domingo, março 01, 2009
PAGANDO PRA VER - conto
Consumo, consumo, consumo. A natureza buscando o equilíbrio, o ser humano o excesso. E consumo. A menininha descolada, lápis no olho, cabelo desfiado, diz que faz, sabe tudo, manda brasa e reclama. Super-engajada, usa Nike, toma Coca e vai no Mc Donalds toda semana. “Mc lanche Feliz, please”. E eu tentando lembrar quando começou essa zona. Mas a única imagem que vem na cabeça é a da destruição da Amazônia. Pode? Derrubar mata pra colocar pasto. Gado pra matança? Que desperdício. Fico pensando e me chamam de viado. Lesado, idiota. Onde já se viu, vinte e sete anos e gostar de história? Ser professor? “O senhor tem problema?” Todos, menino. Ganho pouco, trabalho muito, saco esgotado e ainda tenho que ouvir você pagar de gatinho. Mas não se preocupe. Pode ficar no seu mundinho. Doze anos e troca de celular toda semana. Pensa que é cueca é? Acha bonito pagar de bacana? Não esquenta. Vai ficar feito freada: tudo borradinho. Quando a mãe Terra vir cobrar o preço, vai sair caro. Não vai dar pra usar cartão, cheque especial nem o seu salário. É, daí eu quero ver. Momento raro. Você buscando no Google, Wikipédia e até nos livros que despreza quando foi que a bosta começou a feder. “Onde foi que erramos?”, vai ser a pergunta que procurará responder. E a verdade vai doer. Tanto que você, que sempre foi ateu, vai ajoelhar, louvar os santos e rezar pra Deus. Tsc, tsc, tsc, não, não. Faz isso não, filho. Deixa Ele de fora. Cê tá ligado, pagou pra ver. E tem mais: Deus, se existir, não tem nada a ver com isso.
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