sexta-feira, dezembro 29, 2006

Poesia da Dinha! - ou de como passado, presente e futuro se confundem...

Notícia de Israel

(Panfleto contra todos os homens-blindados-que-cagam-ouro-na-minha-fome-e-na-fome-da-minha-família)

Ontem, no Quilombo de São José, eu olhava os rapazes, negros, bonitos, pintas de rappers - entretanto dançavam as danças de roda. Tão iguais e tão diferentes dos que ontem morreram nas mãos da polícia. Dos que ontem mataram "os polícias".

Era dia das mães e os tiros, entraram nos meus ouvidos ao mesmo tempo em que imagens da gente toda que eu conheço e confio, me passava pelos olhos, e rezas – mais com o corpo, que com a lógica – me pesavam por cada um deles. Desordenadamente.

Mas, ai, esqueci de alguns!!! e foram 3 os que amanheceram mortos.
Três mães acordaram sem filhos – nem dormiram – o que diz mais.
E eu não ouvi notícia em nenhum telejornal.

Em casa, a recomendação: Dinha, não sai de casa, nem volta de madrugada que a polícia ta matando todo mundo.

Quem começou essa briga?
Quem está brigando com quem?

"Quem é marginal?
Quem é a lei?".

Polícia contra bandido?
Ou fardados contra sem farda? Como o jogo de "solteiro contra casado", no primeiro dia do ano?

Bandido contra bandido.
E Israel no meio, às 11.20 da noite, voltando pra casa da mãe.
Explorado contra explorado.

Me mandem matar a polícia!

Eu vou, se isso trouxer
Israel,
Sandro,
Luciano,
Márcio,
Cometa,
Buiú
(toda a família de Elisângela)
Edmarcos e
Hilário
(toda os mortos dos CEDECAS)

de volta.


Me mandem matar os bandidos!

Eu vou, se me deixarem
Matar todos os homens-blindados-que-cagam-ouro-na-minha-fome-e-na-fome-da-minha-família.
Eu mataria capitães do mato
Se eles não fossem de fato
Tão vítimas como são vítimas:
Os policiais fardados,
Os meninos sem camisa,
A mulher que voltava pra casa,
Israel, no colo da mãe.

O fuzil de minha palavra
Precisa estar voltado
Pra verdadeira revolução.


Dinha* 15/05/06

*Dinha é educadora social, integrante do Espaço Cultural Maloca e autora do livro "De passagem mas não a passeio". Edições Toró - Independente. 'Escreve pra corromper as estatísticas'. Contatos: dinhapro@hotmail.com

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