quinta-feira, novembro 13, 2008

DIAS DIFÍCEIS

ontem não fui para a escola.

o que sei, me contaram.

disseram que ontem um aluno da sétima série foi espancado.

e que o diretor, após intervir, quase apanhou, não fosse o amparo de outros professores.

o bicho pegando, crescendo. o bicho, ficando cada vez mais feio.

quem cria cobra, acaba sendo picado.

mas vamos a hoje:

levei um DVD para exibir para os alunos, o "Zumbi Somos Nós", organizado pela Frente 03 de Fevereiro, um coletivo criado para discutir a questão da discriminação racial, depois que um dentista, negro, Flávio Sant'Anna foi sumariamente executado pela polícia, que não investigou o que acontecia e o confundiu com um bandido que havia recém roubado um veículo.

um DVD louco, feito com apoio do VAI, da prefeitura, com imagens pertinentes, músicas pertinentes, entrevistas pertinentes. num tempo de exibição para a aula certinho: 47 minutos.

fiz a introdução do assunto, que será discutido nas próximas semanas. passei a exibi-lo para as sétimas séries. estavam curtindo, muito. não se ouvia conversas, não se ouvia barulhos. apenas o som dos berimbaus, atabaques, os cantos, poemas. o DVD chamava atenção para quem estava de fora. quando pedia, com educação, para entrar, eu deixava.

mas eis que houve um estouro. morteiro, rojão, não sei. e foi normal. mas houve outro, e outro, e outro, e outro. as vezes mais fortes, mais próximos. o cheiro de pólvora no ar.

resultado: não acabamos de ver o DVD. na terceira aula, os alunos foram dispensados.

clima tenso.

um grupo de alunos não queria sair da escola. um grupo que causa. fui tentar conversar, que o melhor naquele momento era ir, iríamos conversar depois. não tem papo, não tem conversa, alguns me disseram. insisti. mesmo porque eu não tenho medo de dialogar. mesmo porque eu acredito que não deva ter medo dentro da minha escola. minha conduta sempre foi ética, profissional, respeitosa. não vou ter medo.

mas não teve muito papo. um aluno veio com umas idéias de que o diretor tinha passado o meu blog e ele tinha visto: eu só falo mal da escola, só critico. os professores só falam mal dos alunos.

perguntei que professores falam mal dos alunos. para dar nomes. porque eu não faço.

mas desconsiderei porque as pessoas que disseram isso não são meus alunos. não conhecem de perto o meu trabalho. nunca conviveram um ano letivo dentro da sala de aula comigo.

mas uma coisa marcou:

1) se falo das coisas da escola - e não só das ruins - o faço porque tenho este direito: de me expressar. e tenho responsabilidade nas minhas palavras. NUNCA FALEI QUE O PROBLEMA DA ESCOLA SÃO OS ALUNOS. NUNCA FALEI MAL DOS ALUNOS AQUI, CHAMANDO-OS DE VAGABUNDO, TRASTE OU QUALQUER OUTRO TERMO. NUNCA. falo do que acontece, com as palavras exatas, sem abusar da verborragia. não poupo dirigentes, diretores(as), coordenadores(as), professores(as); eu não me poupo. também não vou poupar alunos quando estes não estiverem agindo de maneira correta. agora se quando olhamos para o nosso "espelho", no caso os textos, e eles não agradam, NÃO TEMOS QUE MUDAR O TEXTO. TEMOS QUE MUDAR A NOSSA POSTURA, A NOSSA ATITUDE!

2) EU GOSTO DA MINHA ESCOLA, A EE JORNALISTA FRANCISCO MESQUITA, SIM. eu adoro os meus alunos. eles me deixam mais vivos, eles me trazem mais alegrias do que tristeza. o que eu não gosto, o que eu não suporto é o sistema educacional na qual vivemos. o que eu não admito é a omissão, a indiferença de várias pessoas da escola frente aos problemas que existem. porque escola é, em primeiro lugar, o lugar do conhecimento, do crescimento, do aprendizado. e do primeiro de todos: a nos tornar seres humanos melhores. se ela não está cumprindo o seu papel, eu direi, falarei sobre isso, sim. importe quem goste ou não. não estou dando uma de "zé-povinho". e quem não gostar, contraponha, fale. vamos conversar. o que eu não admito é violência. ameaça. não violento ninguém, não ameaço ninguém, não vou aceitar isso.

e 3) é preciso separar o joio do trigo. botar todo mundo na panela, misturar, e dizer que todo mundo é igual, que ninguém presta, não pode. não dá. generalizar, seja do lado do professor, seja do lado do aluno, é o fim. não avançamos para lugar nenhum.

espero que o ambiente escolar melhores. afinal, todos estamos sendo prejudicados, todos. não podemos continuar assim.

eu quero é paz. respeito, aprendizado, diálogo. tenho certeza que não é pedir muito. para ninguém.

Rodrigo Ciríaco
professor com orgulho da
EE Jornalista Francisco Mesquita

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