terça-feira, maio 27, 2008

TRECHOS DO LIVRO - LANÇAMENTO

TE PEGO LÁ FORA
Autoria: Rodrigo Ciríaco
Ilustrações: Yili Rojas
Fotos: Rodrigo Ciríaco e Tânia Canhadas
Edições Toró, São Paulo, 2008



Deus é brasileiro. Mas quem manda é o Marcola. (do conto A.B.C.)

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E pá cumê? Me ofereceram dez real. Mas eu falei não, isso não. Isso aê só quando eu tivé di maió. Na quinta série. (do conto APRENDIZ)

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A última coisa que Bia insistiu em dizer, antes de desmaiar de fome, foi: “Professor, eu, eu... Eu não sou merendeira.” (do conto BIA NÃO QUER MERENDAR)

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O cigarro? Foi, professor. Foi nas balada o meu primeiro trago. Que qui tem de errado? Não aparece na TV, não é legalizado? Se nas escola até os professor fuma, então eles também tão errado? (do conto NOS EMBALOS)



O professor observa o menino no canto da sala, sozinho. Suando frio. Esfregando a mão dentro da calça. Estranha. Aproxima-se, com calma. O aluno de cabeça baixa, concentrado. Não percebe a chegada. Assusta. Coloca de volta, rápido. (do conto QUESTÃO DE POSTURA)

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Meu sonho é matar meu padrasto. Essa noite eu consigo. Vou ferver o óleo de madrugada e jogar dentro do seu ouvido. (do conto MIOLO MOLE FRITO)

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Quero parar. Não posso. Estephanie chora. Cansaço. Insisto. Os ombros arqueiam. Tenho medo. (do conto PERDIDOS NA SELVA)

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Tio, me dá um... (do conto PEDIDO IRRECUSÁVEL)


Mãe, olha pra cara do seu filho. Olha bem. A senhora me desculpe mas, ele é retardado. (do conto CARA DE PAU)

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Tava todo mundo metendo o pau, dizendo barbaridades pra mãe. O moleque acuado, calado. Ninguém se referia ao fato de ele estar na quinta série e não saber ler e escrever. (do conto UM ESTRANHO NO CANO)

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Aí que um aluno teve uma idéia genial né? “Tia, o que é hemorróida?” Rapaz, essa mulher começou a gritar: (do conto SOCÁ PRA DENTRO)

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Aqui, as coisas não são do jeito que você quer. Tudo tem o seu ritmo, o momento certo. Você não pode chegar aqui e querer mudar tudo. Fazer a revolução, entende? (do conto PAPO RETO)




Não me sai da cabeça a crueldade que é saber que tudo isso faz parte de um plano bem orquestrado. Que pessoas lucram. Que todos sabem. E nada fazem. Nada dizem. (do conto DA FRENTE DO FRONT)

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NÃO ALIMENTEM OS ANIMAIS (do conto MEDO)

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Se viu o que aquele menino aprontou? Aquele lá, o Escurinho, o Moreninho, o Marronzinho. O Chocolate, Pelé, Buiú. O número 23. Carai, eu tenho nome, professor. Num aprendeu? (do conto O LIVRO NEGRO)

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A minha aluna virou uma Placa. Aconteceu na porta da escola. Um homem parou o carro importado, abaixou o vidro e disse: - Você leva jeito para Placa. Um cara branco, alto, malhado; peito raspado, gel e gravata. (do conto A PLACA)




Esse mundo é o cão. Cê pensa que eu num vi lá na banca de jornal, o caso lá dus pleibói, no ponto de ônibus, arregaçando com a tia? Bando de Zé-Ruela, pensaram que era puta. E se fosse a minha mãe, hein? Cadê a justiça? (do conto COBRA-CRIADA)

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É, redução de carne, frango. Senão eles abusam. Outro dia passaro um comunicado que a empresa terceirizada precisava economizá. Pediro pras tia botá mais água na sopa. Misturá um pouco de carne com ração. Verdade. Acha que é brincadeira? Os menino gostaro. (do conto BOCA DO LIXO)

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É tão difícil aceitar que esse mundo tá podre, que tá tudo errado, tudo pelo avesso? Que a vida não é o que se pinta nas novela da televisão, que escola não é o que aparece na Malhação? (do conto OBITUÁRIO)

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Uma coisa espetou bem na sua bunda. Estava escondida debaixo do mato. Quando ele viu, não acreditou. Um brinquedo. Novo. Quer dizer, usado. Uma parte enferrujada, outra descascando. Um caninho longo, prateado. E um gatilho. (do conto UM NOVO BRINQUEDO)


O que mais vocês querem?
- De verdade?
- Sim, claro. É o que as pessoas querem saber.
- A gente quer o impossível. (do conto MENINAS SUPER-PODEROSAS)

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Tá bom, tá bom. Só quero dizê que é sujeira. Cagaram na porta de casa. É. É melhor o Senhor sair fora de campo, limpá o salão, pará o jogo, sei lá... (do conto BOI NA LINHA)

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Não se pode dizer não, não, não, eles não sabem. Não se pode dizer “são incapazes, perderam”. Os campos foram todos devastados, a vida é isto. Perdemos. (do conto LITERATURA (É) POSSÍVEL)

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PEDRO: - Ô, ô, ô, vâmo pará as duas menininhas aí... Só ficam brigando. Querô, isso aqui é a Revolução, num lembra? A gente vai tomá a Bastilha cara. (do conto A QUEDA)

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Não queremos nos mudar do lugar que sobrevivemos. Queremos mudá-lo.
Torná-lo mais bonito, mais solidário.
Mais forte. Mais humano. (do conto NÓS, OS QUE FICAMOS)


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LANÇAMENTO:
Dia 11 de JUNHO: COOPERIFA
Dia 12 de JUNHO: Ação Educativa
Dia 15 de JUNHO: Francisco Morato - 3º Encontro de Literatura Periférica

2 comentários:

Anônimo disse...

Apologia ao Crime (Por. Robson Canto)

Concordo plenamente. Foi esse escritor de vulgo Ferréz que colocou os livros em minha vida. Acho, acho não tenho certeza que ele tem pagar por este crime.
Como pode uma pessoa, como ele, querer que um pobre como eu tenha amor pela leitura e pela escrita. “CADEIA NELE!!!”
Agora uma coisa me deixou pensativo abriram inquérito no 77 DP?...
Esse distrito é a poucas quadras da famosa “cracolândia” e nenhum medíocre faz alguma coisa pra tirar o cachimbo da boca daqueles meninos e meninas.
Então aparece um recalcado, que mora num apartamento na Higienópolis com cheiro de merda de poodle e abre inquérito por causa de um texto.

Cada dia que passa, sinto mais nojo dessa elite paulistana.

Puta que pariu francamente.

. disse...

Caro Círiaco:

Deve bem se recordar, que certa vez na Cooperifa, recitei um RAP de um amigo meu que diz num verso:
" Professores despreparados não repetem ninguém", e a reação na Cooperifa não foi das melhores pra mim não. Mas eu acho que o povo não deveria se sentir ofendido com isso, pois a carapuça tem tamanho, e ela com certeza não serve pra você, e nem pra professores como o Sacolinha, O márcio, A lu e tantos outros amigos nossos. Primeiro que a pessoa mais despreparada é aquela, na qual falta coragem. E segundo que a escola é mais despraparada do que qualquer funcionário dentro dela. E repito, a letra é do Welton, mas eu tenho certeza sim! Que existem professores de qualidade ( no seu caso e de tantos outros) e professores desinteressados ( talvez pela falta de auto-estima, desilusão ou natureza mesmo). Pra nós que fomos alunos de escola pública a vida inteira, sabemos muito bem, que o tiro vem de todas as partes, seja da diretora, a televisão, falta de interesse dos alunos ( ou bala perdida mesmo hehehehe). Portanto o seu livro vem trazer o grito que tanto esperamos, e com certeza, eu quero estar lá pra gritar também, gritar por uma escola melhor pros jovens, que merecem tanto quanto os filhinhos dos playboys tenho certeza disso. Valeu abraço.