Durante muito tempo não soube o que fazer para sobreviver dentro da escola. A questão primeira colocada foi esta: sobreviver. Ao medo, a insegurança, a auto-repressão. Sobreviver a permanente sensação de não estar fazendo um bom trabalho, apesar do preparo e da dedicação. Nunca era bom. Nunca era o suficiente.
Isso não bastasse, haviam outros problemas: diretores inexistentes, professores que só faltavam, projetos goelabaixo dos governos que só governam por decretos; escolas sem lousas, sem salas, sem giz. Escola de grades e muros. Sem humanindade. O fim.
A luta, a labuta diária dentro e fora da escola não me bastavam. Quando chegava em casa, a cabeça girando, a escola me invadindo, não me permitiam colocar a cabeça tranquilamente no travesseiro e dormir. Como se a culpa de o aluno estar na quinta-série e não saber ler e escrever fosse só minha. Como se a culpa de o aluno abandonar a escola por não ter incentivo e apoio dos professores e em casa fosse apenas minha. Como se a culpa de o mundo ser deste jeito fosse apenas minha. Eu me sentia culpado. E não conseguia nem dormir.
A solução, parcial, foi escrever. Sentava em frente o computador, abria o meu "Diário de Bordo" e escrevia. Histórias, histórias. E relaxava um pouco. Com o cansaço e os escritos, já dava até pra dormir umas horinhas. Se preparar para o próximo dia e seguir.
E tanto escrevi histórias - e foram tantas - que resolvi escrever estórias. Brincar um pouco com a minha dor. Pra ver que ela não pode ser assim tão grande. Não a ponto de me dominar. Me enfraquecer. E fui mexendo em uma palavra aqui. Mudando todo um parágrafo lá.
Transformando as histórias que eu fiz em poemas. Alguns contos. E mostrava para as pessoas. Para compartilhar um pouco das angústias, da dor. Para ver se alguém apontava alguma luz - ou escuridão? Queria uma solução. Que mudasse esta realidade: a minha vida e a escola em que vivemos.
Como disse, foram tantas as estórias que resolvi juntar algumas. E colocá-las em formato de livro. E, resumidamente, assim surgiu o TE PEGO LÁ FORA. Escritos de dor e angústia. Revolta e dor. E uma pontinha de esperança. Pois as pontas das páginas estão repletas de crianças. E elas são as melhores coisas que existem. São para elas que nós, adultos, existimos.
O lançamento é nesta quarta-feira, no santuário da poesia: a Cooperifa. Todos estão convidados. Ou melhor, quase todos. Dispenso a presença de educastradores, burocratas e da diretora da minha escola. O restante, todos são bem-vindos. Principalmente os amigos. Aqueles que me apoiaram, fizeram eu desistir do corte da lâmina no pulso e partir para a navalha-caneta.
As vezes penso que o lançamento deste livro não é motivo de festa. O que se há para comemorar, com um livro deste que retrata a nossa deseducação? Diria que nada. Há pouca coisa no livro para se comemorar. Preferia inclusive não tê-lo escrito pois preferia que as coisas que lá estão não tivessem acontecido. Mas aconteceram. E só o Cara lá de cima sabe o quanto eu sofri quebrando a cabeça tentando resolver os problemas. Não aceitando que estas coisas fossem comuns. Fossem assim, como muitos dizem, "normais". Então, vou comemorar o meu livro sim. Não por ele. Ele não vale a comemoração.
Vou comemorar o livro pois eu vou celebrar a vida. A minha. Escrevê-lo me deu sobrevida. Esperança. E mais gana para ficar, incomodar, transformar e escrever.
Agora que eu tô pegando o jeito, de lidar com os problemas e buscar soluções, acredito que em breve páginas melhores virão.
A quem me quer bem, um abraço forte,
Rodrigo Ciríaco
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