Hoje a
palavra morte me encontrou cedo. Me derrubou. Veio em nome de uma amiga
querida que há tempos não a via. Não conversava. E ela chegou assim, de
mansinho mas derrubando a porta. Porque a Morte não manda recado. Não
manda aviso. Nem faz escândalo. Ela chega. Devora. Leva. Embora.
E nos deixa assim, sem nada entender. A não ser perceber o quanto somos frágeis. O quanto precisamos aproveitar melhor
nosso tempo. E eu, que hoje quase sai de casa sem fazer a prece diária
para a minha Bebê pois estava “sem tempo”, imediatamente me senti mal.
Por todas as vezes que brigamos a toa com nossas pessoas queridas. Por
todas as vezes que deixamos de vê-las por não termos tempo, termos
muitos trabalhos, muitos compromisso. Por todas as vezes que esquecemos
de dizer que amamos alguém, sentimos a sua falta, sentimos saudade. E aí
deixamos de ligar, deixamos de escrever. Deixamos acontecer.
Acreditando que, amanhã a gente fala, amanhã a gente liga, amanhã a
gente. E o amanhã não acontece. O amanhã pode ser que não exista.
Queria ter dito para esta Amiga que ela era especial. Era uma pessoa
querida, muito legal. Que eu gostava do seu jeito de dançar. Que eu
gostava de dançar com ela. Que a gente deveria se ver mais. Que ela
deveria conhecer a Malu. Que a Malu com certeza ia gostar dela. Queria.
Com a notícia, não consegui ficar na escola. Não consegui continuar com
a lida. As lágrimas não paravam. As perguntas curiosas dos alunos não
permitiriam. Fiz uma prece. Pedi a Deus proteção, conforto para os
familiares, paz para esta pessoa querida. E fui para casa. Para
encontrar minha filha querida. Dar-lhe um banho, carinho. Beijar minha
esposa, lembrar que a Amo. Parar o tempo. Dar atenção especial ao que
vale a pena. Aproveitar como se deve o dia. Ainda que seja hoje. E
amanhã, se existir, seja outro dia.
E escrever, que sinto muito
Amiga. Sinto por não estar ao seu lado no seu momento de angústia. Não
ter confortado a sua dor. Sinto por não ter dado um abraço, dizer que,
precisando estava ali. Sinto por tudo ter acontecido assim, tão breve,
tão rápido, tão sem aviso. E fim.
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