A EDUCAÇÃO básica já ocupa lugar de destaque na agenda nacional. Embora tardia, a prioridade que vem sendo conferida à formação e à qualificação dos 48 milhões de brasileiros em idade escolar se reflete no aumento paulatino da parcela do PIB investida no setor. De 3,9% em 2000, alcançou-se a marca de 4,7% em 2008, ou R$ 140 bilhões, já perto de cumprir a meta simbólica de 5% neste ano.
Não basta, contudo, aumentar as verbas da educação para aplicar-lhe essa espécie de choque de compromisso com a qualidade que se faz necessário. É crucial trabalhar com metas mensuráveis, como as cinco lançadas pelo Movimento Todos pela Educação, com prazo para 2022, e endossadas por estaFolha em 2007: todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo jovem com o ensino médio concluído até os 19 anos; e investimento em educação ampliado e bem gerido.
Por ora, melhorou mais a qualidade das estatísticas do que os indicadores que delas derivam. O país possui hoje 91% de crianças e jovens na escola, uma taxa razoável. Menos de um terço, porém, demonstra ter aprendido o conteúdo esperado na série em que se encontra.
A situação alcança o limiar da emergência no caso da matemática ao final do ensino médio: só 9,8% dos estudantes sabem o que deveriam saber. A formação secundária, mínimo esperado para as necessidades técnicas do desenvolvimento nacional, só é completada por 45% dos jovens de 19 anos (idade correta para concluir o ensino médio). E não se criou, até o presente, instrumento confiável para aferir a alfabetização efetiva até 8 anos.
Além disso, a intenção de dotar todos os professores de diploma universitário está longe de realizar-se. Os percentuais se aproximam do satisfatório apenas no ensino médio (95%) e fundamental 2 (85%). No fundamental 1, há meros 58%.
Países que deram um salto na educação, como Coreia do Sul, assumiram a prioridade de recrutar docentes entre os melhores profissionais formados pelas universidades. Pode-se reformar de tudo no ensino, mas ele jamais será de qualidade sem bons professores. E estes não serão atraídos por salários medíocres.
Lei sancionada em 2008 fixou um piso salarial nacional para docentes, hoje no valor de R$ 1.024,67 (inferior até à renda média do Brasil, R$ 1.117,95). No entanto, seis Estados (GO, TO, RO, CE, PE e RS) ainda pagam salários aquém disso. Sobre as escolas municipais não há dados, mas se presume que a situação seja ainda mais grave.
A educação brasileira não sairá do buraco em que se encontra enquanto a sociedade e os governantes por ela eleitos não se convencerem de que ser professor não é sacerdócio, mas profissão absolutamente estratégica para o desenvolvimento do país.
Um comentário:
Realmente, aqui no RS ainda não recebemos o piso. Sou professora municipal, pois o estado a muito não abre concurso público. Meu salário fica em torno de 500 reais e faz quase um ano que tento ver se sobra para comprar materiais, como uma boa impressora ou coisas do tipo. Acontece que temos aluguel, Luz, água e família. No meu caso fica bem difícil, mas me viro como posso. Minha alegria foi ter adquirido o computador, para pesquisar e preparar aulas melhores (ainda assims divido a net). Mas tem uma coisa que não cala dentro da gente e que nos mantém alí, na escola. Fui fazer, desesperada, um concurso para o Banrisul (banco do estado do RS), e no dia de pagar a inscrição, na fila do banco, olhei para as paredes ao meu redor, a fila enorme, o rosto cinzento dos caixas masculinos, as mulheres alí...muita maquiagem e pouco sorriso; pensei: acho que não consigo deixar as minhas turmas, os meus alunos. Me veio cada rosto, cada sonho por eles expresso em aula, nas conversas de corredor. Não dá!! Aí então, desisti do concurso do banco. Mas queria muito ser melhor remunerada, sinto-me desrespeitada e sinto que fazem o mesmo com os alunos. É isso!! Que bom que postou esta reportagem!!
UM ABRAÇO CARINHOSO PRA TI RODRIGO!!
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