domingo, dezembro 30, 2007

OUTUBRO - Mês das crianças, dos professores...

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Um minuto de silêncio. Estamos de luto
Quem morreu?
A Educação.

No mês dos professores, publiquei um artigo no Correio Caros Amigos falando sobre o plano de metas da Secretaria de Educação. Uma homenagem póstuma a este defunto fatal para a nossa sociedade. Leia abaixo:


NO MEIO DO CAMINHO?

Você matricularia o seu filho numa Escola Pública do Estado de São Paulo? É uma pergunta que gostaria de fazer diretamente ao Governador José Serra, a atual Secretária Estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e a todos os políticos de nosso Estado. Você, caro leitor, não tendo outra opção, matricularia?
A Educação Pública do Estado de São Paulo, no geral, é uma vergonha. Em alguns casos, criminosa. Pesquisas, indicadores comprovam. Da minha parte falo como alguém que está envolvido neste processo há quase vinte anos. Inicialmente como estudante. Hoje, como professor. O que vejo é algo que me deixa profundamente entristecido. Revoltado. Alunos passam pelas séries iniciais, chegam à 5ª, 6ª e 8ª série sem saber ler e escrever. São aprovados. Cursam o ensino médio com muita dificuldade. Aprendem pouco. E são aprovados. Alunos fazendo ciranda-cirandinha, perdendo tempo de estudos, buscando cadeiras e carteiras em salas pois não há número suficiente na sala em que se encontram. Outra opção seria sentar no chão. Ah, isso quando há salas. Quando estas não estão com goteiras, infiltrações, ameaça de queda de teto, curto-circuito, buracos. Muitas escola públicas estão em condições que se o CONTRU pudesse intervir, já as teria interditado. Não é boato. Há fotos e fatos. Muitas escolas não tem mais o antigo laboratório de ciências, que na minha época – veja, tenho apenas 26 anos – tinha. Muitas escolas não tem uma sala de informática, sequer computadores suficientes para a secretaria da escola e administração. As escolas têm alunos. Muitos. Que superlotam as salas e fazem qualquer professor que queira desenvolver um trabalho pedagógico eficiente e competente quase enlouquecer.
Mas por que eu digo tudo isso? Digo porque no dia 20 de agosto de 2007, o governador do Estado, acompanhado da Secretária de Educação lançaram um plano com “Dez metas para a Educação do Estado de São Paulo”. As “dez metas” - disponíveis no sítio http://www.educacao.sp.gov.br/ - deveriam ter sido amplamente divulgadas pela chamada “grande mídia”, afinal trata-se de uma “grande” mudança na Educação Pública do Estado. Não foram. Deveriam ser comemoradas por toda a população paulista, principalmente a comunidade escolar. Não foram. Muitos que ouvi consideraram um plano medíocre. Algo para inglês ver.
O plano parece ousado. Alguns pontos: “todos os alunos de oito anos plenamente alfabetizados, redução de 50% das taxas de reprovação da 8ª série e do Ensino Médio, laboratórios e computadores em 100% das escolas, aumento de 10% nos índices de desempenho do Ensino Fundamental e Médio nas avaliações nacionais e estaduais” entre outros. Só parece. Para mim, é um plano eleitoreiro, oportunista. Primeiro pois estabelece 10 metas para o ano de 2010. Apenas. Segundo, pois parece desconhecer muitas vezes a realidade escolar. Aliás, cabe uma pergunta: quantos pais, profissionais da educação, alunos foram ouvidos para a elaboração deste plano?
Enquanto professor, um dos principais problemas que encontro – além da falta de infraestrutura, suporte pedagógico, material, salário – é a superlotação das salas. Ter 35, 40, 42 alunos em sala não é ilegal, mas é anti-pedagógico. Entretanto, o Estado não considera isso um problema. Apesar da média da Avaliação do Ensino Fundamental (5ª à 8ª série) no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica no Estado divulgado este ano em Abril ter ficado em 4,5, quando o satisfatório seria 6. Apesar do município de Barra do Chapéu, no interior do mesmo Estado, ter ficado com uma média de 6,8, com a melhor quarta série do país, com uma média de 25 alunos por sala – em matéria da Folha Cotidiano, de 26 de Abril. Coincidência?
O Governo do Estado de São Paulo diz “todos os alunos de oito anos plenamente alfabetizados.” Concordo. Mas ele não diz o mais importante: Como? Será que um professor auxiliar nas primeiras séries iniciais é a solução dos problemas. Foi avaliado o motivo que leva alunos a completar o Ensino Fundamental, Ensino Médio sem saber ler e escrever? Responsabilidades foram assumidas? Por quem?
Outra coisa que me deixa indignado é a proposta “100% da escolas com laboratórios e salas de informática.” Ótima proposta. Entretanto, pergunto: as escolas públicas do estado nunca tiveram laboratórios, salas de informática. Respondo: sim, já tiveram. Os equipamentos foram deteriorados ou, principalmente, roubados. Culpa da comunidade escolar? Em partes, mas para mim o principal responsável ainda é o governo. Quando há invasões, arrombamentos, depredações, furtos ou roubos dentro da escola, raramente estes problemas são apurados, investigados. Outro fator é que a escola aparece como a solução mágica para todos os problemas da sociedade. Somente a escola não é. Não será. Além de investir, com planejamento e competência na escola, é necessário – sempre – ter os olhos para a Comunidade. Não apenas a comunidade escolar, mas a Comunidade como um todo. Pego como exemplo a região em que dou aula, Vila Cisper, Zona Leste de São Paulo. Os equipamentos de cultura e lazer – Teatros, Bibliotecas, Clubes – ficam, no mínimo, a meia hora de ônibus(!) do local da escola. Equipamentos de educação-não formal são raríssimos. As condições de moradia muitas vezes precárias. Esta comunidade não é exceção. Será que isso não influencia na relação desta com a escola? Na formação do aluno enquanto cidadão, enquanto ser humano?
Para mim, “As Dez metas para a Educação do Estado de São Paulo” é um plano fraco. Como disse, oportunista e eleitoreiro. Pois tem uma visão de Política Pública para a Educação limitada, apenas até 2010 – próxima eleição. A Educação não pode ser pensada, apenas, a curto prazo, de quatro em quatro anos. Claro, cada governante tem a sua marca, a sua personalidade, mas quando se fala em Políticas Públicas é preciso ir além do mandato. É preciso ir além do seu governo. É preciso ter uma visão de nação, de país.
Desde janeiro de 1995 quando então Mário Covas assumiu o Governo do Estado de São Paulo, o Partido da Social Democracia Brasileira é governo. Já passou Geraldo Alckmin, já se passaram doze anos. Este partido, que se auto-afirma muitas vezes como modelo em Gestão e Administração pública, não conseguiu construir uma Educação Pública eficiente no principal Estado econômico do país. Há 12 anos como governo, o PSDB poderia ter transformado totalmente a Educação em São Paulo. Não conseguiu. Um dos motivos aparece através das “Dez metas”: este é mais um Partido em que o governo se faz para os governantes. E só. Não para o povo, como a Democracia realmente precisa. E merece.

Rodrigo Ciríaco

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