sábado, outubro 31, 2009

A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA PERIFERIA

começou ontem aqui em Sampa a Satyrianas, mostra de Teatro que também envolve música, cinema e otras cositas organizadas pela Cia dos Satyros, da praça Roosevelt. são 78 horas de atividades, em que o destaque são peças de boa qualidade que acabam por envolver os principais grupos teatrais que atuam na zona central da cidade. já participei em outros anos e recomendo - veja a programação completa aqui

e pensando sobre as Satyrianas, fiquei pensando sobre a importância da Mostra Cultural da Cooperifa. é que as vezes estamos dentro de algo e não temos o distanciamento necessário para ter uma visão crítica, mais ampla sobre o que produzimos. e não é porque estou dentro do movimento não, mas o que fazemos é algo não apenas inovador, mas provocante e (r)evolucionário.

uma semana de artes na periferia? quem ousaria?

gosto de participar de alguns movimentos, atividades que rolam aqui pelo Centro da cidade. princilpalmente aqueles que tem qualidade. mas isso já é algo banal, corriqueiro. sempre tem alguma coisa diferente por aqui. agora, na periferia não. o que vou dizer talvez seja algo comum, batido, então quem quiser, aviso: não leia. mas voltando, as periferias de são paulo são cidades dentro das cidades. não é a toa que são divididas em "zonas". e elas acabam tendo mais em comum com as regiões da "grande" são paulo - área metropolitana - do que com o núcleo central da cidade em si. porque assim como as áreas metropolitanas que ficam na "rebarba" da cidade aproveitam muita coisa aqui de sampa, atuam como cidades-dormitórios, a periferia acaba tendo esse papel, dentro da cidade. mas o pior: as riquezas produzidas pela cidade mais rica da américa latina não são distribuídas de maneira uniforme. todos ajudam a construir, mas na hora de dividir o bolo, ele fica no "centro".

chamei várias pessoas para irem até alguma atividade da II Mostra Cultural da Cooperifa. eles perguntavam, onde fica? dizia: Campo Limpo, Vila das Belezas, Chácara Santana. Zona Sul. eles respondiam - fora a questão de ser perigoso e tal: "ah, mas é muito longe". isso que são pessoas que tem transporte próprio - carro - ou então o dinheiro suficiente para pegar ônibus, metrô, trem, lotação ou até um táxi, se necessário. e eles diziam: - é longe. agora eu pergunto, se eles reconhecem que o caminho do centro pra periferia, pra ver uma atividade cultural, tendo dinheiro no bolso, é longe, e o caminho inverso, não é? porque imagina comigo: uma pessoa sair de campo limpo, jardim ângela, guaianazes, ermelino matarazzo, atravessar quase vinte kilômetros dentro da cidade, encarando ônibus, metrô, trem, pra assistir um espetáculo, uma peça, uma mostra de dança. um camarada que já não ganha muito bem, tem que gastar dinheiro com transporte, enfrentar duas horas de travessia, gastar dinheiro com entrada, um lanchinho - porque vai dar fome - e ainda encarar a volta, isso se ainda tiver transporte, porque o ABSURDO que existe numa das maiores cidades da América Latina é que o transporte público não é 24 horas - o vereadores, vâmo trabalhá -, e aí, dá pra tu.

agora, imagina se tivessemos mostras, semanas de arte como a que realizou a Cooperifa semanais. ou nem pedindo tanto, mostras mensais. em que a pessoa atravessasse a rua, andasse uma duas, três, cinco quadras que seja, e encontra-se uma exposição de arte, um show de música, uma peça de teatro, um sarau. e aí, será que faria uma diferença ou não? gente suficiente pra preencher essas mostras mensais teria, em todas as áreas. a periferia é um caldeirão cultural em ebulição. precisa apenas de alguém que ajude a a(s)cender este fogo.

dizem que o "povão" só gosta de porcaria, mas eu pergunto: só gostamos de porcaria ou a gente acaba comendo o que tem no prato?

a semana, a Mostra de Artes da Cooperifa é muito importante pra cidade de São Paulo. talvez como referência para o país. outras mostras precisam ser realizadas, da maneira como fazemos: sem esperar dos outros, parando de reclamar - não que reclamar não valha, mas senão fica apenas a choradeira - e botar a mão na massa. errando, fazendo cagadas, mas fazendo. é como disse o Poeta: "erramos porque amamos e fizemos. e só quem ama erra". tem que ser assim. e falar, de boca cheia: mostra de arte, semana cultural da Periferia. sem medo de dizer de onde somos. com orgulho de mostrar de onde estamos fazendo. porque sabemos que não é fácil viver, transformar, fazer. e temos que mostrar de onde viemos, até para o pessoal que está do lado de lá acredite que somos possíveis.

São Paulo é uma cidade cingida: socialmente, economicamente e, principalmente, geograficamente. as pessoas vão para o "centro" (centro aqui é mais do que um conceito geográfico, mas um conceito político) trabalham, camelam, enriquecem aquela região e voltam para as periferias, para dormir, para consumir o básico, para trazer o que sobra para estas regiões. acabamos como zonas esquecidas dentro desta cidade que, cotidianamente, ajudamos a construir, desenvolver e enriquecer. está mais do que na hora desse bolo ser melhor dividido.

enfim, pensamentos desconexos na manhã de um sábado.

r.c.

Um comentário:

Rose Cruz e Késsia Santos disse...

Olá Rodrigo...
pois é...em pleno domingo estou eu aqui em casa escrevendo meu livro....q alias tenho que entregar pra minha orientadora até amanhã cedo....de me deparo com as coisas q vc escreve....q tem absolutamente tudo a ver com o que vc postou....
Virei sua fã....rs....Bjocas e bom feriado!!!