terça-feira, novembro 04, 2008

RACISMO E OUTRAS VIOLÊNCIAS

Estava lá eu numa 6a Série passando um texto na lousa sobre a Formação dos Estados Nacionais, quando percebo uma discussão mais acalorada de um aluno e uma aluna:

- Você qui é!
- Você!
- Ah, vai, o cabelo de bombril.
- Melhor do qui ser mijão!
- Vai lá na cozinha ver se as tias tão precisando de bombril.
- Vai você.
- Vai passar não sei o quê no cabelo...

E a discussão seguiu por mais um minuto pois, apesar de virar para os alunos e observar calmamente o que estavam fazendo - uma das minhas táticas, ao invés de berrar, esgoelar, é virar e apenas olhar nos olhos dos alunos, até interromperem o que estão fazendo e me darem atenção - os alunos continuaram falando. A menina, do "cabelo bombril", saiu arrasada da discussão, pois o argumento do garoto foi mais "forte", e as risadas dos colegas em apoio a ele deixaram a mesma sem graça. Para os alunos, ela tinha o "cabelo bombril" e pronto.

Virei para o aluno que fez o comentário e perguntei:
- Fulano, tem algum problema com o cabelo de Ciclana?
Cinicamente, e com ar de superior - sim, um adolescente de doze anos, consegue ser cruel a esse ponto - disse:
- Tem. Ele é duro!

De certa forma eu perdi a compostura. Apesar de toda a preparação, todos os argumentos possíveis, todo o conhecimento adquirido, é difícil lidar com as questões de preconceito racial na escola. Seja ele velado ou não, como foi neste caso.

Disse ao aluno que ele estava fazendo um comentário racista, ele disse que não. Inclusive ele tem um parente negro na família, me disse. E fui discutir o comentário, a questão dos porquês do cabelo crespo ser ruim e o liso ser bom, do negro ser inferior e o branco melhor, de quem vive no Verônia ser vagabundo, marginal, ladrão e outros preconceitos que nada ajudam em nossa vida e relação social. Fiquei mais de 20 minutos conversando com eles. Já havia acabado o texto, apenas não deu para explicar, mas esta questão colocou-se como mais urgente e necessária.

Eles me ouviram, pouco falaram. Não me dei por satisfeito. Ainda porque acho que o que fiz foi pouco com relação a isso.

E é sempre muito difícil discutir este assunto. Estou tentando.

***

E não mudou muita coisa na minha escola. Ontem tivemos reunião, professores, coordenação e direção. Um novo vice-diretor chegou para o período da manhã. Expectativas foram criadas.

No primeiro dia pós reunião e pós nova vice-direção, pouco mudou. Muitos alunos circulando em horário de aula, muita bagunça pela escola. Na última aula, parecia intervalo. Mais de quarenta alunos no pátio, conversando, ouvindo música, paquerando. Tive que me ausentar da minha sala para pegar um livro na biblioteca. Fui cruzar o pátio uma aluna me questionou:

- Já vai chamar alguém da direção, professor?

Eu preciso fazer isso? É claro que não.

Todos temos olhos, ouvidos. Entendemos e percebemos o que acontece. Não precisa ninguém ficar avisando. "Cada um no seu quadrado".

***

Muitas vezes na escola me sinto como um Quixote lutando contra Moinhos de Vento.
E o problema é que eu sempre caio do cavalo.

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