Não é fácil você ir para um sarau quando sua mãe tem um derrame. Não é fácil você participar de uma sessão de cinema quando o seu pai tem um infarto. Não é fácil você organizar uma reunião cultural de cinco horas de duração em um domingo a noite para discutir a cultura para a quebrada quando seu irmão ex-dependente químico depressivo com sintomas auto-destrutivos está querendo se matar, corre com seu carro a mais de cento e sessenta quilômetros por hora, bate em dois carros, agride pessoas se machuca e diz estar triste por não ter conseguido concluir seu atentado. Não é fácil estar presente para sua família de sangue quando você opta em transformar a comunidade em sua família de bom grado. Não é fácil você explicar para o seu amigo que não foi no aniversário pois tinha um evento com pessoas que você nem conhece pré-agendado. Não é fácil continuar trabalhando em um local que você ganha pouco, não tem apoio, não é valorizado, recebendo melhores proposta mas você fica pois acredita que ali é que faz diferença o seu trabalho e pensar apenas em dinheiro é opção de mesquinhos-paspalhos. Não é fácil bater no martelo da cultura, cultura, cultura, quando você tem que enfrentar a massa, massa, massa, televisiva, radioativa, sensacionalista, explosiva. Não é fácil. E ainda assim a gente faz. E ainda assim a gente insiste. E com todos os problemas e dinheiro limitado e muitas vezes sem apoio do Estado e com a torcida contra de pessoas que não entendem e diz que isso não é seu trabalho isso não é necessário e que você faz coisas demais de graça deveria estar ganhando dinheiro mulheres fama porque você fala bem tem preza é inteligente só precisa deixar de ser otário. E você acredita as vezes que é otário. Por ser ativista, militante, voluntário. Mas você insiste. Pois desde o começo sabia que não seria fácil. E não estou choramingando reclamando pitangas. Isso aqui é só um desabafo. Pois chorar não adianta. Ninguém soube das vezes que você enfiou a cara no travesseiro e deixou as lágrimas rolarem abaixo. Você também não soube dos outros. Pois pra vários, cê tá ligado, que também não é fácil. E desistir nunca foi opção. Pois você não sabe o que fazer se se entregar para a desilusão. Não é fácil. Quando você quer quebrar tudo, prato, cadeira, mesa, televisão, carro e tem que ser racional. Senta e vai espancar o teclado. E escrever este texto pra não mandar tudo pra casa do caralho. Não é fácil. Agora você sabe. Você que está aí do outro lado. Da ponte. Da página. Ninguém aqui escreve pra ficar brincando com a dor. A fita é outra. A gente escreve porque as palavras aqui tem sabor: sangue, suor e lágrimas. Não são meras letras nas mãos do artista-burguês que brincam em bordar, pintar o papel só pra conseguir mais um freguês. As palavras aqui doem. Sem piegas. Cristalizam. Se transformam em sangue pisado. E precisam vazar. Para que nós sejamos lembrados. Nossa história. Bonitas histórias. Que machucam. As histórias nem sempre tem finais felizes. Apesar da gente sempre querer o contrário. E viver remando contra a maré pra atingir isso: este é nosso trabalho. Literatura, teatro. Música, dança, graffite, cinema, pintura. Na quebrada, não é fácil. Então respeite o nosso trabalho. De vocês, não queremos muita coisa. Só respeito ao nosso trabalho. Porque acho que vocês tem uma mínima noção: ele não é fácil.
3 comentários:
Olá, Rodrigo!
Na vida tantas coisas são difíceis, e temos que muitas vezes engolir a seco, mas isso tem que acabar, tem que colocar tudo pra fora mesmo, desabafar, para continuar seguindo na luta diária que só você, só você mesmo sabe o quanto não é fácil vivê-las e estar sempre de cabeça erguida defendendo o que acredita.
Muitas LUZ em sua caminhada, pois ela não é, não será em vão.
Abraços
Olá Amigos.
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Alessandro Turci
Do Escrivaninha do Alê.
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verdade obsoluta man! viver de cultura no pais da corrupção n é facil!!! muitas vezes ja pensei em desistir .. se tronamias alienado parece ser facil mais n noiz persiste nessa p&&**$$$ atravessando criticas e os boicotes vamo q vamo titiu paz...
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