Cuspi sim! Cuspi hoje, cuspi ontem, cuspiria de novo. Com gosto. Puxando lá do fundo do pescoço. A vingança não é um prato que se come frio? Por que que eu não posso botar um tempero? Pois bem. Cuspi sim.
Tá fazendo por que, essa cara de nojo? Cara feia pra mim é fome. Você quer um pouco? Onde já se viu. Me julgar é fácil. Onde é que você tava quando pegaram a mangueirinha e mijaram no rodapé da sala. Nas quatro paredes, de fora a fora. Dentro do cesto de lixo. Quando tiveram a coragem de cagar no banheiro e limpar com o dedo na porta. Arrastar no azulejo, na torneira, na maçaneta. Hã? Onde é que você tava quando essa cambada pegou tudo: colher, prato, caneca, jogaram tudo, tudo dentro da privada. Deram descarga. E o pior: cagaram por isso. Isso mesmo, jogaram dentro da privada e cagaram por cima? Você acha que tá certo? Cagar no prato que comeu?
Não é história, não. Isso é escola. Por isso que pra você é fácil me recriminar. Não sabe o que a gente passa. Não é você que tem que limpá todo dia essa desgraça. E olha, pra fazê coisa errada eles são criativo. Já tive que enfiar o meu braço em cada buraco fedido que nem te conto. Ia estragar o seu almoço. Fora as banalidade, as obra de arte que deixam todo dia no pátio: molho na escada. Arroz e feijão esmagado no chão. Purê de batata no teto. É um desperdício que não tem tamanho.
Agora, uma coisa é certa: não é só aluno que faz esse chiqueiro não. Professor é um bichinho porco também. Não é capaz de tirar o copinho de café de cima da mesa. Jogar o guardanapo do lanche no lixo. O farelo do pão. Não faz nada. Vão lá, sujam e, “tudo bem, deixa aí. Tem quem limpa”. Quem eles pensa que eu sô? Empregada? Na sala de aula a mesma situação. Como é que vão servir de exemplo pra essa molecada? Agora o dia que eu vi aquela cena no banheiro das professora, eu não acreditei. Uma coisa assim, parecia uma fralda de tão grande, grossa, jogada. Aberta, que nem uma rosa. Desabrochando na nossa cara, cheia de sangue. Você acha? Deixar o modess daquele jeito na tampa da privada? E o pior: ainda nem tava seco. Quem quer ver um útero daquele meu Deus?
Rrrrrrraaaaiic. Puff! Nossa, esse foi osso. O que moço? Não, não acho que essa é a melhor solução, não. Sabe o que eu acho que deveria fazer? Deveria era ter pego o desgraçado, a desgraçada, que fizeram essas porcalhada, porque descobrir não é difícil, sempre tem uma parede que tem ouvido, uma porta que não quer ficar calada. Tinha era que ter descoberto quem fez e botado pra mostrar a cara. Chamar o pai, mãe, sei lá, o responsável; se fosse o professor, de maior, com ele mesmo deixar acertado: vai ficar um mês na labuta, colaborando no ordenado. Varrendo o chão, lavando o banheiro. Enfiando a mão na bosta. Ajudando a gente a organizar esse pardieiro. Me diga: posso ou não exigir esse respeito? Isso é ou não é educação? Obrigar o sujeito a reparar um erro que comete, mostrar que tem que ser direito, tudo tem limite. Tô certa ou não? Mas ninguém faz nada. Ninguém corre, ninguém investiga. Fizeram como fazem sempre: nada. Ignoraram. Foram totalmente indiferentes. Pior: coniventes. Mostraram que todos, todos, sem exceção, tão cagando e andando pra tudo. Pra gente.
Pois bem. Eu, por enquanto, só to cuspindo.
4 comentários:
Parabéns, Rodrigo! Esse conto tá foda. Devia ser currículo obrigatório - se os jornais não se incomodassem tanto com os palavrões... E quando vira livro?
beijo
Ana
Olá Ridrigo!
Essa é uma realidade que muitos fingem não ver.
Vc faz falta à Cooperifa!
Saudades de ti!
Abraços!
Oi Rodrigo
passando sempre por aqui. Vc (apesar dos altos e baixos) Está escrevendo cada dia bem.
Bjos
Rodrigo...este texto é literalmente foda....
Parabéns pela escrita
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