segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Reconhece a queda e não desanima

Vou chorar minhas pendengas então, se não tiver interessado, pode ir para outro blog/sítio.

Ser professor não é fácil. Educar não é fácil.
Valorizo muito os bons professores que estão na ativa da rede pública, estadual ou municipal. Principalmente os da rede pública (gratuita e tentando fazer a qualidade!) Depois de 10, 20 anos continuam lá: firme e forte, preparando suas aulas, preparando suas atividades. Olho para eles e tento fazer deles o meu espelho. Gostaria muito de chegar a este tempo na ativa e ter a disposição que eles tem. Porque não é fácil. Nem um pouco.
E eles também são bem poucos...
E falando de maus profissionais, eu não culpo apenas os maus profissionais não. Eles tem uma parcela de culpa sim pois desistiram de travar a guerra. Sim, dar aulas é praticamente ir para a guerra. E ser professor(a) é ser Guerreiro. Desistiram da guerra mas não hasteiam a bandeira branca. Nem vão para o front. E nem assinam o armistício. E nem fazem porra nenhuma. Isso que é foda.
Mas, como eu tava falando, dar aulas não é fácil. Tenho uma preocupação gigantesca em dar aulas. Preparar-me, preparar as minhas atividades. Diversificar nos materiais pedagógicos. Estudar, estudar, estudar.
Nem sempre dá certo!
A situação de aula é sempre inédita, tá ligado? Nunca uma aula é igual a outra. Nunca. E se isso tem a sua parte boa, muitas vezes te destrói também. E hoje foi um dia daqueles. Fui do céu ao inferno em 08 aulas...
Eu queria falar muito mais sobre isso mas, deixo pra outro dia. A cabeça hoje tá cansada.
As vezes tenho vontade de tocar o botão do foda-se e partir pra fora da guerra. Porque acho que não sou capaz. Porque me sinto fraco. Porque eu não admitiria ser medíocre e fingir que dou aulas como fazem muitos professores que eu critico. É como um mestre, o prof. Julio diz: ou você é professor ou não é. Não tem essa de meio termo.
Por enquanto, quero ser professor. Se desistir eu aviso.
Hoje levei para a sala um texto do Marcelino Freire. Fiz a leitura nas 7ªs e 6ªs. O conto "Da Paz". A molecada curtiu. Vários pediram cópias. E fiz uma relação do texto com a questão da história e tal. Acho que foi bom.
Foda foram as quintas séries. E foram as últimas aulas. Por isso do céu ao inferno, sacou? Foi difícil. A última aula, as 17h30m, depois de trampar desde as 09H30m... Já estava no meu esgotamento mental, sem paciência. Os alunos também. Tocaram o barraco. Me desconcertaram. Me destruiram. O que salvou foi o beijo no rosto de uma aluna, ao ir embora, depois de eu descobrir que ela não sabia escrever e eu disse: nós vamos mudar isso. Ela foi lá me dar tchau. E foi embora. Um beijo de agradecimento, senti. E recompensou o meu final de tarde.
É foda, quinta série e não sabe escrever! Eu fico pensando: como um professor, alfabetizador é capaz disso? Não dá para culpar totalmente o aluno. Mas a culpa, em maior parte dos casos, recai sobre ele.
Abrindo a internet agora, as 21h11m, desanimado ainda, cansado, percebo porque eu preciso me fortalecer ("reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"). Muitos guerreiros estão na luta comigo: Vaz, Sacola, Canto, Dinha, Buzo, Neide, Rose, da leste a sul. Inter ou fora continente: Gú, Fernando. Muita gente tá na luta. E por mais que a minha luta pareça isolada, desconectada... "Tamo junto"! Tá tudo junto e somado. E eu acho que a minha luta na Educação é muito, muito importante. E não posso desanimar. Não ainda
Bem, esse só foi mais um dia. Amanhã tem mais. Mas amanhã é um novo dia. Tudo pode acontecer.

R.C.

6 comentários:

. disse...

"Vou chorar minhas pendengas então, se não tiver interessado, pode ir para outro blog/sítio.". Realmente você é professor quando eu estudava escutava isso todo dia, quem não estiver interessado pode sair da sala. È embaçado, apesar de eu não concordar com a expressão, eu tenho que admitir que é FODA! Tem que ter um psicológico de elefante pra aturar dar aula em escola pública. Em todas as séries eu discutia com professores. Só quando você está de frente pro combate e que você sente a diferença. Isso é tudo parte de um plano cara, começa pela televisão, vai pro americanismo, falta de estrutura nos colégios, e por ai vai. Mas a cara é essa mesmo não desanima não, que é foda mesmo. Tem que usar nas suas aulas a força da própria periferia, como você vem fazendo. Tentar ter os alunos como aliados, tarefa super díficil. Salve Rodrigo!

Priscila Telles disse...

O quê dizer desse texto que acabo de ler meio, ou totalmente,por engano.Sendo que estava no orkut na comu do Prof.Edgard e,como faço todos os dias,estava só de passagem nos tópicos,já tinha visto muitas vezes esse end.do blog mas,nunca entrei e hoje por um desses "acasos",resolvi entrar e me deparo com um texto que reflete tudo o que estou sentindo;sou professora da rede pública municipal de SP.e,sem querer ser politicamente correta é exatamente essa a realidade nossa de cada dia.Não é fácil ser professor...,é algo que altera até mesmo a nossa auto estima e ler o texto prá mim foi como um desabafo,como se eu mesma estivesse desabafando.Essa é a forma que encontrei para de mandar Parabéns.Um forte abraço companheiro.

r.c. disse...

priscila,
poucas coisas tenho certezas na vida, uma delas é que "coincidências não existem".
você achou o blog, talvez, no momento certo - se é que ele existe - rs!
abraço

r.c. disse...

Salve Vital,
valeu pelas palavras de apoio. e o esquema é esse mesmo, tentar ter os alunos como aliados. E tento usar - muito - a própria força da periferia.
Eu não me importo em debater dentro da sala de aula, sabe. Sou professor de história e pra mim o que mais me interessa é o diálogo, o debate. O foda é quando não conseguimos atingir isso. O foda quando o aluno fica tirando um barato da sua cara.
Ontem mesmo, estava com a camiseta da Cooperifa e, enquanto passava lição na lousa, comentário: "- olha lá, cultura de periferia! consciência, atitude..." tirando uma com a minha cara - e camiseta. Deixei quieto. Eu "pego eles na curva", e aí eles vão valorizar o que é do nosso próprio meio, a Cultura da Periferia.
E como disse, aliados, motivadores para a batalha, não faltam!
Abraço

. disse...

Já errei também, me arrependo até hoje, quando eu ofendi um professor na sala de aula, mas foi na brincadeira na ingenuidade, eu tinha até uma certa posição com ele na sala de aula. Ele era professor de Educação Artística, e trabalhou com agente o ano inteiro artes cenicas, voltado mais pro teatro. Eu era um dos que melhor me saia. Até que um belo dia eu querendo tirar um sarro do cabelo dele, na brincadeira cheguei na sala e disse:
Cadê o boiola?
Ai ele respondeu o boiola está aqui sentado. Conclusão:
eu não o tinha visto, pois tinha cortado o cabelo devido, a uma mordida de cachorro no couro cabeludo. Putz se eu pudesse, encontrar ele e dar um abraço nele,
seria bom mano, assim eu me livraria dessa mancada. Mas já faz tempo isso foi no 1º colegial ano de 2003. Faz tempo! Mas também já discuti com professora pra defender os meus direitos e as minhas idéias, como uma que veio tirar o hip-hop, e misturá-lo com simone, Afro-x ladrão, e demais coisas que sujam a imagem do nosso querido hip-hop. Teve também uma professora , que toda a aula, ficava se auto-bajulando, dizendo que morava no jardins, que isso que aquilo. E eu falava o que eu tenho a ver com isso, fodasse vaca capitalista. È embaçado! Ser professor é tarefa díficil, SIM SE PROFESSOR É TAREFA D[IFICIL! MAS SER PROFESSOR DE VERDADE QUE NEM VOCÊ! CONTINUE ASSIM, INSISTA SE VOCÊ DESISTIR EU DESISTO TAMBÉM! AI O SISTEMA VAI GANHAR! NÃO É ISSO QUE QUEREMOS NÉ?
SALVE RODRIGO, CONTINUE INVESTINDO EM CULTURA PERIFÉRICA, SEJA BRAVO GUERREIRO, VOCÊ CONSEGUE!

obs: se bem que o ano letivo tem apenas 200 dias o tempo é curto, e a viagem é longa FORÇA!

. disse...

A e avisa que pra esse aluno rebelde, que ele é o cérebro da periferia, se ele pensar ler se informar, se alimentar de ritmo e poesia nós vencemos, se ele desistir, e querer entrar pro crime, pras drogas, pro submundo americano global, PERDEMOS. AVISA PRA ELE QUE VOCÊ QUER VENCER E LEVAR ELE JUNTO NESSA VITÓRIA!