quarta-feira, outubro 14, 2009

AO MESTRE COM DESPREZO - PARA REFLEXÃO

RUY CASTRO, na Falha de S. Paulo - 13/10/09

RIO DE JANEIRO - Em março, um professor de história, filho de um amigo meu, foi desacatado em sala por três alunos num colégio em Moema, zona sul de São Paulo. O mestre deu queixa na diretoria. Esta apoiou os desordeiros. O professor pediu demissão e foi para casa, onde teve uma crise nervosa. Passa agora por uma síndrome do pânico. A orientadora da escola, única pessoa a apoiá-lo, foi demitida.

Este é um colégio de classe média, em que os alunos se sentem com privilégios pelo fato de pagar altas mensalidades. Mas, nas escolas públicas, a realidade é ainda pior. Mais de cem casos de alunos que desrespeitam professores são relatados diariamente à Secretaria Estadual da Educação de São Paulo por um sistema de registro de ocorrências do gênero. A maioria dos casos vem da região metropolitana de São Paulo.

São alunos que desprezam a liturgia da escola, saem da sala sem autorização do professor e o ofendem verbalmente quando ele ousa protestar contra a zorra. Usam toda espécie de aparelho eletrônico durante a aula, de celular a iPod, e, certos da impunidade, destroem equipamentos ou instalações da escola na frente dos colegas e funcionários. Uma das principais diversões é pôr fogo nas lixeiras.

É o terror. As escolas cogitam instalar câmeras em suas dependências, para ter provas documentais contra os vândalos e padronizar as informações, o que permitirá estabelecer estratégias de combate à violência. Mas nada impede que os cafajestes -difícil chamá-los de alunos- roubem também as câmeras e riam das estratégias.

Os jovens valentões que agrediram o professor em Moema (aliás, com o apoio da classe) foram expulsos do colégio meses depois. Mas não por indisciplina. Deixaram-se apanhar traficando drogas dentro das instalações.

Um comentário:

Teacher disse...

Bom, isso é uma mostra de que surge um novo "homo non sapiens"(se é que posso fazer esse neologismo);que retorna À babárie sem nenhum valor ou princípio que norteie sua existência. A família e a escola perderam sua função de formar e educar que exerciam há alguns anos atrás, em detrimento do triunfo da tirania do Capitalismo que determina os novos "valores" e rumos da espécie humana. A primeira por estar ocupada em produzir o "ter" e a segunda por temer déficits com a perda de seus "clientes", nega-se a exercer suas prerrogativas educadoras. Enfim, o Capital é a força propulsora da humanidade, ele "educa", determina padrões sociais e é, paradoxalmente injusto e excludente.Diante disso, qual a melhor pedagogia?O professor se tornou apenas uma figura da retórica saudosista dos "bons tempos aqueles..."