As ruas não foram feitas para as pessoas
As ruas foram feitas para os carros
A sociedade do automóvel
E seus infinitos carros
Parados
A espera do colapso.
As calçadas não são vias públicas
As calçadas não são vias privadas
As calçadas não são das ongs
A quem pertencem as calçadas do Brasil?
Alguns homens, ditos sérios
sem nenhuma hipocrisia, já me disseram
que os moradores de rua
adultos, crianças, cachorros e mulheres
estão privatizando calçadas
Atrapalham o trânsito e o pedestre
Obrigando-os todos os dias
a desviar os olhos.
E eu continuo me perguntando:
Se os moradores de rua
não moram nas ruas
Por que continuamos a
Ignorar este colapso social
em nossas calçadas ?
Porque continuamos a pensar
Que varrer uma pessoa
É a solução mágica?
Por que continuamos a fazer
Como ontem
Há dezoito meses
Há sete anos
Mais de cem anos
A Limpeza
E o esconderijo dos verdadeiros porcos da cidade
A Limpeza
Dos vidros dos prédios e dos olhos cinzas da cidade
A Limpeza
Da santa Sé e sua Igreja, praça da cidade
A praça que é(ra) do Povo
Se os moradores de rua
não podem viver nas ruas, calçadas, marquises
E não há espaços em nossas casas, condomínios fechados,
apartamentos de luxo
onde os enfiaremos?
Abro o jornal e descubro
o que pensa o dono da banca de feira,
o aposentado, o agente imobiliário e o prefeito:
É preciso retirar as pessoas das ruas
As ruas foram feitas para carros
Para as compras, na 25 de março
do 25 de dezembro, do 1º de Abril.
É preciso levar estas pessoas para Albergues
para que ninguém os veja
Coagi-los para Asilos,
Hospitais Psiquiátricos, o Canil
para que ninguém os sinta
Coagi-los para o lixo
os sete palmos das terras clandestinas de Perus
Para longe do sonho
que é o Brasil.
Só não os mandem pra puta que pariu!
A sociedade de consumo
Não aceita devolução
de produto.
Um comentário:
Muito bom, forte e duro como a realidade!
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