Ontem assisti ao documentário "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei".
Já conhecia um pouco do Simonal. Um pouco através do seu trabalho, algumas músicas muito boas que ele tem, cantada com swing, personalidade e um carisma irresistível. Da outra parte, da época da faculdade, quando soube que ele fora acusado injustamente de ser um colaborar da Ditadura Militar brasileira, na sua face mais dura: o governo Médici.
Nunca pesquisei muito sobre o assunto, mas ontem fui assistir o filme que, aliás, eu recomendo.
Wilson Simonal foi um dos mais completos artistas brasileiros. Da década de 60, quiçá dizer um dos mais até hoje. O cara tinha atributos que poucos ainda tem: talento, carisma, personalidade. Fora pobre, era negro. Um guerreiro. Dominava o palco - e diga-se de passagem, o público - como ninguém.
Mas cometeu um deslize. E em tempos como os nossos, eles são imperdoáveis.
Num lance pessoal e financeiro com um contador, utilizou-se da violência para resolver a parada. E como violência era o sobrenome do governo Médici, Simona acabou ficando muito próximo dos homens da repressão. Por vacilo, ingenuidade, oportunismo. Valeu-se dos homens e da estrutura da repressão. Mas não era um deles.
Resultado: se fudeu.
A direita TFP (Tradição, Família e Propriedade) o abandonou porque não admitia um negrão daquele, botando a banca como bancava, comandando a massa como comandava, chegando a ameaçar em sucesso figurinhas como o Tremendão e outros;
A esquerda, com o seu patrulhamento ideológico, em partes compreensível pelo momento, mas não menos intolerante e cruel, deixou à merce, jogando bosta no ventilador pra feder, principalmente por considerar o Simona uma figura de destaque do que era o Capitalismo - o que não deixa de ser uma verdade.
Mas Wilson Simonal era um artista fenomenal. Na minha opinião, o melhor artista de palco que já vi. O que o camarada fazia com a platéia era absurdo. Não merecia o que fizeram com ele: um rótulo eterno. O ostracismo, a indiferença. O julgamento sumário, sem defesa. O total esquecimento.
Mas isso é ser artista no Brasil. Hoje lhe jogam flores. Amanhã, ovos podres.
Por isso que eu não faço questão de agradar ninguém.
Não deixe de ver o filme.
R.C.
Um comentário:
Cara, fico aqui mui bien com sua atitude (e de muitos), em ir atrás de fonte segura, para entendermos melhor essa tal "história oficial". Ainda não vi o filme, mas vou vê-lo com certeza. Conheço pouco da obra do Simonal mas desconfio que sua alienação junto ao sistema de certa forma é fruto dos tempos "dito duros" da violência oficial, permeado pelos excessos produzidos em quem tem o mundo às mãos e muitas vezes não se dá conta disso. Obrigado por despertar mais um pouco de nosso afã de descobrir nossa(s) história(s), que, oficiais ou não, é a que vivemos e que nossos antepassados nos legaram.
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