domingo, março 30, 2014

MAS É PRECISO TER FORÇA, É PRECISO TER RAÇA, É PRECISO TER GANA, SEMPRE!


Noite de sábado, 29 de março, escola estadual Jornalista Francisco Mesquita. Periferia, Zona Leste de São Paulo. Vencemos. Aconteceu mais uma vez o Sarau dos Mesquiteiros, especial “mês da mulher”, com homenagem a escritora Carolina Maria de Jesus. Mulher, negra, favelada, catadora de papel, e uma das mais importantes escritoras representativas da literatura marginal-periférica, que faria 100 anos caso estivesse viva.

Uma mulher forte, guerreira: expressiva. Nada mais representativa do ser mulher, neste mês em que pesquisa recém divulgada do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) demonstra que aproximadamente 65% dos homens acreditam que mulheres que usam roupas curtas merecem ser atacadas!

#Cadeia para estes babacas!

O sarau é só no final da tarde mas os preparativos começam cedo. As 10 horas da manhã estava na escola, colando alguns cartazes, divulgando o evento. Um menino, o Luan, de aproximadamente uns 09 anos veio me perguntar: - O que que vai ter na escola, tio? Expliquei o sarau, a festa, as brincadeiras, os comes e bebes. Que ia ser no final da tarde. “Não tem problema, vou ficar aqui o dia inteiro”.

E ficou: da hora em que eu o encontrei, as 10hs da manhã até a hora em que fomos embora, as 20:30hs da noite. E eu, sempre com a mesma pergunta: não há ninguém por este menino? Ninguém preocupado por ele? Será que se alimentou direito? Tomou café? Almoçou? Está com frio?

O que ele estaria fazendo se nós não estivéssemos aqui? Por onde andará nos próximos dias em que não estaremos?

O sarau começou pontualmente as 17hs. No primeiro momento, algumas músicas representando, homenageando as mulheres: Clara Nunes, Elis Regina, Ellen Oléria, Nana Caymmi, Rosa do Morro (Inquérito).

Desde antes do início do Sarau, tivemos uma grata surpresa-esperada: a chegada do ônibus com os alunos da EMEF Vianna Moog, lá de Taboão da Serra, extremo-sul de São Paulo, que no comando da professora Fabiana e outros (que perdoem, não lembro o nome agora) estiveram presentes e trouxeram vida, cor e animação ao nosso sarau. Obrigado por fortalecer com a gente. Em breve a gente compensa esta troca e visita grata – e bem-vinda!

Depois da execução das músicas, tivemos a pré-estréia do documentário “Vidas de Carolina”, que aborda a história de Carolina, com entrevistas de Vera Eunice (filha), Audálio Dantas (jornalista), além de depoimentos de outras duas mulheres, também catadoras, fazendo assim um paralelo, com a escritora. O documentário é uma produção de Jéssica Queiroz, Mayra Jóia, Randerson Barbosa entre outros, que já foram integrantes da escola e dos Mesquiteiros, e hoje seguem a própria história.

As 18hs, pegamos em armas – megafone, alfaia, palmas e gargantas – e saímos pelas ruas de Ermelino para abrir os trabalhos e convidar a galera a participar do sarau com a gente. E foi bonito: mais de 50 pessoas, principalmente jovens, crianças e adolescentes ocupando as ruas do bairro, gritando, convidando a galera, cantando: “Pra onde eu vou? Vou pro sarau! Pra onde eu vou? Vou pro sarau, vai, vai! Vai, sarau. Vai, sarau”.

Mais de 35 poetas estiveram presentes em nosso palco-escola. E como a gente não se contenta com pouco, tivemos ainda dois lançamentos de livros: Para Brisa, do parceiro Ni Brisant, e Uma Vez Poetas Ambulantes, do coletivo Poetas Ambulantes. Novamente agradecido por chegar no espaço, compartilhar voz, livros e palavras.

O tom do sarau, como não poderia ser diferente foram as mulheres: sejam com homenagens, sejam com protestos, discursos, lembranças e principalmente: alegria, arte, revolta e poesia. Foi um dia/noite bonito. Especial para recarregar as energias, fortalecer nossas convicções. Romper o ordinário que existe em nosso cotidiano. E tornar a vida um pouco menos cruel, principalmente nestes tempos difíceis que vivemos.

Agradecimento a todos e principalmente a todas que estiveram presentes. Gostaria de dar nomes a todos que chegaram colaram, muitos de longe, com dificuldades, mas não deixaram de vir, acreditar: obrigado, obrigado, obrigado. Quando outras pessoas acreditam em nossos sonhos a gente não apenas acredita que ele é possível: a gente vê ele tornar-se real e sendo realizado.

Por uma escola pública, em que exista arte cultura e educação, não apenas no final de semana.
Por um mundo onde o machismo seja apenas a lembrança de um tempo sem razão.
Por um universo onde as mulheres tenham direito de liberdade, respeito e dignidade.

#NãoMerecemosSerEstuprad@s

Um por todos, Todos por Um

Rodrigo Ciríaco
Mesquiteiros

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