sábado, dezembro 19, 2009

"É SÓ ISSO, NAO TEM MAIS JEITO, ACABOU, BOA SORTE..."

essa foi uma das semanas mais emocionantes da minha vida. coração estourando no peito, pés levitando, sentimentos a flor da pele.

foi a semana das últimas apresentações da turma de teatro da escola. de despedida dessa turma, que não mais existirá. não o teatro, o projeto segue firme e forte no ano que vem, realizando inclusive novos vôos. fala dessa turma, especificamente.

alguns alunos sairão da escola. outros, mudarão do bairro. outros mudarão de turno, vão trabalhar.

enfim, a vida segue. e que bom...

a apresentação na Ação Educativa, na terça-feira, foi uma das mais bonitas do grupo. sim, alguns detalhes talvez tenham atrapalhado o espetáculo: iluminação, altura do "palco", o ensaio único antes da apresentação.

mas os alunos estavam entregues. por inteiro. de corpo, alma e mente. racionalizando as emoções. extravasando e superando dificuldades. foram ator e atrizes, profissionais. sensíveis. belas.

foram os Mesquiteiros.

tenho muito orgulho dessa molecada. de como chegamos, de onde partimos, agora. do quanto crescemos. juntos. amo a eles, todos, profundamente. é muito bonito constituir um grupo, depois um coletivo e, como se isso não bastasse, transformar isso numa família. sincera, solidária. briguenta, inclusive entre nós. mas sempre com respeito. sempre buscando a verdade, o melhor para si e para o grupo - tarefa nada fácil. mas fomos felizes. aliás, estamos sendo.

na quarta-feira, fizemos a avaliação do ano, do grupo. lavamos a roupa suja. e lavamos mesmo; batemos a roupa no tanque, esfregamos, deixamos no molho, esfregamos de novo, colocamos na máquina, torcemos e depois estendemos. sem nenhuma mancha. sem nenhum rancor, nenhuma amargura. terminamos assim: orgulhosos, de cabeça erguida, sem ninguém tendo algo guardado pra falar. ou tendo tudo. pois palavras nao foram suficientes para descrever o que foi aquilo. então, vieram as lágrimas. o "gozo" através dos olhos. e foi o máximo.

durante todo o processo os alunos escreveram bastante. textos ótimos, impressionantes. pessoais, avaliativos. aos poucos, vou publicando algumas coisinhas por aqui.

no mais, ficaram as promessas: de manter o grupo, unido, ainda que transformado. alguns vão, outros virão. de ampliar horizontes. de invadir outras escolas, outras quebradas, outros espaços. de conseguirmos mais equipamentos, mais subsidios. de ampliarmos a luta: por mais respeito, por uma melhor educação. enfim, estamos fortalecidos, porque não estamos sozinhos.

esse ano foi bom pra mim. apesar de tudo, apesar de ter sido um dos anos mais difíceis pra mim - assuntos publicados e outros escondidos deste blog - este foi um ano extremamente difícil pra mim. ainda assim, venci. o nome que escolhi para este ano?

superação. super-ação.

então, façamos!

ano que vem tem mais. a cabeça ferve, borbulha. uma nova peça, um novo livro. novas emoções.

será que eu aguento? com certeza. "sozim ninguém guenta", e isso com certeza eu nao estou.

"um por todos, todos por um".

rodrigo ciríaco
apenas + um mesquiteiro - rs.

p.s.: ah, e quase ia me esquecendo. o total arrecadado com as 07 apresentações, no esquema P.Q.P. (pague quanto puder) foi de R$ 547, 00 (quinhentos e quarenta e sete reais), arredondado para R$ 550 e dividido entre os onze alunos que integraram o grupo, deram R$ 50,00 para eles no final das contas. adivinha se eles ficaram felizes ou não de pegarem a oncinha na mão?

2 comentários:

Priscylla de Cassia disse...

é de emocionar!
Parabéns senhorito! Fico feliz de verdade em ver a satisfação disso tudo, concluído e em movimento...

beijos
de buenos aires
pri

Mei Hua disse...

Aos Mesquiteiros:

Ainda acredito que a educação pública tenha jeito. Acredito que o teatro, como arte, envolve uma parcela incomensurável de elementos que formam e educam sem resvalar para o “pedagogês”. Ainda acredito que existam pessoas que botem fé umas nas outras.

As crenças acima são verdadeiras, mas, devo confessar, sofrem ataques constantes dos reveses cotidianos. Ainda mais na esfera escolar, com suas instâncias burocratizadas, com sua enorme ausência do poder público, com sua complexidade de fatores negativos que quase sempre tomam o curso do fracasso, do desânimo ou da revolta.

No entanto, a peça fundamental dessa engrenagem chamada escola ainda é o aluno. Professores, coordenadores, diretores, funcionários e educadores não existiriam em suas funções se acaso não estivesse ali o aluno. E, apesar de presenciarmos repetidas vezes dentro das escolas o descaso quase generalizado – quando não uma atribuição de culpa por todos os problemas existentes – para com eles, alunos e alunas, há momentos em que somos realmente felizes enquanto educadores e seres humanos. Isso ocorre justamente quando há um encontro – geralmente único, especial – entre aqueles que deveriam ensinar e aqueles que deveriam aprender, mas numa via de mão dupla, ou seja, quando todos percebem que, para além das injustiças, do dinheiro, das agruras, das obediências curriculares, existe a possibilidade de enxergar o outro com “olhos livres” e, num ato de extrema coragem, entregar aquilo que nos é mais caro, mais precioso, como oferenda de boa fé ao outro.

Honrada. Foi exatamente assim que me senti ao assistir à peça De aqui de dentro da guerra, apresentada por vocês Mesquiteiros, sob a tutela do persistente e audacioso professor. Rodrigo Ciríaco. Honrada e de alma lavada por ver e sentir do que a rapaziada é capaz quando alguém resolve verdadeiramente acreditar e trabalhar duro com eles. Por que o que se vê ao assistir ao espetáculo se projeta para longe, ultrapassa as barreiras da escola e ocupa o espaço de outras dimensões que, por sua vez, afetam e determinam aquilo que adentra as instituições de ensino. Dialético e profundo, mas feito com uma simplicidade que dispensa elucubrações. Os meninos (ou melhor, menino e meninas) surpreendem e causam espanto, curiosidade. Incitam nos espectadores o riso nervoso ao interpretarem as cenas carregadas de ironia (presente nas falas dos textos contundentes). Encantam com seus relatos e tratam com suavidade e desenvoltura temas densos como abandono, descaso, morte.

E eu, que queria tanto assistí-los na escola, mas não pude, fui brindada com esses momentos mágicos em que realidade e ilusão se misturam, se condensam e viram outras possibilidades. Obrigada.

Um caloroso abraço a todos(as).

Mei Hua.