terça-feira, janeiro 23, 2007

Recomendação de Leitura

Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Márquez

Ninguém sai ileso depois de mergulhar na sensíveis teias de seda emaranhadas por Gabriel Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão. Diria Impossível! Tive uma certa angústia durante a leitura da obra, e um certo alívio ao seu término. Angústia por encontrar ali não a resposta a muitas de minhas dúvidas, questionamentos, assombrações com a política e com o cotidiano, com a angústia e o medo, a morte e a solidão, mas por compartilhar as emoções, vidas e sofrimentos de uma família e um povoado latino-americano que bem poderia ser a minha, a sua, a de nossos ancestrais na afastada cidade de Macondo, ou Palmares dos Índios, ou Taquaritinga. Sei lá!
Alívio, pois a profundidade com que me envolvi com o romance me fez vivenciar o dia-a-dia da família Buendía, dividir suas dores, suas guerras, suas insatisfações e amores, tão correspondidos a cada um deles quanto são a mim. Por vezes tive vontade de me deitar com Pilar Ternera, Remédios, A Bela, Amaranta Úrsula. Outras vezes, tive vontade de apoiar o Coronel Aureliano Buendía na Guerra, em outros momentos tive raiva e vontade de esfaqueá-lo. Revi, junto a José Arcádio Segundo os mais de “três mil homens” levados mortos pelo trem, lembrando de outros trens, barcos, helicópteros e aviões que levaram (e levam?) os corpos de trabalhadores mortos que ousaram bradar contra a injustiça dos poderosos em nossas veias abertas da América Latina.
Mas o que mais me identificou com o livro foi esta Solidão, taciturna, quase doentia que acompanha cada um dos membros das famílias e acompanha (penso) cada um dos seres vivos pensantes que existem sobre a face da terra. Pois o preço da consciência é a solidão. Como o preço da nossa suporta imortalidade (vivemos todos os dias como seres imortais, planejamos o amanhã, o futuro, como se a morte não fosse iminente, não tardasse a chegar, e isso é normal -?) é o esquecimento após duas ou três gerações. E não importa o quão grande tenha sido o seu sofrimento, a sua luta, a sua paixão, o seu Amor. A experiência é única e válida para cada um. Guarde-a com carinho. Pois o tempo, com as águas incansáveis que vêm e vão como ondas no mar, se encarrega de apagar tudo, com o tempo.
Faça a sua leitura e se deleite com as suas próprias ilusões. No final, isso é o que interessa em nossa curta trajetória literária chamada vida.

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ nasceu em Aracataca, Colômbia em 1928. Recebeu em 1982 o prêmio Nobel da Literatura e é um dos grandes representantes do realismo maravilhoso.

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