Foi o primeiro rebento. E como todo filho – na maioria das
vezes – ele veio assim, inesperado. Nunca havia pensado em ser “escritor”. Quando
pequeno, queria ser “artista”. Sem saber o que isso era, o que significava. Queria
ser artista. Fiz desenho, fiz dança. Fiz música, fiz teatro. Ah, o teatro. O palco,
a luz, a plateia. Ah, o teatro. O “semancol”. Não dava para o palco. Não era
suficiente. Nunca era. Abandonei as pretensões. Mas sempre gostei de ler. Sempre
gostei de escrever, muito. E conhecendo uma poeta chamada #Dinha, descobri que
a palavra também podia ser arte. Ser linguagem. Ser literatura, poesia. E
através da Dinha, e por outros caminhos, conheci os #saraus. O guerreiro
#Sergio Vaz foi o primeiro que me chamou de poeta. O camarada #Sacolinha foi o
primeiro a publicar um texto. E daí que comecei a gostar cada vez mais desta
coisa de escrever, criar, recitar. Foi #Marcelino Freire que disse: “Ciríaco,
você deveria escrever as histórias da escola. Só você pode fazer. Se não fizer,
vai se arrepender”. E segui o que o cabramigo disse, investi. E um dia o #Allan
da Rosa me chamou de canto, e falou: vamos publicar isso aí? Publicar o que?
Não sou escritor, não sou poeta. Eu era. Para eles, eu já era. Tinha uma
responsa nas mãos: organizar os textos, rejuntar as dores e os escritos,
propagar a literatura da quebrada, marginal, periférica. E bater com eles, por
aí. E assim fiz. E foi assim que me descobri “escritor”. Meus textos voando. Eu
quebrando o casulo, desabrochando. Em São Paulo, no Rio. Pernambuco, Bahia, Minas
Gerais. E outros voos, até internacionais: Alemanha, França, Itália, Bélgica,
Argentina. Até na África, Argélia. Sem ter agente literário, sem ter editora:
Paula Anacaona achou meus textos assim, na busca, na escolha. Nessa imensidão
do mundo virtual. E foi: autor independente, periférico, marginal é convidado
do Salão do Livro de Paris, em 2013. Sim, internacional. E tudo, tudo o que
consegui, as viagens que fiz, todas pagas, foi por causa de você, literatura. Isso
que alguém disse um dia que não ia dar em nada. Levar a nada, a lugar nenhum. Me
deu amores, me deu amigos. Me deu uma esposa, companheira, amante, amiga:
#Mônica. E com ela, a minha maior obra, a minha joia rara e preciosidade maior:
Malu, Maria Luiza, Maluzinha. Minha filha. Minha luz, meu norte-sul, meu guia.
Minha alegria. Agradeço a você, literatura. Por me dar tantas pessoas, tantos
lugares: escolas, ruas, praças, parques. Bibliotecas, associações,
universidades. Mas um lugar faltava. Um lugar que ainda não havia sido ocupado:
as livrarias. De mão em mão, de mano a mano, mais de dois mil e quinhentos “Te
Pego Lá Fora” espalhados, mas ainda faltava as livrarias. Doce pretensão. Este não
é o seu lugar. Aqui é para os raros, os clássicos. Os comprados. Você não pode
entrar. Até chegar um mano e dizer: chega mais. Borá arrebentar. O espaço é
nosso, sim, vamos ocupar. Reginaldo Ferreira da Silva, o #Ferréz. Tão perto
aqui, há treze anos na Caros Amigos, Pecando no Capão. Chega mais, vamos causar.
Como causamos na gringa. Assustando os gringos, fazendo aquele teatro da “briga”.
“Calma, calma, rapazes. Não precisa disso”. A gente na Sorbonne apavorando.
Maloqueirando. “Ufa, era brincadeirinha”. As vezes. A parada aqui é séria. A nossa
literatura é séria. Tem compromisso. Tem responsabilidade. Muito do que vai pro
papel é o espelho da realidade. Distorcido, ficcionalizado, mas reflexo da
realidade. Que agora a DSOP apostou em compartilhar. Que Simone Paulino, vinda
também na sua origem, de Guaianazes, lado leste, veio a acreditar. Nesta
criança. Que completa seis aninhos de sua produção independente. E que com essa
idade já pode ser admitida no primeiro ano do Ensino Fundamental, dizem para
virar “gente”. Mas o que ela quer mesmo é torcer. As grades da masmorra. Quebrar.
Os muros que nos dividem. Ajudar: a transformar a escola. Sejam bem-vindos. Provocação
garantida ou sua televisão e sofá de volta. Boa leitura. Ou não. Fique esperto,
se vacilar: TE PEGO LÁ FORA!
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