quarta-feira, janeiro 30, 2008

PROSSIGO


Nenhuma voz
Ninguém pra dar uma força
Nenhum telefone
Na porta, nenhuma batida
Sem emeios, no scrap
Falando sobre isso, o orkut me diz
(cento e não sei quantos amigos)
Poderiam ser mil
Valeriam um, dois
Não sei...
Onde estão?
Na rua, trabalhando, em casa
Não sei
"você vale o que tem"
Sei lá, não tenho nada
Só fuleragem,
Sanguessugas, vampiros no osso
Veneno

Tento mais uma vez:
Alô?
"Sua chamada foi encaminhada para a caixa de mensagens..."
Foda-se então!
Se cair é penalti
Eu tô no jogo
Logo mais eu dô a volta
Por baixo
Por cima
Por entre os dedos.

Pesquisa furada?


MAPA DA VIOLÊNCIA

Melhora posição de SP no ranking de mortes

Município caiu da posição de 182ª cidade com maior taxa de homicídio para a 492ª, entre os anos de 2004 e 2006. Pesquisadores apontam várias causas combinadas para a melhora no ranking, como maior policiamento e ações promovidas por ONGs

FÁBIO TAKAHASHIDA REPORTAGEM LOCAL
Entre o estudo do ano passado e o divulgado ontem, a cidade de São Paulo caiu da posição de 182ª cidade com maior taxa de homicídio para a 492ª. A relação do número de mortes por 100 mil habitantes (proporção que caracteriza a taxa de homicídios) na capital paulista caiu de 48,2 para 31,1. Os homicídios recuaram 40,4%, de 4.275 em 2004 para 2.546 dois anos depois. "Não há uma causa única para essa queda expressiva", afirmou a diretora-executiva do Ilanud (órgão da ONU sobre delitos e tratamento do delinqüente), Paula Miraglia. "Há uma tendência clara de queda em São Paulo desde 1999. Até agora, nenhum trabalho deu uma resposta conclusiva para esse fato", concorda o pesquisador do NEV (Núcleo de Estudos da Violência da USP) Marcelo Batista Nery. Segundo Nery, "se você perguntar para o poder público, ele vai dizer que foram as suas intervenções, como o policiamento; outros vão dizer que foram as ações das ONGs, que melhoraram as inter-relações sociais entre as pessoas. Para mim, foi tudo isso junto". O pesquisador da USP faz uma ponderação sobre a redução. "Os dados mostram uma queda geral em São Paulo. Mas é preciso considerar que a cidade é muito complexa. As situações de Moema [bairro de classes média e alta] e Brasilândia [periferia da cidade], por exemplo, são muito diferentes." Os indicadores do Observatório Cidadão Nossa São Paulo, lançados na semana passada, mostram essa disparidade. Enquanto na região da Subprefeitura da Vila Mariana houve 8,97 crimes violentos por 100 mil habitantes em 2006, em Parelheiros (ambos na zona sul) foram 47,88 casos. Segundo o levantamento divulgado ontem, das 645 cidades do Estado de São Paulo, apenas 45 estavam entre as 10% que possuíam as maiores taxas de homicídios no país. Ou seja, 7% das cidades paulistas estavam no grupo das mais violentas. Os Estados "campeões" foram Amapá (50% dos municípios) e Rio de Janeiro (46,7%). Dentro do Estado de São Paulo, as cidades mais violentas foram Caraguatatuba, São Sebastião (ambas no litoral) e Itapecerica da Serra (Grande São Paulo). "É preciso verificar a situação de cada município. O simples fato de estarem no litoral, por exemplo, não explica nada. Outras cidades do litoral não ficaram entre as mais violentas", diz Miraglia, do Ilanud. MetodologiaOs levantamentos divulgados ontem e no ano passado utilizaram metodologias diferentes. No de 2007, para todos os municípios, foi considerada a média dos três anos disponíveis (de 2002 a 2004). No deste ano, a quantidade de anos foi mantida (de 2004 a 2006) para as cidades com mais de 3.000 habitantes. Para as menores, foram considerados cinco anos (de 2002 a 2006). Questionado se a mudança no cálculo da taxa de homicídio para cidades menores poderia distorcer a comparação do ranking de municípios de um ano para o outro, o autor do "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros", Julio Jacobo Waiselfisz, disse que não. De acordo com Waiselfisz, a alteração tem impacto significativo apenas no retrato desses pequenos municípios.
Colaborou ANGELA PINHO, da Sucursal de Brasília
- Só queria entender uma coisa: se em Maio de 2006, tivemos os ataques do PCC e os revides policiais (com muito mais violência), que resultaram, em apenas 03 semanas, no saldo absurdo de 493 mortes (QUATROCENTOS E NOVENTA E TRÊS MORTES), como este número pode ter sido reduzido, neste mesmo ano?
De quem será a calculadora que eles estão usando?

BRASIL: GUERRA CIVIL


Brasil teve meio milhão de homicídios numa década - REUTERS

Ter, 29 Jan, 06h28
Por Raymond Colitt

BRASÍLIA (Reuters) - Quase meio milhão de brasileiros foram assassinados nos últimos dez anos, mas a taxa de homicídios está caindo gradualmente graças aos avanços sociais, à ampliação do policiamento e à redução das armas de fogo, segundo estudo o Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros, divulgado na terça-feira.
Entre 1996 e 2006, cerca de 465 mil pessoas foram assassinadas no país, a maioria a tiros, de acordo com o levantamento realizado por duas ONGs e pelo governo federal.
Especialistas dizem que a polícia, corrupta e sem os recursos necessários, não tem como combater os crimes, e que a grande desigualdade social alimenta a violência.
Em 2006 e 2007, vários casos chocantes trouxeram a questão da segurança pública de volta à lista de grandes preocupações da opinião pública.
Segundo o relatório, muitas das 12 cidades mais violentas ficam na Amazônia, onde disputas por terras e outros recursos naturais são frequentemente resolvidas com a contratação de pistoleiros.
A cidade de Foz do Iguaçu, na fronteira com a Argentina e o Paraguai, é a quinta cidade mais violenta do Brasil, com 99 homicídios para cada 100 mil habitantes, mais que o triplo das taxas registradas em cidades norte-americanas fortemente afetadas pela criminalidade.
Mas o número de assassinatos em 2006 caiu pelo terceiro ano consecutivo. Do pico de 50.980 em 2003 foi para 46.660, de acordo com o estudo.
As campanhas de desarmamento promovidas pelo governo, a ampliação dos programas sociais e o melhor policiamento ajudaram a reduzir os homicídios, segundo o relatório. Mas milhões de jovens sem perspectiva sócio-econômicas continuam servindo de mão-de-obra para o crime.
"A queda da taxa de homicídios é uma boa notícia, mas não comemoremos demais", disse Jorge Werthein, co-autor do relatório e diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla).
"(A taxa atual) ainda é totalmente inaceitável por qualquer padrão internacional", acrescentou.


terça-feira, janeiro 29, 2008

Preparação para a Guerra!

poema

Literatura é Possível
rodrigo ciríaco

Um dia, numa escola
Poetas e escritores,
Alunos e professores
Uniram-se.

Da improvável comunhão
A pólvora da explosão.
Guilhotinas sem cabeças
Apresentaram uma nova evolução
E a queda de uma Bastilha.

Libertados das grades
Das bibliotecas escolares,
Drummond e sua pena,
Clarice, Cecília, Manuel Bandeira.
As Margens da Alegria, Quintana passareia
Ao lado de Jorge Amado e Guimarães Rosa
Que com os meninos, Capitães da Areia
Começam a cantar.

Diziam: adeus, Feliz Ano Velho
Queremos o Caos, a TAZ,
Não viemos em Vão!
Estamos De passagem, mas não a passeio,
Somos Guerreiras, Colecionadores de Pedras,
Por tempos demais saboreamos Angu de Sangue,
Mas agora, Graduados em Marginalidade
Queremos respeito, em prato cheio.

Somos A Rosa do Povo,
Rasgando o véu da mesmice, do cotidiano,
Somos A Descoberta do Mundo,
O Intervalo Amoroso,

Não somos um sonho de uma noite de verão
Somos a Utopia.
Em nossas Vidas Secas
uma certeza:
A Literatura é Possível.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

SERTÃO DO PAJEÚ - São José do Egito: Visita ao Assentamento

Caminhada

Vista de São José do Egito, da estrada

Chegada a Horta e Plantio Comunitário Primavera da Prosperidade

Carlos, segurando uma macaxeira

"Poeta", com mamão e caju - Thyago ao fundo

O bem mais precioso - Cariry, com as crianças e água

Momento sublime: batizado do filho de Luciana, através dos elementos da natureza. Aqui a "Terra"



Confraternização: maracujá, mamão, cana e a gurizada

Gringo, Igor e eu, no retorno

SERTÃO DO PAJEÚ - São José do Egito - Usina: II Festival Porta da Índia de Cultura Livre

Oficina de teatro

Música

Caricaturas

"A la Ursa quer dinheiro
Quem não dá é pirangueiro..."

Malabarismo

Sarau - Olha só quem eu achei...

Cooperifa presente

Frase mágica de Deleuze

Comunidade de São José atenta: Decripolou totepou

Traduzindo: "De criança, poeta e louco, todos tem um pouco" - Número de Circo

SERTÃO DO PAJEÚ - São José do Egito - O Beco de Laura








Poemas do Beco

quinta-feira, janeiro 24, 2008

das minhas leituras...

em recife não descuidei das minhas leituras. vários livros levei, para que não sentisse falta de nada. e consegui. não ler tudo, mas não sentir falta.

estranho, mas estou fazendo a leitura de dois livros. ao mesmo tempo. ou melhor, leio um pouco um, no outro dia leio outro. e o mais esquisito é que é perfeitamente possível fazer isso. principalmente quando os livros se dialogam. e são fuderosos.

um deles é do mestre Paulo Freire. o já conhecido e Pedagogia do Oprimido. o outro é do também mestre Mohandas K. Gandhi, o Mahatma. se chama Autobiografia - Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade.

se você acredita em transformação, não aquela que muda para manter as coisas como estão, mas a verdadeira, a que transforma o ser-humano em alguém-mais, num verdadeiro ser, apaixonante, solidário e amável para os outros, é necessário ler estes livros. para não se sentir incompleto, inseguro. fraco. trago alguns trechos:

"a violência dos opressores, que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação - a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta, somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar a sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos." (Paulo Freire - trecho presente na música Zumbi, do Z'África)

"Uma pessoa que acumula bens materiais ou morais, deve-o somente à ajuda dos outros membros da sociedade. Assim sendo, terá ele o direito moral de usar o acumulado primordialmente para seu proveito pessoal? Não, ele não tem esse direito."

E a frase mais fuderosa, cravada na minha mente

"Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo."

então, pare de ler esta porcaria de blog e procure estes livros.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

de volta...


eu, miró e valmir, nas ruas de olinda (foto: Tânia)


aeroporto de guarulhos, 09H55 am. chegamos.



dias de muita correria foram estes últimos. internet, nem me viu. não tive tempo.



Recife ainda me dói no corpo, no peito, nas minhas fatigadas retinas. vestígios da cervejada/cachaçada de ontem, despedida no nós-pós. presença de elis, carol, gabriel, gringo. valmir jordão, o "poeta", thyago. kleber lourenço. estou virado. desde ontem, as 05hs da matina que não durmo.



Recife me dói.



esta foi uma experiência muito importante na minha vida. enquanto pretenso-escritor, enquanto professor-educador mas, principalmente, enquanto Ser Humano.



Recife me dói. E não quero que esta dor vá embora.



De lá, o mais importante que fica são as pessoas. não sei como retribuir a tamanhas gentilezas, portas abertas, favores, cicerones. convites para cafés da manhã, almoços, jantares, lanches. bates papos. troca de livros, fanzines, cds e idéias. muitas idéias.



é bom (re)descobrir que são paulo não é o brasil.



miró, tú é do caralho.



valmir, tú é massa.



thyago, cariry: a la ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro...



Amo Recife. E como me dói.



volto logo.



enquanto isso, tento a partir de amanhã organizar a casa. a energia está carregada. a mil. necessitando transbordar. quero partir para a guerra.



as batalhas estão aí.



tento postar algumas fotos já há muito prometidas.



e agora preciso dormir. tomar um banho quente - depois de 23 dias de banhos gelados, uma delícia se tratando do calor - e dormir.





um chêro.



Rodrigo

terça-feira, janeiro 15, 2008

GRANDE SERTÃO: PAJEÚ...

de volta para casa.

na verdade, de volta para recife. uma nova morada.

ontem, eu e tânia chegamos da viagem que fizemos no final de semana para São José do Egito/PE. como eu havia dito por aqui, esta cidade é considerada a capital nordestina do repente. e da poesia. do repente, não vimos muita coisa. da poesia, da música, do teatro, da alegria das crianças, das brincadeiras na rua, aí vimos muito.

aconteceu o II Festival Porta da Índia de Cultura Livre. uma grande atividade cultural, organizada por pessoas muito gente boa daqui de Recife e da própria cidade. saímos na sexta-feira, meia-noite. algum tempinho de atraso, pois estava marcado para as dez. mas tudo tranquilo.

a viagem transcorreu Pernambuco adentro. apesar do sertão ser quente, a viagem foi fria, como são as noites por lá. mas foi boa. quando a madrugada dizia "vou me embora" e a manhã apareceu, eu acordei. e vi. pela primeira vez na vida, ao vivo. o Sertão. é lôco viajar de ônibus por esse Brasil para ver a transformação da paisagem, principalmente da vegetação. o Sertão é seco. a paisagem é seca. e isso não é tão óbvio. as cores que predominam são o cinza-amarronzadado, com pequenos toques de árvores verdes (algaroba, juazeiros) e cactus. e impressiona.

uma coisa legal para observar no sertão é a forma como se organiza a terra. uma vasta extensão de planície e depois algumas serras. fiquei viajando na serra da barriga, e sua visão periférica de tudo que acontecia abaixo.

muitas casas humildes ao longo do caminho. várias com dizeres "só jesus salva". é compreensível. incompreensível é o número de casas com números e nomes de deputados, prefeitos, vereadores e outros políticos que parecem não lembras destes cidadãos, a não ser em época de eleição. sob as pontes, não há mais rios. apenas pedras. secas. e animais ossudos compondo a paisagem.

entre 05H30 e 06H30 da matina, o ônibus não cruzou o caminho por nenhum carro. na estrada, apenas mulheres e crianças que aguardavam, não sei o quê. não sei pra onde. pensei que fosse o caminho da escola mas, estamos em férias. talvez fosse o caminho do trabalho. não sei.

a chegada em são josé do egito foi por volta das 07hs. fomos recebido pela Clene, mãe de Anaíra, antiga moradora de São José e uma das organizadoras do Festival. um figuraça. profetisa, segundo o poeta Luiz, outra figura. aliás, conhecemos pessoas maravilhosas por lá. igor, carol, jáilton, humberto (galego, cariri), magno.

e quem estava por lá conosco?

o gringo que fala.

nossa, tô vendo que tenho muita coisa pra falar desta viagem. vou tentar resumir em tópicos.

- o festiva começou para nós na tarde de sábado. soraia, grande pessoas que faz arte cênicas em recife estava fazendo uma oficina de teatro com as crianças da comunidade. muito bacana, ver a interação delas, a brincadeira, a festa. crianças sempre são foda. ao redor, pessoas pintando paredes, tingindo camisetas. e música. atabaque, pandeiros, violões e outros instrumentos estavam permanentemente presentes.

-"a laússa quer dinheiro / quem não dá é pirangueiro": uma das atividades mais alegres, divertidas e transformadoras que participei na minha vida. uma experiência inesquecível. eu (atabaque), poeta Luiz, Thiago, Tânia, Magno (pandeiro) e Cariri (na flauta), mais um bando de crianças com bonecos gigantes, burrinho, a "laússa", um mascarado e outras coisas saindo pela rua, fazendo barulho, cantando, dançando, fazendo as pessoas saírem de suas casas e irem para a rua nos ver. a recompensa foram as caixinhas que arrecadamos pelo caminho, com um dos pandeiros, dividido para tinta, bebidas e uma parte para a molecada. festa total.

- a noite teve exibição de telão, apresentação de malabares com fogo, sarau e outras coisas que eu não sei pois estava só o pó e não fiquei até o final. a Cooperifa esteve presente, e foi firmemente representada por mim e pelo Rafael (Gringo). foi bom.

- domingo pela manhã, foi dia de visita: uma escola, construída e mantida por uma comunidade lá de são josé. visita a um acampamento de sem teto (ou sem terra), mas de um grupo de pessoas que ocupou uma área desde agosto de 2003 e transformou na Horta e Plantio Comunitário Primavera da Prosperidade. um trabalho maravilhoso, pensar que no Sertão, com um pouco de água e muita luta, trabalho, disposição, é possível se ter macaxeira, banana, mamão, maracujá, cana, entre outras coisas. este foi um dia lindo, maravilhoso, pois além da visita, foi realizado o batizado do filho de Luciana. um batizado todo diferente, relacionado com todos os elementes (terra, fogo, água e ar). o primeiro batizado foi o da terra.

bem, eu tô cansado de escrever. o tempo na lan house está acabando. sei que vou voltar a falar disso quando postar as fotos. mas, tive um final de semana muito produtivo no sertão de recife. uma experiência que só tem a acrescentar na minha vida, fortificar as nossas lutas. por último, fui presenteado com um cd de um grupo de HipHop aqui de Recife, o Êxito d' Rua. Já ouvi o cd, os caras são muito bons. além de fazer um trabalho artístico e social bem interessante. vou ver se aproveita o final da estada por aqui para conhecer, saber mais. e por enquanto é isso. que eu já cansei.

fotos, só depois. no retorno. na máquina, já foram mais de 600! pelo menos 10% tem que entrar no blog.

aquele cheiro,

rodrigo

sexta-feira, janeiro 11, 2008

NARCISO E SEU ESPELHO

Meu caminho até ele não foram as conchas, as pedras, mas as tampinhas de garrafa da praia do Pina. Há milhares delas, espalhada por toda a praia, desde Boa Viagem. No primeiro dia que chegamos aqui, em Recife, encontramos a areia da praia bem suja. Obra da virada, eu e Tânia pensamos. Não era. No primeiro dia que encostamos numa barraca e pedimos cerveja, a tampa da garrafa foi jogada diretamente na areia. E ali ficou.

Pousamos por volta das 09hs. A maré estava muito baixa. Os arrecifes de corais, cobertos nos dias anteriores pela água salgada, agora estava visível. Porções de água próximo formavam uma bela paisagens de águas cristalinas e piscinas naturais. E tampinhas. Várias delas, enferrujadas pela ação do mar derrotavam a orla da praia. Aquilo era incômodo, além de perigoso. Tânia teve uma idéia, recolher um pouco das tampinhas.

Achei aquilo absurdo. De que adiantaria recolher, dez, vinte, cem tampinha de uma praia habitada por centenas de milhares dela. Mas depois de vê-la com o saquinho biodegradável nas mãos, e a insistência em abaixar e levantar, a cada metro, recolhendo as tampinhas uma a uma, vi que o esforço não era em vão. As batalhas impossíveis é que precisam ser travadas. Deixei Tânia recolher mais um pouco. Chamei-a, e tomei seu lugar.

Estava a recolher poucas tampinhas quando vi aquela figura dentro da água. Um chapéu de palha gasto, uma camisa azul e uma vara. Localizava-se pouco depois dos corais, com a água na altura do umbigo. Minuciosamente tirava um camarão cru do pote pendurado ao pescoço, arrancava a cabeça, a casca, preparava a isca e zum! Lançava em direção contrária a maré. Não demorava mais do que dois ou três segundo e zás! Dava um tranco pra cima, sacando o peixe do mar.

Me aproximei perguntando se dava muito peixe. "Ixe, 300, 400 grama. Mai tem dia que dá é de quilo." Não duvidei. A maneira com que lançava a vara e a precisão com que pescava atestava que aquela não era uma história de pescador.

Este é o Seu Narciso.

Morador de Brasília Teimosa, Recife. Uma comunidade pobre, cercada por becos e vielas, lan house à um real, carros ambulantes com altos carros de som, restaurantes populares. E próximo da praia. Melhor, as beiradas do bairro são comidas pela praia, protegido por pedras. Seu Narciso mora ali há mais de cinquenta anos. Com uma saúde de ferro.

"Todo dia eu levanto e venho cedo pra cá. Melhó quano a maré tá baxa. As veiz fico até o meio-dia". E depois limpa em casa, pergunto. "Que nada, limpa na praia mêmo. O qui num é du homi os bicho come. Chego em casa e só frito". Seu Narciso me diz, com um sorriso entre os lábios, que fica uma delícia, comer o peixinho no fim da tarde, junto com uma birita. "Cerveja não meu fio, qui eu num gosto. É cachaça memo. Minha Pitú."

Seu Narciso tem 86 anos, a completar no dia 23 de abril. E uma saúde de ferro. Só uma vez saiu de Pernambuco, foi para o Rio. "Fiquei menos de dois ano. Num gostei não. Lugar bom é aqui." Seus filhos estudam na cidade Maravilhosa, devido a questão do emprego. "Mas todo carnaval é batata. Daqui a pouco eles tão pousano aqui". Aposentou-se faz dez anos, desde então cumpre o ritual. "Isso aqui é uma higieni mental minino. Ficá em casa pra quê?"

Narciso acha feio o que não é espelho. Pudera, seu espelho é o mar. Trabalhou durante trinta e oito anos como garçom, nas praias do Pina, Boa Viagem e em Olinda. "Esses restorante só gosta de rapaz novo. Já viu restaurante com garçom véio?". Vivia de gorjetas. Hoje, aproveita-se dos Carapau, Tipurru, Salema, Carapeba e outros peixes que fisgam o seu anzol. Depois de sacar um filhote de agulha, todo prateado, diz com orgulho: "Etá, que esse é o pexe mais procurado no almoço da praia todinha." Faça bom proveito Seu Narciso. O mar está a seu serviço.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Poema - QUATRO CANTOS

Ó Olinda

Do maracatu descendo a ladeira
as pedras tremendo no chão
Do frevo dançante e seus mares de gente
- Bonecos...

Mas que merda!
Nunca vi tanta gente
mijando na rua

quarta-feira, janeiro 09, 2008

De PE para SP

O mano Buzo mandou algumas perguntas diretos de Sampa, para eu responder para o blog Buzo entrevista. Ela já foi, de cá pra lá. Quem quiser conferir, acesse:

http://www.literaturaperiferica.blogger.com.br/

um chêro

SÃO JOSÉ DO EGITO - A CAPITAL NORDESTINA DOS REPENTISTAS

Considerada a Capital nordestina da poesia popular, a cidade de São José do Egito, a 402 km do Recife, é parada obrigatória para quem gosta do turismo cultural. Terra de Antônio Marinho (que foi o mais respeitado violeiro-repentista nordestino), dali também saíram artistas do porte dos irmãos Dimas, Otacílio e Lourival Batista (este último consagrou-se como "o rei dos trocadilhos"); Rogaciano Leite; Mário Gomes; Cancão e outros poetas e cantadores do repente. Atualmente, dezenas de poetas dão continuidade a essa arte.
Por sua tradição de celeiro de grandes poetas populares, ainda hoje a cidade é um dos maiores centros de realização de cantorias, no Nordeste. Ali, durante a Festa de Reis (primeira semana de janeiro), anualmente acontece um Festival de Cantadores e Poesia Popular. E em todas as festas tradicionais há sempre uma programação com violeiros.
A cidade também conta com uma espécie de museu para os cantadores, a Casa do Poeta, construída em 1997 com recursos do Ministério da Cultura e que tem uma razoável estrutura para realização de festivais.
São José do Egito é o que se pode chamar de um dos municípios sertanejos de médio porte (tem uma população de pouco mais de 30 mil habitantes) e, na cidade, um dos cumprimentos mais comuns entre os moradores está ligado à arte da terra.
Ali, não se diz apenas "bom dia", "boa tarde", "olá". Geralmente, o cumprimento vem seguido de outra palavra: "bom dia, poeta", "boa tarde, poeta" e por aí vai. No verão, a cidade tem o clima quente da área de seca do Nordeste, mas no período chuvoso a temperatura pode baixar até 20 ou 15 graus.
Um dos maiores responsáveis pela projeção da cidade como centro da poesia popular do Nordeste foi, sem dúvida, Lourival Batista, repentista imbatível no seu ofício, cuja obra mereceu vários registros fonográficos e análises acadêmicas. Mas, além dessa marcante tradição na arte da cantoria, São José do Egito também tem outras histórias a mostrar.
Uma delas está escondida numa velha casa em ruínas, onde o jornalista Assis Chateaubrind aprendeu ler em jornais velhos, usando a queima de óleo para fazer suas leituras noturnas.
A Capital dos Repentistas também guarda outras importantes lembranças da história brasileira. Na Fazenda São Pedro, por exemplo, está o túmulo de João Dantas, o assassino de João Pessoa, crime ocorrido no centro do Recife e que precipitou os episódios que desencadearam a Revolução de 1930.
A fazenda fica a 20 quilômetros do centro da cidade e os atuais proprietários estão instalando ali um hotel-fazenda para dar suporte às atividades recreativas típicas da região como pegadas-de-boi, vaquejadas e outras.
Localizada no Sertão do Alto Pajeú, região onde nasceu o famoso cangaceiro Antônio Silvino, São José do Egito esteve ligada a algumas investidas desses "justiceiros da caatinga", muita delas ainda hoje lembradas por moradores mais antigos. Mas, o forte do município é mesmo o repente, a cantiga de viola. Tanto que, na década de 1970, compositores como Gilberto Gil e outros estiveram por ali pesquisando a arte dos violeiros sertanejos.
E foi também ali que a gravadora Marcus Pereira (RJ) colheu grande parte do material para produzir o vol 2. da famosa coleção "Música Popular do Nordeste" (1973). A cidade foi ainda uma das principais fontes de pesquisa para a cineasta Tânia Quaresma produzir o filme "Nordeste, Repente e Canção", também da década de 70.
O município ainda não explora, de forma estruturada, todo esse seu potencial turístico-cultural. Mas, para quem gosta de unir turismo à arte popular ou como fonte de pesquisas, a cidade é uma boa pedida.

http://www.pe-az.com.br/turismo/sao_jose_egito.htm

segunda-feira, janeiro 07, 2008

JUSTIÇA TOTAL

Coca para os ricos
Cola para os pobres
Coca-cola é isso aí.

Valmir Jordão, poeta recifense