terça-feira, outubro 16, 2007

devaneios

ontem foi dia dos professores.

não recebi nada. poucos cumprimentos, lembranças. aliás, é o segundo ano consecutivo que não recebo nada. em dois anos oficiais que dou aula. não deveria me incomodar mas, incomoda. não pelo fato de ser professor. claro que é por isso. mas principalmente por ver que, realmente, não temos mais valor. ah, sei lá.

tô falando esse monte de merda apenas para introduzir a parte que mais interessa. domingo, através do evento das "satyrianas", participei de uma discussão legal no teatro da vila, dentro da escola estadual maximiliano. o tema era "ensino da literatura, literatura no ensino", e contou com a participação de carlos galdino (poeta pernambucano), ivan antunes (poeta e oficineiro de literatura em escola municipal), frederico barbosa (poeta pernambucano, professor) e marcelino freire (escritor pernambucano!) - Salve Pernambuco! o bate papo foi muito bom, éramos apenas quatro pessoas presentes mas, a conversa fluiu boa. serviu para oxigenar as idéias, elaborar a evolução.

o melhor de tudo foi ver o que o pessoal do aprendiz, satyros e várias parcerias conseguiram fazer numa escola estadual. tudo bem, vila madalena, escola estadual que está virando particular, para elite, muito dinheiro e apoio mas, ver aquelas oficinas de teatro, cinema e vídeo, letras, danças, música etc, etc, etc, motiva muito a você pensar que transformar a sua escola também é possível.

deve ter sido por isso que chegar segunda feira na escola, pleno dia dos professores, e encontrar a mesma invadida, porta da cozinha destruída, merenda roubada, panelas transformadas em ferro velho, objetos da cozinha roubados, impunidade, descaso, entre outras coisas deve ter me chocado tanto. fiquei triste. e revoltado. aquilo parecia irreal. mais uma invasão na escola. mais um roubo, mais uma destruição. isso numa escola que já não tem quadra. um local que já não tem mais sala de informática, não tem um vídeo, um dvd, um som decente. tem uma biblioteca boa, que vive fechada. aliás, será que as coisas não tem relação? as pessoas invadem, destróem e roubam a escola porque ela não tem nada ou ela não tem nada porque as pessoas invadem, destróem e roubam? pergunta tostines que o governo não se preocupa. aliás, governo é governo, nunca nada vê.

pra somar e fechar, finalizei a oficina de literatura. é isso mesmo, o projeto "literatura (é) possível" está encerrado. fica para o próximo ano, isso se tiver parceria, apoio e $$$. oficializei hoje para os escritores que participaram - e participariam, no caso do Buzo e do Vaz - e para os membros da escola. motivo: está difícil carregar o piano sozinho. está difícil bancar o piano sozinho. este mês mal recebi meu pagamento e já estava negativo em 130 reais. mas isto é outra história. mas assim não dá para eu pagar um escritor para ir na escola. e sou eu que banco o projeto. e eu preciso viver. estudar, comprar livros, pôr gasolina no carro, fazer a compra do mercado. mas quem se importa com isso? eu.

a secretária de educação disse hoje na folha que a gente ganha bem. poderia ter me xingado, seria menos cínico. disse também que melhorar o salário de professores não é a solução para melhorar a educação. realmente, não é. mas que ajudaria, ajudaria. com certeza. ou então investir mais - e melhor - na escola, construir mais escolas, diminuir o número de alunos em sala, investir na periferia, etc, etc, etecetera.

ah! é isso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Robson Canto disse...
O BLOGGER PERMANECE NO AR!
Devido aos desgostos da vida, pensei em tirar este blogger (www.robsoncanto.blogspot.com) do ar.
O amigo Sacolinha disse: “não!”
O Buzo também disse “não!”
O professor Ciriaco idém.
E à Ricarda idém.
Com o poeta Sergio Vaz eu não falei, mas sei qual seria resposta dele: “Canto foda-se, se tirar o blogger do ar, o bicho vai pegar pro teu lado!”
Se essas pessoas falaram não, então é não!
Já o Ferréz... Bom eu ainda não falei com ele, acho que ele quer me bater como se eu fosse o Mirisola! (Risos.)
O blogger permanece no ar!

“Às lágrimas podem durar uma noite, mas a felicidade vem ao amanhecer!”

Michele Prado disse...

Rodrigo, tenha certeza que seus devaneios não são um caso isolado. Minha mãe dá aula no estado há mais de 30 anos, atualmente é coordenadora de escola, Itaim Paulista, periferia, sabe como é. Acho que o pior de tudo não são “apenas” as constantes invasões na escola, merenda desperdiçada pelos próprios alunos em guerrinhas no pátio, pichações, etc... Mas o descaso do governo e até mesmo de alguns diretores e professores. Não é fácil levar um projeto adiante sozinho. Compreendo perfeitamente sua situação, afinal, ninguém vive de luz. No entanto, ainda prefiro acreditar que enquanto tiver um professor comprometido e um aluno interessado em aprender vale a pena continuar semeando, apesar das pedras e do solo endurecido pela indiferença de outros. Parabéns pelo projeto!

r.c. disse...

olá michele,
a pausa no projeto é apenas isto: uma pausa. para respirar, refletir e ganhar mais fôlego. batalhas são fáceis de vencer, mas é preciso calma para vencer a guerra. e gente.
obrigado pela força