O sangue pulsando nas veias mais parece um Tsunami. Sua temperatura é alta. Ebulição. Isso se chama raiva.
No Folha de São Paulo, notícias de outro shopping construído sem acesso aos pedestres. Sem praça de alimentação. A idéia é focar o acesso e visitação do público "A". Só o público classe "A".
Mas tiveram que construir um ponto de ônibus para acesso aos trabalhadores. O público "A" não aceita ser explorado. Só explorar.
E junto com os trabalhadores do shopping, não teve jeito: vem o público "D", "E", "F".
Explorados não só pelos donos das lojas do shopping, mas de maneira "exótica" pelo jornal. Afinal, só os ricos são sujeitos. Agem, comem, se vestem. Dormem. Os pobres, os pretos, os trabalhadores fudidos morrem. A favela, a periferia se torna uma imensa vitrine. Não são eles que vivem na bolha, somos nós. Somos nós os "assistidos", tá ligado?
Sei lá. Falo merda pra caralho.
É a raiva.
Lembro de uma outra notícia, tempos atrás. Shopping de Curitiba barra jovens da periferia.
Lá pedestre entrava, quem não entrava eram os "manos vestidos como 'hip-hop'".
Separação, segregação.
Direito à propriedade privada, alega o dono do shopping. O shopping é meu, frequenta quem eu quero.
Este é o Capital. Uma face do sistema, o Deus-Mercado.
Não existem direitos. A não ser que você possa pagar.
O direito é comprado no Brasil.
Não existem leis no Brasil.
Ou você acha que existem prisões para homens como Daniel Dantas? Nahas? Gilmar Mendes?
Habeas-corpus expedido as três da manhã de domingo...
É só música urbana.
Quando eu vejo a indiferença da classe "A" para os pobres, quando os penso nos casos de superfaturamento de obras, corrupção, escolas destruídas, falta de equipamentos nos hospitais, eu penso: esses caras bem que valem uma bala na cabeça. Com a conta paga pela família.
Mas logo eu deixo a idéia de lado. Sabe porque?
A maioria das pessoas quer ser um Daniel Dantas. A maioria quer ter um amigo influente como Gilmar Mendes. A maioria das pessoas querem mais é ter dinheiro, comprar uma puta de luxo, morar num condomínio fechado e tocar o "foda-se o Brasil".
Quem quer ser Zumbi? Quem quer ser Mariguela, Guevara? Brigando pela justiça, enfiado na mata? Sem luxo, mas com dignidade, com amor. Sem dinheiro, mas vivendo sem explorar o outro. Cravando lanças nos olhos do opressor? Quem quer viver assim, brigando, lutando, debatendo, insistindo, sendo chamado de chato, sendo excluído - intencionalmente - de certos espaços, até o resto das vidas? Quem?
Conheço vários guerreiros. Valem muito, demais, mas as vezes somos poucos. E as vezes eu questiono se os nossos sonhos são possíveis. Porque os nossos sonhos não se constróem sozinhos.
Sózim ninguém guenta.
Um pouco da raiva está passando. Paro por aqui. Por enquanto.
Enquanto eles pensam que estou caindo, planos são maquinados na cachola.
Gosto de ficar embaixo, pra medir a altura do tombo.
Até.
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