- Licença pra falar, senhor?
- Licença concedida professor.
- Sabe o que é governador, temos dezesseis alunos na escola da quinta a oitava série que não estão alfabetizados. Mais uns outros que...
- E daí? Seja breve professor.
- Bom, nós não gostaríamos que eles fossem aprovados.
- Como assim? Que conspiração é esta? Quem não gostaria que eles fossem aprovados professor?
- Todo mundo da escola senhor: pais, alunos, professores...
- Absurdo! Isso está me cheirando a golpe. Estão querendo contrariar a lei professor?
- Não senhor.
- Nós temos um problema aqui professor?
- Não senhor governador.
- Então está tudo certo, tudo resolvido. Estão automaticamente aprovados.
- Mas senhor...
- E eu posso saber por que eles não foram alfabetizados?
- Situação difícil governador, o senhor sabe: muitos alunos em sala, muito trabalho; pouca gente séria, comprometida, pouca paciência. Além disso, não fomos preparados para alfabetizar alunos na quinta, sétima série e...
- Incompetência! Vai botar a culpa no governo agora professor?
- Não senhor.
- Então aprova logo esses moleque e pronto, depois a gente vê como resolve. Dispensado.
- Permissão para falar, senhor?
- Ai meu cace... Permissão concedida Aspira. Um minuto por favor.
- Nós já fizemos isso no ano passado senhor.
- Isso o quê?
- Deixar para o ano seguinte a alfabetização deste alunos.
- E por que porra não fizeram isso este ano, eu posso saber professor?
- Não autorizaram fazer uma sala de alfabetização com apenas dezesseis alunos senhor. O mínimo permitido em lei são vinte.
- Isso mesmo.
- Então...
- Então vocês não tiveram a capacidade de achar mais quatro analfabetos nessa merda de escola pra fechar uma turma?
- Ainda bem que não senhor. Além do mais, poderíamos ter formado uma turma com dezesseis, com dez, com cinco que fosse. Não importa o número, o importante seria alfabetizá-los, não?
- Insubordinado! Professor, o senhor é um fanfarrão! Quer contrariar a lei? Quer cometer uma improbidade? O senhor quer perder seu cargo, quer ser processado?
- Não senhor.
- Então pede pra sair. Pede pra sair!
- Eu quero sair senhor!
- Ah, muito fácil. Vai, vai embora. Vê se trabalha melhor e não traga suas frustrações aqui, no meu gabinete.
- Sim senhor, senhor.
- Muleque!
2 comentários:
Olá,
Parabéns pelo trabalho. Estamos propondo uma discussão sobre o tema no site www.textoterritorio.pro.br
e eu linkei o seu conto, ok.
Olá Alexandre. Sem problema. Os textos são Copyleft, basta citar a fonte, ok?
Abraço
Rodrigo
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