ontem, quinta-feira, foi dia dos professores. e anteontem, quarta-feira, na Cooperifa, eu lembrei de uma frase do Sérgio Vaz, escrita na apresentação do meu livro: "Mas, hoje, como sorrir sobre ruínas?". porque eu estava pensando: o que há para celebrar neste dias dos professores?
até o momento eu não via muita coisa. ser professor, principalmente nos dias de hoje é difícil. e não apenas pela desvalorização, baixos salários, falta de apoio e estrutura, escolas abandonadas, etecetera que todo mundo já sabe. uma coisa que sempre doeu muito, para mim, é a questão da educação não apresentar resultados a curto prazo, digamos assim. por exemplo: se eu sou um mecânico e trabalho, eu quero ver o carro andando, consertado. se eu sou uma cozinheira, eu quero ver as pessoas se alimentando, felizes. e se você é professor, o que você quer ver?
eu gostaria de ver meus alunos crescerem, aprenderem, não apenas sobre a escola, mas sobre a vida. e serem um pouco mais felizes. e durante muito tempo eu não via isso. porque a gente trabalha, trabalha, trabalha e, vem aquela história: o resultado vem daqui há alguns anos, você vai ver. mas daqui há alguns anos é longe, e a espera cansa. cansa. mas ontem foi diferente. ontem foi um dos melhores dias da minha vida, principalmente vendo pelo lado profissional.
ontem foi dia dos professores, e eu trabalhei. reposição por conta da Gripe Suína. os alunos estiveram presentes na escola. manhã, tarde e noite. porque ontem eu trabalhei das oito da manhã até as oito da noite. oitavas de manhã, quintas a tarde, teatro de tarde pra noite. ralei, fiquei cansado pra caramba. nem ganhei presentes... mas ontem foi um dos melhores dias na escola.
porque eu pude perceber que meus alunos estão crescendo. estão aprendendo muitas, muitas coisas, não apenas sobre a escola. e estão ficando um pouco mais fortalecidos para aguentar os trancos desta vida tão dolorida - que é pra todos. e isso, pode-se dizer, deixa-os um pouco mais felizes. a mim, deixa muito.
primeiro foi de manhã, nas oitavas. era dia especial então, vamos ao sarau. fiz um sarau com eles - que diga-se de passagem, fazia tempos que não fazia - e convidei as Mesquiteiras (do teatro) pra fazer um esquenta. sentir a pressão de apresentar as cenas para um público "estranho" diferente. e foi muito bom. as meninas curtiram. e a galera das oitavas, idem.
depois, foi as quintas. na verdade, verdade seja dita, esse meu dia especial começou desde ontem. porque o sarau nas quintas séries foi ontem. em comemoração, no caso deles, não apenas ao dia do professor, mas a semana da Criança. e foi maravilhoso. a molecada participou em peso, deram risada, interpretaram e mostraram que, literatura, não é uma coisa chata. pode ser bem legal também. só que eles não sabiam...
e a cereja do bolo foi a tarde, o ensaio com os "Mesquiteiros". eu sou suspeito em dizer mas, esse meu teatro amador-mirim tá fazendo um trabalho profissional. muito empenho, dedicação, trabalho, verdade e emoção. muita emoção. porque agora, além dos textos de autores que escolhemos para a nossa peça, estamos trabalhando nossos textos (individuais) que serão integrados com outros. ou seja, estamos nos conhecendo um pouco mais, coçando as nossas feridas. e elas doem. muito. ontem foi uma sessão de choradeira total no final do ensaio, durante as leituras. um aluno até brincou comigo se no teatro rolava "sessão de espancamento". eu disse: só se for das coisas ruins. porque o que acaba acontecendo também é um trabalho terapêutico, respeito, troca, confiança, amizade. solidariedade. tudo isso eu vi no meu grupo de teatro ontem. e foi lindo. acompanhar como tudo isso aconteceu em apenas meses. ou melhor, alguns aninhos, já que estou há quatro anos na escola. mas foi lindo ver um pouco do resultado do trabalho.
no final, nos demos um forte abraço em todos, cantamos e fomos embora. eu flutuando, andando nas nuvens. parecia que não era real, que era um sonho. e era. um sonho que eu pude desejar, e agora viver, de olhos abertos.
"é necessário sempre acreditar que o sonho é possível..." (racionais)
é isso aí. muito trabalho, suor, sangue, lágrimas e vitórias. principalmente vitórias.
r.c.
2 comentários:
Força ai guerreiro....continue plantando a semente...o esforço não vai ser em vão meu bom...forte abraço...tamo junto....um salve a todos do Mesquita.
Tubarão
É isso aí professor. Também divido com você as preocupações a angústias desse "trabalho de longo prazo".
Parabéns por encontrar um refrigério em seu trabalho e no crescimento dos seus alunos.
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