Eram 18:10 quando eu vi esta notícia. E ela caiu como uma bomba no meu colo. Ainda não explodiu. Vai demorar um pouco para digerir.
Augusto Boal morreu.
Augusto Boal era uma das pessoas mais fantásticas desse país. Seja na categoria artista, educador, dramaturgo ou ser humano. Tivesse nascido em qualquer outro lugar lá fora seria notoriamente reconhecido, escutado, importado. Só não ficou realmente conhecido e valorizado no Brasil porque nós vivemos num país de merda.
Foi diretor do famoso Teatro de Arena, em São Paulo. Dirigiu e escreveu, em parceria com Gianfrancesco Guarnieri (outra lenda) Arena conta Tiradentes e Arena conta Zumbi, entre outras. Foi preso no período militar, ameaçado e teve que viver no exílio. Trabalhou com Caetano, Chico, Bethânia e outros artistas numa época em que eles ainda diziam algo pra gente. Boal viajou pelo país, conheceu a gente que brota no chão seco, que vive da terra sem ser dono dela e que sobrevive bravamente na guerra que foi instalada nos subúrbios e periferias do Brasil. Era amigo pessoal de Paulo Freire, Zé Renato, Oduvaldo Vianna Filho e Plínio Marcos.
Seu principal trabalho, o "Teatro do Oprimido", é (re)conhecido em mais de 70 países. Tive a felicidade de estudar o Teatro do Oprimido durante uns três anos. Fiz trabalho na faculdade, fiz oficinas, apresentei algumas peças. Uso as técnicas do Teatro do Oprimido na turma de teatro que comecei na escola há quase um mês. Tenho 07 livros do Augusto Boal na minha estante. É um dos autores que eu mais tenho livros. É um dos autores que eu mais li. Seu trabalho me transformou profundamente. Muito do que eu sou, da melhor parte de mim, devo a ele.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente no ano retrasado. O revi no ano passado. Estava um pouco debilitado, mas atuante.
Foi-se aos 78 anos. Insuficiência respiratória. Brigava contra uma leucemia. Até o último momento não deixou de trabalhar, não deixou de atender a quem quisesse saber - de dentro ou de fora do país - informações sobre o Teatro do Oprimido. Acompanhava projetos desenvolvidos no Brasil inteiro de perto.
Tinha 78 anos. "E é tão estranho. Os bons morrem jovens."
Adeus, Boal. Descanse em Paz. A gente continua por aqui. A luta, no luto.
Rodrigo Ciríaco
Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, morre aos 78 anos no Rio
São Paulo - O dramaturgo e diretor de teatro Augusto Boal morreu na madrugada deste sábado, aos 78 anos, de insuficiência respiratória, no Hospital Samaritano, no bairro do Botafogo, Rio. Ele sofria de leucemia e estava internado desde o dia 28 de abril. O local e o horário do enterro não foram divulgados.
O trabalho do carioca Boal, que também era ensaísta e teórico do teatro, ganhou destaque nos anos 1960 e 1970, quando esteve à frente do Teatro de Arena de São Paulo e criou o Teatro do Oprimido, pelo qual foi internacionalmente reconhecido por aliar arte dramática à ação social.
Boal chegou a se formar em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1950, mas viajou em seguida para os Estados Unidos, onde estudou artes cênicas na Universidade de Columbia. De volta ao Brasil, sua primeira peça como diretor do Arena foi "Ratos e Homens", de John Steinbeck, que lhe rendeu o prêmio de revelação da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
Dirigiu ainda, entre outras peças, "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri, e "Chapetuba Futebol Clube", de Oduvaldo Vianna Filho. Foi o diretor do espetáculo "Opinião", com Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão, que passou para a história como um ato de resistência ao golpe militar de 1964.
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