No último Sarau da Casa (das Rosas) vendi alguns livros. Um deles para a Viviane Mottin que publicou aqui um comentário sobre o meu livro, o "Te Pego Lá Fora". Segue abaixo a resenha:
Análise
Livro Português
Título: Te pego lá fora
Autoria: Rodrigo Ciríaco
107 páginas
Contos Editora: Edições Toró
Ano 2008 – 1ª edição
Links: Educação, Periferia, Escola Pública, Cultura, Comportamento
Visão geral: Contos sobre o cotidiano de escolas e sistema de ensino na periferia paulistana
A coletânea de 25 contos divididos nas estações Verão, Outono, Inverno e Primavera relata o cotidiano das escolas públicas na periferia paulistana. Na batida do rap, na rima poética, na prosa ácida e na inovação linguística, desfechos inimagináveis. Em um deles, a própria escola narra sua origem esperançosa e seu trágico destino. A escola-mãe tenta compartilhar o pão-palavra, mas se perde na merenda feita às vezes de ração, para seus filhos aidéticos, prostitutas, drogados e outros desesperados, mortos-vivos por milagre.
Rodrigo Ciríaco, professor de escolas da periferia, escreve com sangue a vida que se esvai entre tudo o que poderia ser. O que poderia ser aparece nas propagandas do governo, quando mostra prédios arrumadinhos, limpinhos e equipadinhos. A realidade é outra, evidenciam fotos publicadas ao final do livro. Isto não é um lamento vazio de quem não tem vontades. O autor mostra que há desejo, sim. Mas, a desesperança dos alunos parece ser muito maior. E o descaso da hierarquia já nos núcleos educativos (secretárias, diretoria das escolas) dá mostras da ineficiência da superestrutura.
Ele conta sobre o preconceito de quem vê de fora (da periferia), pensando que todo brinquedo só pode ser uma arma, e da menina que vira uma placa e desiste dos estudos. A valorização da territorialidade pela qual a periferia se torna o centro e o centro a periferia, descentralizando o ponto de vista. O assalto cinematográfico da "pivetada" a uma... biblioteca. E as meninas super-poderosas que, dadas as condições, inacreditavelmente produzem um jornal.
Ele conta da aluna que foi solicitada a ler - durante uma cerimônia promovida pelo governo do Estado para enaltecer o ensino público -, e quando chegou ao púlpito, declarou que não sabia ler. Os meninos cooptados pelo tráfico, que acham sem graça ficar atrás de uma mesa escutando um letrado durante horas para aprender o que talvez nunca terão chances de usar na prática. E o professor que prefere a morte a continuar uma luta insana e, quem sabe, inútil.
O autor afirma que as histórias são fictícias. Percebe-se, no entanto, que inspiração não faltou, dada a desordem dos fatos na periferia para quem olha sob o ângulo do "como deveria ser" - porque com o que se paga aos governos, aqueles que não têm deveriam receber do bom e do melhor.
Voltando à escola-mãe, aquela coitada (estuprada) descrita no início deste texto, os contos de Rodrigo me fazem recordar uma letra de Carlos Drummond de Andrade, cujo início diz: "Eu preparo uma canção, em que minha mãe se reconheça e todas as mães se reconheçam, como se fossem dois olhos", e que acaba assim: "Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças". Pois Rodrigo sugere (ou grita, implora) que o despertar dos homens (públicos) faça com que um dia todas as crianças possam ter somente sonhos bons.
2 comentários:
Então, ainda é menos do que eu tenho pra falar de tu e dessa obra.
fazia tempo que não entrava aqui. Parabéns Rô, por ter escrito um livro tão legal e real.
beijão
Postar um comentário