sábado, abril 07, 2007

Quando escrever não basta, não dissipa a angústia que corrói por dentro...

Poema Brasileiro de Nenhum Resultado
Rodrigo Ciríaco

Thiago trabalha
Muitas horas por dia
E em nenhuma delas
Sorri.
Não há motivos
Para alegria,
Só há mosquitos,
Raízes,
Uma água escura,
O mau cheiro
E o barro
Do mangue
Para caminhar,
Para o trabalho.

Carnaubeiras,
Norte do Maranhão.
Sem fábricas,
Sem empresas,
Sem terras,
Homens trabalham
E Tudo que vem
Sai do chão
Barrento
Com garras afiadas
Cuspindo vida.

Trabalhadores cedo saem
Em direção ao mangue.
Levam uma bota
Uma luva
E esterco.
Não, ainda não chegamos a
Este ponto.
O Esterco não é a ração.
Queimado, vira fumaceira
Espanta mosquitos,
Muriçocas.
Mas sobre a ração,
Estes trabalhadores comem
Não no mangue
Só oito, nove horas depois
Quando chegam em casa.
Isso, se tiverem comida
Pois de sobra, só a fome.

Já imaginou:
O mangue,
A lama,
As raízes,
O mau cheiro,
Os mosquitos
O trabalho
As oito horas
Sem comida.
Já imaginou?
Imagine.

Tudo isso por apenas
Um, dois reais
Por dia.
É a corda
Que dá vontade de amarrar
No meu pescoço
E que os catadores
De caranguejos
Do Maranhão
Perto do Piauí
Levam nos ombros.
A cada quatro caranguejos
Catados e amarrados
Forma-se uma corda
E o sustento pra casa.

Thiago tem treze anos
Sete irmãos
Uma mãe
E nenhum brinquedo.
Thiago não sorri,
Apenas trabalha.

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

Em 17 de setembro de 2006
No norte do Maranhão
Perto do Piauí
Eu vi Thiago trabalhar
08 horas no dia
e ganhar
0,25 centavos

0,25 centavos !
0,25 centavos !!
0,25 centavos !!!


E no mesmo dia
Em que conheci Thiago,
Eu vi o Diabo:
O famoso Chico.

Chico trabalha
Muitas horas por dia
E em quase todas elas
Sorri.
Há motivos de sobra
Para a sua alegria.
Um grande restaurante
Capacidade mil pessoas
Playground,
Piscinas,
90 funcionários
e o título
Chico do Caranguejo.

Fortaleza,
Centro econômico
Do Ceará.
Para o Chico
Não há misérias
E tudo que há de riqueza
Sai do chão
Barrento
Puxado por braços fortes
Afiados
Cuspindo frustração.

Chico é o rei
Dos caranguejos
Dos catadores de Carnaubeiras
De Thiago.
Chico é o dono,
O proprietário,
Seus caranguejos
Valem mais do que Thiago
Valem mais do que toda aquela gente.
Façam as contas:
Vende por dois reais
Pagando 0,25 centavos

Enquanto trabalhadores
No mangue
Sem comida
Trabalham oito horas por dia
Para receber por cada caranguejo
0,25 centavos
Chico vende
Cada um deles
A Dois reais
Num restaurante
Com capacidade para mil pessoas
Quase sempre lotado.

A dois reais,
Chico do Caranguejo
Vende centenas de Caranguejos
Por dia.
A dois reais
Pagando apenas
0,25 centavos.

Vende cada um
Por dois
Pagando apenas

0,25 centavos !
0,25 centavos !!
0,25 centavos !!!

Chico do Caranguejo:
Sucesso e felicidade
A custa de muito trabalho.
Diz ele, apenas,
O seu trabalho, de resultado.
Seu restaurante tem alegria
Diversão, música, piscina
E um imenso playground
Com muitos brinquedos.
Nenhum de Thiago.

Chico do Caranguejo
Ao custo de
0,25 centavos
Torna famílias e
Thiago
escravos.

Chico do Caranguejo
Explorador,
Safado,
Todos vocês
Que vivem da miséria
Botem as barbas de molho
E reforcem o pacto
Com o diabo.

Pois uma hora
Só o poema não me basta
como Robespierre
vou tocar o Terror
E como na França de reis
Vocês também serão
Guilhotinados.


0,25 centavos será mais
do que vale
a marca que deixarei no seu corpo
parco, barato.

0,25 centavos
não será nem o seu preço.

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