não, não estou em crise. não agora. a crise parece ser permanente. essa opção de remar contra a maré, de fazer tipo de "advogado do diabo" pra tudo sempre deixa a gente um pouco em crise. meio pertubado. sei lá. não sei.
fato é que eu tô cansado de fazer "big brother" da minha vida. falar dos problemas pessoais, profissionais, enfim. lado bom é o desabafo. botar pra fora, a língua na janela e tal. mas isso também cansa. esse papo de jogar pedra te faz uma bela vidraça. e ultimamente eu tô precisando levantar a minha casa. sem grandes prejuízos.
por isso a ausência. por isso o silêncio. repensar prioridades, repensar atitudes. repensar a vida. se não há nada muito útil pra dizer, uma grande reflexão, pra quê falar? faz diferença pra alguém ficar contando sobre os meus problemas, sobre o meu cotidiano? não sei.
o silêncio, este sim deveria fazer alguma diferença. trazer alguma preocupação. mas o silêncio não incomoda a ninguém. o silêncio está mudo. é fácil ignorá-lo. poucas ligações no meu fone, poucas mensagens na caixa postal. quase ninguém perguntando "E aê, cê tá firmeza?". mas assim seguimos. agora. talvez sempre.
na escola, continuamos na mesma. atuando como "guardadores de gente". há muito tempo deixamos de ser educadores, professores, ou qualquer nomenclatura das dores que alguém queira auto-acrescentar-se-a-si. hoje por exemplo teve reunião. os responsáveis daqueles que deveriam vir, não vieram. cena corriqueira mas que me chama a atenção: não vieram porque não sabiam ou não vieram porque não se interessam?
em sala, a mesma ladainha: cagar regra pros pais, falar da obrigação. eles fazendo cara de que "o inferno são os outros" e os professores, a mesma coisa. o mesmo discurso: o problema está na família. claro. é mais fácil culpar os outros. difícil é encarar a nossa mediocridade dentro da escola, a nossa incompetência e incapacidade para resolver os nossos problemas e ficar culpando o governo, a sociedade, a família. todos tem culpa, claro. mas estou aprendendo a expiar um pouco da minha. pelo menos se eu conseguir, faz alguma diferença.
três coisas que aconteceram hoje e me deram um pouquinho mais de força para dar uma guinada na minha vida, em breve:
1) ver o portão da escola, aberto, escancarado, alunos entrando e saindo como se estivessem num clube, num shopping, em qualquer lugar, menos na escola. detalhe: um inspetor de alunos, responsável pelo molho de chaves, encostado numa parede, ao lado do portão, fingindo que nada estava acontecendo;
2) o cesto de lixo da sala de aula, na primeira aula da tarde da 5ª série C, cheio de mijo. imagine como é bom para um aluno estudar numa escola dessa, o ânimo e disposição que ele terá. isso mostrou outras coisas também a) ninguém havia passado na sala para limpá-la, depois da aula do período da manhã (fato corriqueiro) e b) o respeito que os alunos possuem pelo espaço. na semana passada pratos e talheres foram jogados dentro da privada do banheiro das meninas na hora do intervalo e, detalhe: cagaram em cima!
e 3) soube que uma jovem, de vinte e oito anos, teve um AVC (derrame) na sexta-feira. está internada, cabeça raspada, risco de vida.
a vida é tão rara, passa tão depressa, e a gente esquentando a cachola por coisas que, de repente, nem valem a pena.
em desconstrução,
r.c.
Um comentário:
Força pra continuar...
Sempre passo aqui pra ver como vc tá e fico muito preocupada qdo não vejo nada de novo...
fico pensando se é por não ter tempo ou por falta de motivação...
Bjos Rodrigo
Paz pra vc
Postar um comentário