quarta-feira, junho 17, 2009

O QUE FAZER?

Não é depressão, é uma constatação. É história. Nós falhamos. Ontem, hoje, até amanhã possivelmente. Qualquer perspectiva de ter a Educação enquanto meio de provocar mudanças, garantia de direitos e melhorias da sociedade é falsa. É uma farsa. Preciso dizer: nós não estamos educando nossas crianças, gente. Não mesmo. Não de maneira efetiva, não da maneira necessária. Nós estamos falhando. É assim que eu sinto, principalmente na escola. Quando eu vejo aqueles cinco, seis, dez, quinze alunos fora da sala desde a primeira aula. Quando eu tenho uma turma com trinta e cinco alunos, passo exercícios e, pelo menos vinte e cinco não acompanham. Eu consigo: colocar cinco ao redor da minha mesa, ler letra por letra, palavra por palavra, tento ensinar a ler uma linha, uma frase, interpretar o texto. E os outros vinte, como ficam. Agora, humilhação maior foi ontem. Havia dezesseis alunos dentro de uma sala. Outros quinze estavam por aí, pela escola, pelos corredores. E eu não consegui dar aula, sabe por quê? Porque tinha um barulho excessivo do lado de fora. Gente gritando, gente dançando música, gente quase lá trepando. E eu, gastando a minha voz boa que hoje está rouca, rouca, para que os alunos me ouvissem. Para que não se ligassem no funk, na bunda, no pinto e na buceta presente nas músicas. Não quero defender o Estado, mas eu nem disse nada sobre a parada dos livros didáticos pois achei pura hipocrisia. Claro, o Governo de São Paulo é estúpido por fazer o que fez. Mas a sociedade é mais estúpida ainda por fingir-se de atônita com a "pornografia, os palavrões". Ah, faça-me o favor, há quanto tempo estas pessoas não pisam na escola? Hoje em dia, infelizmente, essa molecada aprende a falar pinto antes de dizer pai, que muitas vezes não o conhecem. Aprender a dizer maconha antes de dizer mamãe, e por aí vai. Mas voltando, dezesseis alunos na sala, e eu não consegui dar aula. Sabe por quê? Estava tentando ler um texto. Mas dos dezesseis, pelo menos seis NÃO SABIAM LER. E aí, o que fazer? Será que alguém agora compartilha da minha angústia? Ela não é depressiva, ela é constatativa: nós estamos falhando. Todos os dias, quando entro em sala de aula, eu acho que estou enganando. A mim mesmo, aos meus alunos, aqueles que dizem que eu sou um bom professor. Eu sou tudo na escola, "cuidador" de criança, "tomador" de conta de sala de aula, menos professor. Por favor, não me chame assim. Ser professor, eu acho, deve ser algo um pouco maior e transformador do que isso. Agora, por que eu fico? Porque apesar de tudo, estando ruim ou não, alguém tem que fazer o trabalho sujo, tem ou não tem? Prefiro que seja eu, também, ao invés de muitos outros podres profissionais que, assim como eu não fazem nada, mas pensam que estão fazendo demais. Aí é que mora o perigo.

2 comentários:

Robson Canto disse...

vamo na Cooperifa? vc eu, eu vc ?
Tô precisando ver gente bonita e inteligente!!!!!!!!!

canto

Nina disse...

Estou fora de sala de aula por motivo de saúde. Aposentei na prefeitura,mas o Estado me "desviou"... Fico imaginando onde vamos parar. Os professores estão perdidos,isolados e doentes.Fazem de tudo na escola menos ensinar.Sinto muita vergonha. A sala dos professores é uma tristeza ..."O que fazer?" Temos que ir mais ao fundo do poço...Não tenho mais ilusão a escola pública só é pensada como plataforma política e olhe lá...Infeleizmente uma minoria de alunos perde,não temos força para lutar.