A cidade de São Paulo tem atualmente um dos principais
movimentos culturais do cenário contemporâneos: a literatura marginal e os
saraus da periferia. E isso não sou eu quem estou dizendo, é possível constatar
através do crescente movimento pela cidade nos últimos anos, do volume de
estudos, teses acadêmicas (mestrado e doutorado) sobre o assunto, de alguns
(ainda poucos) editais que preocupam-se em atender a grande demanda dos
coletivos literários. Das feiras, festas e eventos, nacionais e internacionais,
que cada vez mais nossos autores participam.
Saraus participam da 40a Feria Internacional del Libro - Buenos Aires, Argentina (maio/2014)
Desde 2011, que acontece um importante programa de ampliação
de público, formação de leitores, fomento a leitura e difusão literária: o “Veia
e Ventania – Literatura Periférica nas Bibliotecas de São Paulo” envolvendo os saraus da quebrada. Ou melhor:
acontecia. O programa está desde dezembro do ano passado parado. O motivo: “falta
de recursos”.
Sarau dos Mesquiteiros na Biblioteca Municipal Rubens Borba, Ermelino Matarazzo
Grupos como Sarau do Binho, Cooperifa, Elo da Corrente,
Sarau da Brasa, Arte Maloqueira (Juntas na Luta), Mesquiteiros, O que Dizem os
Umbigos?!, Perifatividade, A voz do Povo, Encontro de Utopias, A Plenos
Pulmões, Maloqueirista e Marginaliaria foram alguns dos que passaram pelo programa ao longo
destes 04 anos, através de contratações artísticas. E que desde julho do ano
passado estavam em diálogo com o Sistema Municipal de Bibliotecas, da
Secretaria Municipal de Cultura para a criação de um edital do programa, para
ampliar o número de grupos e bibliotecas atendidas pelo mesmo.
Neste período, mais de 08 encontros foram realizados entre
integrantes dos saraus e representantes da secretaria de cultura, discutindo
formato do edital, contratações, organização, valores.
Em 09 de dezembro do ano passado, vários coletivos de saraus
estiveram presentes na Câmara Municipal de São Paulo, durante a Audiência
Pública sobre o Orçamento da cidade para 2015, e apresentaram a proposta de
emenda no valor de R$ 1.800.000,00 (hum milhão, oitocentos mil reais). Com este valor, seria possivel realizar o programa durante 10 (dez) meses, com a contratação de 30 grupos/saraus para atuar nas bibliotecas da rede municipal. A emenda foi aprovada e os grupos celebraram esta grande conquista para a cultura da periferia.
Ruivo Lopes em fala na Audiência Pública na Câmara,
09 de dezembro de 2014
09 de dezembro de 2014
09 de dezembro de 2014
Detalhe da emenda ao orçamento, publicado no D.O. do município,
em 18 de dezembro de 2014
LINK da publicação: CLIQUE AQUI
Após a posse do novo secretário de cultura, Nabil Bonduki,
os coletivos pediram uma reunião para discutir, entre outras coisas: 1) Edital
Veia e Ventania, 2) PMLLLB – Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e
Bibliotecas e 3) Carta – Existe Diálogos Saraus, pauta de reivindicações dos
coletivos entregues em novembro de 2013 ao então secretário de cultura Juca
Ferreira mas, que houve poucos avanços práticos, no que se refere a literatura
na cidade de São Paulo.
No dia 09 de março deste ano, representantes dos coletivos de
saraus foram recebidos e informados pelo secretário no corte de 30% (trinta por
cento) do orçamento da cultura para a cidade, mas que o programa seria mantido,
com algumas mudanças nos volume de recursos. E que as ações voltadas para os
saraus e a literatura marginal seriam incluídas em importantes ações como o “Circuito
SP de Cultura” e a programação cultural dos CEU – Centro de Educação Unificada. Bastaria aguardar até a primeira semana de abril para a definição.
Todavia, até o presente momento, não temos resposta sobre a continuidade ou não do programa. O programa “Veia e Ventania – Literatura Periférica” está há 05 meses parado. Todo o trabalho fortalecido pelos saraus como o estabelecimento de parcerias entre a biblioteca e escolas, comunidades; a formação de público, a divulgação e realização de cursos, encontros literários promovidos pelo Veia virou poeira. E o amargo gosto de ter sido passado para traz está na boca dos coletivos...
Todavia, até o presente momento, não temos resposta sobre a continuidade ou não do programa. O programa “Veia e Ventania – Literatura Periférica” está há 05 meses parado. Todo o trabalho fortalecido pelos saraus como o estabelecimento de parcerias entre a biblioteca e escolas, comunidades; a formação de público, a divulgação e realização de cursos, encontros literários promovidos pelo Veia virou poeira. E o amargo gosto de ter sido passado para traz está na boca dos coletivos...
Galera presente no último Sarau dos Mesquiteiros
na biblioteca, novembro de 2014
E o que é pior: se houve corte de 30% (trinta por cento) no
orçamento da cultura, este “facão” parece que foi integral para os coletivos
literários da quebrada: de março à maio de 2015, não há nada da literatura
marginal e dos saraus periféricos no “Circuito SP de Cultura”. E a revista “EmCartaz”,
que divulga as ações culturais da prefeitura, também ficam devendo. Chega-se a
pensar: seria intencional esta retirada da literatura marginal-periférica do
circuito cultural da cidade? Esperamos que não.
Cansados apenas de aguardar, aguardar, aguardar, vários
coletivos literários resolveram chamar um ato/sarau para divulgar e exigir
respostas desta situação: o #FORCALITERÁRIA, que acontecerá na sexta-feira, dia
17 de abril, a partir das 18hs, em frente ao prédio da Galeria Olido, na
Avenida São João (próximo da Ipiranga), local em que está instalada a
Secretaria de Cultura. Clique aqui e veja o link do evento no Facebook.
Clique na imagem para ampliar
O sarau dos Mesquiteiros, que desde meados de 2012 integrou o
programa “Veia e Ventania”, participou de várias reuniões de organização do
edital e ampliação do programa, e assim como os outros grupos está decepcionado
com a postura e atitude da secretaria municipal de cultura de SP em relação ao
assunto, apoia o ato e estará presente.
Esperamos que o prefeito Fernando Haddad, assim como o atual
secretário municipal de cultura Nabil Bonduki, possam rever a política cultural
que está sendo pensada e implementada para a cidade no que se refere a literatura e que a literatura marginal
e o saraus da periferia tenham respeito e reconhecimento devido pelo poder
público a eles.
Rodrigo Ciríaco, educador e escritor, coordenador do Sarau dos Mesquiteiros, integrante do movimento de saraus da Periferia.
Rodrigo Ciríaco, educador e escritor, coordenador do Sarau dos Mesquiteiros, integrante do movimento de saraus da Periferia.
#FORCALiterária
#VoltaVeiaVentania
#ReSPeitoSarausPeriferia
Para ver outro artigo importante sobre o assunto, no parceiro Michel Yakini, clique aqui na página do BRASIL DE FATO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário