fotos: Luís Coelho e Rodrigo Hypolitho - CMI
Raízes da Alma
rodrigo ciríaco
Podem destruir uma, duas ou até três flores,
mas jamais deterão a primavera...
Guevara
08 de Março de 1857
A primavera pede espaço em Nova Iorque
Rosas perfumadas interrompem a produção de tecidos
Exigem respeito, melhores condições de trabalho
Redução da irredutível jornada.
Seus gritos não são atendidos!
São agredidas, maltratadas,
Refugiadas no próprio país
Dentro de uma fábrica.
Os agressores não se sensibilizam
E num gesto insensato,
Digno de um ato humano, inexplicável,
Trancam as portas do jardim
E ateiam fogo as flores.
Elas ainda não haviam sido arrancadas da terra.
Por que murcharam oh rosas?
Teria sido a falta de ar, o calor incessante?
Ou a incredulidade com o barbarismo
De tal gesto humano?
08 de março de 2007
O verão queima cabeças, queima o asfalto
Teimoso, não quer se despedir das ruas de São Paulo.
Um jardim multicolorido cresce na principal Avenida
Da Indiferença da cidade.
O Roxo e o Vermelho dão o toque único
Feminino.
150 anos depois, milhares, mulheres, homens,
idosos, crianças, ainda lutam por direitos
e hoje caminham lado a lado.
Mad Bush, o fascínora de bombas sem rosto
É só provocação, e como os agressores novaiorquinos
Pisa em terra brasilis, e a todo lugar
Manda fechar o portão.
O governo brasileiro agradece. Obedece.
Nas ruas, barracos são arrancados, trabalhadores
Ficam horas nos pontos, lotados.
Tudo para a segurança do presidente.
Que não aceita o diálogo, não aceita protestos
E faz da Avenida Paulista um território Iraquiano.
Na minha frente
O teatro dos horrores é montado:
há sangues, bombas, tiros
E corpos estendidos no chão.
Onde havia um jardim diversamente florido
Foi aberta uma cratera
Onde havia 10.000 flores
Agora resta apenas um buraco.
As flores não murcharam, resistiram,
Mas elas choram. E sangram.
Caminhando perdido na busca de um rosto amigo
Entre uma multidão apavorada que corre para todos os lados
Para proteger a sua vida
Lembro de uma aula na escola
Em que o tema foi o dia 08 de Março
E após saber o que aconteceu na véspera da primavera
De 1857, um aluno me olhou nos olhos,
Um olhar angustiado, me perguntou:
- Pra quê isso?
Hoje, exatos 150 anos depois
Vendo bombas serem arremessadas contra corpos
Uma mulher, ferida e gritando ao meu lado
Permaneço imóvel, atônito
E me pego com o seu mesmo olhar
O seu mesmo questionamento:
- Pra quê isso?
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