolvido, já estávamos "autorizados" ele insistiu. disse apenas que ia buscar o termo de apreensão para eu assinar e pediu que eu aguardasse a sua volta - não é mentira e nem piada (rs). ah, e ainda neste item, na Quinta-feira, no Dinho's Bar não havia integrantes da Cooperifa. havia apenas eu, que também faço parte da Cooperifa.

e claro, "à César o que é de César": foi fundamental a mobilização de algumas pessoas que estavam por lá e correram atrás dos seus direitos: para trabalhar, para expressar a sua literatura e tal. mas, deixemos claro que, a principal ação, prática, solucionadora, foi a intervenção de Marcelino Freire diretamente ao Flávio Moura, diretor de programação. tanto que, após o contato com Flávio, conseguimos falar com o sr. Didito - que estávamos buscando já fazia dois dias - e aí, conseguimos a suposta "autorização". como se precisássemos, mas tudo bem.

quarta-feira, julho 15, 2009

PANFLETO - PEDRO TOSTES

Pedro teve 16 livros seus apreendidos durante a Flip. Poemas, do livro "Descaminhar". Publico aqui um poema dele que está nesse seu livro e que tem tudo a ver com o momento que passamos por lá. Obra-prima, na minha opinião. Leia aí:

PANFLETO
Pedro Tostes

alguém precisa avisar pra todo mundo que existe uma ditadura que todos pensam igual e ai de quem pensar diferente que nos são ofertados muitos modelos e nenhuma oportunidade de não comprá-los que precisamos ser obtusos e previsíveis, rezar a cartilha de "como sobreviver na selva" mesmo que isso nos incomode que não podemos mais ser loucos e inconsequentes porque isso pega mal pra gente que é preciso uma enorme dedicação em vão que sonhar não custa nada mas viver cada vez é mais caro que não podemos ir pras ruas pois elas estão perigosas que é mais fácil calar e ver tv que protestos mimeografados não são mais lidos que o poeta incomada que não podemos ser poetas
alguém precisa avisar

TRA-QUE-O-BRON-QUI-TE!

quando você tosse e sente seu pulmão a la cavalo, dando coices dentro do peito, é melhorar procurar um médico. se já procurou, é melhor ir de novo. sei lá, já ouviu falar da gripe suína. está no ar. por que não poderia estar comigo?

foi assim que ontem a noite voltei novamente ao hospital. impressionante, na última semana fui mais ao hospital do que no resto do ano inteiro. esta já é a terceira vez. tudo isso consequência das noites frias e congelantes passadas dentro da barraca no camping que eu estava enquanto estive em Parati. caráio, meu: sofri, viu.

e ainda tem gente que me chama de playboy. foda-se!

o hospital tava cheio. muita gente com máscaras, muita gente doente. a primeira crise deste primeiro semestre do ano foi econômica. agora, segundo semestre, a crise é da saúde pública. vai ter gente gripada assim no inferno.

o doutor perguntou, como está. respondi: "doutor, faz doze dias que estou mal, há seis dias fui medicado com azitromicina e com nimesulida, há três dias fui medicado com prednisolona e, particularmente, hoje tive uma crise de tosse, seca, aguda, que quase fiquei sem respirar. ah: ainda não me fizeram nenhum exame, raio-x, nada."

o camarada entendeu a situação. pediu três raios-x. e constatou. estou com sinusite. e traqueobronquite.

o quê?

tra-que-o-bron-qui-te. não chega a ser uma pneumonia, disse. mas é grave. há muita secreção no meu pulmão. preciso me tratar.

ele me receita um xarope, um antiinflamatório e um antibiótico. peço um remédio para proteger o estômago, já estava sentindo dores. ele passa. só não me pergunta se eu tenho dinheiro pra comprar. não, não tenho. ainda bem que tem essa praga chamada cartão de crédito. doze dias doente, há seis dias sendo medicado. prejuízo: R$ 198,68 de gastos com remédios.

peguei essa gripe na FLIP/Parati. e praticamente já gastei com ela mais do que eu ganhei por lá, batalhando os meus livretos.

mas, tá suave. não tô reclamando de nada. só quero saúde. o resto, corro atrás.

por isso vou pra casa da minha mãe. lá não tem internet, mas tem caldo e canja de galinha. colinho. tô precisando. me recuperar logo. há muita coisa pra se fazer.

então, se eu não aparecer por aqui durante uns dois dias, ou se eu não responder aos comentários, emails; se eu não for pra cooperifa e nenhum lugar que seja distante cinco metros do sofá, quarto e livros, já sabem: é culpa da tra-que-o-bron-qui-te.

e melhoras pra mim.

INTERESSANTE: NEI DUCLÓS SOBRE A FLIP

por indicação de um dos comentários, cheguei ao blog Outubro, de Nei Duclós. lá encontrei um cara que escreve coisas boas, e que no ano passado fez uma reflexão ácida e contundente contra a FLIP. segue alguns trechos:

"É incrível que numa festa literária não haja transgressão. Tudo corre como num megaevento comercial. Os consumidores chegam em massa para tocar objetos de luxo, os livros caríssimos, beijar a túnica de autores consagrados e até compartilhar espaço com os emergentes, espécie de legião de príncipes valentes em busca do cálice sagrado."

(...)

"Mas o importante é a representação, o apoio da mídia, dos anunciantes, a dança milionária dos contratos, a exclusão em nome de um consenso fundado na reprodução de capitais simbólicos. A Flip não serve para revelar ninguém, apenas para reiterar o que o mercado já definiu. É uma vitrine de ossos banhados a ouro. Cheia de atrações que nada tem a ver com literatura, mas isso já faz parte da natureza."

veja o texto na íntegra aqui:
http://outubro.blogspot.com/2008/07/petrpolis-das-letras.html

terça-feira, julho 14, 2009

FLIP, PARATI. PARA TODOS?

“Recolhe tudo e guarda”, disse-me o fiscal. Perguntei: “Por quê?”. “Você tem autorização pra vender”, falou. Eu disse: “Não”. “Então recolhe e guarda, senão nós vamos apreender.” Este foi o meu primeiro diálogo de vários com os “homi-da-lei” da FLIP, Festa Literária Internacional de Parati, considerado o principal encontro literário do país, que aconteceu entre os dias 01 e 05 de julho de 2009, na cidade histórica do Rio de Janeiro. A brigada de segurança contava com três fiscais da Secretaria de Finanças da Prefeitura, mais alguns homens com uniformes da FLIP, que ao total andavam sempre em grupo de 05 à 07 pessoas.

O que eu estava contrabandeando? Livros. Assim como dezenas de poetas e escritores de todos o Brasil, estive durante muito tempo aguardando ansiosamente a chegada da sétima edição da FLIP para isso: trabalhar, divulgar minha obra, vender livros. Não fui para ver as mesas com Chico Buarque, Antonio Lobo Antunes, Gay Talese, entre outros convidados. Não porque não fossem interessantes, assim como a própria cidade, patrimônio histórico da humanidade que traz belezas naturais incríveis, mas mais pelo fato de que precisava trabalhar. Acabei de imprimir uma segunda tiragem dos meus livros. Fiz dívida com a gráfica. Tenho outras contas pra pagar. Então, fui pra batalha. Eu e vários outros parceiros e parceiras da Litera-Rua.

Mas pela primeira vez, em sete edições do evento, não teve acordo. Os caras não estavam deixando a gente divulgar nosso trabalho, na rua, de mano-a-mano. Perguntei ainda para o fiscal, tentando ser diplomático: “Como faço pra obter a autorização, então?” “Você tem que ir na Associação Casa Azul, da administração do evento. Lá eles informam.” Tudo bem, pensei. Vou até o camping, deixo uma parte dos livros na barraca, já que nessa hora estava com mais de trinta quilos de livros nas mãos e nas costas, e vou buscar essa tal autorização. No caminho, ainda trombei com Caco Pontes, Pedro Tostes e Berimba de Jesus, do coletivo Poesia Maloqueirista, que estavam mangueando seus livros próximo a Tenda dos Autores. Ainda disse para o Pedro: “Fica esperto, os caras mandaram eu recolher, falaram que na próxima vão apreender o material.” “Beleza. Eles são só três (fiscais), a gente dá conta.” E foi só o tempo de deixar uma parte dos livros na barraca, pegar a minha máquina fotográfica voltar para o Centro Histórico, próximo a Igreja Matriz para ver uma cena cômica, mas que foi trágica no momento que aconteceu: um poeta, com as mãos pra trás, enquadrado. Prova do crime? Seus livros. Dezesseis livros apreendidos.


O início da via-crucis
Tudo isto aconteceu no dia 02 de julho, na parte da manhã, segundo dia do evento. Eu, Berimba e o Pedro Tostes, que teve os seus livros confiscados, ficamos revoltados. Entre as possibilidades do que fazer, decidimos ir até a sede da Off-FLIP, evento que acontece durante a Flip e que conta com uma programação independente e paralela a Festa, mas que já é tradicional e aguardada também pelos visitantes. Fomos falar com o Ovídio, um dos organizadores da Off sobre o absurdo da situação, principalmente porque a Poesia Maloqueirista fazia parte da programação da Off-FLIP. Ovídio ficou surpreso, fez alguns contatos, prometeu fazer barulho mas não resolveu nossa situação. Resolvemos então seguir o conselho do fiscal e irmos até a Associação Casa Azul, responsável pela administração do Evento. Chegando lá, mesma cara de surpresa. Ninguém sabia que os poetas e escritores estavam sendo intimidados e perseguidos nas ruas. Pior, ninguém sabia o porquê. Perguntamos sobre a autorização. “Não sei, vocês tem que ver com a prefeitura. Mas teve gente que já foi lá e eles mandam de volta pra cá”, nos disse Patrícia, que estava no atendimento.

No mesmo instante, ela nos orientou a procurar a Pousada Vila do Porto, e falar diretamente com algumas pessoas ligadas à produção, Didito ou Bernadete. Fomos. E aí, o que era ruim, ficou pior. A recepção das pessoas ligadas à produção foi extremamente grosseira, trataram-nos como nada. Não nos colocaram em contato com Didito nem com Bernadete e, ali, já deixaram claro, era uma posição oficial do evento: não permitir a divulgação e venda de livros nas ruas. Motivo: não queriam transformar a FLIP num evento comercial.

Isso mesmo, não foi piada. “Não queriam deixar a gente vender os livros nas ruas para nós não transformarmos a FLIP num evento comercial?” Bem, talvez os produtores do evento tenham se esquecido da movimentação que a Festa traz para as pousadas, redes de hotéis, bares, restaurantes, turismo. Sem contar os parceiros: Rede Globo, Itaú, Unibanco; a Livraria da Vila, oficial do evento. Mas é tudo pela cultura, ok?

Depois do momento non-sense, buscamos outras alternativas. Amigos, jornalistas. Pedro tentou acionar um pessoal do jornal O Globo. Eu falei com um repórter da Folha de S.Paulo. Mas, não adiantou. Parece que a apreensão de livros de um poeta na rua, durante uma festa literária em pleno século 21 não é notícia. A única pessoa sensibilizada nesta história foi o nosso cabramigo Marcelino Freire, que comprou a nossa indignação e prometeu falar sobre o assunto em mesas e com pessoas ligadas ao evento.


A FLIP QUE NÃO SAIU NA TV
Nesta batalha pelo direito ao trabalho, não apenas poetas e escritores da rua foram discriminados. Outros trabalhadores, artesãos, foram extremamente prejudicados com a repressão. As tradicionais comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras, que resguardam a cultura popular e milenar da cidade, foram impedidas de exibir o seu trabalho durante o evento. Revolta, indignação. “Quem são eles, quem eles pensam que são?”, eu tentava entender. Como é que um evento, que vem de fora, chega e quer mandar na praça, nas ruas, quer descaracterizar toda uma cidade? A sensação é a de um convidado que chega na sua casa, te coloca pra fora e se tranca lá dentro, com sua mulher e filhos. Absurdo.


Por isso que na sexta-feira, dia 03 de julho, houve um grande protesto do Fórum das Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras. Um protesto bonito, que reuniu muita música, batuque e palavras de ordem. Que percorreu a cidade, juntando mais de duas mil pessoas pelas ruas estreitas e tortuosas. Levando o problema das comunidades – que além da repressão durante a festa, sofrem com a especulação imobiliária e o turismo predatório - para as mesas e bares, botando a água no chopp. Sem agressão, com conscientização. Luta pela dignidade. Pelo valor. Sempre aos olhos atentos dos “homi-da-lei”.

Acompanhei todo o cortejo do protesto. Depois fui encontrar-me com Pedro Tostes. Ainda tínhamos um problema para resolver. Já havíamos falado com outros poetas e escritores. Todos revoltados. Alguns com medo. Vieram para a Flip pra tentar se levantar. Corriam o risco de ter o material apreendido, voltar com um prejuízo maior. O clima de repressão estava brabo. Os fiscais não davam folga: se comunicavam por rádio, apareciam em todos os lugares. Na quinta-feira, haviam trabalhado até as sete e meia da noite atrás da gente!

Na sexta-feira, por indicação de Marcelino, procuramos a Sra. Silvia, na Central de Atendimento do Autor. Depois de um chá-de-cadeira de uns dez minutos, deixando a gente na chuva, ela nos recebeu. Disse que não podia fazer nada. “Nós gostaríamos de falar com o Didito, da produção, só isso. Passe o nosso telefone pra ele.” Ela não passou. Ela não ligou. Disse que não podia fazer nada, e nos deu as costas.

Voltamos à Off-FLIP, falamos com a Bia, uma das organizadoras da Off. Ela ligou diretamente para o gabinete do prefeito, José Carlos Porto Neto (PTB) e a prefeitura também foi clara: estávamos proibidos de divulgar ou vender nosso trabalho nas ruas de Parati. Como assim?

PARATI. PARA TODOS?
A decisão de impedir poetas e escritores de vender seus livros em Parati foi totalmente arbitrária. O livro estava sendo comercializado pelos próprios autores, não era uma mercadoria pirateada, não era uma mercadoria roubada. Pior, desde 2004 o senado aprovou uma lei que colocou fim a cobrança de taxas e impostos sobre os livros. Desde 2003 o governo federal aprovou a lei 10.753 que institui a Política Nacional do livro e que define, entre outras coisas, o “livro (como) meio principal e insubstituível da difusão da cultura e transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da conservação do patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social e da melhoria da qualidade de vida”. Isso sem falar nos direitos de ir e vir e de liberdade de expressão. Quem é a Flip ou a Prefeitura de Parati para decidir quem deve ou não divulgar seus livros pelas ruas? Baseado em qual Lei? Desde quando a poesia, a literatura tem que pedir licença?

Devido a pressão que fizemos, poetas, escritores, a movimentação junto a turistas e convidados, a denúncia na imprensa – que no final não saiu nenhuma – e a intervenção de Marcelino Freire diretamente com Flávio Moura, diretor de programação da Flip, na sexta-feira de tarde conseguimos falar com o Sr. Didito, ligado a produção do evento. Pedro Tostes entrou num árduo diálogo com o mesmo justificando o direito de ficarmos nas ruas, a história da literatura marginal, periférica, maloqueirista, cordelista, ou seja, a Litera-Rua, e finalmente conseguimos dobrá-los. A autorização foi concedida. Estávamos liberados para trabalhar. Mas ficou uma pergunta: deixar que uma única pessoa decida quem trabalhe ou não nas ruas de Parati não é demais? Não é abuso de poder?

No sábado, finalmente, nós pudemos ir pra batalha. Vitória? Sim. Em partes. Vencemos porque não nos dobramos. Um grande grupo de poetas, escritores da rua fizeram uma correria, acionaram seus contatos, conversaram com pessoas para reverter a situação. E conseguimos. Aí está a vitória. Mas saímos feridos, principalmente pelo fato de termos perdido três dias do evento, praticamente: quarta, quinta e sexta. Muitos poetas e escritores saíram no prejuízo, já que o sábado não foi suficiente para pagar as suas despesas. Outros tantos, indignados e humilhados, prometeram não mais voltar para Flip. Nem pra Parati.

Da sétima edição da Flip, ficou uma lição: a Litera-Rua, não e bem-vinda. Não falo pelas pessoas da cidade, turistas, moradores, que não só abraçaram a nossa causa mas também ficaram revoltados com a repressão, falo principalmente pelas autoridades oficiais e pelos organizadores do evento. Talvez nunca tenha sido, já que até o momento nenhum escritor e poeta ligado a recente literatura marginal ou periférica foi convidado para participar de mesas, debates e outros. Lá, com exceção da Off-FLIP, que faz uma programação paralela, nós somos ignorados. Éramos... agora a tática é outra. É a do enfrentamento. Eles não nos querem lá. E vão fazer o que é possível para atingir isso. Mesmo que seja necessário reprimir, censurar, expulsar.


A Flip corre o risco de se tornar uma festa cada vez mais elitizada, fechada. Restrita a quem pode pagar, comprar, consumir dentro dos seus padrões oficiais, horários e produtos pré-determinados. Tudo aquilo que faz mal a literatura e impede que ela possa crescer, expandir, se tornar atraente e viva.

Pedro Tostes e seu Termo de Apreensão

Neste ano que a festa homenageou o grande escritor e poeta pernambucano Manuel Bandeira, eles deveriam ter observado melhor as suas palavras, principalmente a do seu poema Poética, em que ele diz: “Estou cansado do lirismo bem comedido / Do lirismo bem comportado / Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor (...)” Nós também.

E avisamos: não importa que não sejamos bem-vindos. Por enquanto, a festa está em uma cidade. Patrimônio histórico da humanidade. Ela é pública e aberta. E se é de todos, tem que ser também da rua. Tem que ter a nossa cara. Nossas frases, nossos poemas. Nossa arte: digna, única e legítima. E gostem ou não, nós literalmente continuaremos a “invadir sua praia”. Não só com a vitrolinha, mas com a maletinha. Cheia de livros.


Rodrigo Ciríaco é historiador, integrante da Cooperifa e autor do livro de contos “Te Pego Lá Fora” – Edições Toró. Contato: rodrigociriaco@yahoo.com.br

REPERCUSSÃO: REPRESSÃO NA FLIP

por enquanto, é a postagem mais comentada deste blog que vai completar três aninhos de existência, logo mais. até o momento são dezoito comentários. muita gente apoiando, achando absurdo. alguns outros já me mandaram eu me foder, disseram que tem que prender mesmo e acabou.

e você, meu amigo, o que acha? não podemos ocupar as ruas, divulgar nosso trabalho? devemos aceitar a repressão?

acho que, mais do que os visitantes do blog, os parceiros de Literatura e Poesia deveriam se manifestar. não apenas no meu blog, abram um espaço para discussão no blog de vocês. mas isso não pode passar batido. é mais uma ameaça ao nosso direito de expressão artística e cultural. já nos silenciaram por tempo demais. agora não podemos mais nos calar.

para ver a repercussão, nos comentários clique abaixo:
http://efeito-colateral.blogspot.com/2009/07/coisa-mais-feia-da-flip-repressao.html

ou desça até a postagem da sexta-feira, 10 de julho.

rodrigo ciríaco

segunda-feira, julho 13, 2009

CRANIANAS - REVISTA OCAS, Nº 66, JULHO/AGOSTO - JÁ NAS RUAS



QUER PAGAR QUANTO?

A melhor hora do meu trabalho é aquela em que eu pago. Isso mesmo, pago. Não, não tá sobrando dinheiro do meu ordenado. Sou professor. Servidor público no Estado. O que eu ganho por mês é pouco mais de três salários. Mínimos. É verdade. Pode conferir no meu holerit. Tá registrado. Mas ainda assim eu digo: a melhor hora do meu trabalho é aquela que eu pago.

Porque é a hora que eu faço o que acredito e vejo resultado. Determino as condições, número de alunos, horário, tudo o que é necessário. Não dependo do Governo. Nada de diário, avaliação periódica, retenção por falta. Não, é a hora do labor. Planejamento, ação, diálogo. Momentos mágicos. Criatividade, aprendizado. Respeito.

O que eu faço? Por exemplo, um projeto de sexualidade. Para alunos, alunas dos treze, quatorze, quinze e outros mais anos. Já estão ou não estão na idade? Para falar de sexo, o menor dos assuntos. O que interessa, na verdade, são os métodos: contraceptivos, as transformações no corpo. Gravidez na adolescência e aborto. Doenças sexualmente transmissíveis. E outros assuntos que para muitos parecem idiotices. Se não, por que ser tão ignorado? Nas escolas, ser tão desprezado? Parece que é proibido abordar a sexualidade na escola. Apesar de estar nos parâmetros curriculares. Nos temas transversais. Na cabeça dos meninos. Na barriga das meninas. Essa situação não pode ser mais ignorada. Por isso juntamos a molecada. Eu, alguns outros professores, e o pessoal do posto de saúde que fica quase em frente à sala.

O que mais? Futilidades. Romances, assassinatos, revolta e poesia. Um projeto de literatura, que também acontece fora do horário. De aula. É claro, sou professor de história. Estórias não cabem dentro do meu conteúdo programático. Nem todas. Por isso, os encontros em separados. Com escritores. Sim, ao longo de três anos foram onze. Quer conferir? Anote aí: Sérgio Vaz, Marcelino Freire, Sacolinha. Allan da Rosa, Alessandro Buzo, Dinha. Carlos Galdino, Akins Kinte, Elizandra Souza, Sérgio Vaz, Marcelino Freire. Não, não estou repetindo, estes dois últimos foram duas vezes. Conversar com as meninas e meninos. Contar suas influências, seu trabalho com as palavras pelo mundo afora. Todos leram seus textos, declamaram poemas, sortearam livros. Desmistificaram um símbolo: escritor bom é escritor morto. De terno e gravata. Na parede, com a foto enquadrada. Não, escritor bom é escritor vivo. Principalmente quando eles saem dos livros. Vêem até nós. Aqui.

E não é só isso. Agora resolvi me meter no teatro. Embolar textos, Boal com Brecht e fazer um ensaio. Eles pediram. Então vamos, ao ato. Toda semana, aquecer, alongar, conversar; exercícios, jogos e gestos improvisados. Risos, broncas, dramas e damas. E meninos. Os Mesquiteiros. Na minha escola, não é só um grupo de teatro. É a melhor parte do meu emprego.

Por isso que digo, repito e refalo: a melhor hora do meu trabalho é aquela que eu pago. Porque no restante eu não estou satisfeito. Tudo é muito complicado. Falta apoio, incentivo, estrutura. Só passo raiva, fico revoltado. Aliás, não se pode chamar qualquer prédio de escola. Depósito de gente pegaria melhor do que cola. Ou o que é um lugar onde crianças e adolescentes ficam da primeira à última aula sem entrar em sala? Pelo corredores, ouvindo rádio, chutando portas? Como chamar um lugar em que há alunos não-alfabetizados nas quintas, sextas, sétimas, oitavas séries e últimos anos do ensino médio? Tantos anos estudando e não aprenderam a ler e escrever. Onde não há – ou faltam - professores, funcionários; salas com mais de quarenta alunos, lixos sem limpar, salas há meses sem lavar. Há frustração, abandono e falta de esperança. Pode-se chamar de escola?

Não sei. Sei que para resolver tudo isso é que eu sou pago. Servidor Público no Estado. Mas preciso dizer: eu não estou fazendo direito o meu trabalho. Não estou dando conta do recado. Pra ser sincero, ninguém está. Uma grande parte olha apenas pro seu umbigo. Outro número não sai do comodismo. O Governo, convenhamos, não se preocupa com um bom ensino. E quem quer remar contra a maré sente-se extremamente sozinho.

Por isso que a melhor hora do meu trabalho é aquela que eu pago. É o único momento em que me sinto respeitado. Faço um trabalho diferenciado. As pessoas se olham, conversam. Para mim, um dos poucos momentos em que há algum aprendizado. Em que crescemos: como alunos, como professores, como gente. Pessoas que somos, mas que muitas vezes esquecemos. É apenas nas atividades que desenvolvo fora do meu horário que eu me sinto realizado. Apesar de não ter apoio do Secretário, apesar de não ter incentivo de alguns colegas, eu não me sinto sozinho. Pois ali eu tenho os estudantes ao meu lado. Eu tenho reconhecimento, me sinto valorizado.

A mediocridade está na ordem do dia. Faz parte da política pública de educação do Estado. Quem não aceita isso, tem que pagar um certo preço.


Rodrigo Ciríaco é historiador, autor do livro de contos “Te Pego Lá Fora” e professor na rede pública estadual de ensino. Contato: rodrigociriaco@yahoo.com.br

LIBERDADE DE PRODUÇÃO, DIFUSÃO E EXPRESSÃO

car@s,

ainda indignado com o que aconteceu em Parati e buscando informações para fazer desta revolta não apenas mais um sintoma de indignação individual, mas um projeto de luta. afinal, não fomos tratados apenas como marginais dentro dos antigos prédios coloniais das tortuosas ruas de pedras. fomos tratados como lixo! só quem correu atrás dos dirigentes, produtores, coordenadores e autoridades da Flip e da Prefeitura de Parati para obter a suposta "autorização" (desde quando a literatura tem que pedir licença?) sabe o desdém, a indiferença, o ar de repugnância que estas pessoas nos receberam e no enxotaram de seus gabinetes e escritores. mas sem problemas. tudo isso vira luta, literatura e poesia. a gente se vinga deles depois.

só quero dizer que, quanto mais me aprofundo, mais estudo sobre o tema, mais fico espantado. até o momento, não vi nenhuma lei que proíba a difusão e expressão de idéias ou a comercialização e divulgação de livros pelas ruas. pelo contrário. nos últimos anos há várias iniciativas tanto do governo federal, governos estaduais e municipais de incentivo a produção, editoração, seja ela independente ou não. um exemplo disso é a LEI (FEDERAL) Nº 10.753, de 30 de outubro de 2003 que instituiu a Política Nacional do Livro e que, entre outras coisas, define "- o livro é o meio principal e insubstituível da difusão da cultura e transmissão do conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica, da conservação do patrimônio nacional, da transformação e aperfeiçoamento social e da melhoria da qualidade de vida;" e o FIM da cobrança de impostos sobre livros, ou seja, não desmerecendo nossos trabalhadores ambulantes, mas o livro quando comercializado por seus editores e autores nas ruas, não pode receber o mesmo tratamento de uma mercadoria supostamente roubada ou pirateada - sua venda não pode ser censurada e a "mercadoria" não pode ser apreendida, como aconteceu em Parati.

mas tudo isso é consequência de uma questão maior, cultural, política e intelectual, que vai desde o fato da literatura marginal, periférica, de cordel e de rua ser considerado uma "subliteratura", ou seja, um gênero literário menor, quanto ao fato de que a gente incomoda muita gente mesmo, seja pela nossa teimosia, seja pela nossa persistência, seja pelo fato de nós querermos continuar literariamente - e literalmente - existindo e resistindo.

bom, quem quiser saber mais informações, estou deixando alguns links aqui abaixo. até para a gente não se mais pego desprevenido. dá próxima vez que o cara mandar eu recolher os livros ou disser que eu não posso vender - ou tentar apreender -, o caldo vai engrossar. chega de baixar a cabeça. por tempos demais já dissemos sim, sim, sim. agora, Basta!

Lei do Livro:
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=2199

Matérias - Fim da cobrança de impostos sobre livros:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u48378.shtml

http://listas.ibict.br/pipermail/bib_virtual/2004-December/000684.html

"Hasta la victória, siempre"

P.S.: quem puder divulgar não apenas estas informações, mas sobre a repressão e apreensão em Parati, fico agradecido, certo? Valeu.

sábado, julho 11, 2009

MILK - A VOZ DA IGUALDADE

mais convidativo do que esse tempo cinza, molhado e escuro, impossível. por isso eu tratei de deitar no meu sofazinho e assistir a um filme, com nome de leite: Milk - A voz da Igualdade

o filme traz o excelente ator Sean Penn, e conta a história de Harvey Milk, primeiro candidato gay "assumido" eleito nos Estados Unidos para um cargo público. um fato histórico, tal qual a eleição do Obama, guardadas as suas devidas proporções - como por exemplo o cargo - é claro.

e eu não quero ficar fazendo comentários sobre o filme, fotografia, adaptação, etecetera até porque não me acho "qualificado" e mais por não estar com saco no momento. fato é que eu quis escrever porque eu gostei do filme, e isso já me basta. e porque ele me fez chorar, e muito. é triste ver "gente que acredito, gosto e admiro, brigava por justiça e paz e levou tiro". eu acho. e eu choro. sem pudores. com urros e soluços. e faz um bem danado. pra lavar a alma.

então, se você não assistiu, eu recomendo. independente da sua orientação sexual. deixe o seu preconceito no armário e veja. vale a pena.

no mais, você pode ter a sua televisãozinha de volta depois, se não gostar. nenhum prejuízo. certo?

PUTZ, GRILA!

por enquanto, nada de cachaça. nem vinho, nem cerveja. nada. e olha que a minha garganta está seca. ou melhor, entalada. tá foda. as vezes não consigo engolir nem a saliva. será que os porcos me pegaram? eu pensei. voltei ao médico. disseram que não. é só a gripe mesmo. das brabas. por isso que por enquanto, nada de álcool. só as drogas farmacêuticas. e tocaia. dentro de casa, mesmo. quem sabe eu não pego essa gripe no rodo e derruba ela de vez. cair, sei que não vou.

e aproveitando: putz, grila! percebi que eu NÃO TIREI UMA FOTO MINHA EM PARATI. nem umazinha. que merda. então, se de repente alguém que frequenta o blog passou por lá, tirou uma foto comigo, ou tirou foto da hora da bagunça, ou qualquer outra hora, e puder me repassar, eu fico enormemente agradecido. sei lá, de repente vai parecer que eu nem apareci. em parati. já pensou?

falouuuuuuuuuuu...

sexta-feira, julho 10, 2009

TE PEGO LÁ FORA!


Te Pego Lá Fora
- contos da escola -
Autor: Rodrigo Ciríaco
Edições Toró, Junho 2008
2ª Edição

R$ 15,00 (quinze reais)

adquira o livro de qualquer lugar do Brasil. informações:

Comunidade no Orkut, acesse:

Matéria na Revista Época e alguns contos, clique ao lado.

FLIP 2009 E OCAS: 07 ANOS

salve povo,

primeiro, desculpa a demora nas fotos de Parati/FLIP. é que não bastasse as paradas da escola, que se acumularam devido a viagem e o final do bimestre, peguei uma gripe braba pelas cervas e dias dormidos no frio da barraca enquanto estive em Parati que zoaram a minha garganta legal. calma, não é a gripe do porco, do frango, nem nada. espero. é gripe mesmo, que ferrou comigo. por isso que quarta nem fui pra cooperifa, ontem nem sai de casa. hoje, também vou ficar entocado.

no mais, estou me medicando, as fotos estão aí, outras mais aqui guardadas. tudo é luta e história.

queria só dar um toque: a revista Ocas" está completando sete anos de existência. na edição especial de aniversário, julho-agosto (nº 66), a entrevista de capa é com nada mais nada menos do que o nosso Milton Nascimento. e não só, tem ainda uma entrevista com a Miriam Chnaiderman, diretora do documentário "Sobreviventes", entrevista com Marcelo Rubens Paiva, matéria sobre a recuperação da Praça Roosevelt e, um artigo meu sobre educação e os projetos que desenvolvo na escola, na seção Cranianas.

então, quem puder, compre a sua revista. lembrando que ela só é encontrada nas ruas, nas mãos de vendedores autorizados. para saber mais infos. sobre a revista Ocas", projeto, acesse o blog:

http://www.blogdaocas.blogspot.com/

no mais é isso. se melhorar da gripe, terça-feira participo de uma entrevista para a Rádio Unesp, programa Perfil Literário, a convite do Oscar, organizador do programa e indicação da minha amiga Luciana Pennah. Lú, obrigado.

bom, sem mais delongas, basicamente é isso. quer dizer, tem mais coisa mas a gente vai contando aos poucos. até pra não gastar assunto, e pros zóião grande não azeda o melado.

até.

A COISA MAIS FEIA DA FLIP: REPRESSÃO

a coisa mais feia, ridícula e indigesta da FLIP foi aquilo que não saiu na mídia: A REPRESSÃO. contra as comunidades caiçaras, quilombolas, indígenas e também contra a Litera-Rua. poetas e escritores. eu fico me perguntando: como que a apreensão de livros de um poeta da rua numa festa literária não é pauta para a mídia? e olha que nós falamos com jornalistas da TV Cultura, O Globo, Folha de S.Paulo e outros. não me causa muita surpresa, eles publicam o que querem há muito tempo. mas ainda me causa indignação.

Na Flip, livraria da Vila. Na praça, livraria da Vela. Da FaVela



os "homi-da-lei", fiscais da prefeitura acompanhados de seguranças da Flip. chegaram, mandaram eu recolher, senão iriam apreender os livros. "nem na rua, de mão em mão, não pode", perguntei. "não, não pode. nada"

comigo, na primeira vez, foi só um aviso. aqui, pegaram o Pedro Tostes pela segunda vez. não teve diálogo: APREENSÃO DE 16 LIVROS! clique para ampliar a imagem e veja o DETALHE dos livros já nas mãos do fiscal

aqui o poeta literalmente marginal com o seu "Termo de Apreensão". crime? vender livros

o motivo alegado para a apreensão dos livros é que não tinhamos autorização para trabalhar. pedimos a autorização, como fazia para obtê-la, eles desconversaram. depois disseram que a gente não podia fazer aquilo, perguntamos por que, eles não souberam dizer. depois, veio a desculpa mais absurda: eles não queriam transformar a Flip num "EVENTO COMERCIAL". isso mesmo, a Flip não é um evento comercial, pelo menos é o que o pessoal da produção nos disse. e a gente fingiu que acreditou.

fiz questão de tirar as fotos a seguir pra mostrar que a FLIP não é um EVENTO COMERCIAL. aqui: Livraria da Vila

os parceiros

mais parceiros

camisetas, canecas, bolsas, agendas, cadernetas, bonés... tudo pela Curtura!

bom, não vou me alongar mais. detalhes sobre este episódio, vocês lêem no Boletim do Kaos de agosto. matéria especial sobre a Flip que não saiu na TV.

"EU QUERO É BOTAR, MEU BLOCO NA RUA"



olha só quem eu encontrei por lá...

"quem são eles? quem eles pensam que são?", é o que eu pensava quando soube. imagine, a FLIP, um evento que vem de fora, chega na cidade e descaracteriza totalmente a cultura local. popular e milenar, com uma determinação: nada de caiçaras, quilombolas e indígenas pelas ruas. nada de expor, divulgar o seu trabalho. não, nada de trabalho! como assim? "quem são eles? quem eles pensam que são?", eu pensava. e não era só eu. na quinta-feira tinha uma povo reunido na casa da OFF-Flip, incluindo o sr. Flávio Moura, organizador do evento, quebrando a cabeça sobre o que fariam com as comunidades. motivo: estavam organizando um protesto para o dia da mesa do chico. isso mesmo, iam batucar, cantar, protestar durante a mesa mais badalada da Flip. nada mais justo.


não sei que acordo saiu, mas de qualquer forma o protesto aconteceu. não só contra a repressão, mas contra a especulação imobiliária em algumas áreas de Parati e Trindade, o desmatamento, e outras paradas, na sexta-feira, de tarde. e o pessoal conseguiu voltar para as ruas no sábado. não sem uma certa perseguição ainda dos fiscais e seguranças privados da flip. aliás, "quem são eles? quem eles pensam que são?". impedir o trabalho digno de centenas de pessoas. o que eles querem? que comecem a roubar os turistas. porque todo mundo precisa comer, beber, morar, vestir, todos os dias. a gente consegue essas coisas através do trabalho. e se não tem trabalho? e se você é impedido de trabalhar, dignamente, o que sobra? isso aqui: a FLIP que não saiu na TV.


manifestação chegando na região da praça da matriz, local badalado por vários bares e algumas das tendas. sobre esta cena, fiz o poema abaixo:

Não adianta fingir que não vai olhar
Colocar a venda da injustiça sobre o rosto e ignorar
Quando o nosso atabaque na sua mesa começar a tocar
E o maremoto de gente principiar a chegar
A nossa água no teu chopp a gente vai botar
Por isso, não adianta fingir que não vai olhar
Pra todo mundo a verdadeira hora vai começar
Quem espera nunca alcança, o que é nosso a gente vai pegar
E por mais que você corra, fuja, tente sacanear
Não adianta: o bloco na rua a gente vai colocar
E você pode tentar, mas não vai ter como escapar,
Por isso desde já meu amigo, eu vou lhe avisar:
Não adianta fingir, fugir, ignorar
Mesmo que você não queira visualizar
Nosso olho-no-olho te pega, e você vai ter que olhar

segunda-feira, julho 06, 2009

NÃO FOI DESSA VEZ

mas pode ter certeza: mal posso esperar para postar as fotos, contar mais detalhes sobre Parati. a questão é: estou em fechamento de bimestre, tendo que deixar os diários em dia, fechar notas, participar de reuniões de conselho, essas coisas chatas que não nos deixa tempo para o que interessa: histórias e estórias, literatura e poesia. mas, de amanhã não passa. talvez. só sei que, hoje, não foi dessa vez. até.

domingo, julho 05, 2009

PARATI FICOU PARATRÁS

e cheguei hoje de Parati, da Festa Literária Internacional de Parati, a FLIP. foi duro voltar, queria ter ficado mais. principalmente hoje que o sol apareceu mais firme depois de vários dias de chuva, e eu já estava cansado de tanto trampar. queria ter ficado lá, nos becos e vielas coloniais, nas ruas estreitas de pedras largas e espaçosas. nas casas históricas. parati é agora apenas um registro fotográfico, uma memória, um "quadro na parede mas, como dói".

para trás, ficaram muitas coisas, muitas histórias, amizades. por exemplo a primeira recepção: o aviso da gripe do porco (sai pra lá); a história feia que não saiu na mídia: a REPRESSÃO CONTRA POETAS, ESCRITORES E COMUNIDADES INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E CAIÇARAS. não se preocupem, não vou deixar passar batido, logo mais eu lanço a letra, inclusive no Boletim do Kaos de agosto. o maravilhoso grupo que apresentou os "cantos de euclides", as festas, as dores nas pernas de tanto ficar em pé e equilibrar sobre as pedras; as dores no braço de tanto carregar livros. as dores nas costas de dormir na barraca. mas não foram apenas dores, parati, para mim, foi muita alegria. dias intensos em que cada segundo era sentido, cada momento inensamente vivido. não queria ter voltado, queria ter ficado por lá. apesar da burguesia, apesar de ser uma cidade pensada para ricos, eu gostei. daquele clima de serra e mar, daquelas montanhas magistralmente desenhadas por Deus, da cidade sem prédios, das comunidades indígenas, do quilombo do Campinho. eu queria ter ficado mais um pouco lá, para conversar um pouco mais com todo esse pessoal, saber da vida, do trabalho, das batalhas. mas eu voltei.

logo mais, quando a cabeça estiver raciocinando melhor, eu digo um pouco de como foram estes dias. e publico algumas fotos, inclusive do TERMO DE APREENSÃO dos livros do meu camarada Pedro Tostes (Poesia Maloqueirista) - é, pasmem: os livros dele foram apreendidos! - e o flagra do momento da apreensão. é, tá tudo registrado. Lá fomos literalmente marginais. contos e poemas, nas ruas, foram tratados como material ilícito. o crime: tráfico de informação. mas nós resistimos. e vencemos. perdemos, pois deixamos de trabalhar por três dias, mas vencemos. explico depois. agora vou descansar. dormir. amanhã é dia de trampo. acabou-se a utopia.

o importante é que: confesso que vivi. valeu?