sexta-feira, julho 04, 2008

ENTERRO DE POBRE

Uma das crônicas mais sensíveis (e por isso belas) que já li chama-se "Enterro de pobre", do livro "A vida que ninguém vê", da jornalista e escritora Eliane Brum. Não vou comentar sobre a mesma porque vale a pena você comprar o livro e lê-lo. Não apenas esta crônica, mas todas.

Mas, lembrei deste texto pelo dia de hoje. Oitava E. Na primeira aula, uma professora me chama na porta: - "Vamos na casa do D., a irmã dele está sendo velada." Já sabia que a irmã do aluno havia falecido, algo triste, não apenas pela morte, por ela ser nova (vinte e sete anos) mas, por que era ela que praticamente tomava conta dele (e ele precisa, porque tá cheio de urubu querendo arrasta-lo pras coisas erradas, pra maldade).

Como a sala hoje tinha apenas oito alunos, a vice-diretora(!) liberou que eu fosse com eles junto a outra professora até o velório. Na ida, adentramos um pouco mais da quebrada de Ermelino, onde fica a escola. Conheci ruas, becos e vielas que normalmente eu não passo, até chegarmos a casa do aluno. O corpo estava sendo velado na garagem.

Sei lá porque eu tô fazendo este post. É que, apesar de não conhecer a pessoa velada, fiquei muito emocionado. Vários pensamentos na mente: a fragilidade da vida, o quanto brigamos por coisas que não valem a pena, inclusive pessoas que amamos, o quanto sofremos, vivemos, o quanto não vivemos e por aí vai.

Naquele horário, poucas pessoas. Soube que a rua praticamente ficou fechada durante a noite e a madruga. Mas, as 08 da matina, as pessoas estavam indo trabalhar. A vida continua, ao menos para alguns.

Ficamos por lá durante uns quarenta minutos, até a prefeitura trazer o carro para levar o corpo para o cemitério da saudade. Depois voltamos para a escola. Consegui trabalhar legal só depois da terceira aula.

Outra coisa que fiquei pensando é sobre a merda que é esta diferença que existe entre ricos e pobres, brancos e negros, gordos e magros, etc. Sei porque as coisas são assim mas, as vezes é dificil compreender. Principalmente quando vemos o olhar gélido, frio e indiferente da morte. Não tem distinção. Ela iguala todo mundo.

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