sábado, junho 14, 2008

ME PEGARAM

são paulo, 14 de junho de 2008. sete e dez da matina.

finalmente, após duas noites, consegui dormir mais do que 04 horas. ufa.

ontem eu capotei por volta das 09 da noite. perdi aniversário da mafê - desculpe amiga. não importa a disposição, o corpo não aguenta. e dormi. dormi não, desabei, capotei. acordei hoje as 06:30hs. achei que tava atrasado pra ir pra escola. putz, que loucura.

e segunda-feira tem greve. depois eu tenho que pensar sobre isso.

agora, pra quem não sabe do que eu tô falando, pra quem não esteve presente, vou tentar fazer um relato por cá. mesmo porque se a gente não registra, esquece.

e disso eu não quero esquecer. foi lindo, foi apaixonante, foi marcante. coisas boas, também não quero esquecer.

ao contrário das expectativas - inclusive a minha - não fiquei ansioso. até a quarta-feira, dia 11 de junho, dia do lançamento do meu livro de contos no santuário da poesia (a Cooperifa) não estava ansioso. de verdade. acho que por conta do envolvimento nas coisas da escola, organizei durante esta semana algo muito importante para ver se consigo remover a direção da minha escola - por não cumprir a lei - e, não fiquei ansioso com o lançamento do livro. parecia ser algo normal, importante, não-comum mas, normal.

ledo engano.

na quarta-feira, foi só pisar no Q.G. da Toró, ver aquele bolo de livro em cima de um sofá que o coração gelou. eu fiquei frio. e não conseguia pensar, falar mais nada. e agora?

peguei o Te Pego Lá Fora e fiquei com ele no colo. feito uma criança. não, o livro não era uma criança. eu era. uma criança que esqueceu o manual de instruções. esqueceu de brincar. como que acelera este brinquedo? cadê o braço? o que eu faço? tava ali, paralisado. curtindo.

logo depois chegou o Allan (o da Rosa): - Vai, Ciríaco. Dá um salve aí. Autografa o livro.

de que jeito?

não conseguia escrever, não conseguia pensar. o coração disparado, eu calmo e confuso, só conseguia babar. limpei no meu antebraço, peguei os adesivos de cadeado e comecei a trabalhar. é, trabalho, trabalho. pra distrair. pra preparar os livros para a Cooperifa.

entre uma breve parada para o almoço, trocas de idéias com o Allan e o Mateus Subverso, coloquei a trinca em cento e cinquenta e cinco livros. ficaram bonitos. o vermelho cadeado deu uma quebrada na foto cinza da capa. vermelho: cor de sangue, cor da raiva. cor do Amor.

por volta das 08hs da noite, coloquei os pacotes com 620 livros no carro, que ficou "atolado", rebaixado, e comecei a pilhar o Allan - que tava fazendo um trampo e ainda ia tomar banho. depois do nêgo muito enrolar, por volta das 08:30hs eu, ele, mateus subverso e o Renegado (MG) fomos pra Cooperifa.

ainda bem que a gente não precisou subir a ladeira, o carro não aguentaria.

chegando no santuário, só alegria. estava entre amigos. beijos, abraços, trocas de afagos. estava na Cooperifa. estava em casa.

e por mais que eu tente me lembrar, não me lembro direito o que se passou por lá (se alguém quiser comentar, eu agradeço). foi um momento sublime. algo que você vive tão intensamente, tão intensamente, que você acredita que foi um sonho. um sonho bom, um sonho bonito, mas um sonho. aquilo não aconteceu.

só lembro de algumas pessoas me dando os parabéns. pedindo um livro. pedindo para eu fazer dedicatória. a dificuldade em escrever alguma coisa. por mais que não conhecesse a pessoa, o cuidade para não escrever algo que não soasse falso. não gosto de escrever por escrever. e foi mais ou menos assim. foi tudo. para mim, foi lindo. acho que, depois que eu conseguir ver as fotos dos lançamentos, eu vou me lembrar melhor das coisas.

e no final, uma outra alegria. o Sport, de Recife (êita terra linda de um povo que eu amo tanto!) foi campeão da Copa do Brasil. comemorei a conquista do Sport, não a derrota do Corinthians - que fique bem claro - rsrs.

a uma e trinta da quinta-feira, 12 de junho eu fui dormir.

e as cinco horas da matina já estava de pé. podre. sem raciocinar, sem saber direito o que fazer.

a parada melhorou um pouco depois que eu tomei um banhão, quente. aí eu realmente acordei. e fui pra escola. putz, foi foda.

as 07:10hs, portões abertos, alunos dentro da escola e, só funcionários e professores. ninguém da direção, coordenação. e os alunos, daquele jeito. pós derrota do corinthian... provocações, zoeira. que nada de aula, prussôr. quando as sete e vinte a gente conseguiu colocá-los para dentro das salas, bow! boooooom! morteiros estourados dentro da escola, nos corredores. imagina como os alunos ficaram.

apesar de tudo, consegui dar a minha aula. levei o a matéria de jornal "Shopping de Curitiba barra jovens da perifeira" para discutir com os alunos. foi bem legal. a proposta da atividade foi os alunos escreverem uma carta-resposta. exercício da redação, liberdade de expressão e cidadania.

mas, eu não vou mais falar da escola porque a quinta-feira não foi muito bom para mim. principalmente depois das aulas, no htpc (horário de trabalho pedagógico coletivo). a minha diretora resolveu aparecer, para atrapalhar. atrapalhou o htpc da minha coordenadora, atrapalhou o trabalho dos professores, atrapalhou. enfim.

enfim, salto das 13hs e vou para as 19hs. horário do lançamento. e sabe onde eu estava?

preso no transito caótico da praça da república. atrasadíssimo. tudo bem, o trânsito não veio só para mim. muita coisa atrasou.

mas, o lançamento na Ação Educativa foi chapado. para mim, foi a redenção. estava mais solto, pude curtir um pouco mais do que no dia anterior, que estava em êxtase. lá eu consegui observar melhor as coisas, as pessoas.

vários amigos de labuta diária apareceram. tanto labuta escrita quanto docente. e tinha crianças, brincando, fazendo zoeira. dá hora. como dá hora foi a viola do gunnar. a sanfona e aline reis. a apresentação do elo da corrente. ver o marcelino freire por lá, e ler meu conto. foi bom. depois, coquetelzinho, um vinho, uma cachaça, uns amendoins. e dá-lhe caneta. assina, assina aê, tio, o seu B.O.

quero agradecer a presença de todos que estiveram lá. na Cooperifa. na Ação Educativa. de todos e todas. OBRIGADO. não vou citar nomes porque, estava embriagado nestes dois dias. não vou lembrar de todos. mas, quem esteve por lá, me abraçando, desejando boa sorte, sinta-se abraçado novamente. e obrigado. preciso muito da força de todos. afinal, eu sou apenas mais um "elo-da-corrente".

aliás, vale ressaltar isso. a sensação mais valorosa, a sensação mais bonita que atingiu o meu ser por estes dias foi esta. a certeza de que lançar o livro foi uma vitória, não apenas minha. mas vitória daqueles e daquelas que lutam por uma melhor vida dentro das escolas públicas. daqueles e daquelas que lutam e amam pela periferia. foi uma vitória da Cooperifa. não a consegui sozinho. não chegaria até aqui se estivesse sozinho. valeu Time. obrigado pela conquista.

pra fechar, preciso fazer alguns agradecimentos:

à Dinha. tua ausência foi sentida, amiga. mas, obrigado por tudo. obrigado por me ensinar a me expressar e garantir uma maneira de protestar e sobreviver.

a Marcelino Freire. êita cabramigo, tu é arretado. preciso dizer, obrigado. a sua generosidade, a sua humildade, a sua grandeza não tem tamanho. valeu.

a Sérgio Vaz. ô Poeta. não basta ter criado a minha escola, a minha casa, o lugar que melhor me acolheu nesta vida, tu ainda fez a apresentação do livro. e que lindo. sonho de giz poderia ser o título do livro, de tão bonito que é. obrigado.

a Allan da Rosa, Mateus Subverso e Silvio Diogo. cara, vocês são foda. sem vocês este livro não existiria. vocês foram a medida exata para dizer: - tá bom, cara. chega de mexer. isso sim, isso não. vâmo ver. eu sou muitas vezes indeciso, oscilante pra caralho, e vocês chegaram com a medida certa. Toró: obrigado. mesmo. é como eu já disse e não canso de repetir. vocês acreditaram num sonho. no meu sonho. e isso é impagável.

à Tânia. minha futura esposa. por estar ao meu lado, não só no lançamento, mas durante as vivências. acho que tu é a pessoa que mais me conhece no mundo. os lados podres e os lados ruins. mas, ainda assim, a gente consegue gozar juntos. literalmente falando. obrigado, magrela. te amo.

e quero agradecer ao Robson Canto. porque se tinha alguém que eu achei que fosse me abandonar a deriva, no barco, no dia do lançamento, era este cara. e ele me desacreditou, contrariou a idéia e foi lá. e cara, tu não sabe como foi bom te ver por lá. bom mesmo. gosto muito de você, careca. vê se não some porra. você é um Cooperiférico. e a gente só é forte quando estamos juntos.

bom, é mais ou menos assim. eu fico por aqui que eu já me cansei. mas, é como eu disse lá em cima. "vou fazer um relato". em nenhum momento eu disse "breve" relato.

algumas pessoas já mandaram emails comentando o livro. vou responder, com calma. e descansar. amanhã tem francisco morato. homenagem à Solano Trindade. olha a responsa.

abraço,
as sete e cinquenta e quatro eu desligo.

rodrigo

Um comentário:

Anônimo disse...

Rô,

estou aqui toda orgulhosa, feliz por você. E me deliciando e entristecendo com seus contos, tão cheios de realidade dura e esperança suave.

Agora, com o bolo que você me deu no dia do meu aniversário, estamos no 0x0, hein? Vamos marcar novas partidas!

Um beijo, com carinho,
Mafê